A GAROTA QUE EU AMO - Degusta...

By CMCarpi

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Aos dezenove anos, Lilás já perdeu as contas de quantas vezes teve seu coração partido. Ela sabe que recomeça... More

Sinopse
aviso
prólogo
Capítulo 1
abemus Gui
Capítulo 2
abemus Lilás
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Capítulo 7

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By CMCarpi


Onde estou já são mais de oito da noite, então... Capítulo novo para vocês!!! Não esqueçam de deixarem muuuuuitas estrelinhas e comentários. São eles que me motivam a escrever cada vez mais e assim, posto capítulos mais rápido! 💜💜💜


♥ Lilás ♥

A rua da praia está lotada de turistas que, segundo Gui, atravessaram o mar de balsa para chegarem até aqui. Meus olhos se perdem nos varais de luzes espalhados por toda a rua e iluminando cada pedacinho deste lugar. Inspiro o ar puro da noite e me pego sorrindo. Não acredito que tive tanto medo de deixar tudo para trás e tentar uma vida nova neste lugar desconhecido.

— Olha o meu pai lá! — diz Maia, bastante empolgada, tirando-me de meus devaneios. — Pai! Papai!

O homem de boné preto, que caminha, despreocupadamente à nossa frente, para e se vira para trás. Ele mexe os lábios e coça a testa. Percebe-se que esse encontro era a última coisa que ele esperava para essa noite. Maia se desprende das mãos de Aline e corre na sua direção.

— Puta merda — diz Aline.

Os três dão alguns passos à frente e faço o mesmo. Maia está falando sem parar e, mesmo vendo o pai dela pela primeira vez, dá para perceber que ele é realmente um babaca. Porque nesse momento, a filha dele está se abrindo para ele e transpirando amor enquanto ele apenas cruza os braços no peito e a olha com desprezo.

— Eu sei, querida, mas o papai precisa ir embora.

— Só uma volta, papai! Por favor!

Ele coloca as mãos no bolso da calça de um jeito fingido que chega a me dar ânsia.

— Não trouxe a minha carteira, então...

— Não tem problema, a mamãe compra um ticket pra você. Não é, mamãe? — A maneira inocente com que ela olha para trás, faz meu peito doer.

— O que foi, meu amor?

— Você pode comprar um ticket para o papai me levar na roda gigante?

— Claro — Aline coloca a mão dentro da bolsa, desafiando-o e ele se mostra o verdadeiro babaca que é.

— Outro dia, está bem?

— Outro dia? — Ele assente. — Você veio sozinho?

— Não, eu vim com...

— Você vai andar na roda gigante com meu irmão, né? — A voz de Maia soa quebrada, mas ela empina o queixo e cruza os bracinhos na frente do corpo. O pai não responde nada, então, Maia se vira e passa por nós batendo os pezinhos. — Eu quero um sorvete, mamãe.

Aline sai em disparada atrás da filha, não sem antes soltar alguns palavrões. Ameaço ir atrás delas, mas meus pés fincam no chão quando Thomaz faz isso. Ele é rápido ao jogar Maia em sem ombro e passar um braço pelos ombros de Aline. Não precisa ser um gênio para adivinhar que as duas estão chorando.

— Você perde toda a oportunidade de conhecer a sua filha — começa Gui. — Ela te ama, cara. Qual o seu problema?

— Exatamente, Guilherme. Meu problema.

— O problema passa a ser nosso quando temos que enxugar as lágrimas dela toda vez que vê ou fala com você — diz com a voz firme. Bem firme, diria até ligeiramente ameaçadora.

— Então façam com que ela não me procure mais, eu... — Ele ajeita o boné na cabeça e dá um passo na nossa direção. — Olha, Maia foi um erro, nós éramos muito novos, você se lembra da história.

— Para falar a verdade, só consigo me lembrar de você sendo um babaca.

— E eu me lembo que Aline passava tempo demais com vocês dois. Quem me garante que Maia seja realmente a minha filha?

— O quê? — É uma pergunta retórica. Gui não quer que ele repita o que disse, antes que ele tenha tempo de perceber o que está prestes a acontecer — e eu também — Gui desfere um soco em seu queixo. Não leva dois segundos para que o babaca do pai da Maia caia de costas no chão.

— Que porra...?

Ele balbucia, massageando o queixo, mas sua frase morre quando uma loira, segurando um enorme algodão doce na mão se ajoelha ao seu lado, mas seus olhos estão fixos em Gui.

— Você está louco? — ela pergunta, quase chorando.

Uma pequena multidão se forma ao nosso redor.

— Vamos embora — digo, segurando seu braço. Gui assente, mas antes de ir, dá um passo à frente e aponta o dedo para o pai de Maia.

— Se você a fizer chorar mais uma vez, acabo com você. — Então, ele me pega pela mão e me leva para longe dali. Somente quando damos uns dez passos, ele para abruptamente e envolve a mão que desferiu o soco com a outra.

— Merda!

— O que foi?

Ele leva a mão fechada até a boca e xinga outra vez.

— Acho que quebrei a minha mão.

— Sério? Deixa eu ver isso. — Pego sua mão e ele geme. Há apenas alguns pontos avermelhados sobre os nós dos seus dedos, mas ele parece estar realmente com dor. — Não está inchada, mas vou pegar um pouco de gelo para você.

— Não precisa.

— Precisa, sim.

Vou até o primeiro foodtruck e peço um copo de gelo e uma cerveja. A garota acha meu pedido bem estranho, dá para perceber isso quando ela me faz repetir duas vezes. Gui continua segurando a mão quando me aproximo.

— Achei que você fosse precisar — digo, entregando a Long Neck para ele.

— Acertou. — Ele segura a garrafa, mas me devolve no segundo seguinte. — V-você pode abrir para mim, por favor?

— Posso. — Rindo, entrego o copo de gelo para ele, seguro a barra da minha camiseta e giro a tampa da cerveja. — Pronto. — Ele segura a garrafa com a mão que não está machucada e bebe um longo gole.

Sentamos em uma pequena mureta de pedras, de frente para o mar. Tiro o leve casaco que amarrei na cintura para o caso de esfriar um pouco, e envolvo as pedras de gelo com ele. Seguro a sua mão e posiciono a compressa fria sobre ela. Seus olhos fitam os meus, ligeiramente arregalados.

— Nunca dei um s-soco em n-ninguém antes.

— Foi um belo de um soco. — E excitante também. Mas prefiro guardar esse pequeno pensamento estranho para mim.

— Acho que os jogos me ensinaram alguma coisa.

Rio, jogando a cabeça para trás.

— Você curte muito videogame, né? — Pergunto ao tocar, com as pontas dos dedos, os cinco ontroles tatuados do seu pulso até a metade do seu antebraço direito.

— M-muito.

— Que controle é esse? — Pergunto tocando o controle logo abaixo do seu pulso.

— Um Atari 2600. — Franzo a testa e nego. — É da década de oitenta, um clássico.

— Eu não tinha nascido na década de oitenta.

— Nem eu, mas você com certeza já ouviu falar de algum jogo. Pac Man? — Nego. — Enduro?

— Não.

— Droga! Em que mundo você vive? — Ele me provoca, batendo com seu ombro no meu.

— Em um mundo onde videogames não existem.

— Eu tenho doze aparelhos conectados a uma única televisão na minha sala.

— O quê? — Arregalo os olhos e ele sorri timidamente, ajeitando os óculos com o dedo do meio de forma desajeitada já que segura a cerveja com a mesma mão. — Por quê?

— Porque são jogos diferentes, de várias épocas e... — Ele para de falar porque estou apertando os lábios para não rir. — Isso é muito nerd, pode dizer.

— Não! Eu ia dizer que é incrível.

— S-sei.

— Nerd também. — Bato com meu joelho no seu. — Qual é a história da Aline com o pai da Maia?

Ele solta o ar, bebe o restante da sua cerveja e coloca a garrafa vazia ao seu lado.

— Ela conheceu o Rodrigo no nosso último ano do colégio, quando ele se mudou para cá. Não sei o que ela viu nele porque desde o começo do namoro ele se mostrou ser esse babaca que você viu. — Faço que sim. — A história é basicamente essa. Ele conheceu uma garota cheia da grana no meio do caminho e engravidou as duas ao mesmo tempo. O resto você já deve imaginar.

— Ele escolheu a garota rica.

— É — Gui se encolhe um pouco quando pressiono um pouco mais o gelo em sua mão. — A Aline sofreu muito por causa disso, mas o que acaba com ela, e com a gente também, é que ele ignora o fato de que Maia existe. É muito surreal.

— Uma vez, quando eu tinha quatro anos, encontramos um homem com um garoto em um supermercado. Ele devia ser dois ou três anos mais velho do que nós duas. Minha mãe empalideceu quando o viu. E ele também. Quando ele passou por nós, ela se ajoelhou à nossa frente e disse: Aquele homem é o pai de vocês. E ele é o maior babaca desse mundo. — Viro meu rosto na sua direção e sinto o coração acelerar. Os olhos castanhos de Gui estão fixos nos meus, cheios de algo que eu ainda não sei o que é, mas que me enchem de coragem de contar para ele coisas que não conto para ninguém. — Eu me lembro tão nitidamente dessa cena o que é um tanto estranho porque eu era muito pequena ainda. Ou talvez, o encontro tenha acontecido de outra maneira e minha mente inventou todo o resto.

— Você não sabe nada sobre ele?

— Nada, eu e Amanda tentamos diversas vezes saber quem ele era, mas como não temos seu nome na nossa certidão, não chegamos a lugar nenhum — dou de ombros bastante frustrada. — Minha mãe sempre disse que não faria diferença conhecê-lo. Nunca vou saber se isso é verdade.

— Quem é Amanda? — Meus olhos escapam para nossas mãos. Gui está acariciando o dorso da minha com seu polegar. Não sei quando ele começou a fazer isso, mas sei que é bom, muito bom e não quero que ele pare. — Você não precisa responder se...

— Minha irmã — limpo a garganta e espanto o tremor em minha voz. — Ela morreu dois anos atrás.

— Sinto muito — diz e mexe no meu cabelo, deixando uma pequena parte do meu pescoço à mostra. Fecho os olhos por um milésimo de segundo porque seu toque em meu pescoço faz metade do meu corpo congelar enquanto a outra metade pega fogo. — Por isso você tem essa tatuagem?

Levo a mão até o pequeno coração vermelho com a letra 'A' tatuados bem atrás da minha orelha.

— Você reparou na minha tatuagem?

— Na primeira vez que te vi. — Sua voz fica ligeiramente mais baixa e eu estaria mentindo se dissesse que isso não está mexendo comigo, mesmo quando não deveria mexer. — Você quer falar sobre ela?

— Não — surpreendo-me quando percebo que, pela primeia vez, desde que Amanda morreu, não estou sentindo o coração acelerar de dor ou qualquer outro sentimento ruim ao falar dela. Meu coração está esmurrando minhas costelas porque não sei em que momento o rosto de Gui ficou tão perto do meu, tampouco quando seus olhos baixaram para a minha boca.

Quando a sua mão deixa o meu cabelo e desliza para o meu rosto e pescoço, sinto cada parte do meu corpo estremecer. Minha respiração acelera, assim como meu coração. Ele bate tão forte, tão rápido que o escuto ecoando em meus ouvidos.

Fecho os olhos quando seu hálito quente salpica a minha pele e sua boca, quente e macia, acaricia a minha. É um movimento suave e perfeito.

Tão perfeito que não quero que acabe nunca.

Gui está me fazendo sentir coisas em tão pouco tempo que achei nunca ser capaz de sentir. Coisas que eu não me permitia sentir por achar não merecer. Ele está entrando. Está fazendo meu coração bater descompassado todas as manhãs quando entra no Café. Ele está fazendo com que eu me apaixone por essa cidade, por suas histórias... Estou me apaixonando por ele.

— Gui... — Seu nome me escapa e suas mãos, que acariciavam meu pescoço de forma gentil, encapsulam meu rosto. Seus olhos castanhos estão escuros, fixos em meus lábios e acho que isso, essa ansiedade dentro de mim, esse desejo que antecede nosso beijo, é ainda mais excitante. É, sem sombra de dúvidas, a melhor sensação que já tive na vida.

E esse turbilhão de sentimentos novos me faz recuar. Nunca me apaixonei por ninguém antes e ninguém nunca me envolveu desse jeito. Mas eu sei o que é ter o coração partido, e acho que não suportaria me perder outra vez.

— Desculpa, eu não... — digo e me afasto, mesmo quando todas as partes do meu corpo me dizem para beijá-lo.

Ele ajeita os óculos duas vezes e desvia os olhos, visivelmente nervoso.

— N-não se-sei o q-que... — Gui para de falar quando começa a gaguejar além da conta e se afasta um pouco mais. Odeio esse vazio dentro do peito quando ele faz isso.

— Gui, eu...

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