A Mais Bela Melodia

Від CarolTeles

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A história de Lorena e Klaus se passa em Esperança, uma cidade pequena, onde vivem entre as desavenças na esc... Більше

Capítulo 1: Klaus
Capítulo 2: Lorena
Capítulo 3: Klaus
Capítulo 4: Lorena
Capítulo 5: Klaus
Capítulo 6: Lorena
Capítulo 7: Klaus
Capítulo 8: Lorena
Capítulo 9: Klaus
Capítulo 10: Lorena
Capítulo 11: Klaus
Capítulo 12: Lorena
Capítulo 14: Lorena
Capítulo 15: Klaus
Capítulo 16: Lorena
Capítulo 17: Klaus
Capítulo 18: Lorena
Capítulo 19: Klaus
Capítulo 20: Lorena
Capítulo 21: Klaus
Capítulo 22: Lorena
Capítulo 23: Klaus
Capítulo 24: Lorena
Capítulo 25: Klaus
Capítulo 26: Lorena
Capítulo 27: Klaus
Capítulo 28: Lorena
Capítulo 29: Klaus
Capítulo 30: Lorena
Capítulo 31: Klaus
Capítulo 32: Lorena
Capítulo 33: Klaus
Capítulo 34: Lorena
Capítulo 35: Klaus
Capítulo 36: Lorena
Capítulo 37: Adônis
Capítulo 38: Klaus
Livro 2: Entre Notas

Capítulo 13: Klaus

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Від CarolTeles

Esperança era uma dessas cidades que você facilmente confundiria com uma de filme americano. Ruas arborizadas e casas para lá de limpas. A lei aqui era rigorosa sobre lixo, e as pessoas dificilmente colocavam cercas ou muros em suas casas, a não ser que fosse por puro adorno.

A colonização europeia do sul no Brasil trouxe muito dos costumes lá de fora, e um deles era a organização simétrica dos quarteirões perfeitos e bem divididos. Ou seja, Esperança era o lugar para onde se corria quando o resto do país estava à beira da loucura.

Contudo não era a cidade em si que me impressionava ao ponto de me fazer babar. Eram os campos de vinho, e os eucaliptos visíveis nos pontos mais altos, como a torre da prefeitura e a igreja católica. Eram os rios, lagos e o pôr do sol multicolorido. Mas, sobretudo era um ponto específico dentro de um pequeno condensado de árvores que se estendia da estrada até a beira do rio. Ali era meu paraíso pessoal.

Tão perto do rio que dava para ouvir a água correr em um dia silencioso. Dava para sentir os peixes se movimentarem em seus caminhos sinuosos e tranquilos sob o sol perfeito daquela parte do país. Se eu fechasse os olhos por muito tempo, era capaz até de ouvir o farfalhar na grama dos passos de Tom Sawyer aprontando suas travessuras, mesmo que aqui não fosse o Mississippi.

Foi ali, alguns séculos atrás, que alguém plantou certa árvore. E era aquela árvore que me transportava para qualquer lugar do mundo simplesmente por existir próximo a mim. Radiante, reluzente, vibrante e todo e qualquer adjetivo fabuloso que pudesse se adequar a ela.

Era antiga. De acordo com meu pai, provavelmente tinha uns duzentos anos. O tronco era forte e escuro. As raízes se projetavam para todos os lados, dando um tom sombrio para quem a fitava do chão, formando sulcos onde eu costumava deitar e dormir, como se fosse um berço.

Os galhos eram longos e quase sempre carregados de folhas, as mais vermelhas que já vi na vida. Podia ser outono, ou a primavera, as folhas eram sempre vermelhas. Quando o sol resolvia ir embora, em cima do rio Toquin, as folhas ficavam alaranjadas em uma mistura de brilhos que jamais verei em qualquer conjunto de aquarela que Tom Jobim pudesse pintar em uma canção.

Estávamos naquele momento deitados em um único sulco da árvore. Adônis tinha trazido um baseado já enrolado. Não sabia quem fornecia a maconha para ele, mas sempre ficava contente quando chegava com pequenos pacotes para a gente. Depois do dia do ginásio eu tinha me livrado de todo o bagulho que tinha no meu quarto, e Samuel nunca guardaria nada na casa dele, então Adônis era o nosso cofre.

Não dava para ver fadas verdes com aquele negócio, mas sempre foi uma forma engraçada de rir de qualquer coisa e esquecer toda a merda que se passava ao nosso redor. Adônis era o príncipe das uvas de Esperança, quiçá de todo o país. Ainda assim vivia o mais longe possível dos pais porque não suportava ter que se comportar como o deus grego que eles queriam.

O sonho dele era viajar pelo mundo, transar com a maior quantidade de garotas que pudesse e ficar bêbado e louco até gastar todo o dinheiro dos Narcole e poder morrer de overdose em paz.

Já Samuel teve um pai que morreu em um acidente feio de carro, por isso a mãe era super protetora com ele. Não podia comer sem passar álcool em gel nas mãos, e usar banheiro público só se levasse um assento higiênico. Tinha pena dele porque esses cuidados da mãe podavam tudo o que ele queria ser: Exatamente como nós. Acredito que esse era o motivo dele ficar bêbado e doidão conosco. Nunca achei que Samuel gostasse realmente dessas coisas, mas sabia que ele curtia demais a rebeldia e a fuga que a gente era capaz de proporcionar.

E para completar tinha eu, o cara que havia sido trocado por uma guitarra elétrica. Que ficou com o pai, que tinha se tornado tão frio depois que a esposa foi embora, que simplesmente não sabia demonstrar qualquer sentimento bom que fosse. Eu tinha certeza de que ele ainda esperava minha mãe abrir a porta de casa dizendo que queria voltar.

Isso tudo era uma merda! E se íamos viver na merda, era melhor viver nela lombrado e rindo de pássaros, o que era exatamente o que estávamos fazendo agora.

— Você devia ter trazido um pouco mais disso, Adônis. — Samuel resmungou fungando.

— Olha só o que temos aqui, o menino certinho da mamãe querendo chegar em casa cheirando a maconha.

Adônis passou o resto do baseado para Samuel, que o mandou à merda. Eu sorri. Estava olhando a luz entrar entre os espaços da folhagem. Cegava por uns instantes, e depois te deixava numa confusão visual deliciosa.

Apoiei-me nas raízes e levantei, já tratando de me espreguiçar. Sentei em uma das grandes ramificações e comecei a cantarolar "Can't Buy me Love" até os meninos estarem me acompanhando, imitando instrumentos musicais. Terminamos a cantada rindo, para variar.

— Você ainda não nos contou como foi a aula de Diego ontem. — Adônis olhou para mim despreocupado.

— Ah, foi legal. — Respondi me encostando ao tronco. — O cara tem talento e uma base decente. Agora é só exercitar o que ele já sabe e acrescentar o resto.

Adônis murmurou uma concordância e veio se sentar ao meu lado, deixando Samuel curtindo a viagem dele ainda deitado na grama.

— E o apartamento, ele está gostando? Já tinha alguma das exibidas de Esperança por lá com ele?

Tinha uma curiosidade verdadeira nos olhos de Adônis, e isso era no mínimo curioso. Ele não era de perguntar muito e, bem, essa seria uma resposta engraçada.

Conversei com Diego sobre o fato de não poder mentir para esses caras, e nisso estava incluso falar tudo o que acontecia nas aulas. Diego concordou comigo, ciente de que não havia outro modo de me ter como professor sem Adônis e Samuel na retaguarda.

— Não encontraremos uma exibida no apartamento, Adônis. No máximo um exibido, ou um discreto.

Ele ficou suspenso por algum tempo, tentando entender o que eu tinha dito. E só depois de alguns segundos sua mente, cheia de maconha, pareceu processar o fato, e então seus olhos se arregalaram numa expressão de perplexidade engraçada.

— Caraca! Acho que as meninas vão ficar bem decepcionadas quando começarem a perceber que o partidão da cidade não sai com garotas. — Eu sorri e balancei a cabeça, concordando com ele. — E como ele tocou nesse assunto com você?

— Bom, Lorena fez um jantar pra lá e ele me obrigou a participar do evento com eles, o que foi terrível para mim, mas...

— Espera. Você teve que jantar com Lorena?

Não tive tempo de responder por que Adônis já estava gargalhando ao meu lado. Eu tinha que admitir que era um fato engraçado, e nem foi tão ruim. Na verdade havia sido tranquilo e leve, como jamais achei que fosse possível ao lado de Lorena. Descobri que ela cozinhava bem e que ficava fantástica de lingerie preta e bochechas coradas.

— Cara, o mundo está conspirando para vocês caírem na porrada. — Ele ainda estava gargalhando, e eu franzi a testa em súplica.

Não queria falar sobre aquilo, mas ele estava chapado, e o fato de eu ter jantado na mesma mesa que Lorena poderia ser substituída por um jantar ao lado de um dragão usando calcinha fru-fru que teria o mesmo efeito sobre ele.

— Já fizemos isso, Adônis. Não se lembra do corredor na escola?

— É verdade, como esquecer aquilo? Eu ainda tenho gravado no telefone.

Ele puxou o aparelho e eu o peguei rapidamente, guardando no bolso do meu casaco. Alguém teve a boa vontade de filmar enquanto Lorena me batia. Não sei como chegou até o telefone de Adônis, mas ele me infernizava desde então.

— O caso não é ter jantado com Lorena, Adônis. O importante é saber que o irmão dela é gay e resolveu morar em Esperança. — Ele me olhou confuso e eu me senti explicando para uma criança de onde vêm os bebês. — Esse pode ter sido o motivo que o fez ir embora.

— Como assim? Vergonha? — Ele perguntou num suspiro engraçado.

— Ele é filho do pastor, cara. — Respondi ficando com a coluna ereta e chutando de leve a cabeça de Samuel no chão, que estava caindo nos meus pés.

— E daí? Você acha que o pastor o colocou para fora de casa? — Adônis me acompanhou e também chutou Sam, que revidou e puxou o pé dele, fazendo-o cair de bunda no chão. Eles riram por um tempo e eu fiquei observando como ficamos babacas quando estamos assim.

Adônis voltou a se sentar ao meu lado e pigarreou, me dizendo que estava prestando atenção em mim novamente.

— É sempre uma possibilidade, não acha? — Comentei quando ele beliscou a palma da minha mão — Você já viu como o pastor Sanchez é mal encarado?

— Você sempre pensa o pior das pessoas, Klaus. — Samuel comentou se sentando. — Foi assim com aquele carteiro, lembra?

— Mas o cara parecia ter fugido de um presídio! — Me defendi lembrando o homem estranho que ficou rondando o quarteirão da minha casa por mais de uma hora.

— E a garota do clube? — Adônis revirou os olhos para mim.

— Tenho certeza de que era sobrinha do carteiro. — Argumentei quando lembrei que derrubei a menina na piscina por achar que ela iria dar a rasteira em uma velhinha.

Ser filho de um cara que suspeitava da própria sombra tinha esse efeito em mim. Era um psicopata que andava olhando para os lados.

— Tudo bem, sou desconfiado mesmo. — Me rendi quando eles riram — Mas não gosto do jeito daquele pastor.

— E o que ele fez com você?

Olhei para Samuel e me detive de falar no momento em que o pescoço machucado de Lorena surgiu em minha mente. Sei que poderia ter sido algo que o imbecil do Matheus pudesse ter feito, ou simplesmente uma queda. Ela era desastrada e não estranharia se tivesse se machucado. Mas algo dentro de mim dizia que aquela garota era durona demais para deixar um cara se safar de ter feito mal a ela, e seus olhos assustados me diziam que era algo muito mais sério do que uma queda. Que Deus me ajudasse a não descobrir que o pai a machucava de alguma forma. Não que isso me importasse, claro, mas metade daquela cidade acreditava na santidade do homem. Eu podia ser desconfiado o suficiente para descobrir que ele era uma farsa sem ficar com peso na consciência de que iria para o inferno, ou o mandaria para lá. Sem contar que era justo demais para deixá-lo se safar de algo do tipo.

— Nada. — Respondi desviando os olhos dele. — E isso também não é da nossa conta.

— O justiceiro vai se aposentar? — Adônis brincou e eu fingi um sorriso. O barato da maconha já tinha todo ido embora com aqueles pensamentos pesados.

Que saco!

— De férias por tempo indeterminado. — Resmunguei apertando a base do nariz com força.

Logo depois Marion me ligou para saber que horas chegaria a casa dela para a tal festa, o que fez Samuel lembrar que ainda precisava convencer a mãe, e Adônis gritar assustado por ter esquecido que ficou de levar uma caixa de som. Acabamos indo embora mesmo sem querer.

Eu estava com a cabeça tão cheia dos acontecimentos da semana, que me esqueci do meu compromisso semanal com o delegado, que costumava ser na mesma hora que Marion havia marcado a tal festa. O carro dele precisava de uma limpeza, e esse era o modo do meu pai mostrar para a vizinhança que tinha um relacionamento saudável comigo. O velho tinha umas ideias estranhas.

Lavávamos o carro em silêncio. Às vezes eu até colocava o fone de ouvido e topava o volume do ipod. Não fazia diferença para ele se eu conversaria ou não. O importante era continuar com a rotina de "pai e filho" de fazermos algo junto, mesmo que fosse tremendamente solitário.

Teria que deixar um recado na porta da geladeira dizendo que iria me atrasar. Eu sempre me atrasava e ele sempre fingia que não ligava. Parecia um círculo pernicioso que não tinha fim e que começou quando minha mãe partiu. Éramos o resultado de uma ação que nenhum de nós causamos, mas que ambos nos culpamos por ela. Eu me atrasava para evitar lembrar que éramos sozinhos e perdidos naquela casa; ele fingia que não dava a mínima porque sentia-a mais seguro assim. 

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