"Tem certeza que isso é necessário?"
"Fique quieto", Samantha resmungou. "É claro que é necessário."
Terminando de ajeitar sua gravata, a mulher deu um passo para trás, examinando seu trabalho.
"Perfeito!"
"Agora, senhor, sente-se aqui", Howard disse, arrastando uma cadeira até onde Adrien estava. "Está na hora de cortar esse cabelo."
"O que? Eu não vou...", antes que pudesse terminar de falar, o grande homem o empurrou, fazendo com que se sentasse na maldita cadeira. Sacudindo uma toalha branca, ele a colocou ao redor do seu pescoço.
"Howard, você é um perigo com essa tesoura, me dê aqui", interviu Luke, que até então estava ocupado admirando as maravilhas que Beatrice tinha feito no quarto de Adrien. "Deixa que eu faço isso."
"Como se você fosse um belo cabeleireiro", protestou Howard, fugindo do outro criado. "Diga, Luke, é você próprio que corta seu cabelo? Só isso explica a grande bagun..."
"Chega!", Adrien falou, levantando da cadeira e tentando afrouxar um pouco o nó da gravata, sentindo-se sufocar. Bastou um olhar gélido de Samantha para que desistisse daquilo. "Não vou cortar cabelo nenhum. Querem que Beatrice descubra quem eu sou?"
"Isso não seria má ideia", disse Luke, empurrando um nervoso Howard para o lado. "Não vai conseguir esconder quem é dela por muito tempo, e quanto mais o tempo passa, mais estará mentindo para ela."
"Não estou mentindo para ela", Adrien protestou.
"Bem, está sim, um pouquinho", opinou Samantha. "Mas isso não é importante agora, nem um pouco. Ainda faltam algumas coisas para se ajeitar na sala de jantar e eu quero passar no quarto de Bea para ver como ela está. Melhor nos apressarmos aqui."
"Eu já estou pronto. Não preciso de mais nada", disse Adrien rapidamente, não permitindo que Samantha continuasse seu processo de torná-lo "apresentável."
Adrien Fletcher virou-se para o novo espelho que estava pendurado na parede do seu quarto, encarando seu reflexo.
O terno justo era bonito, com certeza, azul escuro e sem nenhum traço de que havia ficado três anos sem ser usado. Seus cabelos vermelhos, embora mais compridos do que nunca - agora chegando aos ombros - estavam menos bagunçados do que o comum, além de sentir-se meio patético com aquela gravata. Um rápido olhar para seu rosto fez com que Adrien estremecesse, encolhendo os ombros.
Não, obrigou-se a pensar, não hoje.
Depois daquela manhã, quando Beatrice invadira seu quarto com uma dezena de caixas, material de limpeza e móveis novos que tinha encontrado em algum cômodo abandonado da casa, Adrien quase não podia reconhecer mais o quarto arruinado de antes. As cortinas haviam sido substituídas, assim como o grande tapete e todos os móveis e antigos espelhos quebrados. Por onde olhava coisas novas se encontravam, organizadas e inteiras, como os móveis de um quarto deveriam ser. Adrien, por mais que não quisesse, acabou ajudando Beatrice na reforma, aliás, não podia deixar com que ela caísse das escadas e quebrasse um pescoço enquanto trocava as cortinas. Ele quase havia protestado a respeito do espelho quando o viu, mas antes que dissesse qualquer coisa, se lembrou do trato e obrigou-se a ficar calado. No fim das contas, Beatrice fizera o que achara melhor.
E de jeito nenhum ele diria que não havia gostado da transformação.
O dia havia sido uma correria só, tanto para ele quanto para os criados. Enquanto Beatrice ficava confinada em seu quarto, os detalhes do aniversário foram ajustados e Adrien se viu comandando uma tropa de criados apressados, conversando com velhas pessoas que não falava há tempos, mesmo morando debaixo do mesmo teto que elas.
Agora, com tudo preparado, Adrien sentia-se profundamente inquieto. Estava ansioso para ver Beatrice, assistir sua reação diante de tudo àquilo que tinha preparado e simplesmente ficar ao lado dela. Queria que fosse uma noite inesquecível para ela, um aniversário que se lembraria por bastante tempo.
Olhando para si mesmo através do espelho, Adrien obrigou-se a se sentir confiante, além de tentar entender pela milésima vez o que diabos passava dentro da sua cabeça e o que aquela noite significava.
"Adrien?", ouviu de repente a voz de Samantha chamar. Ele se virou para ela, sobressaltado. "Está tudo bem?"
Ele pensou na pergunta por um momento. Um mês atrás, a única resposta que teria para qualquer pergunta do tipo seria um grande e sonoro não, mas, agora, naquele exato momento onde se encontrava enfiado dentro de um antigo terno, com o quarto destruído por suas crises de raiva completamente transformado e uma garota incrível lhe esperando no andar de baixo, tudo o que Adrien Fletcher pôde fazer foi sorrir. Sorrir pela milésima vez naquele mês.
"Sim", respondeu para Samantha. "Estou."
A mulher retribuiu o sorriso, trocando olhares conspiratórios com Howard e Luke.
"Ah, l'amour... É a coisa mais linda do mundo, não?", suspirou Luke, pegando Samantha pelo braço e a rodopiando. Eles riram.
Adrien olhou para o criado.
"Eu não disse..."
"Ora, pare de negar", interveio Howard, um imenso sorriso surgindo de baixo dos seus longos bigodes. "Senhor, não somos cegos. Assistimos as coisas acontecerem."
"Acontecerem magnificamente bem, eu diria", completou Luke, parecendo querer saltitar pelo quarto. "As mulheres... Realmente operam milagres, não é? São capazes de curar até a mais ferida das almas."
"Vocês não podem estar..."
"Vamos, Adrien", disse Samantha, aproximando-se dele com os olhos brilhantes. "Não vai doer dizer. Não vai mesmo."
Adrien encarou seus criados, completamente sem falas. Como eles... Não, aquilo não era possível. Era?
De repente, a imagem de Beatrice surgiu em sua mente, com os momentos do último mês cercando-o por completo.
Lembrou-se da primeira vez que a vira, desmaiada do lado de dentro dos seus portões, e também da noite em que jantaram juntos e tiveram aquela primeira discussão. Lembrou-se de quando a pegou na ala oeste, sentindo-se subitamente mal por tê-la tratado do jeito que tratou. Lembrou-se das refeições que compartilhavam, de suas guerras de bolas de neve e das conversas à luz da lareira na biblioteca. Lembrou-se de cada momento, sentindo aquela emoção já familiar lhe invadir, tomar conta do seu corpo e da sua mente, fazendo-o se perguntar quem ele era antes de tê-la encontrado. Já quase não podia se lembrar.
"Isso é bobagem", soltou, sem conseguir encarar os três. "Ela apenas se tornou uma boa amiga. Só isso."
"Você mente para si mesmo com uma facilidade incrível, senhor", comentou Luke, balançando a cabeça em reprovação. "Não consegue ver? Tudo mudou desde que a linda Beatrice pisou nesta casa."
De fato, Adrien não podia discordar em relação àquilo.
Frustrado, ele passou as mãos pelos cabelos, tentando entender o que se passava dentro dele, porque estava fazendo todas aquelas coisas para Beatrice e por qual motivo não conseguia parar de pensar nela nem por um único segundo. Bea tinha tomado conta da sua mente por completo, fazendo com que refletisse sobre sua vida, quem era e o que estava fazendo. Ela virara tudo de cabeça para baixo, e, agora, tudo o que Adrien queria era entender a si mesmo por aquela nova perspectiva.
"O senhor gosta dela", falou Howard, com uma certeza impressionante. "Está claro, mas, então, por que simplesmente não admite isso para si mesmo?"
"Eu nunca gostei de uma garota antes... Não desse jeito", ele soltou, sentando-se na beirada da cama. "Eu... Não sei o que significa."
"Significa que o seu coração de gelo foi finalmente descongelado", falou Samantha com um sorriso. "Significa que finalmente se apaixonou por alguém, verdadeiramente."
Se apaixonou...
Deus, seria possível?
Bastou pensar em Beatrice e nos momentos que passavam juntos para que a dúvida aos poucos se dissipasse. Sim, ele gostava dela. Gostava muito.
Adrien não fazia ideia de como aquilo acabou acontecendo.
"Deve dizer à ela", Luke falou de repente, fazendo com que Adrien erguesse a cabeça para encará-lo. "Deve dizer o que sente."
"Eu não posso", murmurou de imediato, sentindo-se ao mesmo tempo ridículo e enfurecido.
"Ora, por quê?", perguntou Samantha, enérgica. "Pelo amor de Deus, Adrien, você demorou anos para finalmente sentir algo, para encontrar alguém. Ouça o que eu vou lhe dizer, uma garota como Beatrice não se acha duas vezes."
"Ela não sente o mesmo", confessou, encarando o chão. "Tudo que eu faria seria fazer papel de idiota."
"E como sabe disso?", perguntou Howard. "Como sabe que ela também não gosta do senhor?"
Adrien balançou a cabeça, sentindo um peso esmagador tomar conta de seu peito.
"Como poderia?", perguntou. "O que ela veria em mim? Não há nada que a fizesse se..."
"Pois eu acho que há muita coisa", interveio Samantha, ficando na frente de Adrien e obrigando-o a olhar para ela. "Há mais em você, Adrien, um garoto doce e gentil que estava perdido há muito tempo, mas que ela conseguiu encontrar." A mulher olhou fundo nos olhos dele, de um modo como nunca havia feito antes. "Ela revelou o melhor que há em você, conseguiu enxergar o que nem mesmo você via. Beatrice aceitou seus erros, não desistiu e não fugiu, ela ficou. Ficou e mudou tudo."
As palavras tiveram tanto impacto que Adrien Fletcher chegou a se sentir tonto.
Aquilo... Não podia ser verdade. Ele não era doce, muito menos gentil. Quando olhava para trás tudo o que via era um monstro... Um monstro mesmo antes do acidente.
A verdade o abalou terrivelmente, mas, de algum modo, o libertou.
Beatrice não fugira dele como todos os outros fariam, não se intimidou com seu temperamento, seus problemas ou sua aparência, ela se colocou diante dele e o enfrentou, o mostrou e despertou algo nele que, assim como Samantha havia dito, estava enterrado há muito tempo.
Beatrice Morgan tinha lhe transformado em sua melhor versão de si mesmo, ainda quebrado e imperfeito, mas ele. E, mesmo antes, ela ficou do seu lado, enxergando o que havia além do seu rosto destruído, do seu temperamento irritável e cruel.
"Eu..."
Ele tentou dizer as palavras, apenas duas, mas elas ficaram entaladas na garganta. Agora sabia a verdade, sabia o que sentia por ela, e, o mais importante, conseguia ver quem ele era de verdade, mesmo que parcialmente.
De repente, foi como se não pudesse ficar mais nenhum segundo longe dela.
"Vou dizer para ela", decidiu em voz alta, com uma onda de felicidade genuína lhe invadindo. Ele se levantou da cama. "Vou dizer para ela", repetiu, agora sorrindo.
Adrien então olhou para seus criados, juntos dele, sempre aconselhando e ficando por perto, mesmo quando havia sido tão cruel com cada um deles.
Sentindo a emoção tomar conta de si, Adrien segurou os três em um abraço largo e apertado, que os fez gargalhar.
Quando se afastou, Samantha tinha lágrimas nos olhos.
"Eu sabia que tudo se resolveria", ela falou, colocando uma mão sobre o rosto de Adrien, o olhando com um afeto tão grande que ele pensou não merecê-lo. "Meu garoto, acredite em mim, eu sei que ela sente o mesmo por você."
Do outro lado do quarto, Adrien teve um vislumbre do seu reflexo no espelho. Teve que respirar fundo para não se desesperar.
Samantha percebeu o gesto, como sempre percebia tudo o que passava pela sua mente e resplandecia em seus olhos.
"Essas cicatrizes não são importante para ela, Adrien", a mulher disse com certeza. "Não são mesmo. Ela não é assim."
Adrien sabia, sabia mesmo, mas como muitas coisas, velhas inseguranças são difíceis de deixar para trás.
"Você não tem que passar no quarto dela?", ele perguntou com um sorriso, tentando parecer mais confiante do que se sentia. "Está quase na hora."
"Está certo", respondeu ela assentindo, se afastando e voltando os olhos para Luke e Howard. "Homens, vocês têm trabalho a fazer no salão, se não me engano."
"Ela está certa", disse Luke, empolgado. "Senhor, já disse o quanto essa foi a mais brilhante de suas ideias?"
"Uma centena de vezes", respondeu Adrien.
"Pois foi mesmo!", o criado francês virou-se para o amigo. "Vamos Howard, estou certo que ainda não ajustei a iluminação como deveria."
Juntos, os três saíram do quarto, deixando Adrien sozinho com seus pensamentos.
Andando em direção à pequena mesa redonda que ficava perto das portas da varanda, Adrien segurou a caixinha retangular onde estava o seu presente para Beatrice.
Respirando fundo e encarando a lua prateada que brilhava lá fora, ele prometeu a si mesmo que mudaria o rumo da sua vida a partir daquele momento.
Alguns andares abaixo, Beatrice Morgan ouviu do banheiro quando alguém bateu na porta do seu quarto.
"Pode entrar!", gritou.
Quando Samantha apareceu na porta do banheiro, os olhares das duas se cruzaram no espelho. A mulher abriu um largo sorriso.
"Você está linda!"
Bea riu, fechando o batom que passava nos lábios e virando-se para Samantha.
"Você acha?"
"É claro que sim!" Ela aproximou-se de Beatrice e a olhou de perto, os olhos brilhando de satisfação. "Acho que não vai ficar menos surpresa com Frederick. Acredite se quiser, mas consegui enfiá-lo dentro de um terno."
Beatrice sorriu, passando as palmas das mãos suadas pela saia do vestido.
"Gostaria de ver isso."
"Ele vai vir buscá-la a qualquer momento, só vim checar se está tudo bem e se precisa de alguma coisa."
Beatrice encarou seu reflexo no espelho, incrivelmente satisfeita com o que via.
"Na verdade, se puder me ajudar com o cabelo..." Ela mostrou uma fita amarela que estava sobre o balcão do banheiro. "Achei isso enquanto revirava o guarda-roupa, a cor combina com o vestido, então..."
Samantha pegou a fita, logo em seguida arrastando Bea para o quarto e fazendo com que se sentasse na cama, enquanto trabalhava no seu cabelo.
"Vai ficar ainda mais perfeito", disse ela, a voz divertida.
"Obrigada."
As duas ficaram em silêncio por um tempo, Beatrice se deliciando com as mãos de Samantha mexendo no seu cabelo.
"Então... Não pode nem me dar uma prévia do que me aguarda para hoje?"
Samantha riu.
"De jeito nenhum. Frederick me mataria."
"Bom, é justo", Bea teve que concordar, soltando um suspiro. "Levando em conta que realmente dei uma geral no quarto dele."
"Ainda não sei como conseguiu convencê-lo", a mulher disse, soltando uma risadinha. "Tem ideia do quanto nós já brigamos por causa daquele quarto? Estou tentando mexer nele há dois anos! Em um só dia você conseguiu reformá-lo por completo e ainda convencer aquele cabeça dura de que a casa ficaria mais bonita com as cortinas abertas."
Beatrice deu de ombros, sentindo o coração bater acelerado e um sorriso brotar em seus lábios.
"Não foi nada. Além do mais, concordei que ele fizesse essa tal festa de aniversário. Não queria ter dado tanto trabalho para vocês."
"Ora, não precisa se desculpar. Nós adoramos! Faz tempos que não temos realmente um trabalho animador por aqui... Sem nenhuma modéstia, digo que arrasamos completamente hoje."
Bea sorriu, empolgada e ansiosa por aquela noite.
"Não duvido nada."
Samantha ficou calada por um tempo, os dedos trabalhando agilmente no cabelo de Bea.
"Então...", ela recomeçou, parecendo tensa. "Você e Frederick estão passando muito tempo juntos."
Mesmo sem querer, Beatrice sentiu suas bochechas queimarem.
"Ele... é uma companhia agradável na maior parte das vezes", foi tudo o que conseguiu responder, mas, assim que as palavras saíram, se pegou querendo dizer muito mais. "Acho que nosso desentendimento inicial foi importante para que nos entendêssemos depois. Frederick é... Não sei, acho que diferente de todo mundo que já conheci. Um diferente bom. Quer dizer, ele me deu uma biblioteca, não é como se eu pudesse odiá-lo depois disso."
As duas riram, e Bea sentiu uma emoção muita boa tomar conta de seu peito, como geralmente acontecia quando pensava em Frederick. Os momentos que tinham compartilhado ao longo daquele mês haviam sido simplesmente inesquecíveis. Lembrava-se de cada um deles, dos risos, das conversas e das discussões bobas e divertidas provocadas por dois cabeças duras. Ele a fazia se sentir mais viva do que nunca.
"Você foi algo bom que aconteceu na vida dele, Bea. Foi mesmo", ela ouviu Samantha dizer. "Antes de você... Bem, ele era apenas carrancudo, mal humorado e insensível, mas, agora, consigo ver nele quem era quando criança. Entende? Antes... de tudo acontecer."
Beatrice assentiu levemente. Samantha provavelmente não fazia ideia do quanto aquelas palavras foram importantes para ela.
"Você acha que... ele pode desistir da cirurgia?"
A mulher ficou em silêncio por um tempo, parecendo refletir sobre sua pergunta.
"De verdade? Eu não sei." Ela suspirou, e mesmo sem vê-la, Bea soube que estava abalada. "Frederick sempre achou que sua aparência afastaria tudo e todos depois que o acidente aconteceu, que ditaria o rumo da sua vida e estragaria tudo aquilo que um dia sonhou. Admito que seus pais, embora amem o filho, fizeram parecer que as coisas seriam realmente assim, mesmo que sem querer. Quando Frederick te conheceu... Foi um choque pra ele ver alguém que não se intimidava com o que ele é por fora, nem por dentro. Você não recuou, mas sim mostrou, sem falar, o quanto a aparência dele não era nem um pouco importante. Isso foi uma baque e uma surpresa bem grande. Nós, Luke, Howard e eu, sempre dissemos o quanto era uma bobagem se esconder por causa do que havia acontecido com seu rosto, com sua vida e tudo mais, mas ele nunca deu ouvidos. Acho que quando se conheceram, dois estranhos um para o outro, você provou que tudo o que dissemos era verdade, que, embora haja pessoas fúteis no mundo, ainda há aquelas que não se deixam levar pelo que é irrelevante."
"Eu nunca me importei com a aparência dele", disse Beatrice, impactada pelas palavras dela, ao mesmo tempo em que se sentia profundamente grata por saber de tudo aquilo. "Eu gosto dele pelo que é por dentro e não por fora."
Assim que as palavras saíram, Bea demorou alguns segundos para que tomasse conhecimento delas.
Sentiu Samantha soltar seu cabelo, e quando percebeu ela estava sentada na sua frente, com um sorriso singelo no rosto.
"Ele também gosta muito de você, se quer saber", a mulher disse, fazendo com que Beatrice quisesse perguntar o que aquilo significava exatamente.
Quando pensava em Frederick, era como se um milhão de borboletas tomasse conta de sua barriga, o calor aquecia seu peito e, sem que percebesse, estava sorrindo como uma tonta.
Sim, ela não tinha medo de admitir aquilo, gostava de Frederick, gosta muito. Ao longo de todas aquelas semanas, ela vira nele o homem mais incrível que já conhecera, alguém que não lhe achava estranha ou esquisita, mas a admirava e respeitava, que compartilhava os mesmos gostos e sonhos.
Ele era quem ela sempre esperara.
"Acho que estou apavorada", confidenciou para Samantha, até que a mulher segurou as mãos dela nas suas, apertando de leve.
"É normal que esteja", ela falou, afastando um cacho do cabelo de Bea dos seus olhos. "Escute, Frederick é bastante problemático. Os problemas com os pais o amarguraram ao longo da vida, por mais que ele não admita. A TEI também tem sua parcela de culpa, e o acidente então... Mas você tem que saber que, apesar de tudo, a pessoa que você viu nele, que trouxe de volta, é real."
"Eu sei que é", Beatrice apressou-se a dizer. "Samantha, sei o que quer dizer, que Frederick está melhor desde que cheguei, mas não vê o quanto ele também me transformou?", Beatrice sentia a felicidade tomar conta de si quando pensava em tudo o que havia acontecido entre eles, de uma forma tão grande e avassaladora que seus olhos lacrimejaram. "Quando estou com Frederick... é como se tudo estivesse certo no mundo. Quando ele me toca e me olha sinto algo que nunca senti antes. É surreal. A bulimia, por exemplo, ainda é difícil, mas quando sinto que estou fraquejando e vou até ele, tudo fica certo. Porque quando Frederick me olha nos olhos e diz que sou especial, linda e corajosa, eu acredito, porque ele me vê como eu sempre quis me enxergar. Como eu sou. E é por isso...", sua voz fraquejou, e ela teve que engolir em seco diversas vezes para que conseguisse prosseguir. "E é por isso que não posso arriscar perdê-lo para uma cirurgia idiota. Não posso. Não posso porque Frederick Harris se tornou mais importante para mim do que eu imaginava."
Samantha assentiu, parecendo entender completamente, e, de algum modo, Bea soube que entendia.
"Eu estou com você nessa", Samantha disse, apertando as mãos dela. "Todos nós estamos, Beatrice. E eu sei, sei mesmo, que tudo vai dar certo."
Quando a mulher se levantou, dizendo que tinha que voltar para a sala de jantar, virou-se para Beatrice uma última vez antes de sair.
"Obrigada", ela murmurou, e Bea viu seus olhos rasos de lágrimas. "Obrigada por simplesmente... ter aparecido por aqui. Você não sabe Beatrice, mas você mudou tudo."
Quando ela saiu, Bea ficou um bom tempo fitando a porta, até que conseguiu se levantar e dirigir-se para o banheiro.
Encarando seu reflexo no espelho, Beatrice Morgan soube a verdade.
Soube que sua vida tinha mudado a partir do momento que entrou naquela casa, e que, agora, nada nunca mais seria o mesmo.
Beatrice estava alisando a saia do seu vestido amarelo pela centésima vez na frente do espelho quando escutou uma batida na porta. Samantha havia saído alguns minutos antes, por isso soube que era Frederick.
"Ok, tudo certo", ela disse para si mesma, respirando fundo e caminhando em direção à porta.
Quando a abriu, teve que conter o arquejo de surpresa que queria escapar dos seus lábios.
"Eu estou na frente de um galã de Hollywood?", perguntou para Frederick, que estava parado à sua porta, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça. "Pois realmente parece um."
Vestido com um terno azul marinho e gravata escura, os olhos claros de Frederick realçavam, reluzindo. Seus cabelos ruivos – rebeldes como sempre – caiam até seus ombros em pequenos cachos. Ele estava lindo, e parecia mais nervoso do que nunca.
"Olha quem fala", ele disse, analisando-a da cabeça aos pês. "Já se olhou no espelho?"
"Já, sim. Parece certo me arrumar um pouco para o meu aniversário", respondeu sorrindo, tentando acalmar seu coração que batia como uma bateria. Ela realmente não conseguia ficar muito perto dele sem que seu corpo e seu coração reagissem.
"Há uma festa lhe esperando, senhorita", ele falou por fim, se curvando ligeiramente para ela, fazendo graça. "Quer me acompanhar?"
Bea deu o braço a ele, sentindo seus músculos fortes sobre a roupa.
"Seria um grande prazer."
Quando começaram a caminhar pelo corredor, com os saltos de Beatrice batendo contra o chão de mármore, ela se virou para ele.
"Pode me dar uma pista do que me espera?"
Frederick sorriu, sorriu de um modo que fez com que as bochechas dela esquentassem e seu corpo parecesse virar geleia.
"A noite é uma criança, Beatrice, e a sua está só começando. Não quero estragar nenhuma surpresa."
Ela balançou a cabeça com um sorriso, sem dizer mais nada. De algum modo, sabia que poderia imaginar qualquer coisa, Frederick sempre acabaria superando suas expectativas.
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E é com grande prazer - e uma tremenda ansiedade da reação de vocês - que apresento o booktrailer de A Rosa Mais Bela <3
E então, o que acharam?
Essa belezura foi produzida pela linda da tania_almeida que simplesmente arrasou! Quem tiver a oportunidade de conhecer o trabalho dela, vão lá olhar o livro dela de booktrailers, são todos lindos! Muito obrigada Tânia, não consigo imaginar um trailer melhor que esse para representar o livro.
Agora, me contem o que acharam desse capítulo bombástico! Senhor, esse aqui foi difícil, viu? hahaha
Desculpe por não ter conseguido postar as prévias ultimamente, mas é que elas levam bastante tempo para ficarem prontas e estou meio enrolada nos últimos dias. Mas no próximo capítulo terá prévia sim <3
Por hoje é isso pessoal, muito obrigada por lerem até aqui!
Beijos,
Ceci.