AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PE...

By wlangekeinde

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Em um país chamado Kailan, governado por uma ditadura militar, a jovem Kristina Lan Fer está mais preocupada... More

APRESENTAÇÃO
BOOK TRAILER
CAPÍTULO 1 - OS LAÇOS QUE PRENDEM A CORDA
CAPÍTULO 2 - AMIGO DE LONGA DATA
CAPÍTULO 3 - TRÊS MESES DEPOIS
CAPÍTULO 4 - BASTIDORES DA PÁTRIA
CAPÍTULO 5 - DISTÚRBIO
CAPÍTULO 6 - LONGE DEMAIS
CAPÍTULO 7 - OS INCONFORMADOS
CAPÍTULO 8 - O VISIONÁRIO DA COSTA BAIXA
CAPÍTULO 9 - NOSSO ABRAÇO DE AGULHAS
CAPÍTULO 10 - AS TRAMAS OCULTAS DA GUERRA CIVIL
CAPÍTULO 11 - ESBOÇO DE UM CRIME FEDERAL
CAPÍTULO 12 - MEIA DÚZIA DE PROMOTORES DO CAOS
CAPÍTULO 13 - PENSAMENTOS PROIBIDOS
CAPÍTULO 14 - O TERCEIRO-SARGENTO
CAPÍTULO 15 - NO ALBERGUE I
CAPÍTULO 16 - NO ALBERGUE II
CAPÍTULO 17 - PAZ? SOMENTE AOS SUBMISSOS
CAPÍTULO 18 - O PRIMO
CAPÍTULO 19 - RECOMPOR
CAPÍTULO 21 - O HOMEM QUE USURPOU A NAÇÃO
CAPÍTULO 22 - PEDRAS NA POÇA DE ÁGUA (final)

CAPÍTULO 20 - O DIA DA DECISÃO

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By wlangekeinde

No carro, o nervosismo era geral. Todos já estavam uniformizados e armados como se fizessem parte do exército. Briel, assim como Esteban, residia nos ouvidos de cada um dos integrantes por meio dos intercomunicadores. Relatava o andamento de sua invasão ao Computador Administrador. Quando o grupo chegou aos arredores do prédio, ele já tinha o controle do sistema de segurança de toda aquela área. A hora aparecia no canto da visão de Kristina no capacete militar: 04:00h em ponto. Briel deu a indicação para iniciar e eles saíram do carro.

— Tem poucos guardas — disse a voz de Briel, soando como se ele falasse por um telefone — e em lugares mais ou menos fixos, com pouca movimentação, então nem rola se infiltrar entre eles. Se tiver uma movimentação diferente eles vão perceber. Bem como a gente imaginava. Então atravessem o gramado como quem não quer nada, e logo na entrada do pátio vocês vão ver dois guardas em cima do telhado do prédio. Eu vou colocar o programa nos capacetes deles e vocês podem derrubar.

Marko apontou para si mesmo e para Adriana, que anuiu com a cabeça.

Os cinco se aproximaram dos muros que davam acesso ao pátio. O pátio tinha uma iluminação moderada, tal qual o gramado. Os guardas no telhado estranharam a chegada do pequeno esquadrão. Um deles fez sinal de pare e mexeu em seu capacete na altura da alavanca para o microfone — o que era inútil, pois Briel tinha desativado os comunicadores dos soldados. O outro permanecia alerta, com uma mão no coldre da pistola. Antes que a situação se demorasse, Briel contou um, dois, três, e imediatamente os guardas caíram de joelhos, paralisados. Nesse instante, Marko e Adriana sacaram suas pistolas silenciadas e atiraram juntos, cada um em um guarda. Ao invés de um barulho comum de tiro, o som era como o clique de uma caneta que alguém aperta para sair a ponta. Os guardas tombaram, um meio em cima do outro, e Kristina ficou satisfeita por não terem caído do telhado. Briel liberou o portão para eles entrarem no pátio, sempre agachados e com Marko na liderança dando sinais para seguir ou aguardar.

Tudo era verde pela visão noturna: o piso de pedra do pátio, as luminárias nas paredes do prédio, o vidro das janelas, as pessoas que entravam ilegalmente no Palácio Presidencial. Era agoniante só poder enxergar daquele jeito tão incompleto. Além disso, o fuzil nas costas de Kristina pesava, tal qual todo o equipamento, e qualquer movimento no ambiente acelerava seu coração. Contudo, ela precisava se manter firme como os outros. Tinha uma grande responsabilidade, que, olhando para trás, nunca imaginaria ter. Porém, agora, era como se todo o caminho tivesse sido inevitável. Desse modo, mais do que nunca ela deveria conduzir aquilo até o fim, sendo este qual fosse.

O Palácio Presidencial era um edifício antigo, construído por Kailo na Segunda Idade do Império para sediar o governo da Província Central. Desde então fora conservado na medida do possível, por isso a estrutura remetia àquela época: o teto alto, as janelas arqueadas, os pilares redondos.

Entrando pela porta dos fundos, o grupo se deparou com um corredor pequeno. Havia, ao todo, seis portas: além daquela pela qual eles entraram, duas em cada parede lateral e uma à frente, no fim do corredor. Deveriam seguir pela porta à frente, mas Briel alertou:

— Tem três guardas na sala principal: dois no chão e um na sacada.

— E os caminhos laterais? — perguntou Adriana.

— Limpos.

— Porque eu tenho uma ideia — disse ela. — Um de nós vai por um lado, enquanto o resto vai pelo outro. Vamos sair pelas laterais opostas da escada. Os guardas vão ter ângulo pra ver a gente?

— Se vocês colarem na escada e eles não andarem muito, não — disse Briel.

— Você tá propondo uma distração? — disse Kristina.

— Exatamente. Um de nós chama a atenção dos guardas de baixo e eliminamos eles e o de cima.

— Eu posso ser a distração — disse Tone.

— Então, Tone, você entra pela direita — disse Briel. — Franke, você fica aí por enquanto, e quando a área estiver limpa vai pra sala principal, que é onde você vai esperar os outros voltarem. Kris, Marko e Adriana, vocês entram pela esquerda.

— Boa sorte — disse Franke a todos, e em seguida se virou para Tone, colocando a mão em seu ombro. — Te cuida.

Tone abraçou o irmão e disse a todos:

— Animação, galera. Mesmo se a gente não conseguir, isso vai dar uma boa história pra se contar. Quem sabe um livro?

No entanto, eles ainda se demoraram antes da separação, encarando-se uns aos outros. Parecia haver ali uma concordância mútua sobre a estranheza e a verdade daquele momento. Olhavam-se tanto, tão intensamente, como se cada um precisasse gravar na alma os olhos de todos. Estavam colocando o plano em ação! Não existia volta. E até Kristina sentia que tudo era surreal, até ela se demorou naqueles rostos, sem saber quais deles voltaria a encontrar.

E, como se o acordo incluísse tempo limite para despedidas silenciosas, cada um foi ao seu caminho. Kristina, Marko e Adriana entraram pela segunda porta à esquerda, atravessaram um corredor e uma grande sala com sofás, luminárias e móveis enfeitados e dali entraram por uma porta à direita. Chegaram à sala principal do primeiro andar pela lateral, bem ao lado da escada, de degraus largos. Um por um, deixaram a soleira da porta e se agacharam tomando cobertura na parede que se formava embaixo dos degraus.

A sala era um exagero no tamanho. As paredes tinham detalhes cuidadosamente esculpidos com linhas e formas, semelhantes aos detalhes do parapeito da sacada do segundo andar. A sacada se projetava uns cinco metros para fora em todo o redor da sala. No centro do cômodo havia uma estátua de um homem vestindo armadura e ostentando uma espada e um escudo. Era o monumento mais famoso do país em homenagem ao Divino Guerreiro Sama. Um lustre de cristal pendia sobre tudo, destoando do resto da decoração.

— Eu vou dar o choque nos três ao mesmo tempo — disse Briel —, pra nenhum deles perceber que tem alguma coisa errada. Tone, o ideal é você derrubar os dois no primeiro andar, mas o Marko, por precaução, vai até aí. Nessa hora a Adriana vai atirar no cara da sacada. Kris, você cobre todo mundo.

— Entendido — sussurraram todos.

Tone contou até três e do lado onde estava veio um barulho de coisa pequena caindo.

— Eles foram ver o que é — disse Briel. — Tone, me diz quando eu tenho que dar o choque.

Cinco segundos de uma quietude perturbadora.

— Vai — disse Tone.

Imediatamente, Marko deu a volta pela escada, meio devagar, para não fazer muito barulho, mas com a agilidade necessária. Ao mesmo tempo, Adriana saiu da cobertura e se posicionou de pé, mirando no guarda da sacada. Kristina se movimentou afim de ganhar ângulo de visão ao menos para o alvo de Adriana, que caiu para trás com o tiro. A recém-homicida chamou Kristina com um gesto e ambas se dirigiram para onde os meninos e os outros dois guardas estavam. Chegando lá, encontraram os dois guardas já mortos: o primeiro baleado no pescoço, o segundo acabando de ser solto de uma chave de braço de Tone.

— Concluído — disse Marko.

— Bom — disse Briel. — Vou tirar eles do mapa. Podem ir pelo segundo andar, mas parem na escada.

A escada do segundo andar para o terceiro era do lado oposto da escada do primeiro para o segundo, então eles atravessaram a sacada, sempre agachados e fatiando ao passar por entradas de corredores. Pararam ao pé daquele novo conjunto de degraus, dessa vez mais estreitos, menos elegantes e divididos em dois lances, virando para a direita depois do patamar.

— Podem subir o primeiro lance — disse Briel —, mas tem um guarda bem na saída da escada e, depois dele, o mais perto tá na virada do corredor. Preciso saber quando eu aplico o programa no guarda da escada.

Marko, que estava na frente da fila, esperou. Kristina se concentrava junto com ele.

— Agora — disse Marko.

Olhando para cima, Kristina tinha ângulo para ver a parte inferior do corpo do guarda. Viu quando ele estremeceu devido ao choque no capacete e viu quando ele caiu de joelhos. Foi nesse segundo que Marko avançou na virada da escada e atirou.

Foi uma péssima escolha. O morto caiu para frente. Como se o baque do corpo cheio de utensílios de metal pendurados e com um capacete duro na cabeça não fosse o bastante, ele ainda rolou alguns degraus abaixo. Marko o aplacou, mas ele já tinha descido quase um lance inteiro. Kristina não sabia se o barulho tinha realmente ecoado ou se era apenas sua imaginação, mas aquele eco se alongou por uma eternidade.

— Merda! O do corredor ouviu — alertou Esteban Lan Paker, nos ouvidos de todos. — Ele vai pro alarme manual, Briel.

— Tem outro se mexendo perto — disse Briel com a voz fina de nervoso.

— O choque! Dá o choque! — disse Esteban.

— Vem, gente — chamou Marko. Pulou o cadáver e avançou disparado pelo corredor daquele andar (o próprio andar era mais estreito e labiríntico que o primeiro). Os outros integrantes do grupo o seguiram.

Porém, era tarde demais. O guarda que deveria estar por ali já tinha sumido, e logo depois veio uma sirene e todas as luzes do prédio se acenderam.

— Você não deu o choque nele, Briel? — rugiu Marko.

— Não sei... Não deu tempo...

— Briel, corta a energia — disse Tone.

— Como assim não sabe? Só o que tu tinha que fazer era a porra do choque. — Era nítido na voz de Franke o esforço para não berrar.

— Alguém precisa proteger a Sala de Operações — disse Esteban, suspirando.

o que ele tinha que fazer? — repetiu Kristina. — Só isso? Sério mesmo, Franke?

— Pessoal, chega. — ordenou Tone. — É estressante, mas a gente tem uma missão pra cumprir. Briel, corta a energia.

— Desculpa — pediu Briel.

— Chega — disse Esteban. — Todo mundo erra, até quando não pode errar. Mas a gente já sabia dos riscos e da pressão. Agora se mexam porque o tempo tá correndo e alguém precisa ir pra Sala de Operações.

— Eu posso ir — disse Adriana.

— Vai com ela — disse Marko a Tone. Suspirou e virou-se para Kristina. — A gente continua indo pro alvo. Briel, corta logo a porra da energia.

Kristina fez que sim com a cabeça. Adriana e Tone retornaram em direção à escada. As luzes se apagaram novamente, mas só para dar lugar a lâmpadas de emergência, que produziam uma luz menos potente, devido à distância entre elas, mas ainda assim eram um estorvo.

— Essas lâmpadas não fazem parte do sistema elétrico — disse Briel, já exprimindo mais firmeza na voz do que um minuto atrás. — Não dá pra apagar. Droga, já tem soldado indo pra Sala de Operações. Eles sabem que a gente invadiu o sistema. Também tem alguns se acumulando na porta do Sarto. E a porta tá aberta, sem a energia pra manter a tranca elétrica. Dá pra ele fugir... Kris, faz tudo o mais rápido que você puder.

O quarto já estava perto. Marko e Kristina avançaram com um misto de pressa e cuidado, alcançando um banheiro de duas portas; o caminho mais seguro, de acordo com Briel e Esteban, para o hall onde ficavam os aposentos presidenciais. No entanto, três guardas entraram em fileira pela outra porta, cada um com um fuzil.

— Identificação! — disse o da frente, apontando a arma para eles. Porém, na mesma hora, Briel deu o choque em todos, que caíram como pinos de boliche acertados por uma bola invisível.

Marko foi até eles, sacou seu fuzil silenciado e atirou à queima roupa nos dois primeiros. As rajadas de bala perfuraram os coletes dos soldados, depois seus corpos, e fizeram sangue espirrar nos azulejos brancos. Kristina desviou o olhar, e Marko disse em voz baixa, enquanto cuidava do terceiro soldado:

— É ruim quando não são vocês que fazem, né?

Enquanto Kristina imaginava os gritos que os mortos dariam se não estivessem paralisados, um quarto soldado irrompeu pela porta atrás deles. Kristina se virou, de fuzil na mão. Por algum motivo, o homem não vestia capacete. Uma imagem passou como um raio pela garota: ela posicionando a arma do jeito que tinha aprendido, segurando o gatilho, mirando a cabeça desprotegida do soldado, acertando na primeira tentativa, o soldado gritando apenas um princípio de grito, interrompido pela própria morte, o soldado indo ao chão com o rosto detonado, a carne, o cérebro e fragmentos de ossos escorrendo. Mas não foi isso que aconteceu. Kristina apontou a arma para o soldado, mas seu reflexo não a fez apertar o gatilho, e sim dizer com a voz firme, apontando então para os recém-mortos de Marko:

— Dois dos invasores já foram. Eles estão vindo do pátio. Melhor vestir seu capacete.

O soldado a observou por alguns segundos e logo colocou o capacete. No entanto, ao invés de sair, deu um passo para o lado e apontou o fuzil para Marko. Ele e o colega de equipe de Kristina atiraram ao mesmo tempo. O soldado caiu morto, seu sangue espirrando nas paredes, e Marko teve a perna atingida. A mancha vermelha se espalhou rapidamente pelo tecido da calça.

— Você devia ter atirado! — disse o ferido. Pelo tom, Kristina imaginou o rosto dele se contorcendo de dor. Ele apertou o local atingido e passou mancando por cima dos corpos, seguindo para o quarto de Sarto. — Merda, merda, merda... Vamos. Cuida de ir pra frente e me dar cobertura. Cobertura de verdade. Merda!

— Marko foi atingido? — perguntou Briel.

— Na perna — respondeu Marko. — Ainda posso andar.

Ainda podia coxear enquanto gemia de dor, mas ele e Kristina conseguiram chegar ao hall. Lá, se depararam com mais três soldados, que lhes apontaram as armas. Briel os fez tremer com a carga elétrica e disse:

— Marko, Kris, esses são os últimos por aí.

Marko deu aos homens o mesmo destino que dera aos outros. Usou a mão suja de sangue para apoiar o fuzil, e o fuzil ficou vermelho. Kristina olhou para o lado durante a execução.

Enquanto isso, em seu ouvido, Briel e, algumas vezes, Esteban, passavam informações para Tone e Adriana, perguntavam a Franke como ele estava, indicavam dois carros de reforços chegando ao prédio e Kristina já ouvia tudo aquilo como um barulho em sua cabeça, somado ao barulho do alarme. Ela queria correr para o quarto presidencial puxando Marko, ou carregando Marko nas costas, se isso o fizesse andar minimamente rápido. Mas ele estava ofegante no corredor e se apoiou na parede. Deixou a arma pendurada e apertou o ferimento com as duas mãos. Kristina, tremendo, parou ao lado de Marko, e nesse instante ele a puxou pelo braço para bem perto de si, mesmo que de qualquer jeito a voz dele saísse pelo intercomunicador no ouvido da garota.

— Vai você — disse ele. — Eu não vou conseguir.

— O quê?! Não. Eu não vou saber.

— O que tá acontecendo, Marko? — quis saber Esteban.

— Não consigo andar. — O corpo dele deslizou pela parede até parar meio sentado meio escorado.

— Não! — lamentou Briel.

— Kristina vai entrar — disse Esteban — e é melhor fazer isso logo, antes que o Sarto fuja. Se é que ele já não fugiu.

Os barulhos no ouvido de Kristina não lhe davam alternativa. De qualquer jeito, faltava pouco para tudo aquilo acabar. Ela respirou fundo e correu para o quarto. Marko ficou de olho em todas as portas ao redor, ou pelo menos naquelas que podia vigiar sentado onde estava.

— A porta do Sarto tá trancada à mão por dentro — disse Kristina, conseguindo abrir apenas uma fresta antes que uma pequena corrente travasse o acesso. Era a única tranca manual.

A garota pegou sua faca e, com alguns golpes, rompeu a corrente. Em seguida, entrou, sem nenhuma certeza do que faria lá dentro e tão nervosa que seu corpo todo era uma dor de cabeça.

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