Se estiveres a ler isto vota e comenta
Brandon
A floresta era estupidamente grande, mas com a ajuda da polícia rapidamente explorávamos todos os cantos.
Isso não chegava.
-Ela não se perdeu. - gritei pela milésima vez ao polícia que dava ao cão as roupas para cheirar.
-Tens que perceber que é uma possibilidade. - responde casualmente.
-Fez uma caminhada de roupa interior e perdeu-se a pouca distância das tendas?
Conter a minha raiva ficava cada vez mais difícil.
O meu coração estava destroçado. Se algum dia duvidei que ele existisse agora com a dor que sentia achava uma dúvida absurda.
Ainda mais absurda era a incompetência destes polícias.
Estava tão farto de ter que esperar por uma merda de burocracias e relatórios. Telefonam de cinco em cinco minutos para diferentes pessoas e não há nada de novo, absolutamente nada.
Levei as mãos à cabeça deixando o meu cabelo ainda mais louco do que estava. Ao menos reflectia o que sentia.
Queria a Alice, queria tanto mas tanto a Alice.
Ninguém sabia do que era capaz por ela, talvez o choque fosse demasiado grande por me verem chorar.
Ela é a minha prioridade.
Sempre foi, sempre será. Agora não é diferente.
Controlar as emoções foi algo que aprendi durante tantos anos, dor, tristeza, alegria até raiva chegava a esconder.
Sentir que se passava algo de muito errado com ela terminava com todas as regras que me obriguei a cumprir.
Afastei-me dos homens fardados e aventurei-me pelos caminhos que ainda não tinham sido explorados. Havia qualquer coisa que me estava a falhar.
Qualquer coisa, mas o quê exactamente?
Isto não pode ter sido um acaso. Não pode ser alguém desconhecido porque a Alice teria gritado. E portanto, tem que ser alguém que saiba todos os nossos passos, que nos conheça, que saiba do acampamento.
A única pessoa que conheço que segue todos os meus passos...
Harry!
Vou matar aquele desgraçado. Vou matá-lo com todas as minhas forças.
Como é que ainda não tinha pensando nisto? Só podia ser ele. Só podia ser aquele filho da puta. Vive obcecado por tudo o que tenho, ainda mais, quando é a Alice.
Perguntei-me se seria o único que teria pensando no Harry. Confio nos meus instintos.
Sei que foi ele, sei mesmo.
E então a ideia simplesmente surgiu, como se de repente todas as peças se juntassem. Como se tivesse esquecido as regras do nosso próprio jogo.
O jogo que jogamos desde crianças.
Quer que o encontre, ele espera sempre que apareça para assistir à jogada final. Isso sinceramente deixa-me mais descansado.
E sei onde está.
A minha raiva acumula a cada minuto que corro pelos caminhos de terra. Devia parar para pensar, ter um plano.
Era tão difícil porra, tão difícil.
Olho para o ecrã do telemóvel. Tenho os riscos de bateria quase a bater no zero e não posso deixar de rir com o azar que me persegue.
E eu realmente rio, enquanto os meus olhos acumulam mais água do que em toda a minha vida.
*
Cheguei com a respiração pesada a pequena cabana da família Portman era mais longe do que me lembrava.
Sabia que a Alice estava lá dentro e precisava de entrar o mais rápido possível.
Ia fazê-lo, até que ele apareceu.
Vinha com um sorriso nos lábios, o cabelo demasiado perfeito ao ponto de irritar. A única falha era a roupa um pouco fora do sítio.
Queria matá-lo.
-Que bom ver-te irmão, sabia que mais tarde ou mais cedo acabarias por me encontrar.
-Onde é que ela está Harry? - gritei-lhe sem paciência.
-Calma Brandon, pensei que pudéssemos por a conversa em dia primeiro.
-Eu juro. - aproximei-me irritado, mas ele parou-me.
-Tem cuidado com o que fazes, um passo em falso e podes esquecer a tua preciosa Alice.
-Não me digas o que devo - comecei mas voltou a parar-me.
-Não tens curiosidade para saber o que aconteceu enquanto estiveste fora?
Cerrei os punhos, havia qualquer coisa diferente nele e isso deixava-me ainda mais atento.
Sei que está a tentar distrair-me é isso que ele faz.
-Não tenho paciência para os teus jogos de merda Harry. A Alice não tem culpa dos nossos problemas deixa-a ir.
A firmeza na minha voz era clara, mas no fundo estava a tremer.
Nunca tive tanto medo dele como hoje.
Riu-se.
-Logo agora que as coisas estão a ficar tão divertidas?
Aproximei-me irritado e ele fez o mesmo.
Estávamos tão próximos um do outro. Não podia meter a Alice em perigo sem saber o que ele tinha em mente.
Simplesmente não podia.
-Sabes uma coisa? - perguntou animado.
-Tinha saudades dos beijos da Alice.
Controla-te Brandon.
-A Alice é tão querida, tão doce, tão excitante. - sorriu com a última palavra.
-Não eras capaz.
-Não tens noção das coisas que sou capaz Brandon, pensei que me conhecesses melhor. - a voz dele era dura agora, mais dura que a minha.
-Harry...
Todo eu tremia. Queria acreditar que ele era incapaz de fazer mal a Alice, queria acreditar nisso com todas as minhas forças.
Mas este é o mesmo rapaz que ofereceu a nossa mãe em troca de um pagamento em atraso.
Queria chorar. Então fechei os olhos.
-Harry por favor diz-me que não lhe tocaste.
-Pensei em fazê-lo, cheguei mesmo a começar e acredita que a tua namoradinha é bem difícil de domar, mas não consegui.
-Achei que era bem mais divertido se assistisses. - acrescentou.
E nesse momento, puxa rapidamente uma arma e aponta-a à minha cabeça. Abri a boca para mostrar o quanto estava surpreso e ele riu logo a seguir enquanto brincava com os dedos no gatilho.
Ele é doente.
Não havia defesa plausível, não havia razões para não me enojar com o que ele poderia ter feito à Alice. Isso realmente me afecta ao ponto da dor na minha barriga piorar e simplesmente ficar contorcido no chão.
Não tenho nada, a arma está apontada a mim e a única coisa que me mantém firme é saber que ela precisa de mim.
Nunca tive medo de morrer. Mas as coisas ficam diferentes quando há uma razão tão forte para viver e para sobreviver. Isso é algo que ele nunca vai ter.
-Com calma.
Ele fala enquanto mexe a arma com as mãos. Infelizmente é esperto o suficiente para se manter longe de mim, sabe que em segundos estaria no chão com as minhas mãos no seu rosto. Olho para ele e só consigo imaginar mil e uma maneiras de acabar o que comecei no dia do bar, quando descobri que o Louis era meu pai.
Então levantei-me com toda a calma que pudesse fingir passar para o exterior, mesmo estando completamente desfeito.
-Alguém nos vai encontrar Harry.
Empurrou-me com força, íamos em direcção à porta da cabana.
Contei até três para dentro.
Alice estaria ali, amarrada, presa, a chorar e teria que contar muito mais números para manter a calma. Muitos mais.
Não ia deixar que porra nenhuma acontecesse. Confiem em mim.
Foi então que a vi.
Estava amarrada a uma cadeira, tinha marcas no rosto e braços e os lábios vermelhos com um pouco de sangue. Parecia ter estado a chorar, mas agora os olhos estavam vazios como se tivesse visto um fantasma. O corpo não parava de tremer e o peito descoberto, com uma grande ferida feita à muito pouco tempo.
-Alice! - corri para ela.
Afastou o meu toque e olhou para o Harry. Não olhou para mim, olhou para o Harry!
O meu coração estalou mais um pouco e contive as lágrimas.
Não podia chorar à frente dela porque precisava que ela acreditasse em mim, que acreditasse em nós...
-Alice tem calma por favor. Prometo que vai ficar tudo bem.
Dizer isto com o teu irmão mais velho a apontar-te uma arma à cabeça depois de raptar a tua namorada é digno de um filme. Literalmente, digno que um filme.
-Podes responder ao Brandon. - disse casualmente.
Olhou para mim, os olhos vazios sempre presentes.
-É melhor se fores embora. - a voz neutra confundiu-me.
-Alice? - pestanejei.
Não. A Alice nunca diria isto, nunca se rebaixaria ao Harry e nunca tentaria esconder tanto o que sente. Porque se há algo que aprendi nos últimos meses com esta mulher é que é fogo. E não apaga com tanta rapidez.
Olhei para ela com intensidade. Conseguia ler cada canto escondido da alma dela nos pequenos e doces olhos castanhos. Então soube logo. Soube a verdade.
Vou jogar Harry, vou mesmo jogar de volta e vais realmente arrepender-te de teres tocado na Alice.
*
-Tens a certeza que não queres que ele fique mais um pouco Alice? - lambeu os lábios. - O Brandon iria adorar ver o que começamos juntos.
-Como se me fosses deixar ir. Chega a ser piroso o quanta energia metes em destruir a minha vida Harry, é alguma espécie de obsessão? - virei-me distraído.
Olhou confuso para mim.
-Pensas que me importo contigo? - perguntou incomodado.
-Não penso, tenho a certeza. Que fascínio tão grande é esse que tens por mim irmão? - a palavra saiu-me com veneno.
O Kit era meu irmão, ele não.
-Isto é entre mim e ti. Deixa a Alice fora disto.
Isto definitivamente não era um pedido.
-Não! - ela gritou da cadeira, finalmente deixando passar algo.
Não era o que tinha em mente, mas a distracção foi o suficiente para chegar perto dele e mandá-lo ao chão. A arma rolou nas mãos dele e caiu no chão com força. Continuávamos em cima um do outro e as pancadas eram de ambos.
Sinto uma dor forte no estômago e baixo os olhos até à zona onde a faca tinha sido cravada. O sangue jorra com força e sinto o meu mundo parar durante um tempo, oiço os gritos da Alice ao longe (ou perto?) e sinto que perdi, sinto que a perdi, sinto que a chance disto acabar bem é pouca ou nenhuma.
A minha cabeça vai para trás e tenho uma última visão da Alice, até mesmo a chorar e a gritar ela continua a ser a pessoa mais bonita e linda que alguma vez vi.
Ela é o amor da minha vida.
Sempre foi, sempre será... e agora sei que sou o homem mais sortudo do mundo porque a encontrei.
Talvez morra hoje, mas morrerei a olhar para um anjo.
-Não desistas de mim amor, não desistas de nós Brandon! - ela grita alto o suficiente para ouvir, para conseguir focar.
E ele ri e ri.
Caminha até ela e tento levantar-me. Não posso...
Então volto a fechar os olhos e espero.
Porque há algo que não vos disse: os milagres existem.
E o meu chama-se Tevin que tinha acabado de entrar pela porta com espera lá, aquele é?
-Pai!? - o Harry pareceu tão surpreendido como eu.
-Harry o que é que se passa aqui filho? - o homem parecia não acreditar no que via.
Olhou para mim, depois para o filho e depois de novo para mim.
-Larga as armas e solta a Alice, agora. - disse autoritário.
-Não devias estar aqui, não devias! - gritou completamente descontrolado.
Gemi com as dores. Ia precisar de ajuda rápida, não aguentava muito mais.
-Harry a polícia está a caminho, se não queres deixar as coisas piores para o teu lado tens que soltar a Alice e render-te. - Tevin.
-Tevin... à quanto tempo. Nunca consegui que acreditasses em mim, agora percebo porquê, mais um que vive para adorar o Brandon. - ele cospe em cima de mim e a Alice volta a gritar.
Ela está desesperada, o Tevin está desesperado e o homem que chamei de pai durante toda a minha vida parece igual.
Talvez seja o desapontamento com o filho, mas alguma coisa tinha mudado.
Ouvimos as sirenes da polícia, estavam lá fora. O terror estava quase a terminar, eles só precisavam de convencê-lo a pousar a arma.
E depois eu poderei partir, em paz... sabendo que ela está bem, que vai ficar com uma pessoa fantástica como o Tevin.
Sei que ela não gosta dele dessa forma, sempre soube disso mas as pessoas aprendem a amar e não há mais ninguém no mundo a quem eu possa deixar alguém tão especial como a Alice.
-Filho rende-te, acaba com isto por favor! - ele grita desesperado.
-Foste tu que pediste pai.
E então acontece tudo muito rápido. Ele puxa o gatilho na minha direcção e sei que vou morrer, sei que a bala é para mim.
Mas ela nunca chega.
Ele salvou-me.
O homem que me criou salvou-me e levou com a bala por mim.
Lágrimas caíram-me rapidamente, a polícia entra e prende o Harry que parecia chocado a olhar para o corpo contorcido do pai, o Tevin corre a soltar a Alice que não deixa o meu olhar um único segundo.
Mas eu só olho para ele, para o corpo do meu pai.
Há algo assustador na raça humana, ela muda constantemente e surpreende o mundo. A prova estava neste homem e mesmo querendo odiá-lo, não podia.
Não conseguia.
-Pai! - agarrei-lhe o rosto pálido.
Ainda não estava morto.
Os paramédicos apareceram, mas não me importava. Precisava de estar ali com ele, pelo menos dizer-lhe uma única vez que houve um tempo em que o amei, um tempo onde fui feliz.
-Tu vais ficar bem velhote, aguenta-te.
Ele sorriu.
Aos anos que não o via sorrir. Aliás nem me lembro da última vez.
-É uma altura muito estranha para sorrires.
-Esqueci-me de fazê-lo nos últimos anos. Devia ter sorrido mais Brandon, devia ter te amado a ti e à tua mãe. Teria sido feliz. - a tosse aumenta a cada palavra.
Estou a ser posto numa maca, mas não o quero soltar.
Não quero, não agora.
E num último suspiro diz.
-Desculpa não ter estado lá para ti filho, espero que me perdoes.
*
Olá, tudo bem?
E que tal?
Admito que estou a chorar, isto doeu a escrever e sempre tive consciência de como queria que Choque Frontal acabasse, mas ainda não acabou!
Opahh acabar assim era terrível e injusto (não sou assim tão cruel).
Ainda vai haver mais um capítulo e desta vez, recheado de amor :) e ainda um capítulo extra narrado pela Alice 5 anos depois de Choque Frontal.
Com muito amor,
Jo