A Corte - Livro 1 - DEGUSTAÇÃO

Bởi LaisdosPassos

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ATENÇÃO! A versão completa do livro está disponível na Amazon! Helena só tinha dois sonhos em sua vida: poder... Xem Thêm

SINOPSE
DREAMCAST
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Livro em Degustação

Capítulo I

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Bởi LaisdosPassos


Jardinagem.

É tudo o que eu preciso para me acalmar depois de uma manhã insuportavelmente chata, costurando e aturando as chatices das minhas clientes.

Isso, para não mencionar a droga do noivado, é claro!

Dezoito anos e já tenho tantos problemas para resolver...

Já vesti a minha calça bege e minhas botas de borracha — uniforme clássico para as longas tardes remexendo na terra. Já coloquei meu chapéu também, para que o sol não provoque queimaduras na minha pele, já que perco a noção do tempo quando estou aqui.

Ao enfiar a pá na terra úmida, sinto um pequeno alívio, mas ainda não é o suficiente, por isso, termino de cavar o buraco com as próprias mãos e, ao enxugar o suor do rosto, acabo me sujando um pouco. Apenas a primeira mancha que logo se juntará a todas as outras até eu acabar meu serviço.

— Você vai ficar linda no meio das hortênsias — digo para a muda de begônia que seguro nas mãos.

Ouço a minha mãe gritar de dentro de casa. Sei o que ela vai pedir e finjo que não ouço. Sei que ela vai insistir. Sei também que ela vai se enfurecer e dizer que nunca mais poderei mexer no jardim. Não existem grandes novidades na minha vida.

— Helena! — grita a minha mãe. — Estou te chamando há horas.

Reviro os olhos com seu exagero e vejo a figura baixinha e gordinha vindo na minha direção, com as mãos na cintura e com a cara fechada. Olhando assim, pode-se pensar que ela é uma pessoa brava, mas tudo não passa de pose.

— Não te ouvi, mãe — minto.

— Como não? Eu estou berrando. — Ela para um pouco e fica me observando aparar algumas folhas. Isso é um péssimo sinal, porque eu sei o que virá em seguida. — Vá tomar um banho. Estou indo na casa da Julieta.

Esse é sempre um momento ruim do meu dia, porque eu detesto discutir com a minha mãe, mas, às vezes, tenho a impressão de que seu passatempo preferido é comprar briga comigo.

Desde que meus pais acertaram em definitivo sobre o meu casamento com o Jonas, filho da Julieta, que a nossa relação piorou drasticamente. Eu contribuí muito para que nossas desavenças aumentassem na última semana, admito, porque, mesmo sabendo que a lei do nosso reino nos obriga casar contra a nossa vontade, meu lado contestador — que ocupa boa parte de mim — não me permite aceitar isso de boca fechada.

Uma espécie de gripe foi responsável por dizimar três quartos da população mundial. Minha avó sempre me contava que sua avó lhe contou que aquela não era como as gripes que conhecemos. Aquela era mais forte e extremamente mortal e, além do óbito, o medo também se espalhou pelo planeta. Levou quase uma década para que os cientistas descobrissem a cura e, quando isso aconteceu, cada representante precisou pensar em uma maneira de repovoar seu país.

Para a minha total falta de sorte, o rei Plínio I, primeiro rei de Iseia, decidiu que seria uma grande ideia obrigar todos os jovens a se casarem até os dezenove anos e terem, no mínimo, dois filhos até os vinte e cinco.

Não existem leis muitos duras por aqui, mas esta é levada muito a sério, mesmo. Há uns vinte anos, houve uma moça aqui no meu vilarejo que se rebelou contra o sistema e decidiu assumir seu relacionamento com outra mulher, o que, para um governo que só pensa em filhos, foi uma afronta sem tamanho. Ambas foram condenadas à morte e serviram de exemplo. 

E é por causa deste velho imbecil e das suas ideias ridículas que eu estou descontando toda a minha frustração na minha pobre mãe.

— Eu não vou na casa da Julieta. Eu estou ocupada.

Ela cerra os olhos, como sempre faz quando começa a ficar irritada.

— Você precisa ver o seu noivo! — ela diz isso, como se fosse um insulto. — Temos que resolver os detalhes do casamento.

Finalmente largo minhas plantas e levanto.

— Eu não gosto dele, mãe! Você não consegue entender isso? — disparo, tentando controlar a minha raiva. 

Apesar da minha reclamação, o Jonas não é o que se pode chamar de um noivo ruim. A família dele tem posses, é dona do único mercado do vilarejo e, perto dos outros rapazes daqui, ele até que é bem apresentável.

— É sério mesmo que você acha que eu não mereço coisa melhor? 

Esse argumento a deixa confusa. Pelo menos, por alguns minutos.

— Amor é fruto da convivência, filha. — Minha mãe sempre repete este argumento ridículo, como se ela própria tentasse acreditar em suas palavras. Ela também já passou pelo que estou passando agora e sinto muito por meus pais não se amarem. E é justamente por este motivo que eu não quero casar conta a minha vontade. — Além disso, se dependesse da minha vontade, você se casaria com um príncipe — torna, depois de pensar por alguns instantes. — Mas você sabe que não é assim que as coisas funcionam.

— E quem disse que eu quero me casar com um príncipe?

Essa é a hora em que ela explode.

— Você está me tirando do sério, Helena! Está proibida de pisar neste jardim — decreta, com mais raiva do que o habitual. — Pode ir para o banho agora, porque nós duas vamos até a casa da Julieta, querendo ou não.

— Mas...

— Nem mas, nem meio mas. Pensasse nisso antes de me desrespeitar.

Ela vira às costas e volta para dentro de casa e eu sei que perdi esta batalha. Se meu pai estivesse aqui, eu ainda teria como apelar, mas, como estou sozinha, dou-me por vencida e vou para o banho.

Demoro bastante na banheira — ou tina, chame como quiser —, esfregando as minhas unhas, que estão encardidas e aproveito para lavar meus longos cabelos castanhos com o sabão de coco que a minha mãe fez. Apesar de quase todos no meu vilarejo terem cabelos claros, adoro a cor dos meus, pois me tornam única. Além dos meus olhos, é claro. Não é todo dia que se vê uma pessoa que tem um olho azul e o outro castanho.

— Eu ainda estou te esperando! — Minha mãe grita, dando socos na porta.

— Quer que eu vá encardida até a casa da Julieta? — retruco, com voz de desdém.

Acho que meu argumento surte efeitos, pois não a ouço mais até sair de dentro do banheiro, enrolada na toalha.

— Seja rápida.

Não me dou ao trabalho de responder. Entro no quarto que divido com Aristides, meu irmão caçula, e procuro o vestido mais tosco da minha gaveta, um dos primeiros que costurei, quando ainda estava aprendendo.

A gargalhada escandalosa do Aristides, quando me vê na sala, é a prova de que meu plano deu certo. Eu estou ridícula.

— Você não vai usando isso, vai?

— Qual o problema? — devolvo, fazendo-me de desentendida.

Se ela é teimosa, vou mostrar que eu consigo ser muito mais.

— Nenhum, Helena.

Seguimos caminhando a passos rápidos até a casa da tal mulher. Nosso vilarejo é muito pequeno e não levamos mais do que dez minutos para chegar até lá. Após bater palmas em frente ao seu portão, não contenho um revirar de olhos ao ver o Jonas vindo nos receber.

Não me entenda mal. Ele não é uma pessoa ruim. Apesar das nossas desavenças durante a infância e, até no começo da adolescência, hoje somos amigos.

O problema é que eu não o amo, assim como ele não me ama.

— Gostei do vestido — diz, baixinho, em tom de brincadeira.

— Longa história — resmungo

Seguimos em silêncio até a sala e, enquanto minha mãe e a Julieta conversam na cozinha, deito-me no tapete felpudo da sala, apoio o queixo sobre as mãos e dedico toda minha atenção ao aparelho televisor que enfeita a estante imponente e lustrosa. O Jonas bem que tenta puxar assunto, mas entre ele e um equipamento eletrônico caríssimo, que minha família nunca vai ter condições de ter, eu fico com a segunda opção. Sempre que venho à casa dele, isso acontece, porque eles são os únicos moradores daqui que possuem certos luxos.

Infelizmente, tive a falta de sorte de nascer em um local pobre de uma província pobre. Não existem escolas e hospitais por aqui, o que explica os altos índices de mortes por motivos ridículos e o fato de ninguém aqui, com exceção do Jonas — que foi mandado para outra província —, saber ler.

— Não vai me contar qual é a do vestido? — insiste.

— Só estou desafiando a minha mãe.

Ele se senta ao meu lado, mas, antes que tenha chance de perguntar mais uma vez, a transmissão é interrompida e o brasão do reino aparece, juntamente com as primeiras notas do hino.

— O que houve? — indaga Julieta, correndo para a sala, com a minha mãe no seu encalço.

— Ainda não sabemos.

O rosto rechonchudo de Mário Silva e Silva, o anunciante real, preenche quase toda a tela e em poucos segundos, sua voz sibilante soa.

— Súditos de Iseia e todas as suas províncias, é com imenso pesar que venho informar o falecimento do rei Plínio IV, vítima fatal de um câncer no pâncreas. O funeral acontecerá na capela real e estará aberta a todos que quiserem prestar uma última homenagem a este, que nos governou por tantos anos com honra e justiça.

— Justiça? — desdenho, fazendo uma careta. — Que justiça?

— Helena! — Além da repreensão, levo um beliscão no braço.

Não temos chance de iniciar uma discussão sobre o acontecido, pois Mário continua seu discurso.

— Como é de conhecimento de todos, o rei Plínio não deixou nenhum herdeiro e, nestes casos, a corte é convocada para tratar deste assunto de extrema importância para o reino. — Ele pigarreia, e continua: — Todos os membros da corte tem até às treze horas de amanhã para comparecerem ao palácio e cumprir com suas obrigações enquanto nobres deste reino. Tenham todos um ótimo dia.

O brasão volta a aparecer e a transmissão da novela continua, como se nada tivesse acontecido. E aproveitamos essa deixa para voltarmos para a nossa casa.

Já está escuro quando meu pai chega. Estou sentada à mesa, jogando uma partida de dominó com o Aristides, enquanto discutimos sobre essa tal corte que vai decidir o futuro do nosso reino. É claro que, tendo como analistas uma moça de dezoito, que não coloca a menor fé no nosso governo, e um garoto de doze anos, que adora zombar de tudo e de todos, nossa discussão está girando em torno do quão idiotas essas pessoas são.

— Aposto que eles são mais estúpidos que o Mário Silva e Silva. — Ele ri, imitando a voz estridente do homem e sua postura pomposa nos anúncios.

— São um bando de velhos sanguessugas. Eu tenho certeza que são muito mais idiotas que aquele imbecil.

Meu pai junta-se a nós na mesa. Mesmo cansado, ele faz questão de jogar, pelo menos, uma partida com a gente todas as noites.

— Soube da novidade? — pergunto, enquanto misturo as pedras no monte para serem distribuídas.

— E quem não soube? Só se fala nisso. — Suspira. — E sabe o que isso significa? Mais problemas a caminho. Por pior que o rei Plínio fosse, ao menos ele mantinha a nossa província anexada ao reino. Ninguém sabe se o próximo rei manterá essa decisão.

Caramba! Eu nunca tinha pensado nisso. Nossa província já é miserável, recebendo ajuda do reino. Se ele virar às costas para nós, será o fim.

— Mas não vamos pensar nisso. O que fizeram hoje?

— Eu joguei bola com os garotos e a Helena foi até a casa do Jonas para namorar. — Zomba o meu irmão.

Estamos tão acostumados com suas brincadeiras sem graça, que nem nos preocupamos em retrucar.

— Ah! — exclama, parecendo ter se lembrado de algo. — Deixaram uma carta aqui, quando vocês estavam na casa da Julieta.

Ele se levanta e corre até a sala, voltando com um envelope dourado. Pego-o das suas mãos e fico olhando o amontoado de letras, que, para mim, não fazem o menor sentido.

— Vou levar até o Jonas, para saber do que se trata — aviso, já saindo em direção à porta.

Em poucos minutos já estou batendo palmas em frente ao seu portão e o vejo, abrindo a porta, desconfiado.

— Ah, é você. O que aconteceu? — pergunta.

Mostro-lhe a carta e ele me convida para entrar. Desta vez, seus pais estão sentados no sofá, assistindo à televisão. Nós dois seguimos para a cozinha e ele começa a ler o envelope.

— Foi engano. Esta carta é para uma tal de Aurora Loyola de Albuquerque. Como se alguém com esse sobrenome chique vivesse por essas bandas. — Ri. — Mas agora eu fiquei curioso.

Ainda bem, porque eu também estou. Quero saber do que se trata essa carta chique. Ele abre o envelope, rasgando sua lateral e passa alguns segundos lendo o papel chique.

— Essa mulher é a condessa e está sendo convocada para a tal corte — explica, depois de ler.

— E por que eles acham que essa condessa vai estar aqui?

Solto uma gargalhada, com a probabilidade nula de existir qualquer membro da realeza por aqui. Somos um bando de caipiras.

Jogamos um pouco de conversa fora e, quando vejo no seu relógio de parede que já está tarde, levanto-me para ir embora.

É quando ouço a Julieta me chamar aos gritos. Corro até a sala e vejo uma foto minha, estampada na tela da televisão. Na verdade, quando paro para prestar atenção, percebo que a moça da foto tem os dois olhos castanhos, mas com exceção desse detalhe, ela é idêntica a mim.

— Quem é essa? — pergunto, boquiaberta, sem tirar os olhos da TV.

— É a sua mãe, Helena. — explica a Julieta. — Você é a tal condessa.

*********************

Oi, amores! Sejam bem-vindos à mais uma história cheia de treta, conflito, treta, intriga, treta, romance... Eu já disse treta?

A princípio, as postagens serão feitas todas as quintas, mas assim que tiver mais capítulos prontos, talvez poste mais vezes por semana... Vamos ver como fica.

Beijão e muito obrigada pelo carinho <3

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