Sangue Real [✓]

By TalitaPC

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Alicia Dolohov viveu a vida toda em Cérnia, um dos dez reinos de Régnes. Sua vida era comum, como a de qualqu... More

Epigrafe
Prólogo
DreamCast - Parte Um
DreamCast - Parte Dois
DreamCast - Parte três
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 23
Papo sério
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Uma espiadinha nas redes...
Capítulo 30

Capítulo 22

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By TalitaPC

Tinha chegado de Cérnia ontem à noite, já era bem tarde, então apenas tomei um banho rápido e deitei. Porém, não dormi bem, fiquei virando de um lado ao outro na cama, e agora estava sendo difícil me concentrar na aula.

Bocejei pela milésima vez. A professora Belinda já havia lançado alguns olhares repreensivos, então agora tentava me controlar ao máximo. O que não estava sendo fácil.

Andava bastante cansada ultimamente, com as aulas obrigatórias, complementares e ainda os ensaios da avaliação de dança e os do show de talentos. Restava pouco tempo livre e muito menos para descanso.

Saí da aula de perspectivas globais, pensando quando iria conseguir fazer o trabalho que a professora passou. Quem sabe fosse à biblioteca depois do almoço e pelo menos iniciasse, para não atrasar demais.

Entrei no refeitório e me servi no buffet. Sentei ao lado de Ximena, na ponta da mesa, recebendo seu sorriso como cumprimento. Piter e Pablo estavam à frente, conversando entre si, concentrados um no outro.

Comi com calma, enquanto outros iam chegando e se juntando a nós na mesa. Sorri para Vaiola e acenei cumprimentando-a quando ela chegou acompanhada de Caleb.

Já tinha notado que os dois estavam mais próximos ultimamente. Vez ou outra conversavam apenas os dois, mesmo que estivéssemos em grupo. Tinha alguns sorrisos cúmplices e olhares. Caleb era um garoto bacana e ficaria contente se os dois tivessem realmente se envolvendo, ainda mais depois de toda a história com Louis.

Depois de almoçarmos ficamos algum tempo na sala de convivência. Quando faltava uma hora para a aula complementar, chamei Pablo para irmos à sala de música, ensaiar. Para usarmos a sala dependia da disponibilidade, ou seja, de chegarmos e não ter nenhum aluno usando. Aconteceu de em alguma das vezes que fomos até lá, já estar ocupada.

Hoje por sorte estava vazia, então conseguimos ensaiar várias vezes. Faltava duas semanas para o show e a cada dia que passava ficava um pouco mais ansiosa.

— Foi ótimo. — Pablo fez sinal positivo com a mão.

Sorri, satisfeita com o resultado. A música estava realmente boa e tinha acertado em pedir ajuda de Pablo.

— Uma última vez? — arqueei uma sobrancelha.

Pablo assentiu e ouvi os acordes da música. Segurei o pedestal com o microfone e fechei os olhos, iniciando a letra.

...

Quando terminamos, faltava poucos minutos para a aula complementar, então permaneci na sala enquanto Pablo seguia para a sua de culinária.

Sentei em uma das cadeiras e peguei o celular, conferindo as mensagens. Sorri ao ver a de Jordan:

Estava pronta para digitar uma resposta, quando os alunos começaram a entrar na sala, então guardei o celular novamente no bolso da saia. Logo Laisa apareceu, acompanhada de Jasmine. As duas sentaram na mesma fileira que eu, mas a algumas cadeiras de distância.

A professora Lexa cumprimentou-nos enquanto deixava algumas folhas em cima da mesa, no canto da sala.

— Espero que estejam preparados, — sorriu abertamente — Pois hoje iremos praticar canto!

Alguns alunos bateram palmas e outros deram pequenos gritinhos, realmente animados. A garota ao meu lado fez um movimento com o braço enquanto falava "YES". Dei uma risada baixa e neguei com a cabeça.

— Vou separá-los em pequenos grupos e terão que improvisar uma apresentação... Agora. — nos olhou atentamente — Vocês poderão escolher a música, mas terão que se organizar e dividir vozes e harmonia.

Lexa ajeitou os instrumentos da sala, fazendo com que tivesse mais espaço aberto e vazio. Depois pegou alguns pedestais e organizou da forma que achava melhor.

— Sei que são bons e quero ver isso aqui na frente. — afirmou fazendo uma pequena pausa — Mostrem do que são capazes.

A professora foi chamando os alunos e formando os grupos conforme conferia a lista que tinha nas mãos. Enquanto as apresentações aconteciam, Lexa estava sentada na primeira fileira das cadeiras, observando tudo atentamente, fazendo anotações vez ou outra.

Senti um frio no estômago quando Lexa falou meu nome, seguido de mais três garotas e uma delas era Jasmine. Dei uma risada baixa, pensando que a professora só podia estar fazendo uma brincadeira de mal gosto, sempre nos colocando juntas.

Levantei da cadeira meio a contragosto, pensando seriamente em fingir um desmaio. Respirei fundo e me juntei às três garotas, que falavam baixo. Percebi que discutiam rapidamente qual música cantaríamos, afinal tínhamos apenas cinco minutos para nos organizarmos.

— Gosto dessa! — sorri para Amber, a garota ruiva.

— Ótimo, pode ser essa então. — a outra garota concordou.

Jasmine apenas assentiu, então dividimos quem cantaria cada parte e nos posicionamos em frente aos pedestais. Pigarreei limpando a garganta enquanto Amber pesquisava a música no notebook que estava em cima da mesa.

Mordi o lábio inferior quando Woman Like Me de Little Mix começou a tocar. No momento certo Jasmine cantou a primeira parte, depois a outra garota, em seguida Amber e por fim foi minha vez, antes de irmos ao refrão, todas juntas.

"Uma mulher como eu,

Gostar de uma mulher como eu"

Podia ver o sorriso satisfeito da professora e isso nos empolgou. Notei que as garotas, assim como eu, mexiam os quadris e faziam alguns gestos interpretando a letra, afinal não é só cantar, mas representar. Quando estamos cantando, incorporamos a personalidade daquela música e o que ela quer transmitir.

Me preparei para cantar mais um trecho da minha parte da letra:

"E toda vez que nos tocamos garoto,

você me deixa fraca,

eu posso ver que você é tímido e te acho tão fofo"

Cantei olhando na direção de um dos garotos da sala, como se esta parte fosse especialmente para ele. O garoto sorriu de forma maliciosa e piscou com um olho só, entrando na brincadeira.

Nós cantamos mais uma vez o refrão e então Amber cantou a parte da música que era rap. Devo admitir que ela era boa nisso, Amber arrasou e recebeu até assobios.

— Vocês foram ótimas! — a professora parabenizou, aplaudindo, acompanhada do restante dos alunos.

Nós quatro agradecemos com uma reverência e voltamos aos nossos lugares.

Agora, depois de termos nos apresentado, me sentia mais tranquila. Apesar de todo o receio com Jasmine, e de ainda não simpatizar com ela, admitia que a garota tinha talento.

De canto de olho percebi que Jasmine conversava com Laisa e outro garoto. Quando estava assim, distraída, interagindo com pessoas que gostava, Jasmine parecia uma garota comum e até podia dizer, simpática. Mas como diz o ditado: Aparências enganam! E no caso dela, não sabia dizer qual aparência que estava enganando, a de desagradável, ou a de simpática.

Outros grupos se apresentaram após o nosso e tivemos boas interpretações. No final da aula a professora nos parabenizou, fazendo algumas considerações em cada grupo, usando suas anotações.

Quando fomos liberados, levantei e segui para fora da sala. Estava atravessando o pátio quando uma rajada de vento soprou, bagunçando meus cabelos.

Entrei no internato e segui até a sala de convivência. Sabia que encontraria meus amigos lá, pelo menos a maioria. Alguns jogavam cartas e dardos, outros assistiam algo que passava na tv.

Reparei que Luiza e Frederick estavam sentados nos sofás, mas não juntos. Fred sorriu discretamente assim que me viu entrar e notei mover a almofada ao seu lado, discretamente deixando um espaço vago. Também vi Luiza, no sofá ao lado, perceber este movimento e me encarar, com a testa franzida. Claramente questionando se iria aceitar a deixa.

Que situação chata. Pensei, revirando os olhos.

Segundo Ximena, Luiza dizia que os dois nunca tiveram nada sério, apenas ficavam esporadicamente. Isso não impediu que ela criasse expectativas quanto a ter um relacionamento. O que é bem complicado, pois se não tomarmos cuidados nós temos a tendência de criar histórias na nossa cabeça, que nem sempre são reais ou possíveis.

Não estou afirmando ser o caso de Luiza, já que Frederick tem grande participação nisso, pois deixou as coisas irem acontecendo, até chegarem a este ponto.

— Olha só se não é a próxima musa da música. — Piter gritou do outro lado da sala, chamando atenção.

Neguei com a cabeça e aproveitei para seguir em sua direção. Pelo canto do olho percebi Frederick me encarando e apenas ignorei. De certa forma Piter havia me ajudado.

Piter estava sentado ao lado de Pablo, de mãos dadas. Havia regras sobre namoros na Escola, que se resumiam a nada de agarramentos e amassos dentro dos muros, então o máximo que podia acontecer era ficar de mãos dadas. Pelo menos na frente da direção.

— Não exagere, Piter. — bati levemente em seu ombro.

Parei ao lado de Vaiola, que se concentrava para jogar o dardo. Sorrindo e comemorando ao acertar bem perto do centro do alvo.

— Tudo certo para o show? — ela perguntou, tocando meu braço.

Sabia que estava curiosa para saber qual a música escolhida, afinal eu ainda mantinha a palavra de que só veria a apresentação no dia.

— Tudo sim. — sorri.

— Alicia está arrasando. — Pablo afirmou.

Senti o rosto ficar um pouco quente e apenas neguei com a cabeça. Ximena e mais alguns alunos começaram a falar sobre suas apresentações e assim, o assunto girou em torno do show.

Depoisdos dardos, jogamos cartas e por fim sinuca. Estes momentos em que estávamostodos reunidos eram divertidos. Minha tia dizia que durante a vida nós criamosmemórias, que isso era importante e no futuro era apenas as lembranças que nosrestaria.

Suspirei alto, conferindo a hora no relógio da parede. Ainda faltava meia hora para o fim da aula e a professora Savanna estava falando sobre como a língua materna de Régnes surgiu. Tulon é um dialeto inventado pelo povo no pós-guerra, para conseguirem se comunicar em segurança, sem correrem o risco de serem pegos novamente pelos exércitos e acabarem torturados ou mortos. Porém, conforme a segurança ia voltando e a paz se instalava pelo país, o idioma foi deixado de lado e hoje praticamente esquecido. Hoje o Tulon é falado apenas nos reinos mais antigos e por poucas pessoas.

Quando a aula acabou, peguei os materiais e segui ao armário para guardar. Vaiola engatou nossos braços e descemos juntas, indo ao refeitório. Como vinha acontecendo durante a semana, assim que chegamos à mesa, ocasionalmente havia um lugar vago exatamente ao lado de Caleb. Então, mais ocasionalmente ainda, Vaiola ocupava esse lugar.

Dei uma risada baixa enquanto pegava uma das batatas do prato, comendo com calma. Dei uma olhada para Piter, que também disfarçava um sorriso. Tinha falado com ele sobre minhas suspeitas da formação do novo casal e pedi que ele não fizesse suas habituais piadas e brincadeiras. Vaiola tinha sofrido bastante com o último envolvimento amoroso, então queria que desta vez tivesse seu tempo, por isso convenci Piter a deixá-los se resolverem sozinhos.

— Preparada para hoje? — Frederick perguntou, sentando ao meu lado.

Hoje é sexta-feira, dia da avaliação de dança. Sentia um pequeno frio na barriga toda vez que lembrava, então evitei fazer isso desde que acordei.

— Claro. — sorri tentando passar confiança.

— Nós vamos arrasar. — piscou com um olho só.

Assenti, deixando Frederick e sua confiança excessiva amenizarem um pouco do meu nervosismo. Não é que fosse uma péssima dançarina, ou achasse que íamos fazer fiasco, mas com certeza eu era melhor cantando do que dançando.

Nós tínhamos ensaiado bastante, a coreografia estava legal, tínhamos tudo para dar certo. Pelo menos torcia para isso.

Depois do almoço subi ao quarto ao invés de ir com meus amigos até a sala de convivência. Avisei Frederick que estaria no auditório no horário combinado. Queria relaxar antes da avaliação, então mandei uma mensagem pedindo a Michely que preparasse a banheira.

Assim que entrei no quarto já consegui sentir o aroma de flores.

— Que cheiro bom! — sorri encostada no batente da porta do banheiro.

Michely jogava alguns sais de banho na banheira e já podia ver a espuma se formando.

— É, também gosto... — afirmou, desligando a torneira da banheira.

Comecei a tirar o uniforme, jogando-o no cesto de roupas sujas. Michely colocou o pote de sais sobre a pia e pediu licença, saindo do banheiro. Antes que ela fosse, pedi que me chamasse caso pegasse no sono e acabasse perdendo o horário.

— Pode deixar. — Michely puxou a porta do banheiro, deixando apenas uma fresta.

Terminei de tirar a roupa e fiz um coque no cabelo, erguendo-o. Entrei na banheira, suspirando baixo assim que estava com o corpo todo submerso na água morna e cheirosa. Fechei os olhos e recostei a cabeça na borda, fechando os olhos.

Lembro da primeira vez que entrei no quarto e vi a banheira. Idealizei vários banhos relaxantes, mas no fim isso não aconteceu. Na correria do dia a dia acabei deixando isso de lado, o que é uma pena, pois agora percebo o quanto é bom.

Devo ter cochilado, pois acordei com um toque suave no ombro. Abri os olhos lentamente, encontrando com Michely, levemente debruçada.

— Você pediu que a chamasse... — justificou.

— Sim, — sorri, bocejando em seguida — Preciso me preparar para a avaliação.

Levantei da banheira e peguei a toalha que deixei sobre o vaso. Michely estava perto da porta, mexendo em alguns produtos em cima da pia, fingindo organizá-los, já que estavam em perfeita ordem.

Passei por ela e segui até o roupeiro. Peguei o conjunto de legging e top preto que tinha separado para hoje. Calcei tênis esportivos e soltei o cabelo, penteando-o.

— Vai dar tudo certo! — afirmei, olhando meu reflexo no espelho.

— Vai sim! — Michely concordou, parando ao lado da penteadeira.

Virei e sorri levemente, assentindo. Sei que estar ansiosa neste momento é normal, afinal é uma avaliação e sempre há o medo de não dar certo. Porém, preciso confiar que estou dando meu melhor e isso é o que importa.

— Só se divirta. — deu de ombros — Você ensaiou muito e não tem porque dar errado. — tocou meu braço, perto do cotovelo, apertando gentilmente em forma de incentivo.

— Certa, como sempre. — pisquei com um olho só.

Michely deu risada e negou com a cabeça. Não é a primeira vez que ela diz exatamente o que preciso ouvir. Às vezes quem está fora da situação consegue ver as coisas com mais clareza do que quem está passando por aquilo, por isso é bom conversar e desabafar com alguém.

Conferi as horas no celular e vi que precisava ir, ou me atrasaria. A professora disse que as avaliações começariam, no auditório B, o mesmo em que estive quando cheguei à Escola.

Me despedi de Michely, que desejou boa sorte e saí do quarto. Cumprimentei alguns alunos enquanto cruzava o pátio e entrava na Escola. Respirei fundo várias vezes, andando em direção ao auditório.

Abri a porta e entrei, encontrando os alunos já acomodados nas poltronas. A professora Samira estava no palco, falando com um homem loiro. Percebi que havia uma pequena mesa com aparelhagens de som no canto direito. Frederick havia se encarregado de deixar a parte do som organizada para a apresentação, então não me preocupei com isso.

Percorri as poltronas com os olhos e logo encontrei Fred na terceira fileira, quase na ponta. Ele estava com o braço erguido, claramente chamando atenção para que fosse visto.

— Oi. — sorri, sentando no lugar vazio ao seu lado.

— A professora já vai começar. — avisou.

Assenti e mordi o lábio inferior, cruzando as pernas e balançando levemente uma delas. Frederick notou e colocou a mão em meu joelho. Imediatamente parei de mexe-la e o olhei com a testa franzida.

— Relaxa. — sussurrou, me encarando.

— Ok. — respirei fundo.

Notei que ele manteve sua mão ali, então gentilmente a tirei, colocando-a sobre seu colo. Fred deu uma risada baixa e voltou a olhar para frente.

Notei que a professora estava no meio do palco, mais a frente, quase na ponta.

— Boa tarde pessoal! — sorriu abertamente — Espero que estejam tão empolgados quanto eu. — deu uma risada baixa — Sei que se sairão muito bem, pois já vi como são talentosos. — incentivou percorrendo as fileiras com os olhos.

Samira tinha um tablet nas mãos e mexeu nele por alguns segundos.

— Vou chamar cada dupla por ordem de sorteio aleatória. Acredito que já tenham entregado o pendrive com a música a Jorge, então assim que estiverem posicionados no palco podem iniciar a apresentação. — explicou, sorrindo levemente na direção do homem loiro — Estarei na primeira fileira, assistindo. — indicou com a cabeça o lugar ainda vazio — Então boa sorte e acima de tudo, divirtam-se.

Samira olhou novamente seu tablet e chamou dois alunos, Guilherme e Francisca. Assim que eles estavam no palco, ela desceu a escada lateral e andou até seu lugar. O casal se posicionou no meio do palco e logo Perfect do Ed Sheeran começou a tocar.

Relaxei mais na poltrona, prestando atenção na coreografia, deixando que isso dissipasse minha ansiedade.

Acabou funcionando, pois, as apresentações foram acontecendo, uma após a outra, com vários ritmos musicais. Toda vez que terminava uma coreografia nós aplaudíamos e até havia gritinhos de elogio e incentivo.

Sorri animada enquanto os dois alunos dançavam ao som de Chantaje da Shakira e Maluma. Era uma música contagiante, foi difícil conseguir me controlar e continuar sentada.

— Alicia e Frederick. — a professora chamou.

Senti um choque percorrer meu corpo. Mordi o lábio com um pouco de força, sentindo uma pequena dor, mas nada significante.

Frederick levantou e estendeu a mão. Aceitei e deixei que me puxasse, ficando de pé. Nós seguimos juntos até a escada, subindo no palco. Me posicionei no meio e encarei as dezenas de alunos.

Vi Jorge fazer um sinal para Frederick, que assentiu. Poucos minutos depois a música começou, Senorita do Shawn Mendes e Camila Cabello. Senti Fred atrás de mim, na posição inicial da coreografia. 

— Só deixar fluir. — sussurrou perto do meu ouvido.

"Você diz que somos apenas amigos,

Mas os amigos não sabem qual é o seu sabor, la-la-la"

Girei e fiquei de frente para Fred, descendo devagar enquanto tocava seu peito. Quando estava perto dos seus quadris, ele me puxou de volta até estar ereta, com o corpo colado ao dele.

Nós fizemos um movimento em que giramos e parei de costas para a plateia por alguns segundos enquanto Fred segurava minha cintura, para me girar novamente e ficar de frente para a plateia. Frederick estava às minhas costas, então balancei meu corpo para um lado enquanto ele ia ao outro, segurando um lado dos meus quadris e mexendo a mão como se batesse levemente ali.

"Eu adoro quando você me chama de senhorita,

eu queria poder fingir que não precisava de você,

mas cada toque é ooh-la-la-la,"

Me distanciei de Frederick para depois correr em sua direção e pular contra seu corpo. Já tínhamos ensaiado várias vezes essa parte, mas mesmo assim sempre tinha medo de Fred não conseguir me segurar e nós dois cairmos.

Sorri abertamente quando ele conseguiu me erguer e girou, colocando-me no chão logo em seguida. Agora era a parte solo de cada um, então discretamente fui saindo, ficando ao lado direito do palco, ainda me movimentando ao som da música enquanto Frederick fazia seus passos de dança.

Quando foi meu momento ele olhou em minha direção e sorriu indicando que me aproximasse. Girei algumas vezes até estar no meio do palco novamente.

"Chame meu nome, eu estarei vindo para você,

chamando por você,

por você, por você"

Fechei os olhos e passei as mãos pelo meu corpo, subindo pelos quadris, indo a lateral, pescoço e assim jogando meus cabelos para trás, inclinando a cabeça levemente para o lado.

Abri os olhos novamente e encarei a plateia. Por incrível que pareça não estava mais nervosa e na verdade, me sentia confiante. Não sei se por perceber a empolgação dos alunos e o sorriso da professora, ou se por ter deixado fluir como Frederick sugeriu.

"Ooh, eu deveria estar fugindo,

ooh, você continua me fazendo voltar por você"

Neste trecho final Frederick estava novamente posicionado atrás do meu corpo, então eu virei, ficando ao seu lado, mas de costas para a plateia. Ao som da batida da música e estalar de dedos, caminhei até estar às suas costas. Coloquei as mãos em seus ombros, deslizando levemente para frente. Frederick virou e segurou minha cintura, nós estávamos agora novamente um de frente ao outro, mas de lado para a plateia.

Esse era nosso final, pelo menos o que havíamos combinado. Frederick ainda tinha as mãos em minha cintura e apertou levemente. Seus olhos azuis me encaravam intensamente. Notei quando ele desceu aos meus lábios e instintivamente os mordi.

— Você não pode. — sussurrei.

Frederick voltou a encarar meus olhos, sorrindo de canto.

— Não aqui, ou agora... — piscou com um olho só.

Franzi a testa, mas antes que continuássemos nosso diálogo ouvi os aplausos da plateia. Pisquei algumas vezes, voltando a realidade do momento. Dei um passo para trás e pigarreei.

Frederick se curvou levemente para frente, agradecendo e o acompanhei. Ele segurava minha mão e puxou para que nós saíssemos do palco. Estávamos voltando aos nossos lugares quando vi o grupo de pessoas mais no final do auditório.

Sabia que a avaliação estava aberta para os alunos que quisessem assistir, mas como a maioria tinha aula complementar, não achei que viriam. Porém, ali estava meu pequeno grupo de amigos.

Sorri e me aproximei deles. Ximena levantou os braços comemorando e Vaiola fez sinal de positivo com as duas mãos. Piter e Pablo aplaudiram, junto com Luiza, que na verdade, não parecia feliz.

Frederick também os cumprimentou e agradeceu os elogios. Com certeza percebeu a cara emburrada de Luiza, mas assim como eu, ignorou. Melhor assim, pois não queria nenhuma confusão.

— Vocês arrasaram. — Pablo sorriu.

— Obrigada. — dei de ombros.

— Já quero aprender a mexer os quadris desse jeito... — Piter comentou enquanto tentava reproduzir um dos meus passos.

Dei risada e neguei com a cabeça.

— Não sabia que viriam, podiam ter avisado. — semicerrei os olhos, olhando para cada um.

— Queríamos fazer surpresa. — Ximena piscou com um olho só.

Revirei os olhos, mas acabei sorrindo. Foi fofo da parte deles terem se importado em vir. Admito.

— Jordan deixou um 'oi', e se desculpou por não poder ficar mais tempo. — Piter avisou.

Franzi a testa, encarando-o. Jordan esteve aqui? Ele não tinha me avisado sobre isso, teria sido planejado ou estava pela Escola e resolveu ficar.

— Ah. — sussurrei, pensativa.

Piter me encarava de um jeito estranho, provavelmente entendendo minha confusão, então apenas olhou rapidamente na direção de Frederick, que conversava com Ximena e Vaiola. Semicerrei os olhos e depois assenti, quando assimilei a indireta.

Jordan havia assistido à apresentação com Frederick e provavelmente não se sentiu confortável com nossa interação. Não podia julgá-lo por isso, afinal deixou claro que estava interessado em termos algo e aí me viu com Fred.

Senti alguém tocar meu ombro e era Frederick, avisando que a professora chamava todos os grupos para seus lugares.

Me despedi rapidamente dos meus amigos e segui até a poltrona, sentando. Samira começou a falar sobre as apresentações, destacou quais foram os critérios que usou para avaliar e elogiou individualmente cada dupla.

— Alicia e Frederick, — sorriu nos olhando — A escolha da música foi perfeita para os dois, conseguiram interagir muito bem, a coreografia foi bem pensada, — enumerou com os dedos — havia química e paixão... Então parabéns, me surpreenderam positivamente.

Sorri agradecida. Frederick comemorou fazendo um sinal de positivo e passou o braço pelo encosto da poltrona, pousando a mão em meu ombro.

O olhei de canto, mas Fred estava concentrado no que a professora dizia, ou ao menos parecia. Pensei em tirar sua mão, mas aí lembrei da conversa com Leila sobre deixar as coisas acontecerem.

Mordi o lábio e relaxei na poltrona, encarando a professora. Sabia que precisaria lidar com a situação de Jordan, mas deixaria isso para depois. No momento iria aproveitar a sensação de alívio por ter feito a avaliação e ter ocorrido tudo bem. 

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