Os livros de Esteros - As crô...

By aldemir7

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A minha consciência é atormentada por milhares de vozes e cada uma traz-me milhares de histórias, e a cada hi... More

Prefácio e Prólogo
Um dia antes dos treinos
Acampamento de magias Pectrus

As Crônicas de Fedors

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By aldemir7


Um homem caminha solitário por uma estrada longa e seca. O sol incessante e a leve tempestade de areia castigam o seu corpo e fazem arder seus pés calejados por uma longa e árdua jornada. Para a sua alegria, observa no horizonte uma grande árvore de poucas folhagens, mas capaz de saciar o seu desejo por alguns minutos de descanso. Ao se aproximar dela, assusta-se com uma figura encostada do outro lado.

O indivíduo aparentemente está morto e exala um odor putrefato. Tocando o cajado no corpo decomposto, o viajante arrisca começar um diálogo.

— Olá?

A figura sinistra move vagarosamente o rosto na direção do viajante. Sua face está aparentemente toda queimada, seu corpo coberto por um manto negro dos pés à cabeça, seus olhos escuros levemente fechados. Não possuía nariz, e apenas uma metade dos lábios era visível. Os dentes eram amarelados, com marcas de sangue e escoriações, a face aparentemente derretida e desbeiçada talvez tivesse sido queimada, ou o sol a tenha esturricado. A parte esquerda do rosto é composta apenas por ossos brancos e resíduos de carne apodrecida. Um pedaço de pano sujo em trapos cobre o pescoço e braços. Lentamente os seus olhos se abrem, e ele deixa escapar um gemido baixo e rouco.

— Hum...

Nesse instante, pode-se notar vários insetos voarem em várias direções, abandonando o corpo da criatura imóvel e aparentemente em decomposição. A árvore onde se mantinha encostado está seca e coberta por formigas e coprófagos. Folhas e galhos forram o solo ao seu redor, como que nunca tivessem sido tocados ou movidos por humanos. Os urubus e corvos pousam sobre os galhos, o cheiro de carniça expelido pela criatura incita-os, entretanto não podem devorá-lo, pois seu corpo ainda tem vida.

Salazar, assustado, dá um pulo para trás e, arregalando os olhos, pergunta ao desconhecido:

— Como pode estar se movendo?

A criatura movimenta lentamente o osso maxilar e, repentinamente, começa a dialogar com o viajante:

— Desculpe-me a minha indelicadeza... Sente-se comigo e faça-me companhia.

Ao contrário do homem à sua frente, o ser contínua sentado, cansado e tristonho, mas a sua voz é calma e doce. O viajante senta-se ao lado da criatura sinistra. Encarando-a fixamente faz outra pergunta, agora em voz trêmula:

— O que houve com o senhor? Parece-me muito doente. — Salazar, enquanto conversa com ele, aproxima-se mais do homem e minuciosamente observa suas feridas e escoriações.

A criatura, sorrindo com muita dificuldade, movimenta agora a perna direita que estrala como se os ossos estivessem soltos, e encosta-se no tronco da árvore ao seu lado. Batendo a mão em uma formiga que caminhava pelo seu corpo, pronuncia mais algumas palavras ainda em tom de voz suave.

— A minha história é longa e muito dolorosa e pode demorar muito para ser compreendida. — As últimas palavras já são ditas em voz alta, mas logo desencorajada, parecendo querer a desistência do curioso à sua frente, que nesse momento, no entanto, aparenta muito mais interesse em conhecê-lo.

O viajante é um homem de cabelos grisalhos até a nuca, olhos castanhos claros, pele branca e barba falha, rosto esbelto e queixo rubro, sobrancelhas grossas e testa avantajada, nariz acentuado e um corpo mediano; com ombros largos e feição serena. Está vestido por uma camiseta de mangas longas, uma calça larga e um jaleco de feltro. Por cima dos ombros há uma capa de couro. Carrega uma trouxa pendurada em um galho fino, calça sandálias de tiras de cipó seco, mas não porta nenhuma espada ou arma branca.

O homem retira um pedaço de pão seco de sua sacola e diz:

— O meu nome é Salazar. Estou enfadonho por minha longa jornada rumo ao norte, por isso tenho todo o tempo do mundo para poder ouvir sua história. Sinta-se à vontade para dividi-la comigo.

Realmente Salazar pretende conhecer mais sobre o sujeito e o analisa dos pés a cabeça, como que exigindo mais informações sobre sua vida e o porquê de ele continuar ali, entregue à morte.

— Não teme a mim? — pergunta ao exibir feição de tristeza.

— Eu deveria temer? — pergunta Salazar, já acomodado na grama falha. — A aparência de um homem não diz nada sobre seu caráter. Não me parece uma pessoa má.

— É, pode ser. Veio me matar?

— Não! — Salazar ergue as sobrancelhas. — Eu estava passando e você me convidou a sentar, lembra?

— Sim, eu me lembro.

— Quer que eu vá embora?

Fedors naquele momento olha profundamente nos olhos de Salazar e fica pensativo... não, aquele homem não veio para matá-lo, e mesmo que viesse, não poderia matar um imortal. Não seria tão simples assim. E mesmo que Fedors esperasse e desejasse a morte, ainda tinha o pacto, e de qualquer forma, ele não concluiu a sua missão nesse plano de vida.

— Me perdoe Salazar... há muito tempo perdi a fé nos homens. Talvez por estar aqui solitário, algo esteja afetando a minha consciência. Sente-se e fique à vontade, pois minha história é longa e de difícil compreensão. — Repentinamente a criatura olha para o céu escuro de nuvens brancas, move o pescoço como que capturando o ar fresco, depois volta sua atenção em direção ao viajante.

— Primeiramente o meu nome é Fedors. Mas já tive outro nome, um nome forte e respeitado por todos no nosso mundo. Fui um membro da família Destrus. Mas o meu poder somado à minha inocência me transformou na criatura que sou hoje... Como disse antes, a minha história é triste, de difícil compreensão. Porém antes de contá-la a você preciso saber se realmente está disposto a ficar mais um dia em minha companhia. — Nesse momento a ideia de Fedors em relação à estadia daquele sujeito ao seu lado muda, ele leva os dedos aos lábios, e em seus pensamentos parece implorar pela resposta positiva do seu novo amigo, desejando mais diálogo com alguém nesse momento. Afinal sabe-se lá quanto tempo levará para que outra pessoa cruze aquele caminho.

Salazar parece ler os pensamentos da criatura, mas já está embriagado pelas palavras do companheiro de prosa, então trata de responder rapidamente a ele:

— Verdadeiramente eu não tenho pressa em minha caminhada, ainda são muitos os caminhos a percorrer. Se tiver dúvidas sobre minha permanência aqui, fique sossegado. Eu posso ficar mais um dia ao seu lado.

Agora, Salazar deu o seu veredicto. Ficará ali para compartilhar a dor sentida pela criatura, que mesmo com uma aparência horrível, se mostra doce e sincera.

Nesse momento, um sorriso de felicidade é notado na face atordoada de Fedors, que imediatamente agradece a companhia: — Muito obrigado pela sua companhia, somente eu sei como é bom poder conversar com alguém nesse momento. Contarei muitas coisas, algumas são tristes, outras são lamentáveis, mas todas elas são verdadeiras. Essa aparência horrível com que me encontro é o meu castigo por aceitar a oferta tentadora de alguém já condenado na sua existência, mas isso ainda pode esperar, pois contarei tudo, desde o início...

... Ao longo da minha jornada conheci algumas pessoas, então obtive informações a respeito da criação da vida e dos planetas em que vivemos. Ouvi falar de um Criador, mas não sei qual o seu verdadeiro nome nem sua real origem. Alguns o chamam de Criador, outros o chamam de Supremo, mas eu o chamo apenas de Desconhecido ou Ausente. Afinal por que esse ser criou a vida e a deixou de lado? Por que não simplesmente destruiu as pessoas ruins e manteve somente as boas? Não posso entender o porquê das pessoas perderem o amor uns aos outros. Neste momento sou uma criatura desprezível e horrenda, mas já fui belo um dia. O meu coração já amou com muita intensidade, mas infelizmente as pessoas que amei se foram de forma trágica e lamentável. Só a monstruosidade me restou. Estou parado nesse lugar há muito tempo, imagino que estou há, pelo menos, vinte dias sem me alimentar, sem sequer levantar-me daqui. Estranhamente depois que voltei dos mortos não tenho mais fome, talvez nem tenha mais estômago! É, eu sei... Isso é muito estranho. Engraçado... já matei vários monstros neste mundo. Apesar disso, sinto que ainda existe um monstro que precisa morrer. Infelizmente... Esse monstro sou eu! Bem, mas para que possa entender as minhas palavras, vamos ao que realmente interessa, vou contar a você como o amor de um homem e de alguns deuses foi capaz de salvar várias vidas. Quem sou eu? Você descobrirá em breve. Não tive muitas escolhas, mas talvez seja o maior culpado por tudo. Tive de aceitar o mal em minha vida, mas meu propósito era salvar a quem mais amava...

...Por enquanto, peço paciência, pois antes de conhecer a minha história e me julgar como culpado será preciso entendê-la corretamente...

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