Certo dia, recebi uma ligação do meu pai no meio da aula, eu já atendi achando que fosse alguma tragédia, já que o meu pai, sendo um professor, não interromperia a minha aula para conversar algo fútil.
"Oi pai, tá tudo bem?", perguntei, apreensiva.
"Esther, tá ocupada?", é a voz da minha mãe, me ligar no meio da aula é bem a cara dela mesmo.
"Não, aconteceu alguma coisa?"
"Sim, filha, a emissora ligou, estão fazendo a chamada do elenco da sua novela", ela chamava "Faz de Conta" de "a novela da Esther".
"Chamada pra quê? Outro especial?", seria o quarto desde que a novela acabou.
"Não, amor, eles vão fazer um filme, sabe? Cinema e tal..."
"E eu fui chamada?"
"Lógico, eles não seriam bobos de fazer um filme da novela sem chamar a protagonista."
Sim, a mamãe até hoje cisma em dizer que a bruxa das trevas Marina Van de Mort é a protagonista.
"Tá bom, quando começa a pré-produção?"
"Daqui a duas semanas, mas você vai ter que aparecer no estúdio daqui a dois dias, mexi uns pauzinhos, você foi nomeada produtora-executiva, e demos uma encrementada no seu contrato, se essa empreitada der certo, já temos três filmes garantidos."
"Misericórdia", respondi, não odiava exatamente interpretar Marina, mas não queria ser reconhecida como apenas uma personagem de destaque no currículo, e a minha mãe, se pudesse, me faria interpretar essa personagem até eu ter cabelos brancos.
Nem te conto a história da boneca.
Melhor, vou contar sim.