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"Os únicos demónios neste mundo são os que deambulam em nossos corações, e é aí que as nossas batalhas devem ser travadas."
Mahatma Gandhi
Já era de noite quando nos sentámos à volta da fogueira para conversar e passar tempo, como adorava tê-los ali comigo quase quase no natal.
Era amanhã e nunca quis tanto ver a reacção do Brand sobre o que fosse, mas as probabilidades de ele adorar a prenda eram muito altas e isso deixava-me ainda mais confiante.
Olhei para o meu pai completamente apaixonado pela mãe do Dylan, era péssimo a esconder os sentimentos tal como a filha.
Passado algum tempo os adultos finalmente deixaram nos sozinhos e o Kit contrariado também foi dormir.
Fomos avisados quinhentas vezes para irmos logo para a cama e não trocarmos de lugares durante a noite, sempre gostei de cumprir ordens mas admito que era difícil quando só queria estar com ele, aconchegada, quentinha, agarrada aos seus braços tatuados.
-Lembram-se quando levei a Alice à festa em casa do Brandon? - a Jane começou a falar entre sorrisos. - Afinal o vestido sempre resultou, não sabia é que ia ter tantos pretendentes.
-As melhores festas do nosso secundário foram lá, caralho como era bom na altura. - o Will agarrou numa geleira cheia de bebidas.
Olhei para a caixa com curiosidade, vodka e cerveja eram o mais presente.
Isto só pode correr mal.
Até porque já tinham começado a beber antes e as latas de cerveja no chão provavam isso.
-Fodasse as grandes festas do Brandon fucking Portman, elas até se ajoelhavam para pedir para entrar naquela casa. - o Ian pegou numa lata de cerveja e bebeu-a de seguida.
Não me levem a mal, os rapazes são uns queridos e engraçados, mas também são completamente loucos e com bebida nunca se sabe.
-E tu como eras um verdadeiro cavalheiro deixavas sempre que se ajoelhassem não era? - Max.
-Claro e não era o único, todos nós fizemos muita merda no secundário.
-E na faculdade também. - o Brandon acrescentou a rir-se.
Olhei para ele preocupada, estava bêbedo e isso é uma merda, sinceramente uma merda.
Não me lembro de as coisas acabarem bem das últimas vezes que o Brandon bebeu e agora acompanhado...
-Sempre com as melhores companhias. - perfeito o Dylan também já está intoxicado.
-Foste a alguma festa na casa dele veterano? - o Ian perguntou ao Tevin.
O Tevin era o género de pessoa que não gostava de atenção, não tinha medo de ninguém mas realmente preferia que não o confrontassem com nada.
Algo que me dava alguma paz.
-Nem por isso, festas onde não fazem mais nada do que beber e destruir o coração de raparigas aos quais nem sabem o nome, não faz muito o meu género. - disse aborrecido.
Também ele já tinha percebido que os rapazes não estavam bem e apesar de sermos todos amigos nota-se claramente que somos de mundos diferentes.
A mentalidade deles não encaixa nem com a minha, nem com a dos meus amigos mais próximos.
-Quando fodes metade da faculdade é difícil decorar tantos nomes, não é Portman? - o Will empurrou mais uma lata com um líquido estranho pela garganta.
E quando pensei que o Brandon iria dizer qualquer coisa decente, nem que fosse o facto de ele não ser um Portman eis que...
-Vamos lá rapazes vocês sabem que sou um cavalheiro. - esperança? - Tratavas-as sempre por amor. - disse com uma frieza e sarcasmo que me fez lembrar o velho Brandon.
Revirei os olhos e remexi-me no banco de madeira onde estava sentada, ele olhou para mim reparando na minha disposição.
Mas como eu disse, bêbedo só podia piorar.
-O que foi amor? - as palavras podiam não ser cruéis, mas o sarcasmo era evidente.
Queria me magoar e conseguiu, eles riram-se todos e tentei ao máximo reter as lágrimas que insistiam em cair.
Impressionante a mesma pessoa que pode te fazer totalmente feliz numa questão de segundos, também pode destruir cada pedaço teu.
Ignorei, não queria dar parte fraca e não o ia fazer.
A Jane também já não estava em si e o Jack parecia não saber o que fazer, o Tevin igual.
Não os posso julgar, sempre lhes pedi para não entrarem na minha relação com o Brandon.
Mas não devia ser o meu namorado a defender-me e não o contrário?
A bebida não é uma desculpa para tudo, principalmente agora que está tudo bem... não o percebo.
Eles continuaram a falar todos animados e os maços de tabaco rodavam de mão para mão.
Senti o cheiro a ir na minha direcção, era nojento.
-Vou me deitar. - levantei-me rapidamente evitando olhar para ele.
-Já? Alice devíamos aproveitar que estamos aqui. - agarrou-me pelas pernas e o Ian assobiou, algo que me irritou profundamente.
Já estava irritada com todos e os risinhos de fundo não ajudavam.
-Estou cansada e preciso mesmo de dormir bem, não te esqueças que amanhã é natal e é suposto acordarmos cedo para fazer a caminhada. - tentei soltar-me dos braços dele.
-Alice não deixes o teu namorado assim, olha que ele não se contenta com beijinhos de boa noite. - o Max, o único daqueles idiotas em que depositava esperança disse.
Fiz ainda mais força e ele acabou por desistir, estava demasiado bêbedo mas vi a preocupação no olhar dele quando estava prestes a explodir.
Ou apenas achei que vi?
-Tu é que sabes, de qualquer forma não estava à espera que quisesses te divertir.
Perfeito Brandon, perfeito!
*
Cheguei à tenda que partilhava com a Jane e com as mulheres adultas e deitei-me tentando esquecer toda aquela situação.
Eles estão bêbedos Alice. - repeti a frase mentalmente várias vezes.
Fiquei acordada durante algum tempo porque não conseguia parar de pensar, quando ouvi o fecho da tenda a abrir e um rosto familiar espreitar pelo tecido.
-Alice? - reconheci logo a voz suave.
Talvez tenha passado as últimas duas horas a tentar dormir sem sucesso, percebi que não valia a pena fingir com ele que estava "bem" quando não estava.
-Estás acordada? - voltou a falar docemente.
-Estou. - remexi-me no saco de cama e espreitei para fora da tenda.
Quando o fiz deu-me espaço para sair e surpreendi-me por fazê-lo mesmo.
-Não conseguia dormir, a cena de à bocado afectou-me mais do que esperava. - agarrei-me com força ao casaco.
A noite estava muito mais fresca de quando deixei a fogueira para ir tentar dormir.
-Não te podes esquecer que as pessoas não mudam completamente de o dia para a noite, tens que lhe dar tempo e tens que ter paciência... - sorriu sem dentes.
Se alguém fosse a calma, então essa pessoa seria ele.
-Sabes o que mais me magoa? - chutei uma pedra com força. -Ele voltar sempre ao mesmo, como se tivesse necessidade de magoar os que lhe querem bem.
-O Brandon sofreu muito, durante anos ele foi visto como o grande problemático e de alguma forma era a única coisa que as pessoas esperavam dele. - os olhos cinzentos brilharam no escuro. - Não podes esperar que ele reaja como gostarias, porque acredita que está a tentar e com tanta força Alice.
-Parecia estar tão bem Tev, quer dizer houve a cena do pai, mas agora estava tudo bem. - suspirei fundo.
-Isso só prova o quanto ele te adora, a dedicação que ele está a meter na nova vida dele é incrível. Não apenas porque está feliz com a nova situação, mas porque te tem se não... não sei como é que ele iria enfrentar isto.
-Não sei se o Brandon iria achar o caminho de volta se não te tivesse Alice, não sei mesmo. - encostou-se a uma árvore e reparei pela primeira vez no estilo dele.
Usava sempre t-shirts pretas tal como o Brandon, mas havia um contraste enorme com a pele branca e o cabelo preto, algo que prendia o olhar das pessoas pelo mistério principalmente.
Era bonito, lembro-me de pensar isso na primeira vez que o vi.
-E se ele voltar ao mesmo de sempre Tevin? - andei um pouco descontrolada entre as árvores - E se ele voltar a magoar-me porque não se consegue controlar? Porque escolhe sempre o lado errado e é impulsivo.
-Tu amas o Brandon certo? - as mãos dele vieram para os bolsos das calças.
A resposta era tão óbvia, mas tão óbvia.
-Com todo o meu coração. - confessei.
-Precisamente. - olhei para ele confusa. -O teu coração é enorme Alice, se há alguém capaz de ajudá-lo a combater todos os demónios és tu, não desistas.
-Nunca desistiria dele! - e sabia no meu íntimo que era a mais pura das verdades. - Tenho medo... - a voz falhou-me.
-Tens medo? - o Tevin aproximou-se tentando ouvir as minhas palavras.
-Tenho medo que ele desista dele próprio e, no fim, de mim. - olhei para baixo, uma lágrima caiu-me com força.
Sem dúvida alguma estou muito sentimental, mas é a primeira vez que tenho realmente tempo para pensar e sentir sem que nada me caí em cima.
E talvez porque não estava à espera que ele voltasse a isto, mas quando o próprio me avisou...
Não desculpa algumas atitudes, mas tudo leva o seu tempo, o Tevin tem toda a razão.
-Não me parece que ele alguma vez o faça Alice, o amor que tem por ti é muito superior aos medos que guarda.
Travar batalhas contra os demónios de alguém que amamos é uma tarefa complicada, porém essencial.
-Obrigada Tevin a sério, mesmo mesmo! - abracei-o com força e sorri com a diferença de alturas.
Era tão bom estar nos braços de alguém que nos entende e que se preocupa sinceramente com o que sentimos, é tão bom poder durante alguns segundos sentir um reconforto e aconchego no coração por estar rodeada de pessoas que amamos e que nos amam.
Os braços dele apertaram-me com mais força e quando dei por mim tinha a cabeça no peito do Tevin e sentia-me uma verdadeira criança, quase como se o meu irmão mais velho cuidasse de mim.
O Tevin era o irmão que nunca tive, assim como o Jack, ambos fantásticos.
Sorri com o cheiro a lavandaria da t-shirt dele, era engraçado como estava sempre limpo e arrumado e quase logo a seguir beijou-me a testa com carinho e sorri ainda mais, sempre nos braços dele.
-Mas que merda é esta? - soltei-me do abraço apertado com os olhos ainda molhados das lágrimas que caíram sem dar conta.
Olhei um pouco confusa para o sítio onde ele estava e o corpo do Tevin ficou tenso atrás de mim.
-Não é o que estás a pensar Brandon.
Abri a boca surpreendida, para mim a ideia era tão absurda que nem pensei nisso logo no momento.
-Não é o que estou a pensar? - a voz dele arrastada pela bebida, mas firme e sarcástica magoava-me intensamente.
Como sempre a voz faltava-me, a força nas pernas também e a coragem falhava.
-Vocês só podem estar a brincar comigo caralho! - andou em frente e o Tevin protegeu-me.
Não preciso de protecção. - queria dizer, mas não consegui.
-Tem calma Brandon, deixa-nos explicar. - o Tevin estava calmo por fora, mas sabia que no fundo tinha medo dele.
O corpo dele estava tão ou mais tenso que o do Tevin e o medo devorava-me.
-Nem quero pensar que merda teria acontecido se não tivesse chegado a tempo, então Alice? - o sarcasmo crescia a cada palavra.
Sabia o quão magoado ele estava por pensar isto e usava o sarcasmo para se proteger.
-Brandon estás a ouvir o que estás a dizer? A Alice ama-te e eu sou teu primo porra. Nunca houve nada entre nós, tu sabes disso só porque estás bêbedo... - no momento em que o disse o Brandon acertou-lhe com força no rosto e gritei surpreendida.
-Brandon! - coloquei-me em frente ao Tevin que sangrava do lábio. - Tu estás louco? Olha o que fizeste!
-Como é que queres que me sinta depois desta merda caralho? Força beija-o agora e diz-lhe que vai ficar tudo bem como fazes comigo Alice, força.
-Tu estás tão bêbedo Brandon, olha para mim e para o Tevin. - subi o tom de voz desesperada. - Achas mesmo que nós íamos fazer alguma coisa?
-Vocês são perfeitos um para o outro, todos dizem isso e pensam que eu não sei, que não oiço o quão perfeita és para mim, que és boa de mais e que merecias alguém como o Tevin.
-Ninguém diz isso Brandon. - acalmei-me.
A única pessoa que mexe com todas as pontas do meu coração, até as que nunca pensei ter és tu e só tu, de onde vem tanta insegurança agora?
-Devias ir dormir, não estás nada bem. - o Tevin aconcelhou-o.
-Para quê caralho? Para teres tempo a sós com a Alice? - disparou irritado e veio na nossa direcção de novo. - Admite de uma vez que queres a Alice caralho.
-Já chega! - gritei com toda a irritação e frustração que fui guardando esta noite. - Por favor Brandon chega!
Olhou para mim, finalmente.
-Foi exactamente por este comportamento que te deixei na fogueira, não estás em ti hoje, mas isso não quer dizer que possas bater no Tevin e acusar-nos de te trair. - o meu olhar era duro, mas nunca fugiu ao dele. - Nunca na minha vida o faria, nunca.
-Alice... - começou a falar.
-Não Brandon, por favor vai dormir, falamos amanhã quando estivermos melhor, porque sinceramente neste momento nem consigo olhar para a tua cara. - acabei com a respiração ofegante.
-Eu-eu- não sei.
-Ou vais tu ou vamos nós. - ameacei.
*
Olá tudo bem leitoras?
Adorei tanto escrever este capítulo e nem sei porque razão em especial, talvez porque prova que todos temos os nossos momentos de fraqueza e insegurança e que não somos de aço.
Assim como todos temos as nossas dúvidas e incertezas sobre alguma coisa.
Uma das minhas frases preferidas do livro foi dita pelo Tevin e explica toda a essência do Brandon Portman/Sprouse "Não sejas o teu pior inimigo, porque é isso que ele quer" (ou algo do género)... bem e que mais Tevin? Porque tens toda a razão.
Digam-me o que acharam deste capítulo e palpites do que esperam para a frente!
Estamos mesmo na recta final e se eu acho que vou chorar com o final, talvez vocês também chorem.
Fiquem atentos, não sei se o próximo capítulo saíra esta semana porque ando mesmo muito cansada e quero vos dar o melhor que posso!
Muitos beijinhos,
Jo