Um Enigma na Amazonia - conta...

By FernandoGomes534

559 44 29

Imagine -se passeando em uma bela noite enluarada em plena selva amazonica e de repente deparar-se cara-a-car... More

Um Enigma na Amazonia
Capitulo 1: O fenômeno
Capitulo II : Uma estranha e bela criatura
Capítulo III: Elucidações sobre o extraterreno PP
Capítulo 4: O planeta de PP e seu habitat
Capítulo 5: PP na coletividade local
Capítulo 6: Pesquisando a biodiversidade local
Capítulo 7: Comportamento atual do ar
Capítulo 9: Comportamento atual do solo
Capítulo 10: Primeiro encontro com o povo e a midia
Capítulo 11: O ato ilícito de Juthay
Capitulo 12: Grande debate em cidade do sudeste
Capítulo 13: A repercussão da mídia
Capítulo 14: Reações próximas ao resgate
Epílogo: O adeus

Capítulo 8 : Comportamento atual da água

13 2 0
By FernandoGomes534

  CAPÍTULO VIII

Comportamento atual da água

Passaram-se 18 meses desde a chegada de PP a Terra.

Começavam agora pesquisas e estudos sobre o comportamento atual da água nas chuvas, rios, alagadiços e igarapés da região.

O alienígena, como sempre, parecia ambientado ao globo e abnegado às suas obrigações, porém, Gonzales já notava nele alguns sinais de certo cansaço... não sabia se devido ao trabalho árduo ou problema orgânico. Surgiam em suas cãs, um pouco mais longos, os primeiros sinais escuros. Estranho – ensimesmava-se Gonzalez – ele se alimenta regularmente e jamais mostrou qualquer sinal de cansaço ou contrariedade moral ou física, embora nunca tenha insinuado um simples sorriso. É meigo, e sempre cordial com todos em seu invejável bom humor.

Três dias após a reunião escolar, acontecia novamente o encontro dos amigos no apartamento de Gonzales.

O relógio apontava 20h34min quando estacionou um veículo na varanda. Eram o professor Waldir e Jonas. Gonzales, bem-humorado, recepcionou-os. Entraram, cumprimentando-se mutuamente, e aguardaram a chegada do alienígena que se encontrava ainda em seu aposento analisando alguns apontamentos.

Célio, animadamente, conversava com os novos participantes recém-chegados, preparando-os para o real intento que ali se desenrolaria. Pouco a pouco os dois se inteiraram dos verdadeiros acontecimentos, mas um tanto descrentes dos fatos que se evidenciariam a seguir. Um olhava para o outro com semblante de surpresa e intensa curiosidade.

Em meio à breve palestra que se prolongava havia mais de quinze minutos surge PP, gesticulando e telepatizando para todos e, a seguir, sendo apresentado aos dois novos participantes amigos que o aguardavam ansiosos.

Gonzales lhe comunicou que eles eram o diretor da escola local e um profissional da usina em que trabalhava. O alienígena demonstrou alegria e manifestou com reverência boas-vindas e progressos aos dois, amistosamente. Foram informados dos fenômenos da telepatia e Waldir, surpreso, começou o diálogo:

– Jamais em minha vida poderia imaginar o encontro com um ser estranho ao nosso meio e ainda em missão de paz e ajuda ao globo. Tenho pesquisado em horas de ócio reais possibilidades de outrora termos sido visitados por indivíduos de outros globos... evidências, creio eu, parece que existiam, e hoje posso comprovar isto. Impressionante!

Mirando-o serenamente, PP reiterou:

– Tendes razão quanto às pesquisas e evidências. Há centenas de séculos tivestes a presença de extraterrenos neste planeta. Se pudésseis retornar um pouco no tempo, perceberíeis magníficas obras erigidas neste globo; obras tais, que naquela época remota os terráqueos se encontravam impossibilitados de tal realização. Olhai para as grandes esfinges erguidas no deserto egípcio, como a de Queóps ou de Gizé, lavrada em pedra com superfície de 17 metros de altura e 39 metros de comprimento em um único bloco; ou os moais, gigantescas lápides de pedra entalhada na Ilha de Páscoa. Observai, ainda, a precisão nas coordenadas matemáticas envolvidas na medição dos elementos siderais que vos separam dos mundos cósmicos mais próximos. Ainda haveis de entender melhor essas maravilhas a que chamais terrenas. Sim, aqui estiveram mesmo antes de vossa longínqua Lemúria, seres de outros globos que viveram e ensinaram obras e doutrinas às quais nenhum conhecimento obtínheis... apenas adoração aos astros, sem propósitos altamente técnicos ou morais em relação a si e ao Universo. É verdade que os princípios eram secretos e só conjugados aos indivíduos "iniciados", porque naquela época pouco se podia intentar, graças à ignorância moral da massa reinante.

Waldir aproveitou a pausa do mentor e, em semblante triste, lamentou:

– Quando jovem, fui seminarista, mas logo desisti. Hoje, vemos aturdidos pelos noticiários os estardalhaços morais e materiais em que os indivíduos se digladiam em seus interesses mesquinhos e às vezes, até insignificantes... surgem centenas de religiões e, contudo o mundo parece ter avançado muito pouco ao princípio da moralidade comunitária social.

 PP, em seu gesto apaziguador, continuou:

– Bem sei das aflições em que hoje vos encontrais. Contudo, deveis conceber em vosso egocentro que tempo e espaço são incógnitas relativas aos propósitos que advirão com a continuidade progressiva universal, queirais ou não. É verdade que obtivemos dádivas durante a comunhão dos milênios, não muito diferente da vossa, em relação às alegrias e tristezas passadas. Hoje, estamos em situação melhor que a vossa, mas ainda temos muito para aprender sobre o que nos reserva a todos: o infinito! Compreendei que o Universo é uma infinita lógica matemática, se não, como entender seu Eterno Equilíbrio?

Os credos e falsos dogmas nascem e morrem como os séculos e, só restarão aqueles que realmente comungam o bem universal baseado na fraternidade e progresso que o Ente reivindica. Sabemos através dos registros teológicos que vosso mais ilustre líder moral não vos deserdou jamais, e não mediu sacrifícios baseados em pura doutrina cósmica e da mais elevada lógica racional que culminou, embora ainda não percebais, verdadeiro elixir, cuja essência própria nela contida consola a vossa dor.

– Então, você nos elucida que a atual época vivida retrata uma longa transição? – acrescentou timidamente Jonas:

PP esclareceu:

– Na verdade, surpreendeis vosso egocentro no comportamento saudoso de outrora em vícios e alegrias vãs e perniciosas, esquecendo os compromissos mais altos, talvez empenhados com o sangue de vosso pretérito, que agora exige discernimento compulsório, gradual e progressivo ao vosso pobre entendimento.

O grupo prosseguia em animada palestra entre eles.

Enquanto isso, Iraciara, esposa de Frias, encontrava-se em seu lar assistindo à novela predileta pela TV em semblante meditativo.

Iraciara era mulher bondosa, descendente em terceiro grau de tribo indígena oriunda da região amazônica. Tinham um casal de jovens filhos em idade escolar no grande acampamento, e o outro mais velho, na capital do Estado.

Havia meses sentia as ausências constantes do marido, ora indo para casa de Gonzales ou, do encontro com o mesmo, para em seguida saírem sem explicação plausível. Pensava ela: "O que está havendo? Ele sempre foi um homem caseiro e agora não pára em casa; duas vezes por semana some e retorna em altas horas da noite quando já estou dormindo... e, aos fins de semana passa os dias fora... será que está me traindo com alguma sirigaita? Porém, não dei motivo para isto, creio eu..."  E assim, um turbilhão de pensamentos atormentava a mente de Iraciara. "Ah! Hoje vou esperá-lo... terá que me contar o que está 'aprontando' ou não se ausentará mais",  resmungou ela baixinho.

Iraciara continuou assistindo ao programa, agora mais calma e resoluta, aguardando o retorno do marido.

Iraciara era também envolvida em poções curativas à base de ingredientes vegetais e animais da região.

Certa ocasião, na véspera de férias ao sudeste, Gonzales se mostrava preocupado com uma fístula localizada pouco abaixo do quadril em sua coxa esquerda que o atormentava desde menino, pois havia sido operado cirurgicamente três vezes. Dizia ele: "as minhas férias se resumirão em nova cirurgia e muito repouso". Iraciara observou o ferimento e posteriormente lhe preparou três medicamentos: algumas folhas vegetais oriundas dos pântanos, um frasco de óleo de copaíba e pequena lata com um creme cicatrizante de um cágado da região. Cinco dias após o tratamento previamente traçado o ferimento estava completamente cicatrizado, mostrando evidencia de isenção total da inflamação que se estendia por quase toda a coxa esquerda.

Já passavam das 23h40min, quando ela ouviu rumores de vozes. Aguardou a entrada do marido.

Frias, abrindo a porta, deparou com a esposa aguardando-o e exclamou bem-humorado:

– Ah, minha mulher, ainda acordada?

Respondeu ela:

– Sim, precisamos conversar seriamente...

– Sobre as crianças, não é?

– Não! – retrucou séria – é sobre nós!

– Caramba! O que houve? – exclamou:

– O que houve? Será que você não percebe que me deixa sozinha sem qualquer explicação lógica? Vive mais fora do que dentro de casa. Até as crianças já perguntaram o porquê de suas ausências... você está me traindo com alguém?

– Eu?? Mas que idéia, minha mulher... eu a amo e sempre a amarei sua bobinha... não pense tal besteira!

– Então – continuou ela – conte-me de uma vez o motivo de suas ausências e saberei entender.

Frias ponderou um instante, temeroso em revelar algo que ela não entendesse e alegou:

– Na verdade, eu e Gonzales estamos empenhados na pesquisa de um grande mistério e, você sabe, mistérios exigem segredo...

– Mistérios? – ironizou – não serão por acaso dois mistérios chamados sirigaitas? Afinal, Gonzales vive sozinho e assim ambos poderão estar se metendo com...

– Não! Não se trata de nada disso, juro-lhe! Está bem; conversarei com ele e então você terá conhecimento do assunto definitivamente. Não se fala mais nisso e vamos dormir; estou cansado e amanhã o trabalho me aguarda.


O complexo industrial, em apenas poucas semanas, havia sofrido uma mudança radical e extraordinária. A população experimentava verdadeira comoção, graças aos boatos que ali se desenvolviam com ameaças de demissões, transferências etc. Políticos da região e da capital do país há muito tempo faziam pressão contra a multinacional através da mídia noticiosa, espalhando rumores que aquela área estava sendo devastada por um executivo estrangeiro, dono do citado complexo; alguns até afirmavam que o mesmo prétendia implantar na imensa região "um novo país somente para ele"; na verdade, o executivo tinha projetos a nível mundial e, sinceramente, pretendia apenas implantar novas unidades no complexo, aproveitando os recursos abundantes existentes e gerar mais oportunidades. Após a nacionalização do complexo, seu antigo superior hierárquico, também estrangeiro, desligou-se da empresa atuando apenas provisoriamente como consultor para, em seu lugar, assumir o novo diretor industrial oriundo do sudeste, o engenheiro Armando Moura, que atuou assim como superior de Gonzales promovendo-o à superintendência de estudos tecnológicos.


Um dia, estava o minerador em seu gabinete analisando relatório de pesquisa argilosa quando um casal invadiu o recinto. Eram Rolando e Virgínia, sua esposa, que retornavam das férias gozadas em Belém, capital do Estado e sua terra natal. Rumaram na direção de Gonzales, com a alusão de Rolando:

– Olá, meu amigo. Você sempre ocupado com relatórios. Como vai a família? Tem tido notícias?

– Que boa surpresa, amigos. Puxa, suas férias já terminaram? Parece que vocês saíram daqui apenas há algumas horas.

– Antes assim fosse – comentou sorridente Virgínia.

Rolando era o engenheiro responsável pela usina nos experimentos processuais produtivos. Subordinado imediato de Gonzales davam-se profissionalmente bem e gozavam de sincera estima. Virgínia também trabalhava na usina e sua atuação se prendia a atividades sociais e de recursos humanos. Não tinham filhos. Rolando ficou a par das atividades futuras a ele pertinentes e, após os roteiros tratados entre ambos, e relaxando um pouco mais na cadeira, continuou:

– Quais as novidades que ainda desconheço, Gonzales? Segundo rumores, você ultimamente não parece atuante como outrora nas recepções festivas na cidade...

– Amigo, apesar dos costumeiros e exigentes resultados pertinentes à profissão, principalmente com a atual direção na empresa, confesso que presentemente me sinto bem, mas bastante exausto.

– Ora – retrucou Rolando – se há excessiva atividade para você, o que faço aqui? Estou pronto para ajudá-lo no que desejar. Fale:

– Não me refiro a isso, Rolando – sussurrou-lhe – estão ocorrendo certas coisas que não giram na esfera profissional que empreendemos...

– Ah, sei! A família no sudeste está envolvida, acertei?

– Também não! Façamos o seguinte: amanhã, eu e Frias que você conhece, iremos ao seu apartamento e conversaremos à vontade. Será quarta-feira e não lecionarei. Que me diz às vinte horas?

– Tudo bem – confirmou-lhe o amigo.

Logo a seguir, Rolando se retirou ensimesmado para as atividades rotineiras. Passados alguns instantes, a secretária avisava Gonzales que uma ligação telefônica em seu gabinete o aguardava. Após entregar um relatório em mãos a um técnico do laboratório anexo ao gabinete, Gonzales retorna e atende.

– Sim?

– Gonzales, sou eu, Frias.

– Estava pensando justamente em você...

– Hoje, após o expediente, poderia passar em casa?

– Claro, amigo – concluiu.

 – OK! Esperaremos você – e desligou.

Esperaremos? Pensou ele, retornando ao laboratório. Eram exatamente 18h quando Gonzales estacionou o carro na praça próximo à casa de Frias.

Sabia que o mesmo não havia chegado porque o ônibus de sua empresa costumava estacionar às 18h18min pontualmente 

Enquanto aguardava distraído a chegada do amigo, eis que uma bela jovem, em suas 21 primaveras, esbelta, tez clara e cabelos negros curtos e crespos, olhos escuros e grandes como amêndoas, acerca-se dele, que não percebia sua aproximação. Prontamente, em delicado gesto feminino e vestida em leve blusa e bermuda colante ao corpo, pronuncia-se:

– Olá, Sr. "sumido". Esqueceu-se das amigas?

O minerador virou o rosto e deparou com a face sorridente e lábios sensuais, evidenciando dentes alvos e perfeitos naquela bela jovem.

– Oi, Mauricy. Que bela surpresa... há tempo que não nos vemos...

– Sim, você parece ter tomado um "chá de sumiço", pois não mais o vi no clube... viajou? 

- Realmente, não. A verdade é que após a mudança que houve na usina e com a nova diretoria, as reuniões são constantes e a carga de afazeres é tanta, que às vezes passo madrugadas debruçado em relatórios para apresentação ao novo diretor.

Mauricy mirava-o com certa marotice feminina a qual ele tentou disfarçar, mas não se conteve e comentou:

– Além do exposto, outro novo evento ocorreu: um primo do sudeste está há alguns meses comigo; rompeu com a noiva e ficará aqui uns tempos...

– Hum... – murmurou Mauricy – agora você está dizendo a verdade; sinto-a. Mas o que faz aqui?

– Ah!, sim. Estou esperando o Frias. Seu ônibus deve chegar a qualquer momento.

– Está bem. Agora tenho que ir. Mais tarde irei conversar com você em seu apartamento. Estou curiosa para conhecer seu primo. "Bom jour, mon ami".

Ela havia retornado à cidade havia pouco mais de um ano proveniente da França. Sua mãe vivia há muitos anos na área intermediária do grande acampamento e, após se separar do marido, lá permaneceu com seus cinco filhos: um rapaz e quatro moças. Todos eram naturais de uma cidade nortista próxima à região local.

Anteriormente Mauricy havia se transferido com a irmã mais velha e recém-casada com técnico francês que coordenava outra unidade fabril da região, e lá permaneceu por mais de quatro anos. Logo que retornou, por intermédio de amigos do clube, Gonzales conheceu-a e ficou impressionado com a beleza e vivacidade da jovem. Era consultora de beleza em famosa grife cosmética na região. Falava francês com desinibição e sua fonética encantava, graças à desenvoltura. Combinara com a mesma aprender aquela língua nos encontros que se sucederiam e ela, prestimosamente, aceitara sem qualquer recusa. Ele sempre fora um apaixonado pela língua francesa...

Súbito, nota o despontar do ônibus que se aproxima lentamente da praça. O ônibus estaciona. Após instantes, desce Frias, acenando ao amigo.

 ̶  Boa tarde, meu camarada; demorei? – saudou-o.

– Absolutamente. Estou preocupado, amigo. Acabei de encontrar Mauricy, lembra-se dela?

– Quem esqueceria tal beldade? – cochichou Frias...

– Pois é. Hoje ela irá ao meu apartamento conhecer...

– PP? – enfatizou Frias.

– Claro!

– Então, não será apenas ela. Iraciara também quer ir lá.

– Como?

– Ontem à noite, quando voltei da reunião, ela me aguardou e "me encostou na parede". Está desconfiada das "fugas"; então, chamei-o para conversarmos com ela a este respeito.

Gonzales levou a mão à testa tentando se concentrar para minimizar a desconfiança de Iraciara. Pensou: demorou, mas sabia que isto, cedo ou tarde iria acontecer...

A seguir, o amigo o convidou para entrar na sala. Iraciara ainda se encontrava no banho e Frias resolveu fazer companhia a Gonzales servindo um delicioso suco de maracujá gelado, sentando-se em seguida.

– O que falaremos a ela? – sussurrou Frias.

– A verdade! Que mal há nisso? Afinal, quem sabe não poderá ser também participante em nosso grupo? Tudo é um excelente aprendizado e acredito que ela aceitará.

Frias aparentemente concordou, balançando os ombros, sem nada mais mencionar.

Gonzales se lembrou de Rolando e continuou:

– Soube que Rolando e a esposa retornaram das férias?

– Ah, sim? E como estão?

– Bem. Amanhã, conto com você. Iremos ao apartamento deles às vinte horas. Vamos convidá-los para as reuniões também. Acredito que ambos participem de bom grado. Ainda são jovens e interessados.

Iraciara logo aparece na sala, saudando o visitante amigo e sentando-se junto aos mesmos.

O minerador toma a palavra e resumidamente confessa o ocorrido que já remontava vários meses. Mas Iraciara, em seus gestos tímidos e desconfiados, mal crê no que ouve. Julgou que ele e o marido estivessem doidos. "Onde já se viu, dois marmanjos, com histórias mirabolantes de outro mundo... não acredito nisso!"

Após tudo explicado, ela sentenciou:

– Quando será o próximo encontro?

– Hoje, às 21 horas, como sempre – resumiu o marido.

– Está bem. Irei com você ver tudo isso de perto...

Logo após, ao contrário do cenho preocupado do marido o minerador despediu-se e seguiu para o apartamento.


Eram 20h16min; Gonzales já havia jantado e aguardava os amigos em sua rede na varanda do apartamento. A noite despontava com raras estrelas no firmamento. Não havia chovido, e a região retinha no ar emanações de poeira fina, causadas pelo vaivém dos veículos locais. Distraído em seus pensamentos, eis que surge Mauricy ainda pouco distante, mas reconhecível em seus gestos e andar peculiares. Foi chegando e dizendo sorridente:

– "Oui, mon ami. Comment çá va? Tré bien?"

– Ah! Mauricy – brincou ele – francês hoje, não.

– OK! – sorriu a mesma.

– Já jantou? – questionou-a.

– Sim. Onde está seu primo? Não aprecia a noite?

– Err... não é isso. Escute-me. O que você evidenciar hoje, prometa-me não comentar a ninguém. Promete?

Mauricy, surpresa, permaneceu dúbia sem saber o que dizer, mas meneou levemente a cabeça, afirmativamente.

Ele deu continuidade, citando:

– Há alguns meses, ocorreu-me um fato insólito que quero lhe contar. Ouça!

Resumiu outra vez todos os eventos ocorridos e Mauricy ouvia-os, verdadeiramente assombrada. Sua curiosidade feminina achou aquilo simplesmente fantástico. Sim, queria participar de evento tão singular e prometeu absoluto sigilo até que o estranho ser pudesse se manifestar em sua originalidade para a comunidade local e, quem sabe, para o globo. Aquilo lhe parecia realmente aventura de outro mundo. Aguardou os demais amigos com Gonzales. Sua curiosidade, agora, despontava à flor da pele.

Mais alguns instantes e chegaram quase juntos, Célio e a noiva, Waldir e Jonas. Cinco minutos depois, chegaram Frias e a esposa.

Após as apresentações, todos entraram no pequeno recinto. O alienígena já se encontrava nos trajes habituais, ou seja, vestia calças e camisa e, em sua cabeça, o costumeiro diadema. As novas integrantes se surpreenderam, graças aos gestos imponentes e beleza ímpar masculina, exibidas naquele estranho ser.

PP, com seu braço esquerdo saudava-os, emitindo ao ambiente aconchegante estímulos de bem-estar e descontração a todos os presentes. A seguir, desamarrou o diadema deixando aparecer suas longas e finas orelhas.

Elas o olhavam pasmadas, mas nada disseram, aguardando o pronunciamento.

O alienígena sentou-se em seu habitual modo hindu e telepatizou a todos:

– Sede sempre bem vindos ao nosso meio. Congratulo-me com todos que, de boa vontade, participais de missão a este globo carente da solidariedade entre alguns de vossa raça. Estou certo que a Terra passa por vários tormentos não só na ordem material das coisas, como também moral. Nada peço de impossível, apenas que compreendais e vos prepareis na ajuda que se tornará imprescindível em época breve.

Terminada a apresentação, foi Mauricy, ainda perplexa, quem primeiramente se manifestou:

– Incrível! Algo já sei sobre você pelo amigo Gonzales, mas não querendo desviar o foco da reunião de hoje, diga-me: sua raça está submetida aos mesmos dispositivos da constituição de família que são adotados na Terra?

– As características fundamentais são análogas, porém, a norma comum em nosso planeta já é a composição da família universal. O lar é organização diferente de vosso egocentrismo de família, por vínculos consangüíneos que devotais ao grupo doméstico, considerando os outros grupos alheios como adversos ou estranhos no campo dos favores humanos. Não existe esta disposição rígida e estreita de manter coeso o círculo restrito do lar baseado exclusivamente na descendência da mesma ancestralidade. Lá, o equipamento doméstico se assemelha à generosa hospedagem de boa vontade em que o homem e a mulher aceitam a sublime tarefa de preceptores de criaturas que buscam o aperfeiçoamento universal. Muito acima da idéia de "propriedade" sobre os filhos prevalece o conceito fundamental da irmandade universal, em que o organismo físico como o vosso não deve sobrepor-se às realidades morais evolutivas do indivíduo universal.

Continuou gentil, Mauricy:

– Mas... não há deveres conjugais com responsabilidades definidas para o esposo e esposa?

– Ambos gozam das mesmas prerrogativas e se integram nas mesmas responsabilidades. Não existe essa linha divisória da terra de obrigações masculinas ou femininas. Laboram em comum para o bem da coletividade. Nas residências não existe a azáfama culinária causada pela alimentação em horas certas, que ocupa a mulher em exaustiva tarefa diante do calorento fogão terreno. Como nosso alimento é o mínimo exigível para a vida física completando-se seu energismo na quota do etereomagnetismo atmosférico rarefeito, a temperança nutritiva, isenta das glutonices de vosso repasto, permite à esposa cooperar efetivamente com o companheiro em todas as atividades externas, aumentando assim a afinidade já existente por eleição universal.

Expostas as indagações de Mauricy levanta-se timidamente Iraciara, perguntando ao mentor:

– As flores, em seu planeta, apresentam disposições similares ou iguais às nossas?

– Nossa química e botânica operam em uníssono realizando tarefas maviosas e impressionantes ao sentido humano. Conseguimos, no ser da botânica, a luz vegetal, a qual é produzida pelas flores, fazendo que elas mesmas, nos grandes jardins, à medida que o lusco-fusco crepuscular anuncia o período cinzento que aqui chamais noite, comecem gradativamente a "exsudar" luz, até se transformarem em verdadeiras lâmpadas vivas. Comparativamente, os efeitos que a química obteve no setor das tintas fosforescentes e que iluminam os cartazes de propaganda comercial lá se concretizam no quimismo vegetal. Flores algo semelhantes às açucenas, jasmins, copos-de-leite, hortênsias e rosas multicolores possuem a faculdade de absorverem a luz solar azul de um dos nossos astros estelares ou seja, Rigel, durante o período diurno e, no período cinzento, com a modificação lenta da temperatura que lhe contrai as tessituras intimas exsudam em suave luminosidade todo o conteúdo sugado dos raios solares. Essa luz polarizada que encanta os nossos extensos jardins proporciona nuanças de um colorido sedativo e aveludado, lembrando cenários de vossos contos de fada. Os nossos parques lembram maravilhoso lampadário irisado de cores vivas e que se casam com os mais exóticos perfumes cientificamente combinados aos diversos tipos vegetais.

Insistiu Iraciara:

– Essa "luz vegetal" é bastante luminosa e visível a todos?

– É intensamente visível aos nossos olhos, os quais têm certa penetração na atmosfera etérica, que é a causa principal das radiações. Essa faculdade é algo como a vidência da fenomenologia psíquica. A luminosidade e transparência, no sentido de luz viva, que se polariza em toda a natureza local também existe neste globo, embora mais opaca, porque ainda viveis dominados pelas paixões excessivamente materiais. A atmosfera, mais tênue, favorece também maior predominância da atmosfera etérica e, por conseguinte, maior expansão radioativa. Esses jardins policrômicos e luminosos de luz vegetal que lá se exibem quais lampadários vivos, aos vossos olhos densos se mostrariam quais luzes de velas mortiças.

Continuou Iraciara, curiosa:

– Conforme a coloração que você dissertou a respeito de seu planeta, ou seja, no pólo norte alaranjado e no sul rosado, seria correto imaginar então que a vegetação obedeça a essas tonalidades?

– É ligeiramente amarelado no sentido genérico, mas de colorido mais vivo, translúcido e penetrante, em relação à vegetação clorofilada deste globo. Existem outras nuanças, mesmo em tons marrons no pólo norte e avermelhado no sul, que são outra vegetação da classe das conhecidas nuscíneas. Cobrem em ambos os pólos até o equador onde parte do solo rochoso de algumas regiões relativamente úmidas, principalmente a área do equador ao pólo sul, devido à menor intensidade de calor irradiada por Betelgeuse, mas se estendendo em aveludados tapetes de encantadora perspectiva. A vegetação, comum e predominante no planeta, quando tenra, apresenta matizes amarelo-esverdeadas, combinando com gradações da cor alaranjada no pólo norte e sinais primários rosados no pólo sul, lembrando a tonalidade peculiar das folhas novas. Trata-se, assim, de vegetação nutritiva e seivosa. Em fins de época semelhante ao outono atinge colorações desde o castanho até o avermelhado.

– Mas – insistiu Iraciara – por que em seu planeta a vegetação é amarelada e rosada, enquanto na Terra predomina o verde?

– É da física básica que a luz branca se decompõe em sete cores espectrais refrangíveis. O sol que vos envolve com o calor e proporciona suave magnetismo, sob o prisma da Lua, lança seus raios brilhantes, que originalmente sabeis ser brancos. Atravessando a atmosfera que se transforma, realmente, num gigantesco reservatório de luz, essa luz branca que sabeis não ser simples vai-se prismando sobre todas as coisas e objetos que se envolvem nessa claridade. As cores espectrais que compõem o raio solar vão sendo absorvidas gradativamente, em infinitos matizes e refletem outras cores correspondentes. O colorido, assim, depende sempre da estrutura molecular do objeto ou ser, conforme capacidade e disposição para absorver e refletir a cor sintônica à vibração molecular.

Reunindo todos os mundos que recebem, absorvem e refletem coloridamente a luz de seus sois, teríeis por síntese novamente o raio branco solar. Nos centros de astronomia podeis verificar os relatos de globos de cor topázio, rubi, ametista, esmeraldinos e citrinos e suas combinações quando possíveis; outros, de um rosa-lilás vão até extravagantes combinações violeta, ouro, verde-malva e opala. Quais lantejoulas faiscantes flutuando na abóbada celeste, bordam em franjas coloridas e translúcidas a cortina do cosmo indevassável...

Em seguida o professor Waldir questiona PP:

– Como são os livros em seu planeta?

– São feitos de substância radiante em cores verde seda ou azul claro, a fim de não fatigarem a vista. As gravuras parecem animadas, cheias de vida. São chamados "livros definitivos".

– Por que livros definitivos?

– São os livros de nossa história, dicionários e enciclopédias que registram assuntos já definitivos no campo a que se reportam. Suas folhas, sabei, exalam muitas vezes certos perfumes correspondentes aos assuntos expostos. Por exemplo, se estais lendo algo sobre flores, seus perfumes se exalam, conforme a espécie de flor estudada.

Agora, Jonas se pronunciou:

– Qual a concepção da música em seu planeta?

– A mesma que tendes na Terra. A música, em qualquer latitude, é linguagem universal. É como a poesia cósmica expressa em sons, em vez de palavras. É a composição sonora que vibra no éter infinito sob a batuta universal; traz em sua intimidade a palpitação da própria natureza; plena de forças creadoras, contendo em si a beleza, a poesia, a inspiração e o êxtase. Manifesta-se sob os desígnios amorosos do Ente a todas as suas criaturas. A sua mensagem é sentida mesmo através da emotividade rude e primária do selvagem, embora seja música monótona cujo ritmo cansa e desagrada ao civilizado. No entanto, quando o próprio silvícola se impregna do calor e da energia criadora da música, o seu ritmo letárgico e indiferente cria vida e alento. O mais enfadonho batuque penetra, implacavelmente, na psique dos mais desprevenidos e, às vezes, o transe hipnótico comprova a força que há na linguagem dos sons, embora primitivos. É a função verdadeira da música na alma em qualquer estado emocional e situação geográfica do mundo. A musica em nosso planeta, para vosso entendimento, é a arte de "raciocinar em sons". Correspode, hermeticamente, ao nível já alcançado por nós em sua lógica e equilíbrio mental.

Jonas ainda questionou solícito:

– Vocês ouvem a música com certo enlevo emocional ou a consideram e julgam por um prisma estritamente intelectual?

– O seu dinamismo criador e a sua proximidade cósmica dificilmente os condicionam à letargia contemplativa no mundo material. Pensam, refletem e sentem a sua música como o matemático que raciocina nas equações algébricas buscando soluções lógicas e exatas.

– Qual o tipo mais evolvido na música e que atrai maior admiração em sua raça?

– É aquele que se considera um simples instrumento vivo, capaz de receber, pela via intuitiva pura, as melodias das altas esferas cósmicas traduzindo-as no orbe, embora palidamente, mas destituídas de qualquer expressão individual. A maioria de vossos compositores, embora se afirmem criadores ou inspirados, ainda não pode ir além dos acanhados arranjos musicais da realidade cósmica. Captamos as harmonias celestiais e as transferimos pela instrumentação, matizadas de suas emoções e hábitos psíquicos. O nosso excelso artista, que atinge a maravilhosa função de médium puro da beleza sonora dos globos superiores, atingiu uma grande sensibilidade impossível de imaginar em vossa concepção. A melodia o toma como um canal vivo e pousa, exata, no instrumento superorquestral que serve para os grandes momentos sinfônicos. A sua alma tem a transparência do cristal perfeito e abdicou a qualquer emoção pessoal. Vive, única e exclusivamente, para esses momentos sublimes de beleza cósmica; é uma experiência de absoluta sintonia com a Harmonia Paradisíaca! Hipersensível, plástico, cristalino e puro, consegue sintonizar-se com o Ente Universal, perdendo o contato físico da forma, diluindo-se na mensagem etérea de sons, para revelar, em absoluto "transe transcendental", a mensagem excelsa das esferas cósmicas superiores.

– Qual o gênero de trabalho mais vulgarizado em seu planeta? – solicitou Gonzales:

-Trata-se de planeta essencialmente industrializado que produz tudo quanto é necessário ao sustento equilibrado de sua sociedade, através dos mais avançados processos em gigantescos parques industriais às margens das comarcas. Setenta por cento da população participa desses empreendimentos.

– Quais as finalidades fundamentais do trabalho por seu povo?

– Não trabalhamos sob o regime de exaustiva competição para maiores lucros em balanço final. Não há preocupação de maior quantidade com o sacrifício da qualidade, sob minuciosos cálculos que assegurem lucros individuais. Nossa finalidade ao labor visa à riqueza coletiva, num ritmo e pulsação em que cada indivíduo constitui peça de maquinaria harmoniosa do bem comum. Não há experimentos, aventuras, iniciativas ou constituições à parte com fins lucrativos pessoais que venham a formar quistos de interesses privilegiados na nossa comunidade. Todo esforço individual é sempre a favor do conjunto disciplinado pelo governo exemplar.

– Qual o ambiente interno dos setores ou agrupamentos de trabalho?

– São verdadeiros templos de labor lógico fraternal de aspecto florido e poético, combinados à luz emotiva e psicológica do gênero de labor. Há intensa preocupação do governo em proporcionar ambiente agradável e estimulante de paz e alegria, que são fundamentos gerais a nossa vida. Os setores de trabalho são decorados com espécies de trepadeiras de cordões vegetais, semelhantes à seda luminosa, espécie de orquidários terrestres que inundam a atmosfera de perfume suave e sadio. A concepção de trabalho como obrigação incômoda que fazeis aqui é bem distinta de trabalho missão, conforme aceitamos. A idéia que vos condiciona, desde a infância, de que o trabalho é uma necessidade para a sobrevivência ou recurso positivo para a libertação econômica, criam a noção falsa de que deveis lutar furiosa e ardentemente, para mais breve vos libertardes do trabalho. No entanto, o labor humano sob qualquer expressão humilde ou rude em qualquer situação planetária no cosmo, é sempre uma operação dinâmica que se desenvolve no âmago as suas reais qualidades de futuro "ser criador". Tem por função precípua o trabalho do homem, ativar o potencial divino que está adormecido em sua intimidade de ser universal. É um exercício gradativo ou preparo certo e eficaz, para que o indivíduo, principiante hoje, saiba amanhã, operar com êxito e segurança nos mundos extramateriais. Nós, em vez de aceitar a função-trabalho como recurso utilitarista, consideramo-lo maravilhoso recurso de aprimoramento criador, necessário para despertar o dinamismo que no ser humano, é reprodução microscómica dos poderes macroscómicos do Ente Universal.

– Sobre a indústria; qual o gênero que predomina em seu planeta? – questionou-o Frias:

– A maior preocupação industrial que presentemente se evidencia em nosso planeta é a que gira em torno de "substância-plástico-vítrea", cujo material se presta às mais inconcebíveis realizações técnicas e científicas. À falta de analogia mais compreensível para vós, digo que nossa raça, face ao domínio que obteve na utilização e industrialização desse ametal-vítreo, pode ser considerado como situada na era do vidro plástico. Há imensa atividade e planos de renovação total na face estrutural do globo a fim de ser modificada a composição antiga, quase toda à base de um elemento da família do alumínio, mas que será substituído pelo novo ametal que se tornará comum a todas as construções.

– Poderia nos dar noção mais exata assimilável da natureza da substância-plástico-vítrea?

– É um metal composto leve, como o alumínio, quase da cor desse material mineral, podendo ser polido ou fosco, mas tão dúctil que pode resistir a temperaturas próximas dos sete mil graus centígrados sem qualquer sinal de fusão. É opaco, denso, rígido ao extremo, conforme o tratamento industrial que receber; mas sob a ação de certos raios energéticos torna-se absolutamente transparente, podendo rivalizar com o vidro mais cristalino que conheceis. Inúmeros eflúvios específicos que são aplicados contra esse pseudometal aumentam-lhe ou modifica-lhe a estrutura íntima, quer deixando-o translúcido em colorações claras, suaves, ou então fazendo-o conservar por longo tempo a luminosidade que lhe é projetada. É o elemento de maior condutividade de luz e magnetismo, revelando propriedades excepcionais na absorvência e condensação do meio ambiente.

– Este material é encontrado livre ou combinado com outros minérios?

– Extraímos do subsolo, por vezes a alguns quilômetros de profundidade, por processos mecânicos automáticos facilmente controlados a distância, por eficazes aparelhos etereomagnéticos cuja configuração é impossível descrever. Possui ainda outras notáveis qualidades podendo liquefazer-se sob o influxo de raios adequados, adquirindo estado análogo ao mercúrio ou submetido a processos de aceleração magnética, sublimar-se na forma de tênue radiação e retornar à forma primitiva, embora descontando parcialmente a queda de seu volume aparente. Atuando nos campos-auricos-radioativos de outras substâncias, no meio atmosférico é um dos pseudometais responsáveis pela absorção da energia etereomagnética que aproveitamos como força motriz para atividades generalizadas.

– Existem outros materiais usados comumente?

– Nosso planeta é de natureza física, como a Terra; por conseguinte, a massa planetária oriunda do mesmo núcleo, como o Sol que originou a Terra contém substância idêntica, variando tão somente quanto ao tratamento industrial mais avançado e sob energia que atua mais profundamente na intimidade dessa substância. Há, no seio da Terra, mineral que permitirá no futuro realizar coisas tão admiráveis como as que nós logramos obter na confecção da substância-plástica-vítrea.

PP fez breve pausa como aguardando novo questionamento, porém, ninguém mais se manifestou. Fez algumas alusões ao estudo da água que estava em andamento e depois analisou a problemática geral para posterior síntese a ser enfatizada no próximo encontro entre eles.

No dia seguinte, Gonzales e Frias caminhavam calmamente até o apartamento de Rolando. Eram 19h44min. Enquanto caminhavam, procuravam encontrar uma solução para convencer o casal a aderir ao grupo.

Frias argumentava, pensativo:

– Meu camarada, eles são jovens, sozinhos e, portanto, aceitarão a participação ao grupo tratando-se de assuntos sérios ao planeta.

O minerador concordou, dizendo:

– Assim espero, meu amigo. Rolando, por natureza, é excessivamente pesquisador e crítico quanto aos assuntos controvertidos. Entretanto, Virgínia é psicóloga, com exaustivos afazeres junto às famílias de funcionários da usina.

– Bem, só nos resta aguardar os acontecimentos – concluiu Frias.

Instantes depois chegaram ao apartamento dos amigos, não muito distante da casa de Frias.

Ao chegarem, à varanda, Rolando já os aguardava à porta principal.

Solícito, foi logo acolhendo-os:

– Boa noite, amigos. Entrem, por favor.

Logo a seguir comparecia Virgínia, sorridente, saudando-os e convidando-os a sentar em espaçosa poltrona da sala.

Após alguns comentários breves, relativos às férias gozadas por ambos, Virgínia, encarando amistosamente os amigos recém-chegados, disse:

– Então, a que devemos esta ilustre visita em noite tão amena?

Gonzales mirou Frias. Este se antecipou, argumentando:

– Bem, o que Gonzales vai comentar nada tem a ver com o aspecto profissional ou laboral de ambos. Trata-se, sim, de assunto que desde já, aceitem ou não, pedimos rigoroso sigilo, vez que o mesmo se prende ao bem-estar de todos não apenas de nossa comunidade e região, mas também da Terra.

Virgínia cruzou o olhar com o marido que como ela, nada entendeu, surpreendendo-os.

Gonzales deu entendimento mais acentuado. Novamente discorreu sobre os eventos experimentados havia meses, enumerou os integrantes aos encontros com o mentor extraterreno e sua finalidade no globo e a expectativa de todos, na procura de soluções plausiveis para aplacar os efeitos poluitivos que grassavam no planeta.

Rolando, seriamente abismado e indeciso, pronunciou-se:

– O que podemos fazer?

– Aceitarem a participação, amanhã, às 21 horas, da reunião que terá lugar em meu apartamento; de resto, vocês decidirão.

- Virgínia e Rolando evidenciaram lânguido silêncio e, por fim, deram-se as mãos, concordando sem reservas. Nada tinham a perder, por certo... mas estavam curiosos.

O apartamento de Gonzales se compunha de uma varanda térrea externa, sala, cozinha, banheiro, dois pequenos quartos e espaçoso quintal com alguns cajueiros em um bem cuidado jardim gramado. Localizava-se numa esquina ao fim de curta rua que tangenciava com a praça central da cidade.

PP raramente se afastava do apartamento e, quando o fazia no habitual disfarce, limitava-se a breve passeio pela praça e logo retornava, pois atraía com facilidade a curiosidade dos transeuntes que evidentemente paravam para observá-lo à distância. Ficou titulado, entre os gracejos femininos como o "enigmático cigano".

Porém, o que realmente apreciava era se estirar na rede, na varanda ou no quintal, aguardando o amigo que sempre retornava da usina às 17h30min, com raras exceções.

Gonzales dirigia o carro de retorno à cidade após um dia de intenso labor. Houve um problema no escoamento da argila estocada em imenso tanque para posterior transporte, disperso, em tubulação às centrifugas. Teve que providenciar inúmeros cálculos estequiométricos para liberar a matéria-prima de intensa floculação. Felizmente, logrou êxito.

Durante o trajeto seu pensamento se voltava para o convite manifestado ao jovem casal na noite anterior. Não compreendia o fato de PP apenas esclarecê-lo da importância às reuniões do dito casal, em especial Virgínia. Dizia ele: É imperativo a participação dela, pois a missão, em breve, necessitará de seu concurso valioso e efetivo, principalmente no comportamento psíquico coletivo em que estará envolvida. Dessarte, esse era o motivo de sua preocupação junto a Frias quando dos preparativos quanto ao convencimento do casal.

Quinta feira, 20h52min.

Novamente acontecia o encontro entre os integrantes no apartamento. Todos conversavam animadamente; apenas o casal Rolando e Virgínia ainda se mostrava incrédulo quanto aos fatos que se evidenciariam dentro de alguns instantes.

Logo a platéia silenciou, ante a presença do mentor, que serenamente saudou a todos em seu gesto e se sentou calmamente.

PP visualizou a todos os presentes e a seguir telepatizou:

– É para mim um raro privilégio estar convosco outra vez. Percebo sempre graciosa recepção alegre e amigável e o efetivo interesse aos motivos que nos unem ao encontro de soluções justas para as aflições que se desdobrarão céleres, entre esta raça.

Enquanto o alienígena apresentava seus comentários, Rolando o observava com olhar presunçoso, quiçá, devido aos falsos profetas que nesta época deslocam coletividades em fundamentos ou causas vãs, nada acrescentando aos anseios sinceros de cidadãos bem-intencionados. Contudo, após o breve dissertar do mentor, Rolando já não poderia sentir que sua suspeita aparente ainda se mantivesse acesa. Lentamente, percebeu tratar-se de causa justa, oportuna e voltada totalmente à vida e bem-estar de sua raça.

PP, após pequena pausa, prosseguiu enfatizando:

– A Amazônia detém o maior manancial de água doce da Terra. Relativo à poluição, esta é a que apresenta devastadoras conseqüências. A cada novo ano, a morte de mais de dez milhões de vidas é diretamente atribuída a doenças intestinais transmitidas pela água; um terço da humanidade vive em constante estado doentio ou débil em virtude de águas impuras; outro terço está ameaçado pelos chorumes e complexos químicos, cujos males em longo prazo ainda não são por todos conhecidos. Nas causas de falta de água aponto o crescimento populacional e o rápido uso na agricultura e indústria, culminando severa degradação ambiental. Neste globo, a irrigação responde por mais de 73% do consumo, sendo 21% somente nas indústrias. Apenas 6% se destinam ao uso doméstico. Em países com densas florestas como este, o desflorestamento nas áreas de bacias hidrográficas, para obtenção de lenha, carvão e madeira para uso comercial e, além das pastagens e práticas de cultivo em zonas íngremes e de alta precipitação de chuvas reduz a capacidade inata do solo de absorver essas águas. Portanto, isso aumenta as enchentes e eleva o nível dos rios, reduzindo a quantidade de água disponível durante as estações secas. Assim, os solos erodidos que descem das áreas elevadas causam a sedimentação das represas, usadas para armazenamento desse líquido e geração de energia. Sabeis que um bilhão e meio de criaturas, ou aproximadamente um quarto da população terrena não têm acesso à água potável e, cerca de um bilhão e seiscentos milhões não dispõem de condições de descarga sanitária de lixo. Com a escassez de água já prevista, tereis ainda a poluição das águas com atividades industriais e mineração que são as principais fontes de poluentes tóxicos das águas em países industrializados. Como exemplos de poluentes industriais, tendes a produção de gasolina e diesel, petroquímicos diversos, pesticidas, herbicidas, fertilizantes, aços e outros metais e derivados celulósicos. Como principais poluentes industriais e seus excessos, eu poderia citar compostos orgânicos do clorinato, minerais e derivados petrolíferos, fenóis, nitrogênio, fósforo, mercúrio, chumbo e cadmio. Com os excessos de nitrogênio e fósforo, provocais crescimento de algas. Em condições normais, essas algas equilibram o ecossistema e respondem por parte do oxigênio presente na água, porém, quando excessivo, formam-se grandes massas orgânicas com formação maciça de lodo e a conseqüente liberação de toxinas orgânicas que degradam a água em seu sabor salutar.

Com relação aos efeitos provocados com as descargas de detritos nos escoamentos urbanos e rurais, a água pode se tornar poluída não apenas com a descarga direta desses materiais, mas também com a poluição atmosférica. Aumentos na queima de combustíveis fósseis como o carvão, elevarão muito a produção de óxidos sulfúricos e nitrogenados. Tais substâncias acidificam (chuva ácida) os lagos, rios e águas subterrâneas, matam ou contaminam peixes, recifes de corais e outras formas de vida aquática. Ameaçam, ainda, os pássaros e mamíferos que se alimentam dos peixes, danificando as florestas e poluindo as águas como fontes naturais de água potável. A chuva ácida ameaça a saúde e pode envenenar reservatórios e sistemas de fornecimento, via dissolução de metais tóxicos como o alumínio, cadmio, mercúrio, chumbo, arsênio, dentre outros, nos solos argilosos e rochosos das bacias hidrográficas, além do fenômeno da erosão. Um quarto das águas subterrâneas usadas atualmente já está contaminada e mais de três quartos, também sofrem contaminação em certas áreas do planeta. Com isto, também doenças virais transmitidas pela água têm crescido assustadoramente nos últimos anos. Convém ainda salientar que a indústria contribui com 60% da demanda bioquímica do oxigênio de materiais em suspensão e também com 90% dos depósitos e despejos tóxicos na água. Atentai, ainda, que quantidades excessivas de nitratos na água provocam nas crianças o estado mórbido de cianose, e o excesso de flúor a fluoresceose, ou seja, o enfraquecimento dentário.

PP fez pequena pausa, oportunidade para que o professor Waldir argumentasse:

O que você poderia comentar relativo aos oceanos?

– Estes cobrem mais de dois terços da superfície do globo e contêm vida animal que se equipara com a das florestas tropicais em sua diversidade e espécies. A Terra é praticamente um planeta água, pois os oceanos cobrem mais de 70% da superfície do planeta, e eles contêm alguns ecossistemas mais complexos e diversificados da Terra. A zona costeira pode ser a porção mais importante do planeta. A perda em sua diversidade pode ter repercussões muito além de vossos piores temores.

Trezentos e vinte quilômetros ou mais de águas costeiras já contêm mais da metade do total de fertilidade biológica dos oceanos e respondem por quase toda a população mundial de peixes. Oceanos e zonas costeiras são ecossistemas delicadamente balanceados que são ameaçados pela pesca excessiva e predatória, construção, desenvolvimentos e poluição petrolífera, bem como restos e detritos municipais e industriais e outras fontes baseadas na terra e no mar. Finalizando, mais de 80% da poluição dos oceanos vêm de atividades no continente, contribuindo, assim, pela falta de oxigênio na água e o sufoco das espécies viventes; são as chamadas costeiras de "zonas mortas".

Pouco mais se falou, após o exposto por PP.

O professor Waldir, aproveitando o movimento da platéia, sugeriu a mudança das reuniões para uma sala da escola mais apropriada aos encontros semanais. Afinal, o número de participantes mal cabia no pequeno apartamento. Na escola, além de amplo espaço, poderiam também ter o concurso de quadro-negro e outros acessórios que obviamente facilitariam a exposição das palestras mantidas entre o grupo.

Após a anuência de PP e todos os integrantes, ficou combinado o novo local em dias e horários já habituais.

Finda a reunião, os amigos se despediram mas não sem evidenciar feições preocupantes quanto ao assunto discutido.

Continue Reading

You'll Also Like

225K 23.3K 29
Brianna é a personificação da inocência. Com apenas sete anos de idade, acredita que as pessoas boas quando morrem viram borboletas e vão para o céu...
66.1K 4.3K 95
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS SÃO DE "Tessa Lily!" "Eu, Logan Carter, Alfa da matilha Lua Crescente, rejeito você, Emmy Parker da matilha Lua Crescente...
1.3M 1.4K 5
Tem um novo garoto no bairro. Seria uma pena se ele fosse mais perigoso do que ela pensava.
23.6M 1.4M 75
Maya Ferreira mora na California e tem a vida simples de uma adolescente de 17 anos sem emoção nenhuma, até que uma fofoca que mais parecia irrelevan...