Chocolate Shop

By Engenho_das_Letras

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Uma história sobre amor e chocolate, um piano e um carrossel de marshmallow. Na semana que antecede o Natal... More

I
II
IV
Capítulo Final
Epílogo

III

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By Engenho_das_Letras


"RUN, FORREST! RUN!"

Olhe para os dois lados antes de atravessar. Não aceite balas de estranhos. Lave atrás das orelhas. São imperativos categóricos para uma criança, leis universais que não importam a finalidade, elas meramente existem e é nossa obrigação segui-las. O imperativo hipotético, por outro lado, nos arrasta para as possibilidades por trás de cada ação, e sobre elas nossos pais e professores não nos educam. Ninguém me contou que tentar beijar Myung Hee no sofá da casa dela dois dias atrás iria me transformar no fantasma do homem que um dia já fui. Desconcertado e corado em sua presença como um adolescente medroso enquanto a doceira caminhava tranquilamente pela cozinha ditando ordens e resolvendo problemas, nem um pouco mexida com a minha presença.

- Dongsaeng, você está resmungando - Min Yoongi me tirou dos meus devaneios enquanto lavávamos xícaras de expresso.

- Eu não resmungo - encarei Yoongi sem a mínima paciência para tolerar sua cota diária de deboche.

- Ele resmunga - Kay concordou com Yoongi enquanto depositava mais xícaras sujas sobre o balcão de inox da pia. Amaldiçoei Kay com o olhar, porque eu havia acabado de retirar toda a louça suja dali há menos de meio minuto - ele estava falando sobre a noona não ter coração.

- Também falou sobre como ela pode agir naturalmente em um momento tão delicado - Kwan se meteu na conversa enquanto deixava mais xícaras sobre a pia para eu lavar e algo dentro de mim se agitou em ódio líquido enquanto eu via a pilha irregular de louça crescendo ao meu lado.

- Namjoon está apaixonado - Min Yoongi concluiu enquanto eu arregalei os olhos, esperei o silêncio reinar na cozinha para que eu pudesse matar Yoongi adequadamente, mas todos os presentes, inclusive os outros integrantes, apenas anuíram em concordância e voltaram aos seus afazeres.

- Hyung - Kwan colocou uma mão sobre o meu ombro e outra sobre o próprio coração - não magoe o coração da minha noona, pois se isso acontecer eu serei obrigado a contar para Chang Wook hyung, e ele vai te matar, isso se a noona não te matar primeiro.

- Wue! Wue! Wue! - afastei as mão do garoto de mim - Eu não estou apaixonado, de onde vocês tiraram essa idéia?

A única resposta que obtive foi um suspiro baixo, prolongado e coletivo dos três intrometidos que menearam com a cabeça em negação de forma sincronizada. Ótimo, agora Suga hyung se uniu a mais dois abusados para torrar minha curta paciência. Quando eu não achei que o meu dia poderia ficar mais perfeito, Yoongi passou a fofocar sobre o meu passado não muito agradável.

- Sabe, Namjoon tem um coração sensível, pode não parecer, eu sei, mas ele tem um coração que já amou demais - e quando ele começou a falar daquele modo forçosamente sofrido eu já sabia que rumo aquela história iria tomar - tudo começou no colegial, Namjoon era um jovem diligente, concentrado e, apesar de possuir uma beleza irrisória naquela época, ainda era um garoto exemplar e sensível, também tinha o QI mais alto do país, não que isso valha alguma coisa para adolescentes e suas guerras hormonais, mas ele era tudo isso. E o jovem Namjoon se apaixonou pela delicada Naomy, e por aquela garota bonita como uma pétala ele fez todos os trabalhos de história e cálculos de trigonometria do seu grupo de amigas por um ano inteiro... - tapei a boca de Min Yoongi antes que o estrago fosse maior, mas todos já estavam rindo, menos Kwan, que parecia empático.

- Só não dêem ouvidos ao Yoongi-ssi, precisamos trabalhar para cumprir as entregas - virei as costas e voltei a atenção para a pia novamente cheia de louça com o rosto ardendo de vergonha. Inferno, copos sujos se reproduzem por mitose?

Não sei bem por quanto tempo fiquei gelando minha barriga naquela pia e ignorando completamente as piadinhas de Yoongi, mas não era de todo ruim. Por muito tempo eu vivi em uma casca que não me pertencia realmente. Cresci entre um monte de chaebols metidos e precisei provar para cada um deles a minha competência. Enquanto eu estava achatando minha bunda em uma cadeira de biblioteca estudando, eles estavam se divertindo em clubes caros, enquanto eu estava trancado em internatos na América e Europa, eles estavam se divertindo em Ibiza. Eu precisei comprovar meu inglês e mostrar meu histórico escolar perfeito para ser aceito em Stanford, meus colegas de classe chaebols apenas doaram quantias significativas para as bibliotecas e laboratórios do exterior, no entanto, atualmente, nós estávamos no mesmo patamar, com fortunas equivalentes e comportamentos parecidos. Eu acreditava cegamente que quando fizesse fortuna poderia colocar uma mochila nas costas, conhecer o mundo, aproveitar a natureza ou sentar em um bar e beber com os amigos. Então eu me perguntei "que amigos?". Tudo o que eu fiz na vida foi conhecer Min Yoongi e me agarrar a ele, porque ele parecia tão deslocado quanto eu naquela escola de gente rica, depois dele veio Hoseok, o único coreano em Stanford, mas ele nunca voltou para a Coreia. Com meu poder, minhas responsabilidades cresceram e o garoto que jogava League of Legends foi perdendo espaço para o executivo, eu criei uma casca dura e aprendi a intimidar pessoas para me proteger. Aprendi que beleza, respeito, confiança tinham mais a ver com a minha postura do que com o que eu realmente era, com o tempo mudei o meu comportamento, meu posicionamento diante das situações complicadas da vida, mudei a minha forma de pensar e consequentemente perdi a minha essência. Entendi aquilo realmente quando Myung Hee me estendeu a mão, ele tinha muito pouco para oferecer e eu não precisava realmente de ajuda, mas aquilo não importava, porque ser boa e simples e empática tinham mais a ver com a pessoa que ela era do que com a pessoa que ela queria mostrar. Myung Hee restaurou algo quebrado em mim há muito tempo, e quando ouvi sua voz soar macia atrás da minha nuca foi inevitável arrepiar e me sentir em pânico. A simplicidade daquela mulher me intimidava.

- Namjoon-ssi - respirei fundo, porque ela estava com uma voz mansa e Myung poderia ser qualquer coisa, menos uma pessoa tranquila - eu preciso ir a feira, mas Chang-oppa foi para Incheon com a Xeyla para buscar embalagens, você pode me levar?

Droga. Droga. Droga.

- Myung-ah - sorri fazendo aegyo, porque, apesar de ridículo, era a minha única defesa - meu motorista está de folga.

- Você não pode me levar? - perguntou com a cabeça torta dando sinais de irritação - não é muita coisa, pensei em ir de metrô, mas teria que levar Kwan e não quero deixar a cozinha sem supervisão.

- Eu adoraria te levar, Myung - eu queria me esconder, porque me sentia diminuído diante da garota bonita de toque blanche - mas eu não sei dirigir.

Eu esperava um surto de ódio, piadas irônicas, mas não esperava aquele silêncio pesado e a risada espalhafatosa que veio depois. Myung Hee tinha um defeito afinal, ela ria feito uma hiena com cãibra. Os cozinheiros começaram a encarar e desesperadamente tentei calar sua boca e conter seus espasmos de risos com as mãos, mas tudo o que eu fazia parecia deixar a situação ainda mais cômica. De executivo bem sucedido e milhonário a motivo de deboche, pelo menos sou versátil.

***

Kim Namjoon não sabia dirigir. Era a maior piada em anos. Isso não amenizava o fato de que eu precisava comprar especiarias com certa urgência. Tentei recorrer a Kwan, que estava ocupado com a massa das trufas, depois a Kay, mas o café estava lotado e ele não podia sair e por último apelei para Min Yoongi, mas este apenas negou a função alegando que estava aqui porque era obrigado. Sendo assim, Namjoon, que até então era um peso morto na cozinha, teria que provar o seu valor me ajudando a carregar as compras de Hongdae para Gangnam e a sorte estava lançada.

A contra gosto o homem alto, forte e milhonário - que não possuía carteira de habilitação - enrolou um cachecol em seu pescoço e me obrigou a colocar luvas e uma toca. Seul estava fria e cheia de neve, condição climática que nós dois concluímos odiar por dois motivos, a neve e umidade espantavam os clientes e o chão ficava escorregadio demais para desengonçados como nós. Na hora de entrar no metrô Namjoon travou na plataforma e ficou me encarando com olhos pequenos e assustados.

- Nós vamos de metrô? - perguntou apontando para os trilhos vazios - por que nós não vamos de táxi?

- Não há porque pagar um táxi, Namjoon, a estação está perfeitamente vazia - podemos voltar de táxi se você quiser, mas não é necessário.

- É que eu nunca andei de metrô - respondeu tímido - se eu não me sentir bem?

- Okay... - decidi não rir da sua situação, já que ele parecia muito constrangido em admitir aquilo, decidi que estava na hora de parar de julgar aquele homem, uma vez que ele decidiu me respeitar na mesma medida que era respeitado - é uma ótima oportunidade para uma primeira vez, você não acha?

Kim Namjoon concordou lentamente e cerrou os punhos na hora de entrar no vagão. Estava realmente vazio e algumas ahjummas riram quando ele se desequilibrou e tombou para o meu lado no banco, eu encarei as senhorinhas com cara fechada e ajudei Namjoon a se manter sentado sem pender para os lados. Na primeira estação ele parecia receoso, manteve as mãos nos bolsos e sentiu nojo de pegar nas barras e apoios de mão. Na segunda estação ele ficou de pé na minha frente impedindo que um ajusshi tarado ficasse me encarando. Na terceira estação Namjoon corria e escorregava pelo vagão como se fosse um garoto de cinco anos de idade descobrindo a liberdade enquanto eu escondia o rosto com as mãos e fingia não saber quem era aquele doido. Ele não gostou de pegar ônibus, estava em um horário de pico e o Kim usou o próprio corpo para criar um espaço maior ao meu redor, já que o veículo estava lotado e precisamos ficar em pé. Não foi muito relaxante ter um pouco mais de espaço, mas em contrapartida ter a respiração estranhamente gelada de Nam em minha nuca.

- Chegamos - anunciei apontando para o galpão coberto de neve, o mercadão de Hongdae, enquanto tirava os nossos carrinhos de feira da sacola e desdobrava as estruturas com cuidado.

- O que é isso - apontou para os carrinhos - eu não vou carregar isso - anunciou já mal-humorado.

- Então você pode escolher entre carregar as compras na cabeça ou aprender a dirigir para que eu possa usufruir de um porta-malas - Namjoon baixou a bola imediatamente e eu quase me senti culpada.

Metade das compras foram feitas em silêncio, com ele desviando de folhagens úmidas e fazendo cara de nojo para frutos do mar frescos - ou vivos - a ponto de ofender os feirantes e eu precisar pedir desculpas.

- Joonie - peguei em sua mão e ele me encarou de olhos arregalados enquanto eu arrastava seu corpo pesado pelos corredores entre as barracas de feira - você precisa comer, já está no meio da tarde - Namjoon simplesmente concordou enquanto encarava nossos dedos entrelaçados e por um momento eu decidi não me importar com o que ele pensaria a respeito daquilo.

Namjoon também nunca havia comido as comidas típicas de rua, ao menos não as das ruas da Coréia, então não me impressionei quando ele torceu o nariz depois de experimentar o dakkochi, apimentado demais para o seu paladar. Depois de investigar um pouco descobri que Namjoon foi uma criança retraída e diligente que não se permitiu provar muitas coisas da vida e preferiu se trancar em uma rotina de estudos intensa. Ao contrário do que pensei, ele não nasceu chaebol. Apesar de ter crescido em uma situação economicamente favorável, ele foi o único responsável por transformar a doceria do avô em um conglomerado multinacional gigantesco. No fim das contas, Namjoon era uma pessoa admirável escondida embaixo de uma casca de executivo arrogante.

As compras não se estenderam por muito mais tempo, Namjoon parecia um garotinho cansado e o frio estava se tornando insuportável. Os feirantes avisaram sobre uma nevasca que aconteceria em minutos na região de Incheon, e era crucial que chegássemos logo a estação, e esse foi o motivo que nos levou a correr como dois malucos fugitivos puxando carrinhos de feira pelas ruas de Seul. Mesmo me sentindo o próprio Forrest Gump correndo na velocidade que meus pés permitiam, enquanto me via obrigada a acompanhar o ritmo das passadas largas de Namjoonie, em dado momento percebemos que a noite havia caído e a estação de metrô estava interditada devido a nevasca fortíssima que caía no lado oposto da cidade, mas que acabou interditando o fluxo de trens.

- Mas que idéia excelente vir de metrô - eu estava encharcada e tremendo de frio, mas Namjoon continuou resmungando coisas do tipo até eu me estressar de verdade.

- Se você soubesse dirigir nós não estaríamos aqui - gritei - se você não quebrasse louças a toda hora e desperdiçasse menos mantimentos nós não estaríamos aqui também, se eu não tivesse que entregar os seus milhares de doces eu não estaria aqui nem sonhando, foi a sua fábrica que explodiu e eu que estou congelando em uma estação fedida no meio de Hongik ao lado de um garoto prodígio que não aprendeu a guiar um carro! Me diz, qual é a porra da utilidade do seu QI de 148? Heim?

Eu estava espumando? Estava. Namjoon estava com sangue nos olhos e a ponto de me matar? Claramente. Mesmo assim ele apenas respirou fundo, tirou o cachecol do próprio pescoço para enrolar em meus ombros sem apertar demais, ele também posicionou a toca sobre as minhas orelhas e tentou esquentá-las com as palmas das mãos.

- Se você manter as orelhas aquecidas não ficará resfriada - O cérebro do homem à minha frente estava queimando para encontrar uma forma de nos tirar dali enquanto a neve caía sem piedade do lado de fora da estação formando um congestionamento gigantesco na avenida a frente - você já percebeu que, de longe, os faróis dos carros parecem luzes de Natal?

Encarei Kim Namjoon por um momento me questionando sobre a sua sanidade.

- Você bebeu? - questionei.

- Myung - respirou fundo antes de continuar - eu estou tentando ver o lado menos ruim da situação enquanto penso em uma forma segura de chegar a Hongdae, colabora.

- Você disse Hongdae? - Kim anuiu com a cabeça e eu quis rir - fica a quinze minutos daqui, estamos na última estação de Hongik - ele sorriu na mesma hora - por que está rindo? o que há em Hongdae?

- Há a minha casa, oras - meu silêncio deveria significar muitas coisas para ele, pois Namjoon se mostrou levemente ofendido - o que há de errado comigo, vai me julgar por morar em Hongdae agora? Você é inacreditável...

- Não seja mais tolo - respondi - não estou te julgando por morar lá, estou te julgando por você não saber chegar na própria casa.

Namjoon preferiu não me responder, apenas me puxou pelo braço e olhou para os dois lados da rua antes de optar seguir para a esquerda e usar o GPS do próprio celular para traçar seu rumo enquanto evitava qualquer diálogo, se limitando a dizer que puxar o carrinho de feira mais pesado me manteria mais quente, o que foi a pior desculpa esfarrapada que ouvi durante os meus quase trinta anos de vida. Namjoon não era nem um pouco cavalheiro, a final, mas foi algo engraçado de se descobrir enquanto caminhávamos em meio a neve por quase quarenta minutos, ora atolando nossas canelas até a metade no meio da neve, ora escorregando e caindo de bunda no chão gelado e molhado. Mas, no fim, foi curioso observar a casa - que seria super legal para qualquer mortal - mas que para um chaebol era até simplória.

Pelo lado de fora, casa de Namjoon parecia uma das infinitas galerias de arte pop que ficavam espalhadas pelo bairro mais descolado de Seul, e mesmo com a neve forte casais e turistas transitavam e admiravam as luzes de Natal que transformavam aquele lado de Hongdae em uma pintura fauvista, brilhante, colorida e cheia de detalhes, seria até romântica se o homem ao meu lado e eu não estivéssemos roxos de frio. Do lado de dentro a casa de Namjoon era simples, quente e aconchegante. Os poucos ambientes eram tomados de livros dos mais variados temas e tamanhos e as prateleiras chegavam a ocupar uma parede inteira. Fora aquilo, não havia nada de extravagante, nem luxuoso, apenas um sofá de aparência confortável e um livro aberto sobre o assento de uma poltrona de couro marrom de aparência rústica e aconchegante.

- Você precisa de um banho e de roupas secas - Kim concluiu enquanto regulava o aquecedor em sua potência máxima - venha - e saiu me empurrando rumo a um corredor que me levou até a única suíte da casa - tome, pegue isso, vão ficar gigantes em você, mas é o que temos - Namjoon não pareceu querer me encarar muito quando me entregou uma toalha, roupas de frio e um pacote de cuecas lacrado - eu nunca usei essas aí, então não precisa se preocupar, o banheiro é ali.

Foi impossível não rir das face corada de Namjoon ao deixar o quarto, mas meu humor foi trocado por indignação quando percebi que o seu banheiro era maior que a sala da minha casa. Com uma bela banheira de mármore cravada no chão, pias de duas cubas e torneiras de cobre, e claro, um chuveiro inteligente com várias regulagens de pressão e temperatura fixado ao teto. Como o meu pai sempre dizia, "se quer saber quanto dinheiro uma pessoa tem, olhe para o banheiro dela".

Depois de me aquecer ao máximo no chuveiro chique de Namjoon percebi que seria impossível vestir uma calça dele, já que, mesmo depois de dar dois nós na cintura do moletom, o maldito continuava escorregando pelas minhas pernas ao menor movimento. Respirei fundo quando me encarei pelo grande espelho, a parte de cima do moletom quase cobria meus joelhos e suas meias chegavam na metade da minha canela. A parte de pele exposta era razoavelmente pequena, mesmo assim a situação, unida aos fatos de estar com uma cueca dele e sem calças deixava a situação completamente embaraçosa.

- Myung - ouvi duas batidas e a voz de Namjoon atrás da porta - está tudo bem? Você está vestida?

- Estou sim - imediatamente Namjoon colocou a cabeça para dentro do quarto e engoliu em seco quando me encarou de cima a baixo - desculpe, suas calças se recusam a parar na minha cintura.

Depois de me analisar por alguns segundos e pensar em uma boa resposta ele apenas deu de ombros e saiu.

- Muita gente sai na rua usando muito menos do que isso Myung-ah - gritou do corredor - não faça disso um drama.

Eu tentei me convencer daquilo enquanto caminhava até a sala, o problema era que Kim Namjoon estava desfilando sem camisa pela cozinha, mostrando que a calefação da sua casa era bastante eficiente a ponto de me deixar com calor.

- Myung - Namjoon tocou meu queixo delicadamente e minha respiração sumiu com o susto - limpa a baba, você parece fora de controle.

Me limitei a revirar os olhos e aceitar a vasilha de lámen que Namjoon estava me oferecendo.

- Você não é tudo isso, Kim Namjoon - o problema é que ele era sim, era tudo aquilo e muito mais, e - além de tudo - ele sabia. Ele era um homem magnético quando queria, confiante e bonito. Com braços longos e fortes e um físico bem cuidado, provando que havia reciprocidade entre sua mente e seu corpo, um homem enigmático com muitas faces a serem descobertas e, sem sombra de dúvidas, o homem mais interessante que conheci durante a vida.

Depois de comer nosso jantar quente ele não pareceu disposto a conversar, apenas sentou em sua poltrona e continuou o livro do ponto em que estava aberto enquanto eu caminhava por sua sala e absorvia os detalhes do ambiente. Sobre o aparador havia poucas fotos, uma com Min Yoongi e algum outro amigo, uma de seu avô e ele pequeno, uma outra de um casal com um bebê nos braços, a mulher era claramente a mãe de Namjoon, com os lábios grossos e as covinhas semelhantes marcando o sorriso.

- É sua mãe - eu não perguntei, nem mesmo foi minha intenção falar aquilo em voz alta, mas foi o suficiente para Namjoon se levantar e quebrar a curta distância entre nós. Ele parou atrás de mim e tive a sensação de que olhou para a foto por cima da minha cabeça.

- É ela, sim - Monie tirou delicadamente o porta retrato das minhas mãos e devolveu ao lugar de origem - acho que somos parecidos hoje em dia.

- Ela é muito bonita - disse com sinceridade enquanto sentia a respiração quente de Namjoon em minha nuca - e parece simpática também.

- Acho que nunca vou saber - respondeu simplesmente e eu me arrependi de tocar no assunto - ela se foi quando eu tinha quatro anos.

- Eu sinto muito - virei em sua direção e encontrei seus olhos baixos, alinhados aos meus.

- Não tem problema - respondeu ainda encarando a fotografia, que estava ao lado de um ingresso de espetáculo do Albert Hall que também estava em um porta-retrato - eu me lembro de muito pouco sobre ela.

- De qualquer forma, não é fácil crescer sem alguém - conclui enquanto lembrava da ausência dos meus pais.

- Não é fácil crescer, de uma forma geral, Myun - Namjoon deu de ombros - mas as pessoas suportam até encontrarem o próprio caminho da felicidade.

- A felicidade não deveria ser o destino, Namjoon, você deveria criar momentos felizes durante o trajeto - eu não sei por qual motivo, mas eu conseguia ver claramente um brilho um pouco triste nos olhos de Namjoon. Os muros que ele construiu por anos estavam caindo bem ali, na minha frente e ele estava me mostrando o que realmente era, o ser humano que habitava e disputava por espaço dentro do executivo que o consumia. E aquilo de alguma forma me tocava. Me comovia a ponto de querer consertá-lo.

O sorriso que se instalou em seus lábios bem desenhados chegavam aos olhos, olhos gentis que desejavam selar uma trégua em nossas discussões tanto quanto eu, e olhos que eu não conseguia deixar de olhar. Ele também não parecia inclinado a se afastar, ou mudar de assunto. E apesar de não existir uma situação para tal, Namjoon e eu queríamos estar mais próximos. A prova disso foi quando sua mão subiu pelo meu braço até repousar na minha nuca, fria e ansiosa, quase hesitante enquanto nossos rostos se aproximavam até o momento em que os lábios se tocaram calorosamente e sem pressa, como se as línguas se conhecessem de longa data.

- O que você está fazendo? - perguntei assim que nos separamos a contragosto para respirar.

- Estou criando um momento feliz - foi tudo o que respondeu antes de selar o nosso acordo de paz mais uma vez.

E era isso. Eu estava beijando Kim Arrogante Namjoon e não estava nem um pouco inclinada a parar. 

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