A teoria do caos

By AyzuSaki

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Alguns eventos moldam as pessoas. Acontecimentos que transformam o caminho de alguém totalmente, por terem um... More

Capítulo I - O homem que trabalha com lixo
Capítulo II - O menino que brinca com lixo
Capítulo III - Que tipo de herói você quer se tornar?
Capítulo V - Aqueles encontros predestinados
Capítulo VI - Desvios imprevisíveis
Capítulo VII - Convergindo
Capítulo VIII - Endeavor precisa esfriar a cabeça
Capítulo IX - Sua mãe nunca te ensinou a mentir, mas deveria
Capítulo X -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte I
Capítulo XI -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte II
Capítulo XII - O gato e o novelo de lã
Capítulo XIII - A órbita de um Midoriya
Capítulo XIV - O poder por trás de um nome
Capítulo XV - Os rolês aleatórios de Nora
Capítulo XVI - Um interlúdio antes da desgraça
Capítulo XVII - O paradoxo da força irresistível
Capítulo XVIII - Aquelas reuniões familiares com parentes que tentam te matar
Capítulo XIX - O menino e os monstros
Capítulo XX - As promessas que fazemos e que nos quebram
Capítulo XXI - O Inverno está chegando
Capítulo XXII - O paradoxo de Epicuro
Capítulo XXIII - Uma fúria feita de gelo
Capítulo XXIV - O inverno está aqui
Capítulo XXV - Efeito bola de neve
Capítulo XXVI - O guia prático de como criar caos, por Izuku Midoriya
Capítulo XXVII - Um cego guiando um cego
Capítulo XVIII - A ponta do fio
Capítulo XXIX - Os galhos da árvore
Capítulo XXX- Izuku é uma calamidade de bolso

Capítulo IV - Os gatos de rua de Hosu

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By AyzuSaki


Notas iniciais

Yo!

Então, capítulo a jato, tive uma inspiração em boom esses dias <3

Algumas coisas importantes:

Existem alguns personagens originais, então não estranhem se verem um nome desconhecido. Exemplo o irmão da Inko, Takashi (apesar de haver um Takashi em bnha, mas não é esse Takashi) e os pais do Hitoshi. Os Shinsos são baseados principalmente em algumas fanarts lindas que encontrei, principalmente o poder da mãe.

Para onde vai essa fic Ayzu? Para ser sincera, no momento não tenho ideia em qual arco vou terminá-la, se bater a inspiração pretendo segui-la por bastante tempo acompanhando o mangá, então pode ser beeeem longa ainda.

O que aconteceu com o menino Izuku?? Mistério! Vai sendo desenrolado. Eu vou ligar todas as cordinhas aos poucos.

Katsuki está OCC? Então, ele continua sendo aquela bolinha de ódio de sempre, mas as coisas que aconteceram com ele - a surdez, os Midoriyas- mudaram muitas perspectivas dele, então ele está um tanto mais maduro, e a relação dele com Izuku está mais balanceada. Embora ele continue bem...ele.

Por fim, amei escrever Shinsou. Ele é um dos personagens principais , então fiquem atentos a esse menino.

.......................................

"Havendo uma distância, mesmo que ínfima, entre dois pontos iniciais diferentes, depois de um tempo esses pontos estão completamente separados e irreconhecíveis."

Teoria do caos

Hitoshi aprendeu cedo que a vida não era justa para todas as pessoas. Mais especificamente aos quatro anos, quando sua quirk apareceu. No começo ele havia ficado em êxtase por ela ser tão parecida com a da sua mãe. Ele sempre fora fascinado com a dela. Akari Shinsou podia controlar pessoas com um toque das mãos, e por isso ela sempre estava usando luvas desde que lembrava. Ela usava sua quirk ocasionalmente quando o filho pedia para ver, sempre no marido, quase sempre para o obrigar a dormir.

Keito Shinsou tinha uma quirk também fascinante, ele podia acalmar qualquer um com sua voz. Apenas funcionava depois de uma resposta verbal, ainda assim era impressionante, e ele fazia sempre bom uso dela com seus pacientes.

Hitoshi era impressionado com a quirk do seu pai, mas era fascinado com a da mãe, e por isso havia ficado feliz de ter recebido uma combinação das duas: controle mental por meio da fala.

Até perceber que ela não havia ficado muito feliz com isso. Não foi de cara, de imediato. Os olhares de pena dela, a expressão de culpa. Não era como se ele tivesse herdado uma quirk dela – ou uma variação, para ser mais exato -, mas sim uma terrível doença hereditária.

Claro, a confusão não durou muito. Só até o primeiro dia de aula, quando entusiasmado contou sobre seu novo dom, e de imediato vieram os olhares desconfiados e de medo. Em uma semana ninguém queria mais sentar perto dele. Logo começaram os sussurros sobre 'Shinsou ser o próximo vilão', e 'Ele quer ser um herói com isso?'.

Foi a primeira vez que ele voltou da escola chorando. Sua mãe, claro, entendeu de imediato. Quando seu pai chegou em casa do hospital naquele dia encontrou os dois deitados no sofá assistindo algo piegas, tomando sorvete e com cara de choro.

-Dia ruim?

Ele havia começado a chorar, e sua mãe claro o acompanhou de forma culpada.

-Eles são estúpidos, não os escute. – Ele havia repetido o que sua mãe já tinha falado, mas sem as lágrimas parecia mais efetivo. Ou talvez ele estivesse usando a quirk dele, nunca iria saber. – Não escute essas pessoas, eles não conhecem você.

Era mais fácil falar do que fazer. Claro que ao longo dos anos ele endureceu seu coração e aprendeu a não ouvir os insultos, ou ao menos fingir que eles não o afetavam. As coisas haviam melhorado quando ele tinha 8 anos, e viu pela primeira vez sobre um novo herói que surgia. Ele não gostava da mídia, e por isso patrulhava a noite e ninguém sabia muito sobre a vida dele, nem o nome de verdade, ainda assim ele havia o fascinado. A quirk dele não era chamativa, como All Might ou Endeavour. Sua mãe, sentada com ele no sofá havia comentado o quanto ele devia ter trabalhado duro para conseguir se tornar um herói. E ele não queria atenção, queria apenas ajudar.

Hitoshi havia sentado ali, com olhos faiscando, e depois pedido a seus pais para o ajudar a pesquisar mais sobre ele, e eles concordaram de pronto. Os vídeos eram poucos e raros, era difícil alguém o pegar no ato, mas todos que surgiam eles conseguiam.

E Hitoshi decidiu, aos 8 anos, que não importasse o que falassem, ele iria dar duro e seria um herói, mesmo com uma quirk que fosse uma desvantagem. Ele seria um herói como Eraserhead, e iria provar para todo mundo que a quirk dele e da sua mãe não era de vilões.

E seus pais acreditavam nele. Isso era mais que o suficiente.

...........................................

Quando Hitoshi tinha 12 anos, foi o primeiro natal em que seu pai não foi para casa. Apesar dos plantões malucos, ele sempre fazia questão de estar com os dois naquela data, mas não naquele ano. Sua mãe estava no telefone com ele, quando ele viu no noticiário e entendeu a razão. Ele viu a visão aérea pelo helicóptero de ruas destruídas, e feridos sendo levados até sua mãe desligar a televisão.

-Otou-san está bem?

Sua mãe sorriu, mas era claramente um sorriso forçado.

-Com as mãos cheias no hospital, hoje vai ser só nós dois Toshi.

Eles comeram em silêncio, nenhum dos dois com fome. A imagem não saia da sua cabeça, e não conseguiu dormir naquela noite. De novo.

Seu pai não voltou para casa no outro dia, e de manhã cedo sua mãe e ele abriram os presentes juntos. Se animou quando recebeu o gatinho, mesmo com todo o discurso sobre responsabilidades. Sua mãe tentou o distrair com a escolha do nome - Erasercat-, mas estava na cara que ela estava preocupada.

De noite seu pai não havia retornado, mas ouviu uma ligação dos dois quando desceu para a cozinha de madrugada:

-Ela vai ficar bem? Meu Deus, Keito...Sim. E Izuku? O filho dos Bakugos também? Eles não podiam fazer isso. E Inko...eu sei, mas...certo.

Izuku. Ele reconhecia esse nome. Foi bem pronunciado nos últimos meses em casa, e motivo até de certo ciúme, embora nunca fosse admitir. Seu pai sempre falava do filho de uma de suas colegas de trabalho, e até mesmo tinha uma fonte estranha na sala que havia sido 'uma das invenções' do tal Izuku. Foi muito falado em os dois se conhecerem também.

-Hitoshi? O que está fazendo fora da cama?

Deu de ombros e sua mãe suspirou.

-O que aconteceu?

Sua mãe pareceu ponderar por alguns segundos em contar, mas ela sempre havia sido sincera demais para esconder alguma coisa dele.

-Uma amiga do seu pai está ferida, e levaram o filho dela para um abrigo no meio da madrugada. Seu pai está preocupado com eles.

Hitoshi não sabia o que dizer a isso, por isso não falou nada.

Nos próximos dias o assunto seria bem tocado, principalmente quando seu pai retornou por algumas horas para casa antes de ir ao hospital de novo. Eles não conversaram com ele diretamente mais sobre o assunto, mas era bom em captar as coisas. A colega do seu pai estava em coma, o filho havia sumido, e seu pai estava bem irritado com isso.

Ele havia parecido mais esperançoso quando retornou para casa no final de semana, com um autografo de Eraserhead para ele – primeiro um gatinho, agora isso, parecia um sonho -, mas a esperança havia diminuído com o passar dos dias, em que ele também havia ouvido uma ou outra conversa entre eles.

-O abrigo foi fechado? – sua mãe sussurrou na cozinha. Seu pai estava na mesa com um café parecendo ainda mais cansado que o normal. O que era muito.

- Não havia nenhuma criança sem quirk lá.

-Estranho.

-Exato. São as crianças que mais são abandonadas, mas não havia nenhuma lá, e os registros delas são uma bagunça, a maioria ninguém nem sabe para onde foram. O índice de desaparecimento de pessoas sem quirk no geral é maior do que o do restante da população, mas nos últimos meses, esses números ficaram insanos.

-Eu não ouvi nada sobre isso.

-Ninguém comenta. – A voz do seu pai soou amarga. – Ninguém liga. Se Aizawa não tivesse entrado na investigação procurando por Izuku, ninguém nem mesmo teria descoberto isso.

-O que iriam querer com uma criança sem quirk?

-Eu não sei. E eu tenho medo de descobrir.

Hitoshi não havia conhecido o tal Izuku, e ainda assim aquela conversa o assombrou por muito tempo.

Izuku Midoriya permaneceu desaparecido, assim como as outras crianças aos olhos do público. A mídia fez certo estardalhaço inicial, mas logo surgiu algum assunto mais interessante e a luta pelos direitos das pessoas sem quirk foi varrido para debaixo do tapete, onde iria permanecer por mais alguns anos. Os sumiços continuaram por um tempo, até pararem de forma abrupta quando as investigações se tornaram intensas. Elas continuaram por esforço de apenas algumas pessoas interessadas nos próximos anos, mas eventualmente o caso esfriou e a vida seguiu para a maioria como se nada tivesse acontecido.

Até Izuku Midoriya entrar em cena novamente, e trazer as respostas para esse mistério com ele, assim como um grande caos social.

Hitoshi estaria bem no olho do furacão quando isso acontecesse, mas nesse momento ele não tinha nem ideia disso.

........................

Tudo aconteceu por culpa de um guarda-chuva.

Ou mais especificamente, a falta do guarda-chuva. Um relapso ao sair com pressa de casa, e não ter retornado quando sua mãe o chamou para pegar.

Apenas um guarda-chuva, que em outro universo teria feito toda a diferença.

Aos 14 anos, Hitoshi sabia de bastante coisas sobre a vida, e uma delas era em não confiar em seus colegas. Anos sendo rechaçado havia causado isso, e apesar da maioria ter muito medo dele para agir de forma violenta, algumas palavras fazem bem o trabalho em machucar de forma pior.

Então, aos 14 anos Hitoshi era um pouco amargo demais para a idade, sofria de terrível insônia e pensava que, exceto por seus pais e um herói que ele nunca encontrou pessoalmente, ele definitivamente gostava mais de gatos do que de pessoas. Apesar disso, o desejo de ser herói nunca havia ido embora. E havia ainda certa fé na humanidade em si, por isso quando houve o sorteio do projeto, e seu colega lhe deu o endereço para eles irem se encontrar, ele resolveu dar uma chance. Mesmo que fosse no bairro mais perigoso que sabia, Hosu.

Ao pegar o trem naquela tarde, se lamentado quando começou a chover e notar que havia esquecido o guarda-chuva em casa, ele não tinha ideia do que esperar, mas deveria ter desconfiado quando chegou no local do endereço e não havia nada lá além de um beco sem saída e uma mensagem no celular o chamando de idiota.

E realmente se sentia um. Ainda mais quando se perdeu nas ruas e começou a escurecer, e não conseguia mais encontrar a estação. Ele entrou em um dos becos, pronto para ligar para seus pais apesar da humilhação, quando ouviu os miados.

Ele já tinha o ouvido bem treinado para isso, era o que seu pai falava. Afinal, apesar de poder ter apenas três gatos em casa -Erasercat, Allcat e Micat-, ele sempre estava pronto para alimentar outros na rua e os levar ao abrigo quando o seguiam para casa.

Ele os encontrou facilmente atrás de um balde de lixo dentro de uma caixa, ensopados da chuva. Eram três, e pareciam ter pouco mais de um mês de vida. Um deles era preto, o outro tinha o pelo manchado de branco e vermelho, e o terceiro era dourado.

-Coitadinhos. – Lamentou, pronto para os levar consigo, quando sentiu a presença atrás de si.

Ergueu o rosto a tempo de ver o soco em sua direção.

Em outro universo, um guarda-chuva teria bloqueado o golpe, a tempo de ele fazer o sujeito falar e o livrar de uma surra e ser assaltado. Ele teria corrido e esbarrado em Ingenium que o levaria a estação em segurança, depois de dar uma bronca por andar naquelas ruas sozinho.

Nesse universo ele havia esquecido o guarda-chuva.

O soco que tentou bloquear com a mão o jogou contra a parede do beco e bateu a cabeça com força. Um chute em suas costelas o fez gritar sem ar, sem ter como reagir mesmo quando sentiu o outro tentar tirar sua mochila.

Sua vista estava escura, se sentia enjoado e tinha certeza que tinha uma concussão. Os gatos miavam, e ouviu o grunhido irritado quando o outro percebeu que a mochila estava presa.

Recebeu outro chute e tentou falar, perguntar qualquer coisa. Uma resposta verbal, só uma seria o suficiente, mas tinha certeza que tinha uma costela fraturada para estar sem ar daquela forma.

Nem mesmo quando viu a lâmina surgindo dos dedos do homem – definitivamente uma quirk - conseguiu reagir.

Hitoshi pensou que era ali que iria morrer. Por conta de alguns trocados em um beco escuro, e talvez seus pais nunca recebessem um corpo. Ele nunca seria um herói.

E foi então que uma sombra desceu de algum lugar em cima do seu atacante. Na penumbra, e com a concussão ele não viu muito. Ouviu os grunhidos, e o som de pancadas e alguns flashs estranhos, e então silêncio repentino.

Devia ter apagado por alguns instantes, e acordou quando sentiu uma dor terrível ao ser movido, mãos em suas costelas.

Abriu os olhos e viu uma silhueta estranha... com orelhas de gato?

-Gatinho?

Ouviu uma risada abafada e piscou grogue, encontrando olhos verdes grandes o fitando. Era uma pessoa, definitivamente, e não um gato. Uma pessoa estranha com um capuz verde, fones de ouvido que pareciam as orelhas que o enganaram e uma máscara cirúrgica preta no rosto. Ainda assim ele viu olhos verdes, e ele viu sardas. E ele viu a cicatriz estranha em um dos olhos, que parecia ser bem maior por baixo da máscara.

-Acordado, olheiras?

'Olheiras?!'

-Chamei uma ambulância, ela vem logo. Não vai dormir, apesar de que está na cara que precisa.

De repente Hitoshi se sentia bem acordado. Tentou se mover, mas a dor nas costelas era terrível. Percebeu que o estranho havia o sentado contra a parede do beco, abaixo do toldo que não havia visto ali antes.

-Você...não é um herói.

Foi sua primeira frase coerente.

-Hum, não.

Hitoshi estreitou os olhos, tentando focar apesar da concussão.

-Um vigilante?

-Não?

-Está me perguntando?

-Não? Quer dizer. Hum. – O estranho coçou a cabeça e conseguiu ver cabelos verdes por baixo do capuz. Quase revirou os olhos com isso. Se aquele cara fosse um vigilante ele era péssimo em esconder sua identidade.

-Se você é, você é um bem ruim. – comentou.

A expressão do outro estava bem ofendida, podia ver apenas pelos olhos dele.

-Mas que mal-agradecido. – Ouviu ele murmurar e quase sorriu com isso.

-Obrigado. Qual seu nome?

-Sou Iz... – ele arregalou os olhos e Hitoshi sorriu com arrogância, provando seu ponto claramente. – Droga.

E nem mesmo havia usado sua quirk.

-Sabe que é..argh... Ilegal o que está fazendo?

-Eu li a lei. – Viu o outro dar de ombros olhando algo no pulso, e então se calar de forma abrupta. – A ambulância está quase aqui.

-Como... – os sons das sirenes o interromperam. – Como?

-Não ande mais nessas ruas, carinha, aqui é perigoso. – O estranho comentou se erguendo. Hitoshi se sentiu ofendido de imediato, apesar de estar quebrado no chão.

-Carinha? Você tem o quê? Onze anos? E me chama de carinha.

-Eu tenho 14...argh. Não devia ter dito isso, não devia. Hum. Tchau.

-Espera! – O outro garoto pegou a caixa de gatos em um dos braços, o ignorando. – Qual seu nome?

-Nope. Não vai me pegar de novo, olheiras.

-Digo, seu nome como vigilante.

-Não sou vigilante. – Hitoshi o fitou nada impressionado e ele resmungou algo. – Talvez eu seja. Hum... – ele olhou ao redor, e então fitou na caixa com os gatos. – Sou...Nora...Neko?

-Está me perguntando?

-Não?

Meu deus, aquele cara era insano. E Noraneko? Gato de rua?

-Você inventou isso agora. Minha sorte ser salvo por um vigilante no seu primeiro dia de trabalho. Maravilha.

A única resposta que teve foi uma risada, e logo o viu escalar para o prédio do lado rapidamente, apesar de ter uma caixa cheia de gatinhos no braço.

Será que era a quirk dele?

Não teve mais tempo de pensar nisso quando os paramédicos entraram no beco.

E só então notou o seu assaltante amarrado e inconsciente.

.............................................

Sua mãe veio o buscar no hospital. E houve certa comoção, claro. Entre choros e broncas, e a mesma coisa quando chegou em casa e seu pai estava lá.

Por meses não podia mais sair sozinho, e claro que nunca mais confiou em nenhum colega, fez o trabalho sozinho e não colocou o nome de ninguém. A única vantagem é que entrou em classes de defesa pessoal depois disso. Nada de confiar apenas em sua quirk de novo.

Por semanas também, ele começou a se convencer que o estranho encontro havia sido uma alucinação da sua parte. Que nada daquilo aconteceu.

Até que certa tarde, navegando na internet ele encontrou a notícia nos fóruns sobre o novo vigilante em Hosu. As opiniões estavam divididas, ainda mais por ele atuar sempre nos bairros mais perigosos, alguns dos quais apenas os heróis que não queriam visibilidade, mas apenas ajudar, iam. E também, diferente de outros vigilantes, esse não arranjava problema com a polícia. Ele ajudava as pessoas, ele fugia antes que alguma autoridade chegasse. A polícia estava o encalço dele ainda assim, e alguns heróis não pareciam nada felizes com a visibilidade que um vigilante estava recebendo.

Ele realmente ajudava as pessoas. Haviam comentários provando isso, pessoas agradecendo. E até mesmo uma outra imagem borrada dele. Podia ver que ele ao menos havia mudado a roupa para algo menos óbvio. Havia uma armadura de corpo, uma máscara que cobria melhor o rosto dessa vez e óculos protegendo aqueles olhos ridiculamente grandes. E um capuz que parecia seguro o bastante para não cair todo o tempo, embora ainda pudesse ver tufos dos cabelos.

-Meu deus, ele é mesmo péssimo nisso.

Os fones de ouvido em formato de orelhas continuavam ali, e parecia ter se tornado a marca registrada dele. Assim como o bastão que não havia visto antes, e o fato de ninguém ter certeza da quirk dele. Alguns haviam o visto usar fogo, outros eletricidade. Força, agilidade como um gato. Havia especulações, mas ninguém tinha certeza.

- Noraneko.

Hitoshi sorriu pensando na forma ridícula com que o nome surgiu, e que agora havia se espalhado.

Pelo menos agora tinha certeza que o encontro mais estranho da sua vida não havia sido uma alucinação.

.........................................................................

Katsuki foi o primeiro a notar quando as flores começaram a aparecer, sendo ele um dos visitantes mais frequentes de Inko.

Foi no último ano do secundário, e mesmo com a preparação para os exames de admissão para U.A se aproximando em poucos meses, ele ainda conseguia tempo para visitar sua tia Inko todos os dias cedo antes de ir à escola. Ele nunca havia falhado nenhum dia, como havia prometido a si mesmo.

As vezes Dr. Shinsou comentava com Mitsuki que o filho dela frequentava mais o hospital do que quem trabalhava lá, mas ele não se importava. Ele iria visitar Inko até Deku voltar e retomar o papel dele, o idiota com certeza estava tomando o tempo dele para aparecer.

Muitas coisas haviam mudado na vida de Katsuki nos últimos dois anos, outras nem tanto. A surdez quase total não havia o detido. Ele ainda continuava o melhor aluno da sala, e o mais temido. Ainda tinha a quirk mais poderosa, e os professores ainda puxavam o saco dele. Ele era o peixe maior na poça de água em Orudera, e talvez a consciência sobre isso é que tivesse mudado.

Ele seria o herói número um.

"Você quer ser um herói que vence, né Kacchan? E quem vai salvar as pessoas?"

Um herói completo.

Então é, Katsuki tinha seu jogo em mente, e enquanto isso ele treinava, estudava, ignorava tudo o mais – principalmente as pessoas, especialmente as que tinham pena da sua surdez - e visitava sua tia Inko todos os dias, esperando-a acordar ou o nerd aparecer, o que viesse primeiro.

E por isso ele notou as flores que apareciam na cabeceira da cama dela, ao lado dos porta-retratos que sua mãe havia trazido. Como ele visitava todos os dias, e as vezes também no fim da tarde, ele sabia que elas só podiam aparecer a noite. Não havia horário de visitas a noite, por isso achou a princípio que alguma enfermeira ou Dr. Shinsou estavam trazendo as flores, mas bastou perguntar ao redor para saber que não era o caso.

As flores não teriam o intrigado, se não fossem aquelas flores.

Uma simples Astromélia, dada a alguém com o vinculo mais forte possível, expressando também a saudade. Algo que ele aprendeu da própria tia Inko anos atrás, ele e Deku a ajudando no jardim quando tinham apenas 4 anos, antes de toda a bagunça com a quirk dos dois – ou a ausência de um deles – começar.

Contra toda a lógica, Katsuki não conseguia tirar da cabeça quem seria a única pessoa possível a estar deixando aquelas flores, se não fosse o pai do Deku – que estava desaparecido há anos naquele ponto – só existia uma pessoa em que podia pensar. Alguém que surgia na calada da noite, sem ninguém perceber, e que nem as câmeras do corredor captavam.

Ele nunca admitiria isso, que havia uma pessoa esperta o bastante para fazer aquilo, ele só não entendia a razão do maldito estar se escondendo, se fosse realmente ele. Ainda assim, Katsuki não comentou com ninguém sobre.

"É bom você ter uma boa razão, nerd maldito."

Ainda assim ele deixou um bilhete desaforado perto do vaso uma única vez.

No outro dia ele havia sumido, e no lugar de uma resposta, ele encontrou outra flor além da Astromélia naquele dia.

Um jacinto.

Um pedido de desculpas.

Katsuki explodiu a flor.

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