Fruto Podre

By Mayko_Martins

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Colhendo os frutos de ser a Salvadora do Rei, Luna precisará adaptar-se ao estilo de vida de uma raça difere... More

Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - A Grande Planície
Capítulo 2 - O Mestre Impiedoso
Capítulo 3 - A Ascensão de Uma Heroína
Capítulo 4 - Retribuição Infame
Capítulo 5 - Sussurros
Capítulo 6 - Festejo Insólito
Capítulo 7 - Verdade Anacrônica
Capítulo 9 - O Passe Dourado
Capítulo 10 - O Lugar Ao Qual Pertenço
Capítulo 11 - A Ascensão da Assassina
Capítulo 12 - Monstros
Capítulo 13 - Xeque Mate da Rainha
Epílogo
Agradecimentos
???

Capítulo 8 - A Queda da Mentira

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By Mayko_Martins


De volta ao castelo, Luna não conseguiu comer nada, enquanto as criadas serviam o jantar. Sem perceber, ela segurava fortemente a faca sobre a mesa.

Rei Solis. Rainha Caelis. Guerreiro Satalles. Governanta Insli. Mestre Dominus, ou Helber Vincent, pensou Luna. Cada nome era uma interrogação. Cada um à sua volta significava uma oportunidade de desvendar os mistérios que pairavam em Soberania. Em quem eu posso confiar?

— Luna — chamou a governanta Insli. — Luna?!

A garota despertou de seu devaneio, soltando a faca, respirando o ar que estava segurando.

— Satalles pediu para que a comunicasse que amanhã ele irá apresentar a cidade Soberania para você, antes do grande evento.

— Obrigado, Insli — agradeceu Luna.

Mesmo sem fome, ela precisava se alimentar. Foi a refeição mais difícil que ela fez. Nada possuía um gosto agradável. Ela se levantou, deixando a mesa.

— Estou um pouco cansada. Irei dormir. Pode me levar uma xícara de chá mais tarde? — Pediu Luna, arquitetando algo em sua mente.

— Claro, como desejar — disse a governanta.

*****

Mais tarde, quando todos os criados haviam se retirado para descansar, a governanta bateu no quarto de Luna, segurando uma bandeja com um bule fumegante e uma xícara.

— Aqui está, como você pediu, Salvadora do Rei.

— Eu não quero chá! Quero informações — sussurrou Luna. — Ouvi você discutindo com o guerreiro Satalles. Eu também não gosto dele. Me pergunto qual a rixa que pode existir entre uma governanta e um guerreiro?

Insli expressou sua confusão, arqueando as sobrancelhas.

— Acredito que esteja enganada — falou a alba, depositando a bandeja sobre uma mesinha.

— O que você sabe? Você trabalha neste castelo, pode ter acesso a informações que os demais albas não sabem — teorizou Luna, aflita. — Não minta para mim. Me diga, o que está acontecendo nesta cidade? — indagou Luna.

A governanta fez uma expressão de choque. Os olhos dela vasculharam os cantos do quarto, como se procurassem algo ou alguém.

— Não entendi a sua pergunta — mentiu Insli.

Luna segurou o braço da governanta com agressividade, apertando-o com firmeza. A governanta tentou se desvencilhar, mas Luna não deixou, insistindo por uma resposta.

— Quero que diga onde encontro os Hyacinthums que trabalharam no festejo que o Rei Solis fez para mim — murmurou Luna.

— Não podemos falar disso. É proibido! — Sussurrou a governanta, tentando se soltar das garras de Luna.

— Por favor — insistiu Luna, largando o aperto no braço de Insli, — me diga algo que eu possa confiar.

— Hyacinthums não podem estudar. Nem ocupar cargos de prestigio. Tornam-se apenas subalternos! — revelou a governanta, o rosto assustado. — Você só está aqui, neste castelo, porque salvou o rei. Caso contrário, estaria lá com os seus iguais. Vivendo do outro lado da cidade em condições precárias.

— Como assim "do outro lado da cidade"? — Indagou Luna.

A pergunta ficou no ar. A governanta caminhou até a sacada e apontou um lugar para Luna. Uma região de Soberania ao sul. Imediatamente, Luna apanhou seu manto encapuzado mergulhando na escuridão dos corredores. Insli a observou fugir, permanecendo no quarto.

Pouco a pouco a governanta mudou sua expressão. O rosto que segundos atrás aparentava medo, agora sorria com satisfação, enquanto bebia o chá.

Insli não foi para a cozinha, ela moveu-se na direção oposta, atravessando corredores estreitos. Desceu cinco lances de escadas, chegando até o porão. Ali, ela abriu uma porta oculta na parede, adentrando um outro corredor, iluminado por archotes. Mais alguns passos e ela parou defronte a uma porta de madeira lodosa. Uma voz lá de dentro ordenou que a governanta entrasse sem bater.

— Está feito minha rainha — comunicou a governanta. — A garota está na direção certa.

A rainha Caelis estava numa escrivaninha empoeirada, escrevendo duas cartas. Ao seu lado uma pequena caixa roxa cintilava. A rainha sorriu. Um sorriso verdadeiro.

— Chame-o. Ele precisa ficar de olho nela a partir de agora. — A governanta acatou a ordem de sua alteza.

*****

Movida pela sede da verdade, Luna mergulhou em uma jornada desconhecida e incerta, sem nenhum plano em mente, movida apenas por um instinto duvidoso.

Com muita dificuldade, a Salvadora do Rei chegou até um bairro isolado. Casas pequenas se amontoavam em ruelas, o que fez Luna lembrar-se de seu antigo lar. Mas, as semelhanças paravam por ai. Um mar de lixo e destroços acumulavam-se nas ruas. Pela fresta das janelas, a garota espiou Hyacinthums vivendo como animais, sem usufruir o mesmo estilo de vida dos Albas. Tosses secas indicavam doentes. Portas lacradas com tábuas e pregos apontavam medo. O ar ali indicava escravidão.

Enquanto ela ganhava presentes, banquetes e um quarto luxuoso no castelo do rei, seu povo sucumbia. O sentimento de repulsa impregnou-se em cada célula de Luna.

Na esquina da alameda, uma figura corcunda fez um gesto familiar: colocou o dedo indicador na frente dos lábios. Era o misterioso Hyacinthum que Luna viu no festejo, naquela estranha noite. De longe, ele gesticulava para que o seguisse.

Sem temer o que mais estaria por vir, ela foi em frente. Algumas quadras depois, Luna adentrou um prédio abandonado, subindo até o terraço. Lá do alto, Soberania era um mar negro.

O Hyacinthum estava na beirada do edifício de costas para a garota. Ele respirava com dificuldade. Agora, mais de perto, Luna conseguia ver com mais clareza as cicatrizes pelo corpo dele. As roupas estavam encardidas, cheias de cortes e sangue seco. Na mão, ele carregava algo.

— Você se tornou especial nessa cidade, Luna — disse o estranho.

Ele deixou cair o pedaço de papel permitindo que Luna percebesse que se tratava de um recorte de jornal. O nome dela estava escrito na manchete, seguido da seguinte frase "Salvadora do Rei, com apenas dezessete anos de idade, será contemplada com O Passe". 

— Não posso dizer que você teve sorte vindo para cá, antes dos trinta anos — continuou ele, a voz carregada de rancor.

— Por que me trouxe até aqui? — indagou Luna. — Quem é você?

— Eu sou um Hyacinthum, assim como você. O que nos diferencia é a sorte. Acontece que eu tive menos oportunidades — falou o homem. — Meu nome não importa, nossos nomes não importam aqui. Agora, o seu. Seu nome ganhou força, Salvadora do Rei.

— Tenho a impressão de que você me odeia — disse Luna, angustiada.

— Ah, eu te odeio sim, mas não pelos motivos que pensa — disse o Hyacinthum, tendo um ataque de tosse. — Te odeio, porque você o salvou. Você salvou o Rei Solis. Deveria tê-lo deixado morrer naquele dia!

— Você é maluco — grunhiu Luna, confusa. — Você não pode me odiar por isso. Não faz o menor sentido essa situação.

— Você condenou seu povo! — disse o Hyacinthum. — Você quer uma explicação. É isso o que você quer, Luna? Compreender o motivo de eu estar aqui e você estar ai? — indagou ele.

O Hyacinthum se virou. Pela primeira vez, Luna pode olhar o rosto dele mais de perto. E tudo o que ela sentiu foi pena.

— Me ajude a entender esse lugar! — Luna deu alguns passos em direção ao Hyacinthum.

— Só existe uma resposta para todas as suas perguntas — O Hyacinthum se virou novamente, se aproximando da beirada.

— Diga-me — pediu a garota.

— Fuja! — disse o Hyacinthum. — Encontre sua família e os leve para longe da Grande Planície. Essa é a única resposta que precisa nesse momento.

— Não vou embora enquanto não entender o que acontece! — exclamou ela, o coração batendo forte.

O homem precisou de alguns segundos para dizer aquelas palavras em voz alta:

— Os Hyacinthums são usados e descartados. Somos peças para A Máquina.

— O que fazem com a nossa raça? — Ela indagou.

— Algo pior que a morte — revelou o outro.

Luna pensou o que poderia ser pior que a morte. Mesmo de costas, o Hyacinthum apontou a mão na direção d'O Elevador, depois indicou a cidade Celestial.

— Suas respostas estão lá, mas pagará um preço muito alto se descobri-las. — O estranho deu uma risada baixa, entredentes. — É tarde demais para mim. Mas, ainda resta tempo para o nosso povo. Salve-os.

— Me deixe ajudá-lo — rogou a garota. — Não faça isso!

— Estou feliz, Luna. Eu posso descansar agora, sabendo que talvez a sua fama salvará os Hyacinthums — falou o outro. — Lembre-se: não coma, não beba. Nada nessa cidade foi feito para nós!

O Hyacinthum virou-se de frente para ela, novamente. Um sorriso que parecia costurada em seu rosto, fez Luna congelar. Ele abriu os braços, saltando.

O som de ossos se partindo na calçada arrancou um grito de Luna. Lá embaixo, acolhido pelo abraço da morte, o corpo jazia como uma ave abatida em voo.

*****

Uma hora depois, ela permanecia no mesmo lugar.

Vazio. Luna não sabia que o Nada poderia ser sentido. Seus olhos estavam fixos no corpo caído; suas mãos suavam. Dentro dela, uma ira crescia mais e mais.

De repente, o corpo de Luna moveu-se mecanicamente quando ela escutou o som de passos surgiram no terraço.

Fuja! Pensou a garota. Esconda-se!

Ela ocultou-se nas entranhas do prédio, atrás de ruínas, ferragens e lixo. Duas silhuetas surgiram. Duas sombras altas, tramando na noite.

Segura no escuro, Luna tentou espiar. Foi quando sua audição captou uma conversa.

— O corpo do Hyacinthum deve ser preservado! — A primeira voz soou familiar aos ouvidos de Luna. — Coletem tudo o que puderem, para que ele seja utilizado, se ainda for possível.

— Ordenarei isso aos meus albas. — A segunda voz pertencia ao guerreiro Satalles. — Era ele o foragido que estávamos procurando. Ele tentou se comunicar com a garota no dia da festa — explicou. — E quanto a Luna? Ela não foi encontrada no castelo. O que faremos?

— A fama dela é um escudo capaz de destruir Soberania, Satalles — disse o outro. — Eu a deixei ir longe demais. Não posso permitir que Luna estrague o dia de amanhã!

Luna sentiu o chão desmoronar quando reconheceu a quem pertencia aquela voz.

— Nós a capturaremos! — Jurou o guerreiro.

— Você não me entendeu — disse o rei Solis.

— Majestade? — indagou Satalles.

— Mate a garota Hyacinthum!

Algo transformou-se no âmago de Luna, fazendo-a cerrar os punhos. Unha cortando a carne. O ódio consumindo seus veias. Antes que ela agisse mãos surgiram atrás dela, tapando sua boca. Um tecido banhado com um forte componente químico a fez desmaiar em poucos segundos. Arrastada para longe dali, Luna temeu por sua vida.

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