A GAROTA QUE EU AMO - Degusta...

By CMCarpi

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Aos dezenove anos, Lilás já perdeu as contas de quantas vezes teve seu coração partido. Ela sabe que recomeça... More

Sinopse
aviso
prólogo
Capítulo 1
abemus Gui
abemus Lilás
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7

Capítulo 2

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By CMCarpi


Vou dedicar esse capítulo para a minha amiga ruiva e  talentosa @RubyLace1!!!

Vocês precisam ler Rosas e Espinhos, o conto maravilhoso que ela está postando aqui na plataforma ♡

▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪


♥ Lilás ♥

— Droga! — Olho para a minha camiseta, que era branca até um minuto atrás, e agora exibe uma enorme mancha marrom na região do abdômen. Levanto o tecido úmido e solto o ar, frustrada quando percebo que minha pele está bastante cor-de-rosa por causa do café quente.

Esfrego os olhos quando algumas lágrimas ameaçam cair e engulo o choro. É só o primeiro dia, Lilás. Só o primeiro dia e você vai conseguir. Destravo o carro, abro o porta-malas e busco por uma camiseta limpa dento da minha mochila. Nada. Abro a mala maior e encontro apenas roupas amassadas. Droga! Pego uma camiseta preta e a cheiro. Não está tão limpa, mas vai ter que servir. Sento no banco do passageiro, troco de roupa, ajeito o cabelo e dou uma rápida olhada no retrovisor.

Você vai conseguir, Lilás!

Pego a minha bolsa, faço uma anotação mental para encontrar uma lavanderia o mais rápido possível e volto para dentro do Café. Preciso de uma dose de cafeína antes de enfrentar o dia e encontrar um emprego. Preciso muito encontrar um emprego.

— Eu quero um café duplo, por favor. — Abro a bolsa e caço algumas moedas que estão jogadas dentro dela. Seria muito bom se eu também pudesse comer alguma coisa, mas aí eu não teria dinheiro para almoçar. Preciso economizar até as coisas voltarem aos eixos.

— Ei! Você encontrou uma camiseta limpa. — A garota de cabelos e olhos negros sorri para mim ao mesmo tempo em que morde um lápis.

— Eu tinha uma extra dentro do carro e ela não está exatamente limpa. — Ela enruga o nariz de um jeito engraçado e isso me arranca um sorriso.

— O Gui é muito desastrado, não sei como ele ainda não se matou.

— Quem? — Encaro-a confusa e coloco as moedas sobre o balcão.

— O homem que esbarrou em você agora há pouco.

— Ah.

— Você quer um café duplo, certo? — Faço que sim. — Para viagem?

— Não, vou tomar aqui mesmo.

— Se você quiser se sentar, levo para você.

— Prefiro o balcão. — Ela aquiesce, vai para trás da máquina e começa a preparar o meu café.

— Você está de férias ou só veio passar o fim de semana?

Quero muito dizer a ela que isso não é da sua conta, mas as palavras da minha terapeuta ecoam dentro da minha cabeça.

Deixe as pessoas entrarem, Lilás.

Confie no seu coração e deixe as pessoas entrarem.

— Na verdade, estou me mudando para cá.

— Sério? — Ela arqueia as sobrancelhas, surpresa.

— Uhum.

— Estou tão acostumada a ver apenas turistas passando por aqui. — Ela coloca a xícara em minha frente e fico feliz por ter uma bolachinha de chocolate sobre o pires. — Açúcar ou adoçante?

— Nenhum dos dois.

— Nossa. Sabia que um estudo feito por uma universidade na Áustria comprovou que pessoas que bebem café sem açúcar têm tendências psicopatas?

— O quê? — pergunto achando graça e ela dá de ombros.

— Você disse mais cedo que ia procurar emprego, não disse?

— Disse.

— Você é formada em alguma coisa?

— Não — respondo antes de beber um pouco do meu café. — Até hoje não sei como terminei o ensino médio.

Ela assente e aperta os olhos, analisando-me e isso faz meu rosto corar.

— Você sabe fazer café?

— Ééé... Você quer saber se eu sei fazer café no coador ou nessa máquina?

— Na máquina — responde como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— É só apertar um botão, não é?

— Não — abana uma mão no ar. — E servir mesas?

— Tipo uma garçonete? — Ela faz que sim. — Nunca fiz isso antes, mas não deve ser tão difícil.

— É muito difícil, vai por mim. Perdi as contas de quantas xícaras, copos e pratos quebrei quando comecei a trabalhar aqui.

— Eu não...

— Você já trabalhou alguma vez na sua vida?

— Não — digo bastante sem graça.

— Quantos anos você tem?

— Dezenove.

— Certo. — Será que ela está tentando me oferecer um emprego e isso é um tipo de entrevista na qual estou falhando miseravelmente? — Você pode começar a trabalhar agora mesmo?

— O quê? — Cuspo um pouco de café sobre o balcão. — Ah, meu Deus! Desculpa!

— Não tem problema. — Ela pega um pano e esfrega o balcão, achando graça.

— Você está me contratando?

— Só se você quiser, mas se não quiser estou disposta a me ajoelhar e implorar. Nossa garçonete foi embora há dois meses e aparentemente ninguém mais quer servir café.

— Eu quero — digo rápida e desesperadamente porque preciso muito de um emprego.

— Que bom, às vezes não dou conta de fazer tudo. — Ela levanta uma parte do balcão e faz um sinal com a cabeça para que eu entre. — Vem, vou te mostrar tudo enquanto as coisas estão calmas por aqui. E vamos começar pela cozinha. — Ela abre uma porta, mas antes de entrar, vira-se para mim em um rompante. — Como você se chama?

— Lilás.

— Lilás? Esse é o seu nome?

— Uhum.

— É bem estranho.

— Eu sei — respondo sorrindo porque ouvi isso a vida inteira, quando as pessoas não tinham coragem de dizer em voz alta, eu via as palavras refletidas em seus rostos.

— Mas é bonito. — Faço um beicinho e ela me imita.

— Eu sou a Aline e aquele ali é o Thomaz, nosso cozinheiro. Thomaz, essa é a Lilás, nossa nova funcionária.

— Sério? — pergunta limpando a mão em um guardanapo. Faço que sim. — Porra, isso é... — No segundo seguinte ele espalma as duas mãos no ar, como se estivesse se desculpando. — Isso é ótimo.

— É — respondo achando graça e segurando a mão que ele estende para mim. — Muito prazer, Thomaz.

— O prazer é meu, Lilás, acredite. Estamos há meses procurando alguém para trabalhar aqui.

— Aline comentou.

— Espero que você nunca largue esse emprego. — Sorrio achando graça.

— Não vou largar. — Nem sei o que o futuro me reserva, mas aprendi a duras penas que preciso pensar apenas no dia de hoje, sentir apenas o dia de hoje e neste momento, não tenho a menor intenção de sair daqui.

— Vou mostrar tudo a ela enquanto não há clientes — fala Aline, enroscando seu braço no meu e me puxando para um corredor.

— E a propósito — diz Thomaz. — Não sou o cozinheiro, sou chef de cozinha e dono deste lugar.

— O quê? — Giro nos calcanhares e Aline gira comigo. — O quê? — Repito mais baixo, dessa vez olhando para ela.

— É verdade, ele é o dono. Não te disse isso?

— Não! — Ela apenas dá de ombros.

— Isso aqui não funciona sem mim, então... — Olho para Thomaz que dá de ombros também.

— Ela tem certa razão.

— Eu sempre tenho razão.

Sorrindo, ela me puxa para o corredor outra vez.

— Aqui fica o vestiário, na verdade são apenas dois banheiros e um chuveiro que ninguém nunca usa, mas você pode usá-lo sempre que precisar. Seu armário é aquele ali. — Ela aponta para um dos três armários de ferro atrás de mim. Aquiesço e coloco a bolsa lá dentro enquanto ela abre o seu armário e tira algo de dentro dele. — Para você.

— O que é isso?

— Seu uniforme. Talita tinha o seu tamanho, acho que vai servir. — Pego a sacola de papel da sua mão e tiro a roupa de dentro dela. — Vá se vestir — aponta para a porta atrás de si. — Vou esperar você aqui do lado de fora.

— Tá.

O uniforme fica perfeito. O vestido azul claro de mangas curtas e gola japonesa combina bastante com o avental marrom que vai até quase os meus joelhos. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo mais apertado e sorrio para a garota pálida e sem graça no espelho.

— Eu consegui — sussurro para mim antes de sair do banheiro.

— Não disse que serviria em você? E olha só! O vestido quase combina com as pontas do seu cabelo.

— É — falo sem graça e levo a ponta do meu cabelo que ainda é azul até o nariz.

— Preparada?

— Preparada — respondo depois de respirar fundo.

— Então vamos começar com a máquina de café.

Ela passa um braço por meu ombro e quero muito afastá-la. Há muito tempo não fico tão próxima de alguém e tenho medo de deixar quem quer que seja chegar tão perto, mas não faço isso porque Aline não está apenas me dando esse emprego.

Ela está salvando a minha vida.

♥♥♥

— Estou acabada — digo me jogando na cadeira logo atrás de mim. — Sabe quantos cafés eu fiz hoje? — Pergunto para Aline que está passando um pano limpo sobre o balcão. Ela está sorrindo e parece não estar nem um pouco cansada.

— Muitos?

— Milhões!

Fico em pé e começo a juntar todos os pratos e xícaras que os últimos clientes usaram.

— Já está arrependida de ter aceitado o emprego? — Ela inclina o pescoço para o lado e meu estômago congela.

Arrependo-me de dizer que estou cansada, quer dizer, a Aline é uma pessoa incrível e me fez rir o tempo todo, mesmo quando quebrei duas xícaras e troquei o pedido de três clientes, mas ainda assim, ela é a pessoa que me contratou.

— Não — falo um pouco apavorada porque preciso muito desse emprego.

— Relaxa, só estou te provocando.

Sorrio e volto a juntar as louças.

— Só fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que apareceram por aqui hoje. A cidade é tão pequena.

— Estamos na temporada de Cruzeiros e a ilha é um dos lugares onde os navios atracam. Normalmente eles ficam duas noites por aqui. Você vai trabalhar bastante nesses períodos.

— Que bom!

— Você está bem entusiasmada para alguém que está apenas servindo mesas.

Coloco tudo dentro da pia e começo a lavar os zilhões de copos, xícaras, pratos e talheres sujos.

— Há muito tempo eu não fico entusiasmada com alguma coisa, então... — Dou de ombros e me calo.

— Posso te perguntar uma coisa? — Faço que sim, mas ao mesmo tempo engulo em seco. Não sei se estou preparada para responder perguntas sobra a minha vida, ainda não. — O que te trouxe até aqui?

— As merdas que fazemos — respondo sem olhá-la e me surpreendo por ter dito essas palavras. — Mas acho que escolhi a ilha por causa da calmaria.

— Às vezes, ela é calma até demais.

— Você nasceu aqui?

— Nasci — responde sem olhar para mim, quase desmontando a máquina de café. Faço uma anotação mental para lembrá-la de me ensinar a fazer isso amanhã, porque hoje, não consigo fazer nada além de lavar essa louça. — E desde sempre sonho em ir embora, quer dizer, sonhava.

— O que aconteceu?

— Eu passei no vestibular para medicina e um mês antes de deixar tudo para trás, descobri que estava grávida.

— Uau.

— Pois é, as merdas que a gente faz, né? — Abro a boca para dizer alguma coisa, mas acabo e esquecendo o que era. Então, ela volta a falar. — Maia é a melhor parte da minha vida, não me arrependo nenhum momento de ter levado a gravidez adiante porque ela é muito mais do que eu poderia imaginar. Com apenas cinco anos, já virou minha vida de ponta cabeça e testa a minha paciência todos os dias, mas não sou capaz de viver sem ela.

— E o pai dela?

Pfff... Ele é um babaca. Maia não existe para ele.

— Sabe? — Começo e nem sei o que me leva a contar essa parte da minha vida para ela porque não costumo falar sobre isso com ninguém. Primeiro, porque não há nada de tão bom nela e segundo, porque quando eu falo sobre meu passado, meu coração se despedaça e eu gostaria de mantê-lo inteiro por um tempo. — Minha mãe engravidou quando tinha dezesseis anos e eu nunca conheci o meu pai porque ele também era um babaca, pelo menos era o que a minha mãe falava, então eu e minha irmã decidimos acreditar nela, mesmo quando ela não era uma boa mãe. — Forço um sorriso quando sinto lágrimas ardendo dentro dos meus olhos. — Maia tem muita sorte de ter uma mãe como você.

— Nossa! — Ela enxuga os olhos e coloca as duas mãos na cintura, encarando-me. — Quando foi que esse assunto ficou tão sério? — Dou de ombros, dessa vez sorrindo de verdade, e volto para as louças na pia. — Você disse que tem uma irmã?

Sua pergunta faz todos os meus músculos se retesarem. Não estou preparada para respondê-la, ainda não. Mas acabo dizendo algo que vai encerrar o assunto. Talvez para sempre.

— Não tenho mais.

— O que você...?

— Está pronto! — Thomaz atravessa as portas que separa a cozinha do salão e isso faz Aline se calar. Ele traz uma travessa branca nas mãos.

— O que está pronto? — Pergunto curiosa.

— Esqueci de dizer que seu contrato inclui provar as comidas que o Thomaz inventa todo final de expediente.

— Isso é bom, não é? Afinal de contas é comida de graça. — E eu não estou em condições de negar comida.

Aline sorri, pega três pratos que eu acabei de lavar e os talheres.

— Não diga isso sem experimentar antes. Às vezes, nem ele é capaz de comer as comidas que prepara.

— Eu estou ouvindo, sabia? — Thomaz passa por ela, pega três copos e volta para a mesa.

— Eu sei, por isso falei alto. — Ela o segue, mas para no meio do caminho e se volta para mim. — Pegue três cervejas, por favor.

Aquiesço, vou até o enorme freezer atrás do balcão. Fico bastante tentada a pegar as três garrafas de cerveja, afinal de contas, é só uma cerveja. Balanço a cabeça quando percebo que estou querendo me sabotar já no primeiro dia. Não vou fazer isso comigo outra vez. Pego duas garrafas pequenas de cerveja e uma lata de refrigerante para mim antes de me juntar a eles.

— Sério que você vai beber refrigerante? — Aline pergunta abrindo sua garrafa com a ajuda do avental

— Eu não bebo.

— Nunca?

— Nunca — digo com a voz vacilante.

— Que chato deve ser viver assim — Thomaz me provoca e dá um longo gole na sua cerveja. Dou de ombros tentando parecer indiferente e levanto a minha lata.

— O que tem aí? — pergunto, mudando de assunto.

— Moussaka — Thomaz tira a tampa da travessa e o cheiro faz meu estômago roncar. Então me lembro de que não comi nada hoje além daquele minúsculo biscoito de chocolate no café da manhã.

— Eu esqueci de comer hoje — digo e acho até que estou fazendo beicinho.

— Eu engoli uma fatia de pão enquanto corria até o banheiro fazer xixi — diz Aline.

— Que esperta você é! — exclamo com um pouco de inveja. — Qual o nome disso mesmo?

— Moussaka — Thomaz responde cortando um pedaço bastante generoso e colocando no meu prato.

— Parece lasanha.

— Não é lasanha. — Ele serve um pedaço bem menor para Aline e um gigante para ele.

— Sejam sinceras comigo.

— Eu sempre sou sincera, você sabe disso.

— Às vezes, você é sincera demais. — Aline dá um leve soco em seu ombro e ele sorri.

— Isso está incrível, Thomaz! — Falo com a boca cheia mesmo. — O que tem aqui?

— Berinjela.

— Sério? — Não consigo evitar uma careta. Thomaz assente.

— Tem carne moída também, queijo e...

— Odeio berinjela — choramingo.

— Mas você acabou de dizer que estava incrível.

— Mas foi antes de saber que tinha berinjela. — Coloco o garfo de lado e bebo um longo gole do refrigerante.

— Para de ser fresca e coma logo. — Aline pega um pouco de Moussaka do meu prato e enfia na minha boca que está ligeiramente aberta. — Thomaz, está realmente incrível.

— Você acha mesmo?

— Acho! Dessa vez você acertou.

— O que você acha de colocarmos no cardápio? Estou pensando em acrescentar pratos típicos de alguns países já que recebemos turistas de várias partes do mundo.

— Eu acho ótimo! — Aline bate palma e começa a falar sem parar sobre maneiras de servir, pratos que ele deveria acrescentar e mais dezenas de coisas. Não sou capaz de acompanhar nada porque ela é acelerada demais. Thomaz também parece perdido, mas sorri para ela o tempo todo e, sei que pode parecer loucura porque conheço os dois há apenas algumas horas, mas sou capaz de jurar que eles não são apenas amigos. Acho só que ainda não se deram conta disso.

Enquanto eles falam sem parar, como toda a Moussaka que está no meu prato e me sirvo de mais um pedaço. Mesmo sendo berinjela, está realmente muito gostoso e eu estou morta de fome. E dessa forma, economizo o resto do dinheiro que ainda me resta. Preciso economizar com tudo até receber meu primeiro pagamento, que eu ainda não sei quando será.

— Meu Deus! — Aline fica em pé em um rompante, derrubando sua cadeira para trás. — Já são nove horas. Preciso pegar Maia na casa da amiguinha dela. — Ela joga o avental sobre a mesa, ameaça sair correndo, mas dá meia volta e me encara. — Vamos logo! — Fico em pé, ainda enfiando uma garfada na boca. — Aline para de repente e acabo me chocando em seu corpo. — Olha o tanto de louça que tem nessa pia.

Engulo o bolo de comida que havia se formado em minha boca e bebo um longo gole de refrigerante para ajudá-lo a descer por minha garganta.

— Podem ir, eu termino de arrumar as coisas — ele diz bastante calmo, o que não combina em nada com a agitação de Aline.

— Não! Estou sem carro hoje, Thomaz, preciso de carona, lembra?

— Cadê seu carro?

— Na oficina outra vez. Vou pegá-lo amanhã cedo se a peça já tiver chegado.

— Você precisa trocar aquele carro — ele diz resignado, como se já tivesse dito essa frase mais de mil vezes e, pela maneira como Aline o encara antes de falar, acho que já disse mesmo.

— Eu sei, mas para isso eu preciso de dinheiro, então...

— Eu já disse que posso...

— Não! Você não pode falar sobre empréstimos ou sobre me ajudar a comprar outro carro. Já...

— Aline... — Ele passa as duas mãos pelo cabelo, frustrado, mas antes que diga alguma coisa, ela aponta o dedo em riste para ele. Thomaz apenas assente e fica em pé. — Vamos logo.

Aline começa a digitar algo no computador, mexe na gaveta onde fica o dinheiro e em seguida o tranca em um cofre.

— Pronto! O computador está desligado, cofre trancado, a porta da frente você já trancou, né? — Faço que sim, meio perdida com o tanto de palavras que saem da sua boca. Acho até que ela nem respira e chego a ficar com falta de ar. — A máquina de café está limpa e desligada. Você se importa de lavar essas louças antes de ir? Não sei se damos conta de tudo amanhã.

— O quê? — Pergunto ligeiramente assustada. Para falar a verdade, estou meio apavorada. — Você quer que eu fique aqui sozinha?

— Bom, não tem mais ninguém aqui, então...

— Mas você nem me conhece.

— Confio em você. Vamos, Thomaz!

— Vamos! — Ele esbarra de leve em meu ombro quando passa por mim. — Não vou te pagar hora extra, Lilás. — Olho para ele meio perdida e ele ri. — Desculpa, não tenho dinheiro para isso.

— Ah, tudo bem. Só queria que você me salvasse e não me deixasse aqui sozinha.

Ele dá de ombros, enfia as mãos nos bolsos e segue Aline.

— Amanhã entramos às oito horas. Não se atrase — ela grita já atravessando a porta que leva para a cozinha.

— Não vou me atrasar.

— Ah! — Ela gira nos calcanhares e esbarra em Thomaz que estava bem no seu encalço. — A porta dos fundos só tranca por dentro, então, quando você sair, basta bater para fechá-la. Deixe a chave pendurada no mesmo o lugar. Se não estiver lá, Thomaz fica meio perdido.

— Ah, qual é! É você quem perde a chave o tempo todo. — Ele retruca e ela solta uma risada enquanto a arrasta para os fundos. — Até amanhã, Lilás.

— Ei! Eu posso ser uma ladra! — Grito, mas ouço apenas uma gargalhada. — Ou uma psicopata! — Grito outra vez, mas a última coisa que escuto é a porta dos fundos batendo. — Eles são completamente loucos — murmuro, esfregando a testa e olhando ao redor. Hesitante por ficar sozinha, vou até os fundos, giro a chave e me certifico de que ela está trancada. Cinco vezes. Não tenho toc nem nada parecido, mas é a minha primeira vez aqui, então, estou um pouco nervosa. Confiro a porta da frente para depois voltar para o salão e começar a limpar tudo.

Uma hora e muitas louças depois, sorrio ao ver que dei conta de tudo sozinha. Estou exausta, mas há tempos não me sentia tão feliz. Vou até o banheiro, tiro meu uniforme e o penduro com cuidado no meu armário.

— Ainda bem que tem um chuveiro aqui — digo aliviada, tirando a pequena toalha que trouxe comigo dentro da minha bolsa. Pego-me sorrindo quando a água quente acaricia a minha pele e relaxa meu corpo tenso. — Você se saiu bem hoje, Lilás. Amanhã será mais um dia incrível.

Visto a mesma roupa que eu usava hoje de manhã e agradeço por ter colocado uma calcinha limpa na minha bolsa. Odeio ter que vestir uma calcinha usada. Odeio vestir roupas usadas também, mas não tenho opções até lavar tudo amanhã cedo. Apago a última luz e tranco a porta. Inspiro com força e o cheiro de mar me preenche, uma das únicas memórias da minha infância que não foram destruídas. Penso em caminhar no calçadão um pouco, mas a agitação na rua principal me faz recuar. Tudo o que eu não preciso agora é de tentação. Sei que ela está por toda parte e que precisarei aprender a conviver com isso se quiser recomeçar, mas não sei se dou conta hoje. Por isso, agarro a minha bolsa e sigo para meu carro e então, dirijo até o pequeno estacionamento que fica atrás do Café. O local é bem tranquilo e também escondido já que o estacionamento para clientes fica do outro lado.

Está deserto, escuro e silencioso e mesmo assim não sinto medo. Sinto paz por finalmente estar fazendo algo de bom para mim. Puxo o ar com força, arranco meu tênis, deito o banco do carro, pego o pequeno travesseiro no banco de trás e me acomodo da maneira que consigo. Não é macio como a minha cama era, mas também é bem mais confortável do que os lugares onde estive antes de chegar aqui, então, não me importo de sentir alguma dor pela manhã.

Esse é apenas o primeiro dia e o começo de algo maravilhoso.

E desta vez, vai dar tudo certo.

♥♥♥

Não dá vontade de colocar a Lilás em um potinho?

Contem para mim o que vocês estão achando!!! Por favor! E não esqueçam de deixar muitas estrelinhas!!! 

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