A teoria do caos

By AyzuSaki

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Alguns eventos moldam as pessoas. Acontecimentos que transformam o caminho de alguém totalmente, por terem um... More

Capítulo I - O homem que trabalha com lixo
Capítulo II - O menino que brinca com lixo
Capítulo III - Que tipo de herói você quer se tornar?
Capítulo IV - Os gatos de rua de Hosu
Capítulo V - Aqueles encontros predestinados
Capítulo VI - Desvios imprevisíveis
Capítulo VII - Convergindo
Capítulo IX - Sua mãe nunca te ensinou a mentir, mas deveria
Capítulo X -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte I
Capítulo XI -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte II
Capítulo XII - O gato e o novelo de lã
Capítulo XIII - A órbita de um Midoriya
Capítulo XIV - O poder por trás de um nome
Capítulo XV - Os rolês aleatórios de Nora
Capítulo XVI - Um interlúdio antes da desgraça
Capítulo XVII - O paradoxo da força irresistível
Capítulo XVIII - Aquelas reuniões familiares com parentes que tentam te matar
Capítulo XIX - O menino e os monstros
Capítulo XX - As promessas que fazemos e que nos quebram
Capítulo XXI - O Inverno está chegando
Capítulo XXII - O paradoxo de Epicuro
Capítulo XXIII - Uma fúria feita de gelo
Capítulo XXIV - O inverno está aqui
Capítulo XXV - Efeito bola de neve
Capítulo XXVI - O guia prático de como criar caos, por Izuku Midoriya
Capítulo XXVII - Um cego guiando um cego
Capítulo XVIII - A ponta do fio
Capítulo XXIX - Os galhos da árvore
Capítulo XXX- Izuku é uma calamidade de bolso

Capítulo VIII - Endeavor precisa esfriar a cabeça

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By AyzuSaki


"Caos: Quando o presente determina o futuro, mas o presente aproximado não determina aproximadamente o futuro. "

Teoria do caos

-Hatsume!

Izuku jogou o bastão longe, tentando não tremer com o som de algo se quebrando na direção em que ele foi.

'Okay, Izuku. Você ainda pode salvar essa situação, haja naturalmente.'

Seus headphones estavam abaixados com o capuz em seu pescoço, os óculos no bolso. Estava seguro. Era só agir como se aquilo não fosse nada demais. Abaixou a máscara rapidamente, cruzou os braços no peito tentando cobrir disfarçadamente o máximo do uniforme que conseguia e esconder as luvas bem evidentes em suas mãos.

-Hatsume. – Sua voz saiu o mesmo tom agudo e tentou pigarrear, desviando os olhos do zoom a sua frente e tentando não tremer com o sorriso estranho no rosto da garota. – Como diabos...como? Minha casa...Digo. Issoéumcosplay!

'Muito natural' a voz parecida com Kacchan bufou em sua cabeça.

-Oh ho. Interessante. – Ela murmurou, e ergueu o rosto rapidamente vendo que de alguma forma ela já estava com seu bastão. Em duas passadas tomou dela, apenas para ela agarrar sua mão e arrancar sua luva. – Muito interessante.

- E.eu comprei na loja de 1.99. – Deu uma risada nervosa, tentando arrancar a luva da mão dela em vão. Para seu horror, ela era mais alta que ele também. – Como conseguiu meu endereço?!

-Na sua matrícula. – Ela falou casualmente, agora examinando seus headphones. – O que temos aqui, hum?

-A matricula não é confidencial?

-É? Hum, isso explica muita coisa.

-V.você hackeou a U.A? – perguntou cada vez mais horrorizado.

'Hipócrita'

'Cala a boca Kacchan da minha consciência!'

-Eu disse que ia mostrar meus bebês. Não gosto de esperar. – Ela falou como se isso fosse algo que justificasse perfeitamente ter hackeado em uma das escolas mais seguras do país, invadido sua casa as duas da manhã e agora estar passando a mão em seu corpo. – Por que só tem kevlar em algumas partes?

-Não tinha dinheiro para uma armadura completa e.... – tapou a boca rapidamente, um gemido escapando de sua garganta.

Estava tão fodido.

-Eu sempre quis ver a tecnologia do Nora de perto. – Hatsume murmurou, mais para si mesma, ainda o apalpando. Ela havia tirando uma fita métrica de algum lugar, em algum momento. – É meio decepcionante, para ser sincera. Esperava mais.

-Ei! Não precisa ofender também, não sabe o trabalho que deu.... digo, Nora? Do que está falando, isso é um cosplay. Hatsume! Me solta!

-Está decidido. – A garota balançou a cabeça, e então sorriu com entusiasmo, os olhos brilhando de forma assustadora. – De agora em diante, vai usar meus bebês.

- O QUÊ?!

.................................................................

Izuku repetiria a si mesmo, o tempo que fosse necessário, que ele não tivera escolha. Que isso não tinha nada a ver com sua incapacidade de dizer não a intensidade de Hatsume...

-Me chama de Mei! Afinal, sou seu suporte da cadeira agora!

...Ou o quanto foi facilmente comprado com a tecnologia que ela mostrou, com as possíveis melhoras no seu equipamento. A maioria das coisas que usou para construir seu uniforme era reaproveitado do que encontrou nas coisas de Takashi dos velhos tempos.

O pai de Mei tinha uma das maiores companhias de suporte para heróis atualmente. De repente seu projeto de nanotecnologia não parecia impossível sem ter que vender algum órgão seu.

'Foi apenas o medo de ela me entregar, não fui comprado.'

Repetiria isso quantas vezes fosse preciso a si mesmo até acreditar.

E Mei era um gênio.

Fazia tanto tempo que não conseguia conversar com alguém sem ter que explicar pormenores, que sentia vontade de chorar.

-Ah, Shimizu, os bebês que podemos fazer juntos.

'E isso não soou nada estranho.'

-Eu preciso de mais café.

.......................................................................

Nos dias que se seguiram, Aizawa tentou justificar a si mesmo que não podia simplesmente espionar um aluno – que nem mesmo era aluno ainda – em casa. O garoto estava bem, todos haviam falado. Havia levado o caso para Naomasa, que com uma investigação vergonhosamente breve havia descoberto que o garoto e o tio haviam retornado da Europa meses atrás e se mudado para Hosu.

Toda a dificuldade por um maldito sobrenome. O cenário todo parecia inocente, sem suspeitas. Ele havia levado o sobrinho para fora do país, retornando recentemente, provavelmente porque o garoto queria ir para U.A. O tio tinha um emprego de consultante, o que explicava o que o outro loiro idiota tinha falado sobre o tio viajar bastante. Tudo indicava que Izuku Midoriya nunca havia sido uma das crianças sem quirk desaparecidas para começo de conversa, e todo o caso havia sido apenas um mal-entendido.

E ainda assim, Aizawa sabia que havia algo de errado. Tudo era perfeito demais. Tudo muito bem justificado. E havia alguns pontos que o deixavam com um pé atrás: Primeiro, o garoto era emancipado, recentemente. O processo havia ocorrido já no Japão. Segundo, apesar de uma boa renda, eles moravam em Hosu. E terceiro, ainda não havia nada sobre o tio até ele vir buscar Midoriya anos atrás. Absolutamente nada, como se ele tivesse surgido do ar, e sumido da mesma forma.

Havia algo de errado, mas não tinha provas, e odiava isso.

Então, é, ninguém iria lhe falar que estava agindo errado quando começou a patrulhar mais em Hosu nos últimos tempos. Por um lado, tinha mais encontros com o gato irritante e – pior – Endeavor. Por outro podia visitar Tensei, e ainda tinha uma desculpa para passar casualmente no apartamento que sabia que a criança problemática morava.

Obviamente, pelo horário, ele nunca o via, apesar da luz de um dos apartamentos ficar acesa até alta madrugada, sempre quando passava no final da patrulha.

Apenas no meio da segunda semana ele teve alguma sorte.

Havia sido uma noite estranha, Noraneko havia aparecido apenas no começo da noite, para começar. Ouvira Tensei comentando sobre Hawks ter contado a ele que Nora havia tido mais um encontro com Endeavor. Dessa vez havia envolvido um balde de água gelada caindo de um prédio para apagar as chamas do herói número dois enquanto ele dava uma entrevista.

O que provavelmente era alguma retaliação sobre o último encontro dos dois.

Podia falar tudo sobre o vigilante irritante, mas ele nunca saia do caminho dele propositalmente para provocar algum herói, então com Endeavor devia ser pessoal.

Ele não o culpava.

E pela falta de profissionalismo de Tensei enquanto contava isso, e em como Hawks fingiu que não havia visto para onde o gato havia fugido quando Endeavor foi atrás dele, era claro que muitos haviam apreciado a situação mais do que deveriam.

Então é, o gato ter se escondido o resto da noite era algo compreensível, quando se tem uma bola de fogo raivosa em seu encalço.

E sem o gato, a patrulha foi estranhamente tranquila.

'Chata.' Algum dos heróis havia tossido-comentado.

A segunda parte da noite estranha era o quanto Hosu estava mais tranquila ultimamente. E sabia que tudo era culpa do gato também. Não que um vigilante franzino e bom de fuga fosse o suficiente para acabar com o crime de um dos bairros mais perigosos, mas havia notado que os bairros onde ele patrulhava tinham cada vez mais heróis nos últimos dias.

A necessidade dos heróis em capturar o vigilante que estava ganhando renome, havia os colocado no lugar certo para agir, e com isso o crime estava sendo controlado. Endeavor, especialmente, havia participado de muitas capturas nos últimos tempos, e até mesmo suas destruições colaterais haviam diminuído. Hawks sempre havia ido a esses bairros menos estruturados, e o número de resgates dele era espetacular e apenas subia, mas notava que ele cada vez mais a Hosu, mesmo que pelo o que já tinha visto sobre o herói, ele não parecia muito interessado em capturar o vigilante. Ninguém sabia exatamente qual era o interesse dele exatamente na situação.

E ele não duvidada de nada que Noraneko havia pensado e planejado isso.

A estranheza final da noite havia sido quando passara no final da patrulha no apartamento. Como usual, apenas algumas luzes estavam acesas no prédio, que era estranhamente calmo para o lugar.

Ele vira a massa de cabelo verde e quase caíra de onde estava pendurado em um dos postes com sua faixa. O garoto estava levando o lixo para fora, enquanto brigava com algo perto dos seus pés.

Estreitou os olhos na penumbra da luz do poste que falhava, e viu que eram gatos. Alguns estavam na porta aberta do apartamento, outros nos pés do garoto, quase o fazendo cair. Seus lábios se curvaram levemente quando notou que tinha outro no ombro dele, agarrado.

-Sério pessoal, voltem para dentro. – A voz dele estava mais grave do que lembrava, mas tinha o mesmo tom ansioso. - Vão me fazer cair!

Ele havia crescido, podia ver, mas não muito. Estava menos magrelo, com certeza. Por baixo de uma camisa puída do All Might conseguiu ver que havia músculos ali. Isso o deixava mais aliviado quanto a negligência em alguns aspectos, pelo menos.

Ele parecia...feliz também. Rindo, brigando com os gatos.

Saudável.

Vivo.

Um peso saiu de seu peito, de anos. Era diferente ouvir algo, e ver com os próprios olhos.

Talvez os outros estivessem certos, e estivesse se preocupando à toa.

Ainda assim...

Paralisou, vendo a marca que cobria a parte direita do rosto dele, quando ele se virou para pegar um dos gatos. Com o cabelo preso, ele conseguia ver a extensão dela. Todo o alivio foi varrido, e apertou a faixa com força.

Talvez tenha feito algum barulho, e viu surpreso a rapidez com que o garoto se empertigou e olhou exatamente para a direção em que estava, apesar da escuridão e da distância.

Aqueles olhos verdes eram vigilantes demais, conscientes demais dos seus arredores. A postura que ele tomava naquele momento. Pronto. Tenso. E os olhos dele...

Aizawa estreitou os seus. Nenhuma criança deveria agir assim.

-Eu sei que está aí. – A voz era firme, sem nenhum receio. O viu, curioso, colocar a mão no bolso. Deveria parecer ameaçador, se ele não tivesse com dois gatos pendurados em suas pernas, um no ombro, e outro na sua cabeça no momento.

Alguns dos gatos no chão sibilaram ameaçadores em sua direção, os olhos brilhando na penumbra.

-Não é saudável ficar acordado até essa hora, criança problemática. – Aizawa grunhiu, sem conseguir se controlar. Os olhos verdes se arregalaram, surpresos.

Assustados.

-Eraserhead?

Ele se perguntaria mais tarde porque havia reagido como reagiu.

Talvez tivesse sido o tom vulnerável da voz do garoto, que momentos antes havia parecido tão firme.

Talvez fosse a surpresa com sua falta de controle, quando havia prometido a si mesmo que iria apenas observar.

O fato é que ao invés de finalmente parar e conversar como deveria, ele saltou do poste em direção ao prédio mais próximo e fez algo que nunca havia feito desde que havia entrado na U.A: Ele fugiu.

......................................................

Quando o pânico inicial passou pode raciocinar que se Eraserhead estivesse ali por Noraneko ele já estaria preso, e não encolhido em um sofá coberto da cabeça aos pés com seu cobertor do All Might e gatos.

Ainda assim, seu coração parecia comprimido, sua garganta apertada, porque isso deixava aberta a outra opção, e ele estava ali por causa dele. Por Izuku Midoriya. Afinal, quais as chances de ele estar passando ali por acaso? Quais a chance de isso não ter envolvimento algum com o quanto se sentiu vigiado nos últimos dias, ao ponto de Mei se oferecer para o ajudar a montarem uma base em outro lugar?

E isso, essa possibilidade, trazia tantas memórias que preferia deixar bem trancadas. Se encolheu mais, tocando na pulseira em seu pulso, no último presente que havia dado a sua mãe, tentando não rever aquelas memórias de escombros, e medo e o terrível abandono.

Tirou o cobertor da sua cabeça, sentindo dificuldade de respirar, murmurando um pedido de desculpas quando um dos gatos caiu com o movimento abrupto.

Olhou o apartamento vazio, e cogitou em ligar para a Mei, mas ela havia saído de lá há uma hora, e não tinha coragem de fazer isso, quando ela já tinha passado tanto tempo com ele nos últimos dias. Boa parte, sabia, por ela o ver como um pet projeto, mas sabia que ela havia notado a solidão no apartamento, mesmo que não tivesse perguntado muito a ele.

Ou quase nada, realmente.

'Os heróis vão vir oka-san.'

Gemeu, tapando os ouvidos, controlando um soluço. Aquilo não era hora. Não era hora de relembrar aquela noite, não era hora de relembrar os meses que seguiram ela. Não era hora de lembrar como os heróis não vieram nos dois momentos em que mais precisou.

Exceto que...Ele podia lembrar da mão de Eraserhead segurando a sua nos escombros, em como ele entrou na ambulância com ele, mesmo quando não era obrigado. Em como ele ficou um bom tempo com ele no hospital.

E em como ele esperou que ele fosse aparecer na outra vez por isso.

'-Ninguém vai vir. Os heróis não vão vir, quanto antes perceber melhor. Eles nunca vêm, não vieram por mim também.'

Estava ficando cada vez mais difícil de respirar, puxou o telefone e ligou o número de Takashi, mesmo sabendo que era em vão, caindo imediatamente na caixa de mensagens.

'- ...Eu esperei também, e ninguém veio. Ninguém veio por nenhum deles também.'

Seus dedos estavam trêmulos enquanto digitava mais uma mensagem, que não seria respondida.

Passou para a galeria de fotos, os gatos, uma sua que Mei havia tirado dias atrás enquanto trabalhavam em uma moto. Parou na última sua e de Takashi. Ele havia achado a foto hilária, tendo pego Izuku de surpresa com a lupa ainda no rosto. O rosto dele lembrava da única foto que sua oka-san havia mostrado do seu avô. Ele tinha até mesmo o cabelo preto, os olhos eram verdes como o da irmã, e ele era alto, muito alto em comparação a eles. Alto como seu avô fora.

Aquela altura havia o intimidado tanto na primeira vez que o vira.

'-Eu vou cuidar de você, Izuku.'

-Meow.

Os gatos haviam se acumulado ao redor do sofá, dando suporte a ele.

-Tudo vai ficar bem.

Ignorou as lágrimas em seu rosto, saindo da galeria e indo para o navegador.

Nas duas horas seguintes ele veria vídeos de gatos, cercado por gatos, encolhido no seu cobertor do All might, abraçado com seu travesseiro de Eraserhead.

E tudo ficaria bem.

-Meow.

Tudo ficaria bem.

.......................................................

-Você fugiu?

Aizawa admirava o esforço de Hizashi em tentar não rir, mas ele não estava sendo bem-sucedido.

Grunhiu enfiando a cabeça no sofá, se arrependendo de não ter ido direto ao seu apartamento. Naquele momento precisava de seu saco de dormir e dos seus gatos, não do loiro idiota o atormentando.

-Meu deus, tem certeza que ele não é mesmo seu filho?

Se arrependia amargamente.

.................................................................

Shoto acordou mais cedo do que o usual com batidas insistentes em sua porta.

Olhou o relógio de cabeceira e viu que eram 05:30 da manhã. Por um momento pensou que fosse Endeavor que chegava da patrulha por volta daquela hora e resolvia que não havia batido o suficiente em pessoas por um dia e Shoto era arrastado para um 'treino' matinal.

-Shoto?

A voz de Fuyumi estava ansiosa do outro lado da porta. O que nunca era bom. Se ergueu rapidamente, e a abriu.

A expressão dela estava preocupada.

-Ele não chegou ainda. – Foi a primeira coisa que ela avisou. Seus ombros ficaram menos tensos com isso, e ela continuou. – Mas logo vai chegar, e não vai estar de bom humor.

-O que aconteceu? – perguntou curioso. Porque Endeavor nunca estava de bom humor, mas para Fuyumi dizer isso, algo extra havia acontecido. Algo que havia o irritado.

E se havia irritado aquele babaca, ele queria saber, era uma boa forma de começar o dia.

-Olhe na internet. – Ela falou com ansiedade, o empurrando para o quarto. – Não agora, agora você vai se vestir e ir correr, e dar várias voltas extras. Porque se ele chegar e você estiver aqui...

- ...Ele vai descontar em mim.

Fuyumi empurrou as roupas de correr em seus braços sem comentar mais nada.

Quando passou pela cozinha ela já tinha um bentô e tudo mais que precisasse, e quando os dois ouviram os sons da porta da frente abrindo, ela tratou de o empurrar para os fundos fazendo sinal que iria o distrair.

E realmente, Shoto amava Fuyumi, mas nessas horas ele amava ainda mais.

Só quando estava na outra esquina e recebeu uma mensagem de que ela estava bem conseguiu relaxar.

Mesmo sabendo que Endeavor não tinha o mesmo tratamento com os outros filhos – esses ele fingia que não existiam – ele ainda tinha lembranças demais sobre a mãe para não se sentir cauteloso quando Fuyumi fazia essas coisas.

Apenas quando havia alcançado o parque em outro bairro, ele parou para comer no banco e olhar o que havia acontecido que havia irritado o babaca mais do que o usual.

Não precisou procurar muito, a internet estava fervilhando com o vídeo de Endeavor dando a entrevista em Hosu depois da prisão de uma gangue. Em um segundo, a face estava séria e arrogante, no outro um balde de água caia na cabeça dele.

A água, e logo depois o balde, literalmente.

Alguém gritou, e a câmera focou rapidamente em um prédio e alguém acenando antes de fugir do completo caos quando o herói número dois saiu do choque.

Alguém – alguns internautas estavam dizendo que era o herói Hawks, apesar de ele não parecer em foco na filmagem – dava uma gargalhada incrédula, e um canal havia transformado o momento inteiro em um remix criativo.

Realmente, uma ótima forma de começar o dia.

Em um universo, não houve vigilante, não houve balde de água, e naquele dia Shoto seguira normalmente com seu dia de treino, nunca pisando naquele parque.

Nesse universo, houve um balde de água.

-Meow.

Olhou para baixo com o barulho, e encontrou olhos heterocromáticos como os seus o fitando. Shoto piscou, e o gato piscou de volta, virando o rosto levemente em curiosidade.

Sentiu seu lábio tremer querendo sorrir. Era raro, mas estava em um bom dia. Era um filhote ainda, o pelo malhado em branco e laranja lhe era muito, muito familiar.

-Oi. – Murmurou abaixando a mão para o filhote cheirar, sabendo que não devia tocar sem permissão. Logo ele estava se esfregando na sua palma, vibrando em sua mão. Procurou uma coleira, mas não havia nenhuma, apesar de ele parecer bem cuidado para um gato de rua.

-Ela parece com você.

Tencionou de imediato, erguendo o rosto rapidamente, punhos fechados e se afastando do animal no mesmo instante.

A alguns metros de si havia um garoto, com uma caixa de papelão na mão com mais três gatos colocando a cabeça para fora. O cabelo escuro, esverdeado estava preso de forma bagunçada, os cabelos caindo no rosto sardento e deixando a mostra uma cicatriz bem evidente e intimidadora no lado direito. Os olhos verdes, no entanto, eram suaves, um sorriso largo no rosto enquanto o fitava.

Shoto fechou o rosto de imediato, a expressão se tornando fria e calculista. Defensiva.

O garoto não pareceu se importar, se aproximando de forma vagarosa, quase deliberada, que não tinha certeza se era proposital ou não.

Alguém se aproximando de um animal arisco, e pensou se o animal arisco na ocasião seria realmente o gato que agora se esfregava em suas pernas, miando indignado por ter parado o carinho.

-Não quer ficar com ela?

A pergunta o surpreendeu, mesmo que seu rosto não demonstrasse.

O outro garoto se ajoelhou a certa distância, e o gato o olhou, como se indeciso em ir ou ficar com Shoto.

Ignorou o calor que sentiu no peito com isso.

-Ela é sua? – Perguntou cauteloso.

O garoto sorriu quando finalmente teve uma resposta verbal sua. Nunca havia visto alguém sorrir daquela forma, e piscou aturdido com isso.

-Achei ela e os irmãos há um mês, a mãe sumiu.

E isso não lhe parecia familiar?

-Estão vacinados, mas não posso ficar com eles. Eu tenho...hum, um problema com gatos em excesso no momento. – O outro tagarelou. – Ia oferecer no Cat café, e caso ninguém quisesse...bem, eu posso arranjar mais espaço sempre e dormir do lado de fora.

Shoto não sabia que cara havia feito com isso, mas o garoto gargalhou.

-Não realmente, mas enfim. Ela gostou de você. Não quer ficar com ela? O nome dela é Duas Caras. Não me olhe assim, nunca viu sobre Batman?

-Batman? – Repetiu devagar, se sentido mais e mais aturdido com o outro garoto.

-Hum...É antigo, não me surpreende realmente. – Ele pareceu murmurar mais para si mesmo, enquanto pegava um dos gatos que tentava escapar da caixa. – Mas então, não quer ficar com ela?

-Eu...não posso.

Um gato na presença de Endeavor? Sem chance.

Devia haver algum pesar, mesmo pequeno em seu rosto porque o outro o olhou de forma estranha.

-Bem, se o dono do Cat Café não estiver cheio e eles poderem ficar, você sempre pode ir a visitar.

Shoto olhou para a gata que o fitava ainda, empurrando a cabeça em sua perna.

-Eu acho.

O garoto estranho assentiu, satisfeito. E então se ergueu, com incrível agilidade para quem tinha uma caixa com gatos na mão.

-Então vamos lá.

-Vamos?

Ele o olhou como se ele que fosse o idiota por não entender o chamado de um completo estranho.

-Ao café, perguntar? Traga Duas Caras.

E com isso ele se virou e começou a marchar, conversando com os gatos.

Shoto piscou para o gato em suas pernas, e então olhou o garoto caminhando na calçada, parecendo certo que ele o seguiria.

Contra todo o seu bom senso, ele foi.

...........................................................................

O dono aceitou os gatos, Shoto ganhou um cartão vip e passou quase uma hora cercado de bolas de pelo.

Sem treinamento, sem gritos, sem estresse.

Era como se tivesse entrado em outra dimensão.

Mesmo que quando chegasse em casa, provavelmente Endeavor iria estar o esperando para 'o treino', ele não esqueceria daquele momento. Ele não esqueceria daquele pequeno refúgio que havia encontrado.

Apenas quando saiu do café, ele percebeu que eles não haviam trocado nomes.

............................................................................

Yagi não havia encontrado jovem Midoriya no trem desde o teste para U.A.

E isso estava o deixando preocupado, principalmente ao perceber naquele momento que não sabia onde ele morava, para ver se estava tudo bem.

Por um lado, ele não sabia se conseguiria se segurar e não entregar sobre os resultados do teste, por outro, depois de tudo o que havia descoberto do Aizawa, ele não se sentia tranquilo sem saber se o garoto estava bem.

Por isso foi com alivio que o viu bater na sua porta no fim de tarde.

Notou de imediato que ele parecia mais cansado, os ombros mais caídos que o usual.

-Eu trouxe os petiscos de SmolMight. – Ele falou quase que timidamente.

Yagi sorriu e abriu a porta para ele entrar. O sorriso de alivio foi óbvio ali.

Ele entendia. Tinha dias que não gostava de ficar sozinho também.

-Vou colocar água para o chá. Alguma novidade?

-Eu encontrei um garoto parecido com uma bengala doce de natal hoje.

.........................

Notas finais

Eu ri e chorei escrevendo isso.E no próximo capítulo: As cartas de U.A chegam, reencontros, pistas sobre o passado e um pouco mais sobre o 'cara da cadeira' de Izuku.Ah, e acredito que com esse capítulo algumas teorias de alguns de vocês já se confirmaram.E também soltei uma pista para algo bem maior sobre a estória...

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