A Guerra De Kandeah - Prepara...

By MMarcosPSilva

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🥉 Vencedor do terceiro lugar do Concurso Reis de Ladar na categoria Aventura 🥉 Criar um planeta foi uma tar... More

Glossário
Dedicatória
Epígrafe
A criação
Aviso!
A traição
A Caçadora de Recompensas
O Doutor
A Atendente
Os Amigos de outro mundo
A criança gélida
A escolhida pela Vinha
O Templo dos Deuses
As Aulas do Professor Hamp
A Ilha Maldita
Combate nos céus
Enfim, em Lehota
As catacumbas
Batalha sobre a areia
A Ilha dos Piratas
A Mansão de Metallum
A Terrível Unk
Pelos corredores de Teraki
A V I S O
O porão
Resgate no espaço
Fim

Os Semi

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By MMarcosPSilva


Capítulo 2

Duas semanas haviam passado desde a criação, Mericar decidiu não incomodar mais o planeta, mesmo isso sendo impossível. O planeta já era habitado por criaturas místicas e humanos inconvenientes. Os Deuses imaginavam meios para aumentar a proteção de Kandeah e uma forma deles estarem presentes em todos os lugares.

Klenthe havia criado um local para os Deuses morarem, como um grande palácio onde residia seu pai, mas ele não queria que esse ambiente ficasse no meio dos humanos e de fácil acesso, por isso criou uma majestosa construção que flutuava sobre Kandeah e era invisível aos olhos de quem não estava lá. O nome do local era Teraki, o templo dos Deuses.

Dois grandes portões guardavam a entrada do local, eram brancos e cada porta tinha dois desenhos das maiores forças do planeta. A porta esquerda havia uma pintura de Livy de cor verde, apenas a silhueta da ave, e ao seu lado estava pintado Kenni em vermelho. Já na direita estava Lefel contornado em dourado e Kelpwi em azul. No meio de ambas as portas estavam metade de Klenthe em azul, quando estavam fechadas, a silhueta completa do Deus aparecia. Tudo era em alto relevo e passava paz para os olhos de quem visse. Do lado dos portões, dois candelabros gigantes com marfim serpenteado iluminavam o local. O fogo era vermelho e forte ao redor, e preto por dentro, dando um contraste de luz esplêndido.

Ao lado dos candelabros, dois homens, um de cada lado, guardavam os grandes portões, as armaduras eram azuis e pintadas no coração estava o símbolo de Klenthe, um V ao contrário pintado de azul claro com um serpenteado de azul escuro contornando o desenho. Ambos os homens empunhavam grandes espadas, escudos com o mesmo símbolo da armadura e um arco e uma balestra que queimava infinitamente nas costas, sem queimar aqueles que as empunhavam.

Por dentro o local era mais belo do que por fora, colunas em estilo coríntio regados a folhas de ouro, algumas paredes de vidro davam entrada a luz do sol que queimava e brilhava do lado de fora. No chão, tapetes de pedras preciosas guiavam aqueles que trabalhavam ali para todos os lugares. Lustres de cristais tilintavam no céu como uma melodia eternizada, todos ali dentro andavam para lá e para cá com vestes brancas e com o grande símbolo de Klenthe pintados. Vários corredores davam a Teraki o clima de um labirinto, mas todos eles tinham um destino digno de exploração. Já perto da sala do trono, uma grande biblioteca com livros separados por categoria se destacava no meio das paredes de marfim do grande templo. Cadeiras para aqueles que quiserem ler se sentar, e é claro, um grande lustre de cristal em formato de ave iluminava o local para uma boa e bela leitura.

A sala do trono se separava de todos com uma versão menor da porta de entrada do templo, os mesmos desenhos em alto relevo brilhavam com o reflexo da luz do sol, e lá dentro, todos os Deuses estavam reunidos. A sala do trono era extensa, uma escadaria levava quem quer que fosse até os grandes assentos dos seres mais poderosos do planeta. O trono de Livy era verde, grande e contornado com esmeraldas criando o formato de uma ave igual a ela. O de Kenni era igual o de Livy, porém um pouco menos largo e com rubis dando formato ao Deus. Ao lado do de Kenni, estava o de Klenthe, era contornado com esmeraldas, rubis, lápis-lazúli, diamantes e ouro, era o maior de todos em termo de largura e altura, e carregava consigo a silhueta do Deus. O de Lefel era contornado em ouro, era o terceiro maior trono. E o último assento era o de Kelpwi, era o segundo maior trono e contornado em lápis-lazúli.

Mais a frente da escadaria de ouro, ao lado da porta, estava uma grande sala de julgamento feita em madeira bruta para aqueles que tiveram a infelicidade de cometer crimes tão grandes que ao invés de serem julgados na terra, seriam julgados no céu, vulgo Teraki. Ali também era realizado a Audiência de Passagem, que era quando um ser humano que não era nem tão bom para ir para o céu e nem tão ruim para ir para o inferno morresse, assim os Deuses julgavam se eram merecedores de Teraki, ou de Kuollut, o mundo dos mortos.

Os cinco tronos não estavam em seus devidos lugares, eles foram posicionados em um círculo por Klenthe, pois ali estava havendo uma reunião importantíssima para o futuro de Kandeah. Todos estavam sentados eretos, acompanhando e ouvindo cada opinião dada, mas o que agradava a um, não agradava o outro.

— Certo, gente. Tenho uma última ideia. — Lefel falou, passando suas mãos em seus cabelos louros. — A melhor coisa que deveríamos fazer, era cada um de nós ficar em um continente e interferir caso subitamente necessário, afinal não podemos mudar a vida deles fatidicamente. Mas isso seria impossível, se sairmos de Teraki um minuto provavelmente em dois minutos Kandeah explodiria. Porém, se colocarmos uma espécie de representante para ficarem vagando por aí e cuidando de certas funções, você não acha que resolveria muito dos problemas?

— Como assim "representantes? — Kelpwi perguntou se ajeitando no trono.

— Vocês sabem que eu andei saindo de Teraki várias vezes para investigar humanos e tentar aprender a linha de raciocínio dessa espécie esquisita, mas junto com isso eu descobri que existem humanos um pouco mais evoluídos do que outros, pegaríamos esses seres, daríamos uma Telum e os tornaria uma espécie de Semideuses. — Lefel explicou, Kelpwi gargalhou alto, sua risada ecoou por todas as paredes do local, como se procurasse uma maneira de fugir.

— Você só pode estar brincando, não é, Deus do Ar? Estamos cheios de problemas justamente por causa dessa raça, e sua ideia genial é pegarmos eles e os fortificar? Você escuta as palavras que profere? — Kelpwi estava profundamente irritado, mas parece que todos os outros Deuses adoraram a ideia dos Semideuses. — E outra, dar uma Telum para esses seres? Os tornarem imortais e poderosos? Essa ideia é completamente fora de sentido.

— Chega, Kelpwi! Não vamos pegar todos, só os mais evoluídos ou adeptos ao cargo! Desculpe, mas são quatro contra um. — Klenthe falou aumentando o volume de sua voz. Kelpwi girou o tridente no ar, como uma forma de protesto, mas Klenthe o fitou seriamente, fazendo-o parar. — Vamos, Lefel, explique quais humanos escolheu.

— Certo. — Disse o anjo — Escolhi os seguintes cargos, Curador, Encantador de Animais, Reflorestador, Mago Cartógrafo, Guardião de Unk e o Forjador de Memórias. Unk é o nome que eu dei a prisão da qual o pessoal que cometeu crimes de tipo três vai. A função deles é simples e o nome de cada "cargo" já diz tudo sobre. Cada um de nós deve buscar eles em suas respectivas casas, explicar o que cada um vai fazer e se eles aceitam, claro. Depois tragam para Teraki, nos encontraremos aqui e faremos uma espécie de cerimônia.

— Eu não vou buscar ninguém. — Kelpwi contrariou todos ali, o encararam com os olhos em chamas de raiva. — Não concordo com essa ideia, acho burrice, não vou compactuar.

— Tudo bem, criança. — Lefel provocou, mas o Deus da água nem se mexeu, apenas o encarou. — Klenthe, em Ploxti você vai buscar o jovem Tabulae, ele será o Mago Cartógrafo, buscará também o Guardião de Unk, Clavium e o Forjador de Memórias, Boul. Eu buscarei Phofoo, o Encantador de Animais. Livy buscará Lignum, o Reflorestador. Kenni buscará o Curador, Sainan. Nos encontramos na porta de Teraki.

(...)

As altíssimas árvores de Harmonia traziam uma sensação de refrescamento a todos que andassem por suas terras. O segundo menor continente de Kandeah era todo verde e coberto por paz e bençãos. O vento melodiava levando consigo folhas verdes caídas de seus galhos para um além distante, os troncos de carvalho das mais variadas formas eram o abrigo a esquilos e criaturas místicas desconhecidas. Livy pousou depois de sobrevoar o local, a grande floresta reverenciou sua chegada com a melodia deliciosa de passarinhos cantores. A ventania que se formou do nada foi diretamente na direção da Deusa que reverenciou a floresta, afinal aquele era o lugar mais sagrado existente para ela.

— Perfeita Harmonia, anos de glória e bençãos a você. — Livy disse após se erguer de sua reverência.

Apesar do dom do voo, Livy queria sentir com suas próprias garras o chão que ela havia criado com tanto carinho. Caminhou sentindo a fofura da terra até uma grande fazenda, um grande moinho girava conforme o vento ordenava, plantações de frutas das mais coloridas já estavam crescidas graças a uma magia que Livy utilizou onde as primeiras plantações cresceriam em questão de uma ou duas semanas dependendo do tempo de crescimento normal.

Livy levantou voo para ter uma visão mais ampla do local e de Lignum, o homem escolhido para ser o Semideus das florestas e Reflorestador. A fazenda era grande e bela, segundo informações de Lefel, aquele homem havia plantando duzentos pés de cerejeira desde que chegou em Kandeah.

Nos céus, a Deusa conseguiu visualizar onde o homem estava, uma grande plantação de arbustos de amoras roxas e delicadas o rodeavam. Livy começou a planar e ver mais de perto quão belo era aquele lugar. Os pequenos arvoredos tinham suas folhas verdes e delicadas seguradas por galhos espinhentos e compridos. Várias bolinhas de cor roxa estavam juntas dando um ar suculento que fez até a própria Deusa sentir vontade de comer.

Livy pouso com velocidade e maestria fazendo a poeira levantar e o vento a contornar. As asas estavam abertas e a cabeça baixa, ela ergueu os olhos e encarou o homem que estava abismado. Ela fechou as asas e balançou o corpo, fazendo alguns grãos de poeira voar para longe.

— Minha Rainha! — O velho se arremessou ao chão, diretamente nas garras da Deusa, e com seus lábios enrugados, beijou o chão em que Livy pisava nesse momento.

— Levante-se. — Ela disse com serenidade, o homem rapidamente se levantou e não ousou encara-la nos olhos em momento algum — Belos arbustos de amora.

— O-Obrigado, Senhora. — Lignum sorriu olhando para o chão. — Eu plantei framboesas, mas elas nasceram roxas, então coloquei o nome de Framboesa Púrpura.

Livy abriu uma de suas asas, uma revoada de vento se levantou graças a velocidade que ela exerceu aquele movimento, e então apanhou a amora mais madura do pé mais próximo e levou até seu bico. Era extremamente doce, mas não era uma framboesa.

— Amora Púrpura, isso não é framboesa e sim amora. Mas não estou aqui para discutir sobre isso. Vim fazer uma oferta, aceite se desejar. — Livy iniciou, o homem ainda não tirava os olhos do chão, em sinal de respeito. — Mas, por favor, olhe nos meus olhos. — O homem atendeu ao seu pedido prontamente. Ele era velho, os cabelos brancos e a barba da mesma cor e rala. Os olhos verdes agora encaravam a Deusa infinitamente, mas era um olhar de respeito. Lignum também usava um macacão cinza jeans sobre uma camisa amarela, em uma das mãos segurava uma enxada prateada e brilhante, na outra um chapéu de palha para protege-lo do sol e nos pés usava botas pretas de borracha. — Estamos com alguns problemas e precisamos de ajuda. Convidamos alguns humanos para serem Semideuses para nos ajudarem a cuidar de Kandeah, e você foi escolhido para ser o Semideus das florestas e o reflorestador. Você aceita?

Os olhos de Lignum marejaram em lágrimas, era talvez o convite mais importante que alguém já havia feito, não só pela honraria que seria tomar conta das florestas criada pela Deusa da qual ele era mais devoto, mas sim por receber esse convite por Livy em pessoa. Ele não hesitou e concordou rapidamente, soltou sua enxada, ela caiu lentamente no chão e cravou na terra, o chapéu de palha rodopiou pelos ares e caiu exatamente em cima de um espantalho. O homem já sabia que não iria mais precisar daqueles dois itens para sobreviver.

(...)

Ainda em Harmonia, porém na direção contrária de Livy, Lefel voava sentindo a brisa suave tocando suas asas enquanto admirava a bela paisagem do local onde estava. Batia suas asas raramente, na maior parte do tempo apenas deixava ser levado pelo vento que bagunçava seus cabelos louros. O anjo rodopiava e fazia piruetas no ar enquanto ria e se divertia com a boa energia que a floresta passa.

O anjo passou por cima de uma grande árvore chamada de Treenia, aquela majestosa construção natural recebia esse nome por causa da noiva de Klenthe, que foi morta no dia do casamento de Mericar. A região em volta recebia o nome de Treenia também, era o meio de Harmonia e também a região mais sagrada.

Lefel desceu um pouco o voo para tocar seus dedos no grande Rio Verde, que recebia esse nome por ter a água da cor verde-piscina. Esse rio dividia Treenia de Tarim, uma região focada muito na pecuária em agricultura. O planeta era novo, mas quando os humanos chegaram a Kandeah, Klenthe avisou certas coisas, e uma delas foi avisar que a terra mais fértil de Harmonia fica em Tarim.

Quando os dedos do Deus tocaram a água, uma grande e fina rajada de água se ergueu no ar como uma barreira. Peixes saíram da água para ver o que tocava a água sagrada e potável do Rio Verde, assim que avistaram Lefel, pularam de alegria, o contentamento em ter um Deus por ali deixava até os peixes contentes.

Ele levantou voo mais uma vez, tinha um destino e, por mais que parecesse tentador, ele não poderia ficar por ali brincando com às águas sagradas. Seu foco era outro, a casa de um menino de seis anos de idade. Lefel bateu às asas com a maior força que conseguiu para chegar até a casa do garoto, que não era muito longe dali.

O anjo finalmente começou a avistar a casa do garoto, agradeceu aos céus por aquilo, ele jurava que estava perdido mesmo tendo visitado aquele local algumas vezes. Começou a pousar lentamente tentando evitar o máximo árvores pontudas, a única coisa que ele não queria naquele momento era se espetar com um galho qualquer.

Lefel tocou no chão com seus pés, respirou fundo e depois sorriu para um cervo que comia uma maçã vermelha do lado de uma árvore de eucalipto. O Deus encarou a casa azul que se encontrava em sua frente. Era de dois andares, porém totalmente assimétrica, dando um ar de desorganização ou um estilo aleatório. As janelas eram triangulares e o telhado era um círculo de madeira imenso. O anjo sempre que via aquela casa ria baixinho, era engraçada, não poderia negar.

Ele então avistou, na janela mais alta da casa, um menino o encarava abismado. Provavelmente o choque por ver um Deus, não era muito comum esses seres caminharem sobre a terra e fazerem visitas particulares a certos humanos. Lefel ergueu sua mão para frente e sinalizou para o garoto o seguir. O menino esfregou os olhos continuou olhando para o anjo, que o mostrou algumas sementes grandes e depois jogou-as no chão, sinalizando para o garoto seguir aquele trajeto, afinal precisava testar o medo e a confiança de Phofoo para saber se ele realmente queria e era adepto a aquele cargo.

O Deus entrou na floresta derrubando as sementes grandes conforme ele ia passando, formando assim um trilho para Phofoo o seguir. Depois de vinte minutos caminhando, Lefel chegou em um lugar amplo, plano e revestido com uma grama alta. O anjo ficou parado ali, sabia que uma hora ou outra o pequeno rapaz apareceria, caso o garoto sentisse medo, estava na cara que não era adepto a ser um Semideus.

Quinze minutos haviam se passado, nenhum sinal do menino. Lefel se irritou, se aparecesse em Teraki sem o Encantador de Animais todos iriam achar que o plano dele era um fracasso, e a última coisa que ele queria era fazer algo errado para irritar os Deuses. O anjo abriu suas asas em uma velocidade impressionante e se atirou no céu, não se importava mais com a brisa naquele momento, só queria saber onde estava Phofoo.

Não procurou por muito tempo, em poucos segundos ele já avistou onde o pequeno garoto havia se enfiado. Ele corria de um grande escorpião roxo. A criatura possuía dois metros de altura, sua calda era duas vezes o seu tamanho, o menino corria desesperadamente fugindo daquilo. Só de ver a persistência do garoto, Lefel sabia que ele era perfeito para o cargo, não desistiria de nada muito fácil, característica importantíssima para ser um Semideus.

O Deus esticou suas asas para trás enquanto flutuava graças a magia. A força de uma ventania envolveu as asas criando um turbilhão em volta de cada uma, os olhos de Lefel se tornaram brancos e brilhavam como uma estrela. Ele então bateu suas asas uma vez na direção do escorpião, um turbilhão gigantesco se formou na direção que o Anjo bateu as asas e voou até a grande criatura, que rodopiou pelos ares até se tornar um ponto roxo.

Phofoo respirou fundo, antes de qualquer coisa ele precisava estar calmo, afinal ele viu sua vida passar pelos seus olhos. Um toque daquele escorpião e ele estaria morto, graças ao turbilhão de Lefel ele estava vivo, precisava agradecer, mas o temor de olhar para o Deus era maior.

— Eu devo agradecer? — O garoto disse com uma voz melada, enquanto olhava para o chão e arrastava seu pé de um lado para o outro. — O Senhor salvou minha vida, muito obrigado.

O pequeno garoto correu na direção do Deus do ar e o abraçou fortemente. Lefel não resistiu a fofura do pequeno e envolveu seus braços ao redor dele também, depois de alguns segundos ele o soltou. Os olhos cinzas do pequeno garoto finalmente encararam os do Anjo, que sorriu.

— Phofoo, você foi escolhido para ser o Encantador de Animais e Semideus dos Animais, graças a sua facilidade para lidar com criaturas. Nós precisamos de sua ajuda e estamos lhe convocando para essa missão. Preciso que avise seus pais, te espero aqui, só não demore muito, terei de te levar até o Templo dos Deuses. — O Deus explicou, o menino concordou com a cabeça e saiu correndo floresta a dentro indo em direção aos seus pais, Lefel sabia que ele iria retornar, era perfeito para o cargo.

(...)

Dormand era uma das regiões habitadas por uma grande quantidade de humanos, era a cidade mais evoluída tecnologicamente, mesmo com o pouco tempo de planeta eles já haviam inventado coisas fantásticas e ajudado outras regiões na instalação de energia elétrica por exemplo.

Naquele lugar morava Sainan, era um médico prestigiado por vários planetas, visto que o mesmo já havia visitado cerca de quatro planetas do Evren para ampliar seus conhecimentos de medicina. O mesmo, que possuía apenas vinte e seis anos, aceitou ir para Kandeah pois iniciar uma vida em um planeta recentemente criado seria ótimo, as ervas medicinais, as criaturas míticas e animais diferenciados eram frescos e perfeitos para estudos. O doutor já havia fundado o grande hospital que levava seu nome, era um luxo total visto que os equipamentos fornecidos por Dormand eram de nível superior a qualquer um que ele já havia visto.

Kenni havia descido de Teraki em um grande salto, os Deuses pulavam da entrada de Teraki pensando onde eles queriam cair, e aí simplesmente pousavam no chão, menos o Deus do fogo que gostava mesmo era de chamar atenção com sua força colossal, então quando pulou fez uma força gigantesca ao invés de levitar, caiu como um meteoro em chamas do céu, as pessoas olharam assustadas imaginando que seria um meteoro que destruiria Kandeah. Seria irônico, um planeta criado há semanas ser destruído tão rapidamente. Os humanos se esconderam atrás de prédios como se isso fosse ajudar caso fosse realmente um meteoro.

Kenni atingiu o chão fazendo a terra tremer com sua força, uma rachadura se abriu no chão em formato de círculo, o Deus do fogo limpou a poeira de suas pernas curtinhas e saiu caminhando em direção ao Hospital Sainan. Uma rua movimentada se revelou logo na frente de onde o pequeno vulcão havia caído.

Carros com velocidades absurdas cruzavam as estradas, Kenni não sabia como aquilo funcionava direito, então caminhou normalmente pela rua. Um carro desviou do Deus e acabou batendo em uma moto cujo motoqueiro rodopiou pelo ar e caiu em um pequeno rio que corria por ali.

Kenni nem percebeu, e continuou correndo, o que era muito difícil já que suas pernas eram muito curtas, mas ele finalmente chegou até o outro lado. O hospital de Sainan era belo, um prédio de dez andares branco com vidraças gigantescas dando uma bela visão do pequeno campo de Dormand que se encontrava logo na frente. O Deus chegou até a entrada do hospital, uma porta automática se abriu assustando o vulcão que socou a porta automaticamente estilhaçando o vidro.

Os doentes que aguardavam serem atendidos gritaram e ficaram horrorizados com a presença de Kenni, depois que perceberam quem era começaram a gritar e implorar por uma benção. Todos se levantaram e começaram a fazer gestos estranhos que o Deus não entendi o que significava, então só ficou olhando.

O piso do hospital era xadrez, intercalava entre branco e preto, mas um azul safira brilhava nos pés das pessoas e acompanhavam-nas conforme andavam, aquilo na verdade era uma forma de prender qualquer tentativa de roubo e assalto, visto que se alguém apertasse um botão, uma jaula saia daquele tom de azul e deixava a pessoa lá presa, nenhum tipo de magia conseguia ser utilizado lá dentro, era um antifurto perfeito.

Cadeiras confortáveis e que faziam massagem estavam alocadas uma ao lado da outra com uma distância considerável para não haver risco de transmissão de doenças, porém elas poderiam ser reajustadas para se mover. Lâmpadas iluminavam o local, um balcão com sete guichês estava posicionado para atendimento inicial, várias portas levavam a vários lugares, Kenni não sabia o que faria, ele estava nervoso.

Um homem alto e com cabelos longos caminhou até Kenni, era magricelo e usava jaleco e uma calça social. O tom de azul o acompanhava, aquele homem deveria ser Sainan. Ele encarou primeiro o estrago que Kenni tinha causado sem querer, depois olhou seriamente para o Deus, o primeiro entre todos que ousou encarar um dos criadores.

— Você é Sainan? — O Deus do fogo questionou.

— Carl Sainan ao vosso dispor. — O médico sorriu e esticou a mão para um aperto, que Kenni destacou.

— Perdão por isso, e por todo esse escândalo. — Kenni olhou para o povo que já havia parado de gritar loucamente, mas ainda não tiravam os olhos dele. — Será que podemos ir para um local mais reservado?

Sainan concordou com a cabeça e sinalizou para o Deus o acompanhar. Eles caminharam pouco até uma pequena porta, um laser atingiu os olhos do doutor, que continuou encarando o equipamento. Kenni não sabia o que fazer, e para não destruir mais nada ficou parado e quieto.

— Labiev stan, Sainan! — A máquina falou com uma voz robótica que deixou o Deus um pouco duvidoso. — Abrindo! — Era a língua principal de Dormand, Klenthe ficou responsável por implantar o idioma principal de Kandeah e o idioma principal da região em que moram, todos em Kandeah falavam pelo menos dois idiomas, sem exceções.

Uma pequena sala se revelou atrás daquela porta, havia apenas uma mesa de madeira, uma cadeira preta, uma estante na parede e quadros com prêmios ganhados pelo doutor. Sainan se sentou na cadeira e fez sinal para Kenni se sentar, porém não havia cadeiras ali, o que deixou o Deus confuso. Uma cadeira flutuante se ergueu do chão logo após isso, e então ele se sentou.

— Doutor Sainan, estamos convocando alguns humanos para se tornarem Semideuses, você foi escolhido para ser o Curador e Semideus da Cura, graças a sua facilidade com sua medicina, preciso saber se você concorda com isso. — O Deus explicou.

O Doutor se assustou um pouco, realmente não era normal um Deus aparecer em seu local de trabalho e o convocar para uma missão importantíssima dessas, mas eles estavam desesperados por ajuda, então tudo isso deveria ser feito rapidamente, para evitar o máximo de consequências possível.

— Claro! Quando vamos até Teraki? — Sainan perguntou com um sorriso aberto de orelha a orelha.

— Agora.

(...)

Ploxti era o nome da cidade que mais de noventa por cento da população era apenas de humanos. E apenas cem pessoas em toda essa região possuía poderes, visto que a população ainda era pequena. Harmonia ficava perto de Ploxti, porém só podia ser acessada por viagem fluvial ou aérea, visto que o longo oceano dividia esses dois lugares.

Klenthe estava ali para buscar três pessoas, se assustou quando Lefel disse que Boul, o Forjador de Memórias e futuro Semideus dos sentimentos humanos, tinha apenas dezesseis anos e era considerado o ser mais inteligente de toda Kandeah. O Deus agradeceu a tudo que existia quando descobriu que as três pessoas eram quase vizinhas. Clavium, Boul e Tabulae moravam em Yeter, uma região de classe média em Ploxti. O primeiro que Klenthe iria atrás era Clavium, o futuro Guardião de Unk.

O Deus se tornou invisível para não ser reconhecido pelas pessoas dali, iria causar um grande alvoroço e a única coisa que Klenthe não queria por ali era chamar atenção. Ele caminhou pelas ruas que não estavam muito movimentadas, até chegar em uma casa cinza. Só havia uma janela na casa e ela estava tampada por uma cortina branca no lado de dentro.

Klenthe bateu na porta delicadamente, antes verificou se ninguém passava nas ruas, e esperou uma resposta, já estando visível para todos. Ele percebeu que alguém puxou a cortina bruscamente para ver quem estava do lado de fora, o Deus não conseguiu ver se era mesmo a descrição que Lefel havia passado, por isso apenas aguardou a porta ser aberta. Um homem abriu a porta, era baixo, velho e só pelo rosto já dava para identificar que era muito ranzinza. Usava uma roupa velha e suja e olhou para o Deus com total desdém.

— O que você quer? — Clavium perguntou com raiva na voz. Klenthe não acreditou no tom que o ser havia se referido a ele, ficou um pouco confuso por alguns instantes apenas olhando para o homem.

— Você foi escolhido para ser um Semideus e Guardião de Unk. — O criador falou automaticamente, sem nem pensar, só queria perguntar para Lefel onde ele estava com a cabeça quando chamou Clavium para ser Semideus. — Aceita?

— E o que diabos eu ganho com isso? Uma casa de luxo? — Ele tossiu e riu da própria piada sem graça.

— Não estou gostando da forma com que você se dirige a mim, eu perguntei se você aceita ou não. – Klenthe trovejou.

— Vocês chamando um ladrão de cofres como eu para ter um grande poder sobre Kandeah, estranho, mas bem, aceito. — Ele disse novamente rindo. Klenthe fez sinal para o homem o acompanhar, ainda faltavam dois.

Cinco minutos de caminhada depois, eles chegaram até uma casa amarela e simples, porém bem organizada, ali morava Boul. Clavium estava de braços cruzado na esquina da rua, Klenthe pediu para ele o esperar ali, não seria nada interessante o futuro Semideus das chaves sair por aí testando a paciência dos outros convidados.

Klenthe bateu na porta lentamente, rapidamente o garoto abriu a porta, como se já esperasse a visita de alguém. Ele era de estatura média, os cabelos laranjas, era gordo e estava com um belo sorriso no rosto. Seus olhos da mesma cor dos cabelos marejaram em lágrimas quando viram o Deus.

— Olá, Boul. — Klenthe sorriu para ele. — Você mora sozinho?

— Sim, meus pais faleceram poucos dias antes do festival de criação lá em Ukufez, vim tentar uma vida nova aqui em Kandeah visto que a maioridade aqui é dezesseis anos, certo? — Ele questionou, sua voz era calma e pacífica como um terapeuta.

— Meus pêsames. Você foi convidado para ser o Semideus dos sentimentos e Forjador de Memórias. Você aceita?

— Mas é claro! — Boul sorriu de felicidade.

Eles então foram em busca do terceiro e último homem, Tabulae. Duas casas depois da de Boul, se encontrava uma casa de dois andares, a única daquela rua com campainha, Klenthe apertou e esperou. A porta logo se abriu e um homem alto se revelou. Era moreno e careca, usava um terno perfeitamente passado e sorriu quando viu que ali se encontrava um Deus.

— Todo poderoso! — Ele fez uma longa reverência. — O que desejas?

— Poupe reverências, você foi convidado para ser o Mago Cartógrafo e Semideus dos mapas. Você aceita? — Klenthe já estava cansado, aquele era o último homem e agora talvez finalmente todos os problemas seriam resolvidos.

— Que honra! Mas é claro! — Tabulae deu pequenos pulos de felicidade, Klenthe o encarou com uma sobrancelha levantada.

(...)

Os Deuses se teletransportaram até Teraki, alguns segundos de diferença entre eles, o primeiro a chegar foi Kenni, depois Livy, Klenthe e por último, Lefel. Todos com seus respectivos futuros Semideuses, andaram em direção a sala do trono após as grandes portas do templo se abrirem. Os humanos olhavam as decorações de Teraki com esplendor nos olhos, Clavium estava mais interessado no luxo do que no verdadeiro significado que aquele lugar passava.

Quando as portas da sala do trono se abriram, todos avistaram Kelpwi sentado em seu trono passando seu tridente de uma mão para a outra em ritmo frenético, ele levantou o olhar quando viu aqueles humanos entrando, arqueou uma sobrancelha quando viu o jovem Phofoo, ele o conhecia de algum lugar.

Cada Deus foi para seu respectivo trono e permaneceram de pé, o Deus da água continuou sentado, até o fim ele queria mostrar que achava aquela ideia absurda. Klenthe revirou os olhos quando percebeu aquele comportamento altamente infantil, mas ele não chamaria sua atenção na frente de todos.

— Caros humanos, nós Deuses chegamos a um consenso. — Klenthe começou a falar quando foi cortado.

— Só queria deixar claro a todos aqui que eu não concordo com essa ideia, e jamais concordarei. — Kelpwi bateu o cajado no chão fazendo o baque ecoar pelas paredes.

— Chega, Kelpwi! — Klenthe gritou. — Como eu ia dizendo, chegamos a um consenso onde escolhemos vocês para serem nomeados Semideuses, assim conseguiríamos deixar Kandeah um lugar melhor. Irei dar alguns avisos e vocês decidem se mesmo assim querem continuar com a ideia de se tornarem esse cargo tão importante. Todos terão passe livre por Teraki, aqui terá aposentos para cada um de vocês conforme suas características e necessidades, portanto, podem descansar aqui. Todos vocês, exceto Sainan e Clavium, terão a função de caminhar por Kandeah inteira para ver como está o andamento das coisas. Só poderão interferir em alguma situação em caso extremo, qualquer comportamento estranho deve ser reportado a mim.

— Agora irei falar algumas restrições. — Lefel tomou a fala. — Todos aqui receberão uma Telum, isso significa que serão imortais. Clavium, você não pode ficar mais de uma hora fora de Unk, se não sentirá uma dor infernal e indescritível. Phofoo, sua Telum desaparecerá e aparecerá em outro lugar cada vez que você usa seu poder máximo, logo terá que procurá-la para poder usar novamente. Tabulae, você poderá saber a localização de todo mundo com um mapa, porém isso pode ser contornado por magia. Todos aqui, exceto o Sainan, terão sua aparência alterada. Alguém discorda com algo do que eu falei e quer desistir da ideia de se tornar um Semideus? — Ninguém falou nada, então Lefel assentiu com a cabeça.

— Sainan, o Curador e Semideus da Cura, receba sua Telum, o Frasco da Cura, cuide das doenças humanas! — Klenthe falou segurando um vidro esférico com um líquido verde dentro. O doutor subiu a escadaria e recebeu o frasco, fez uma reverência e depois se pôs ao lado dos outros humanos.

— Lignum, O Reflorestador e Semideus das Florestas, receba sua Telum, a Folha Espiritual, cuide da vida natural! — Livy disse segurando uma folha dourada que trocava de cor conforme os segundos passavam. O velho subiu a escadaria e pegou a folha, ao tocar nela, sua aparência se transformou, ele virou uma árvore de cerejeira em um outono, se movimentava conforme suas raízes se moviam, para ele era completamente emocionante ser uma parte da natureza florestal.

— Phofoo, O Encantador de Animais e Semideus dos Animais, receba sua Telum, o Berrante Encantado, cuide da fauna! — Lefel cortejou segurando um Berrante dourado revestido por pedras de brilhante brancas. O menino subiu a escadaria e quanto tocou na arma, se transformou em um leão filhote com orelhas de urso, não media mais que um metro e o seu berrante era metade do seu tamanho.

— Clavium, o Guardião de Unk e Semideus das Chaves, receba sua Telum, a chave de Unk, cuide dos prisioneiros! — Klenthe falou, o velho subiu as escadas e pegou a chave, ele se transformou em um elfo com orelhas pontudas e caídas, sua cor se tornou cinza e uma barba branca e comprida se formou em seu rosto, era corcunda e com os olhos cor de mel.

— Tabulae, o Mago Cartógrafo e Semideus dos Mapas, receba sua Telum, o mapa de Kandeah, cuide desse planeta! — Tabulae tocou no mapa e se transformou em um rato de um metro e meio, era branco e preto, mas velho e com os pelos eriçados como se tivesse tomado um banho no esgoto.

— Por último, Boul, o Forjador de Memórias e Semideus dos Sentimentos, receba sua Telum, a carta dourada, cuide das emoções humanas! — Boul pegou a carta, ele ficou pequeno, do mesmo tamanho de Tabulae, sua roupa e seus cabelos se tornaram dourados, seus olhos também, e ele ficou um pouco mais gordo e fofo.

Klenthe viu que tudo que tinha feito era bom, encarou todos ali contentes, exceto Tabulae e Clavium, mas eles haviam sido avisados, agora os problemas seriam solucionados, ou pelo menos uma parte deles. Uma salva de palmas iniciou sendo puxada por Sainan, todos sorriram e conversaram um pouco antes de realmente partirem. O Deus criador ensinou um pouco a como cada um poderia usar o seu poder.

— Agora vão, e protejam Kandeah! — Todos os Deuses, exceto Kelpwi, gritaram em uníssomo.

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