What to expect (When you're e...

By fuckingswen

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|Concluída| Depois da expulsão daxamita, Lena Luthor se encontra num estado profundo de depressão e confusão... More

Tears and fears
Something you can't deny
It wasn't my choice (and It hurts)
I'm not human (but I can fall apart)
Everyone has bad days
Oh, Rao!
You're not like your mom
Somebody stepped inside your soul
When it all falls down
Are you jealous, Lena?
Stronger Together
The Luthor of Steel
A Danvers and a Luthor
How to be a mother
FANFIC NOVA NA AREA
I've got you under my skin
Make it Reign
Lizzie Luthor-Danvers
Nothing's gonna hurt you
I love the way You lie
In my daughter's eyes
Even if we can't find heaven
FANFIC NOVA DE NATAL NA AREA
A heart full of lost
Shelter from the storm
Wish I had no expectations
Desabafo e aviso!
Two kryptonians and a half
I'd wait a million years for you
Get naked (I got a plan)
I love you enough to let you go
Your love is my turning page
Hold me tight and don't ever let me go
FANFIC NOVA NA AREA!
This looks like a happy ending
Fanfic Novaaaaa!
The misadventures of Supergirl and the beans

Dancing in the moonlight

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By fuckingswen

Desabafo de uma autora chateada: esse cap não ficou exatamente como eu queria, eu acho. Não porque ficou ruim (espero q n né), mas pq aconteceram umas coisas ruins, fazendo eu me sentir um lixo e então desanimei, mas como ja tava com metade escrito, n sei dizer se gostei ou n. Então me perdoem se estiver uma merda :(

Queria agradecer por todos os comentários, as mensagens, os elogios e os votos. Significa MUITO pra mim e espero estar fazendo o meu melhor pra vcs <3

Me perdoem os erros, eu revisei do jeito q deu pq passei mal pra caralho hj, então sorry.

Boa leitura!

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A brisa fria e úmida entrava pela fresta da janela, deixando o ambiente mais confortável e aconchegante. O sol estava escondido por detrás de nuvens grossas e acinzentadas, indicando que não demoraria a chover. O quarto permanecia em silêncio, com uma morena enrolada em cobertores e uma bola peluda deitada em seus pés. Durante toda sua vida, Lena nunca pode desfrutar dos prazeres de um final de semana ou de suas férias. Raramente tinha tempo livre, seus dias eram regados a trabalho, a reuniões intermináveis com investidores europeus e asiáticos, sem contar os congressos que tinha que visitar em outros países. Aquela era a sua vida.

Quando adolescente, prometeu a si mesma que não seria como seus pais ou como seu irmão, apesar de amá-lo com todo seu coração. Lex era inteligente, um gênio da ciência e claramente que podia conquistar o que quisesse, principalmente por ser um Luthor e por ser o favorito de Lilian. Aos treze anos, ela foi mandada para um internato e não havia tempo para descanso, para aproveitar a paisagem extraordinária que a Irlanda oferecia em todas as suas estações. As aulas aconteciam de segunda a sábado, com horários estendido até as seis e meia da noite e depois as monitoras garantiam que cada aluna estivesse na biblioteca terminando seus afazeres, adiantando a matéria do dia seguinte e jantando antes das nove, para então seguirem para o quarto. Não havia tempo para respirar.

As meninas que se envolviam com esporte tinham que se dedicar até aos domingos, que teoricamente eram guardados para o descanso que nunca existiu, mas a pequena Luthor não era fã de exercícios físicos brutos, então preferiu o grupo de xadrez. Foram poucas as vezes em que retornou para casa, onde comemoraria os feriados mais importantes, como Natal ou dia de ações de graça. Sendo bem sincera, durante todos os seus anos de estudo, a morena voltou para casa duas vezes. Uma quando a Luthor-Corp estava realizando um evento quase mundial para divulgação de um de seus novos projetos e outra quando foi o seu aniversário, mas que ninguém fez questão de comemorar.

Por isso, todas as noites antes de dormir, uma Lena chateada e aborrecida jurava a si mesma que não deixaria a vida passar daquela forma, quando crescesse. Queria poder ser como as outras meninas, que saíam para passear na cidade vizinha ao internato, que iam em festas do pijama e que passavam os feriados com a família, tirando fotos e construindo memórias. Mas tudo desabou, pois seu irmão perdeu todo rastro de sanidade que ainda mantinha e todas as responsabilidades do seu sobrenome caíram sobre si como um saco de pedras, a machucando e a fazendo perceber que não teria nenhuma escolha, novamente.

Era como viver o mesmo ciclo mais uma vez, sem tempo para si mesma, para sair e tomar um ar no parque principal da cidade, ou simplesmente assistir um filme no plano de tv a cabo que havia assinado há quase um ano e que nunca pode aproveitar. A vida não parava, ela nunca parava. Quando deu por si, já tinha vinte e cinco anos, morava em National City, geria uma empresa multibilionária e tinha que manter a imagem de CEO que nunca cai e nunca quebra. Aprendeu a gostar do que fazia, a ser uma mulher mais forte, centrada e equilibrada — na medida do possível —, mas sentia uma tremenda falta de ter um minuto para respirar. Ter uma jornada como a dela deixaria qualquer um cansado e era assim que Lena se sentia: exausta.

A casa toda estava acordada àquela hora, com Eliza agilizando alguns afazeres do seu trabalho e Alex deitada no sofá, enquanto Kara tentava não quebrar a cozinha. Apenas a CEO continuava a dormir. Algo extremamente raro, pois ela sempre foi a primeira a levantar, independente do dia ou das circunstâncias. No entanto, seu corpo pedia por uma pausa, por um sossego, afinal ela despendia energia para duas pessoas ao mesmo tempo e precisava descansar. Pensando nisso e conhecendo bem a amiga que amava, a pequena Danvers resolveu mimá-la ao máximo, como por exemplo, a deixando dormir até mais tarde e fazendo seu café da manhã caprichado para levar no quarto.

Subiu as escadas com cuidado, respirando fundo para não derrubar nada no chão e empurrou a porta com o ombro, deixando a bandeja na ponta da cama e abrindo a cortina. A luz de fora adentrou com força e clareou tudo ao seu redor, fazendo a morena resmungar baixinho e esconder o rosto embaixo do travesseiro. Kara sorriu e sentou-se ao lado da amiga, tirando alguns fios de cabelo que caíam sobre as bochechas dela e rindo ao ouvir outro resmungo. Lena com certeza não era uma pessoa matutina. Enfiou a cabeça por debaixo do travesseiro também e encontrou os tão amados olhos verdes, lhe encarando sonolentos e preguiçosos.

— Bom dia — sussurrou, vendo a outra sorrir e fingir estar dormindo ainda — eu vi que seus olhos estavam abertos, Lena.

— Droga — murmurou e então os abriu novamente, se perdendo na íris azul da kryptoniana — bom dia...

— Dormiu bem? — ambas continuavam embaixo do travesseiro e suas respirações abafavam o pequeno espaço.

— Uhum — respondeu manhosa, se levantando e sentando sobre o colchão. Agnes, sentindo o movimento, ergueu a cabeça e botou a língua para fora, feliz por ver sua dona acordada — alguém tomou o seu lugar hoje de manhã — acariciou as orelhas da cachorrinha.

— Pedi para ela cuidar de vocês enquanto eu fazia isso — puxou a bandeja e mostrou o enorme café da manhã que havia preparado — temos frutas, café, torrada, ovos, iogurte, o meu sabor favorito e o da sementinha também, porque eu divido com ela, mas não sempre, porque eu acredito que ela vai comer mais do que eu e... — tapou a boca, percebendo que estava tagarelando como sempre — desculpe... — a morena riu e a beijou, fazendo todo seu corpo se arrepiar com o contato de seus lábios.

— Que horas são? — arqueou a sobrancelha.

— Nove e meia, eu acho — respondeu, beliscando um dos morangos.

— Porque me deixou dormir todo esse tempo? São quase dez horas da manhã! — encarou a tela do celular e bufou — eu nunca dormi até tarde assim.

— Por esse motivo mesmo que ainda está na cama — pontuou — você está praticamente de férias, baby, não precisa madrugar como faz todo dia.

— Baby?

— E-eu... é um... er, apelido... mas, se não quiser ou achar cedo demais, então... — gesticulou com as mãos de forma exagerada e seu rosto ficou vermelho tomate.

— Palavras, querida — a beijou mais uma vez — e eu não me importo, na verdade... acho que nunca tive um apelido carinhoso.

— Posso inventar vários para você — sorriu, roçando seus narizes num beijo de esquimó.

— Também posso inventar vários — Alex entrou no quarto e se jogou no colchão, fazendo tudo balançar e Agnes ficar atenta — mas eu gosto de te chamar de Lutessa — pegou o potinho com frutas.

— Alex! Essas frutas são para a Lena! — tentou pegar de volta, mas a ruiva desviou e riu.

— Não está o escrito o nome dela aqui — debochou.

— Porque você é tão insuportável? — a morena arqueou a sobrancelha — quer que eu leve café na cama para você também?

— Seria o meu sonho — piscou provocativa.

— Anda sonhando demais comigo, Danvers — puxou o potinho de novo, enquanto Kara apenas observava.

— Se eu for contar os outros, vai ter que dormir comigo — a loira tossiu nervosa.

— Porque vocês duas são tão nojentas assim? — franziu o nariz.

— Porque a Lena me ama, só não admite — deu de ombros.

— Carente, Danvers? — provocou — posso te deixar dormir aqui no meio, mas conheço uma amiga que iria gostar de conhecer todo esse sarcasmo na cama — Alex sentiu o rosto corar fortemente e tossiu nervosa.

— Quem? — Kara encarou as duas.

— Ninguém.

— Samantha Arias — respondeu, ouvindo a ruiva quase engasgar — ah, qual é, eu senti a tensão.

— A única coisa que grávidas sentem é tesão, Lena, e não tensão — provocou de novo, ficando na defensiva — aliás, eu vou comer isso — pegou as torradas e levantou-se — Eliza está te esperando lá embaixo, disse que comprou um presente para você.

Correu para fora do quarto, antes que aquele assunto mudasse para algo que ela realmente não estava pronta e então as duas ficaram sozinhas, rindo do nervoso da mais velha. Após terminarem de comer, Kara explicou a amiga que elas iriam sair antes do almoço, pois ela queria levá-la a um lugar especial, falar um pouco sobre a cidade e que sua mãe também havia pedido para que as três fossem no mercado comprar os últimos ingredientes para o jantar de ações de graça. Lena assentiu e procurou o que trouxe de mais confortável para caminhar, pois o cansaço acumulado estava submergindo aos poucos e não queria estragar o passeio reclamando de dor.

Enquanto a loira terminava de fazer uma lista de compras com a irmã, com uma Agnes interesseira esperando alguma migalha cair da mesa, a Luthor caminhou até a sala e encontrou a senhora Danvers concentrada num livro desconhecido. Sentou-se ao lado da mais velha e então recebeu um olhar doce vindo dela, com suas íris azuis cobertas pelo óculos a deixando com um ar mais sábio e também mais compreensivo. Algo que Lena nunca pode ter até alguns anos atrás, até conhecer uma repórter fofa e tagarela. Ter aquele tempo com as Danvers estava mudando substancialmente seu coração, mas não tinha consciência do que isso significava ainda. Eliza demonstrava a ela um tipo de amor diferente, um que a fazia sentir-se segura e bem vinda, sem precisar usar uma máscara para esconder seu verdadeiros sentimentos.

Era como se Lena pudesse ser ela mesma, sem medo e sem receios, pois todas ali a aceitavam independente do que guardava em sua alma.

— Dormiu bem? — perguntou preocupada, colocando o livro sobre o braço do sofá — me lembro que sentia muitas dores nas costas nos cinco meses de gestação. Como se sente?

— Mais cansada que o habitual e também mais sonolenta — suspirou.

— Lizzie está crescendo e vai tomar mais energia do seu corpo, por isso tem que comer bem e dormir bastante — pontuou — comprei algo para você, não é nada grande, porém espero que goste.

— Não precisava, de verdade — sorriu sem graça, vendo a outra retirar uma caixinha aveludada azul escura do bolso do casaco.

— Ganhei um desse quando fiquei grávida da Alex — abriu-a, mostrando a correntinha dourada — Jeremiah mandou fazer depois que descobrimos que seria uma menina e então, quando adotamos a Kara, achei que seria bom acrescentar mais uma garotinha — puxou sua própria correntinha, com dois pingentes em formato de menininhas.

Lena então percebeu que no seu também havia dois pingentes, mas um tinha o formato de uma garotinha e o outro era o nome da sua filha: Lizzie. Ambos eram pequenos, delicados e dourados, como a corrente.

— Eu posso? — ela assentiu, com suas lágrimas aumentando nos olhos e um nó se formando em sua garganta.

Aquela quantidade de carinho e afeto a estava deixando sem jeito e a faria desmoronar a qualquer hora. Mais uma parede dentro de si ruiu ao chão e causou o estrondo que ela já estava familiarizada a esse ponto. Nunca se achou merecedora de tanto amor e tanto cuidado, mas ali estava ela, recebendo presentes, sendo mimada e vivendo no meio de uma família ao qual ela sempre sonhou. Ainda se lembrava das vezes em que desejou, a uma estrela azul no céu, ter pessoas que lhe aceitassem, amassem e a fizessem sentir como a garota mais sortuda do mundo. E esse desejo simplesmente desvaneceu-se ao ser adotada, ao ver que Lilian nunca seria realmente a mãe dos seus sonhos.

Eliza terminou de colocar o acessório em seu pescoço e lhe encarou com tanta doçura que um soluço escapou de seus lábios. Inferno de hormônios.

— Não fique assim, querida — a abraçou forte, afagando seus cabelos.

— Eu odeio chorar, mas não consigo evitar — bufou, rindo de si mesma — essa gravidez está acabando comigo.

— Logo, logo termina e você vai sentir falta — Kara e Alex então apareceram na sala e mostraram a lista pronta — porque depois ela cresce e fica rabugenta igual a Alex.

— Mãe!

— Quero vocês três de volta para o almoço, não deixem a Lena se cansar — ignorou o bico que a ruiva fez e dispensou todas para a garagem.

***

Alex dirigiu tranquilamente pelas ruas pouco movimentadas naquela semana de feriado, a maioria viajava para visitar a familia ou preferia simplesmente passar a folga no conforto do lar. A cidade era bem desenvolvida, claro que não chegava aos pés de National City ou Metrópolis, mas seus condomínios e prédios altos rasgavam o céu nublado, assim como suas construções chamavam a atenção de turistas. A arquitetura única e simples que o lugar mesclava-se bem com o verde dos parques, assim como os shoppings, esbanjando um luxo atípico para uma cidade litorânea, combinavam esteticamente com as pequenas casas antigas situadas perto do centro.

Não muito tempo depois, a ruiva estacionou em frente a uma escola pública, que estava aberta para o último dia de aula antes do feriado de inverno. Os gritos do alunos eram escutados de fora, o barulho de bola e passos deixavam claro a presença de muitas crianças e adolescentes. Lena franziu o cenho e encarou o prédio pela janela, sem entender o motivo de estarem ali. Desceram do carro e caminharam juntas, com Kara procurando por sua mão e entrelaçando seus dedos, enquanto Alex ia na frente. Logo na entrada elas foram recebidas por um caloroso cumprimento vindo de uma senhora de cabelos desbotados, que apertou a ruiva num abraço e não parou de falar no tanto que ela havia crescido.

O mesmo aconteceu com a pequena Danvers, que ficou sem graça e ao mesmo tempo saudosa. O olhar de hesitação foi dirigido a Luthor, por ser a única estranha ali.

— E quem seria essa moça? — perguntou curiosa e empolgada.

— Essa é Lena, minha...

— Namorada — Alex respondeu na frente, fazendo Lena e Kara quase engasgar — aparentemente você tinha razão, Ruth — piscou para a mais velha.

— Eu sabia que essa garotinha não gostava muito dos meninos — comentou divertida — você vai ser mãe! — olhou encantada para a barriga da outra.

— Coisa de Danvers — respondeu —sim, ela vai.

— Alex! — a loira resmungou, ficando sem graça.

— Estou tão contente por você! — puxou-a para um abraço apertado de novo — vai ser uma mãe incrível — então encarou a Luthor, que continuava calada e imóvel — muito prazer em conhecê-la.

— Igualmente — se limitou a responder, passando a mão livre sobre o ventre

— Fiquem a vontade, o sinal do intervalo já tocou e as crianças entraram.

O interior da escola se dividia em dois corredores, um para o fundamental 2 e outro para o ensino médio, deixando a mostra nas paredes os quadros de aviso, as atividades de cada turma e a decoração de Natal que já estava pronta. Aquele lugar fora onde as Danvers cresceram e aprenderam a maior parte do que sabem. Foi ali que Alex arranjou todas as confusões possíveis, a fim de proteger sua irmã e também foi onde Kara aprendeu a ser mais humana, conhecendo seus poucos amigos, seus professores e tendo suas primeiras paixões adolescentes. A nostalgia tomava conta delas e a CEO tentava acompanhar tudo com curiosidade no olhar, pois nunca havia pisado os pés numa escola pública.

No meio do caminho, Alex avisou que iria procurar um amigo que estava lecionando por lá e que voltaria em poucos minutos. Ambas assentiram e continuaram até chegar no pátio central, onde, ao redor, pregado nas paredes, havia as placas dos formandos do terceiro ano desde a fundação do prédio. As turmas iam desde 1990 até o ano recorrente, com o nome da Alex na placa de 2003 e o da pequena Danvers na de 2006. Outros muitos nomes estavam grafados ao lado do dela, os quais ela sequer se lembrava da existência. No entanto, tinham alguns que Kara jamais poderia esquecer.

— Essa menina não gostava muito de mim — apontou para o nome logo acima do seu — na verdade, nenhuma gostava.

— Gosto disso, mantém o meu ciúmes controlado no momento — brincou, então a loira franziu o cenho.

— Você tem... Will! — virou-se rapidamente para o garoto que cutucou seu ombro, interrompendo o momento — quanto tempo, eu... eu achei que tinha ido embora — o abraçou e ele sorriu largamente, acendendo uma chama um pouco perigosa na Luthor.

— Midvale tem seus encantos e eu não consegui me despedir — Will brincou — você não mudou nada, continua sendo a menina com o sorriso mais bonito da cidade — Kara riu nervosa e ficou vermelha, como sempre.

— Ah... que isso... — pigarreou, sentindo Lena apertar sua mão — deixe eu apresentar a minha...

— Namorada — respondeu prontamente, estendendo a mão para cumprimentá-lo — Lena Luthor — sua pose de CEO estava ali, intacta. Dificilmente usava seu sobrenome em apresentações informais, não queria que a julgasse, mas naquela ocasião, queria deixar bem claro quem era e de onde vinha.

— Agora está explicado o porquê de não aceitar ir a um encontro comigo — riu sozinho, com Kara sentindo o rosto queimar de vergonha.

— Típico de um homem com ego ferido dizer isso — Lena se impôs à frente da loira — porque não aceita que não é e nem foi bom o suficiente? Te pouparia tempo e a vergonha que está passando.

— William, que interessante te encontrar por aqui — Alex voltou e ficou ao lado da irmã — o cara que nunca aceitou o fora, achei que estivesse casado.

— Não, não cheguei a me casar — deu de ombros, ficando sem graça com as três ali.

— Continue assim, não faça uma garota cometer esse erro — a morena provocou rispidamente.

— De qualquer forma foi bom te ver, Kara e Alex — coçou a nuca e tossiu nervoso — um prazer te conhecer, Lena.

— Não posso dizer o mesmo — resmungou, porém as duas Danvers puderem escutar.

O garoto deixou o corredor, ainda perdido com o que havia acontecido e então Alex as chamou para irem até o anfiteatro, pois a surpresa que ambas — as Danvers — prepararam para a Luthor iria começar em poucos minutos. Durante o pequeno percurso, Kara sentiu-se um pouco mal pela cena que Will fez em frente à alguém que ele nem conhece, parecia falta de respeito algo assim, jogar coisas do passado numa situação que não há motivos para tal. Com isso, ela deixou a irmã ficar mais à frente, para poder olhar para a morena ao seu lado, que também estava quieta.

— Me desculpe pelo Will — murmurou, sentindo as mãos da CEO suarem — ele... ele sempre foi... assim. Me desculpe.

— Não se preocupe, na verdade — bufou, desviando o olhar — eu não devia... ter dito nada ou assumido que somos alguma coisa, foi precipitado da minha parte e não quero que se sinta obrigada a...

— Eu adoraria ser sua namorada, Lena — sorriu encantadoramente, deixando a outra sem palavras.

E também sem fôlego. Podia escutar o coração da loira, assim como ela também podia escutar o seu.

— Podemos... conversar depois — fugiu ao assunto, pois não conseguiria falar disso agora — porque estamos aqui?

— Quero te mostrar uma coisa — puxou-a pela mão e ambas alcançaram a ruiva, entrando em seguida no espaço cheio de cadeiras e pais cochichando animados.

Procuraram por assentos mais próximos do pequeno palco e então as luzes se apagaram. Todos fizeram silêncio, apesar de alguns burburinhos excitados pudessem ser ouvidos, principalmente para uma Luthor e uma Super com audições sensíveis. Um mulher aparentemente na casa dos vinte e quatro anos, com os cabelos castanhos presos num coque e sorrindo largamente, foi ao microfone, anunciar que as apresentações de dia de ação de graça estavam para começar. Após sua saída, um grupo de crianças de quatro a seis anos adentrou o local, todos vestidos a caráter. A meninas usavam roupas de camponesas, alguns meninos de camponês e os menores estavam com um chapéu onde um peru, feito por eles mesmos na aula de artes, ornava com o restante da decoração.

— Essa é a história do primeiro dia de ação de graças — um menininho falou ao microfone, arrancando um "awn" da platéia.

Eles se organizaram novamente e passaram a cantar uma música que contava a história daquele feriado, dançando de forma descoordenada, mas ainda sim muito bem feita. Algumas professoras ajudavam os mais novos, enquanto os maiores já haviam decorado a coreografia. Os pais babões filmavam e tiravam fotos, rindo e se divertindo com seus pequenos. Estavam orgulhosos. Lena acompanhou com o olhar a maneira como alguns eram mais tímidos e não se mexiam, outros ficavam mais exibidos e outros se perdiam no meio de tanta criança. Ela podia entender perfeitamente o que queriam contar, porém por mais que estivesse acompanhando atentamente, seus olhos encheram-se de lágrimas.

Lena chorava porque nunca havia estado tão perto de uma realidade como aquela. Uma onde crianças se apresentavam, mostravam seus desenhos e onde pais admiravam seus filhos com um sorriso de doer as bochechas. Aquela podia ser a sua vida, Lizzie poderia estar no meio delas, lhe encarando lá do alto, um pouco tímida e sem jeito, mas quando encontrasse os seus olhos, ela saberia exatamente o que fazer. Jogaria a vergonha para o lado e faria a melhor apresentação do mundo para sua mãe. Pois Lena significaria tudo no mundo para a pequena Luthor. De repente, Kara alcançou suas mãos e Alex lhe sorriu carinhosamente, afagando seus ombros em seguida.

Foi a melhor surpresa que pode ter naquele dia.

— Queria que pudesse ver exatamente como pode ser para você, Lena — a loira sussurrou, ouvindo-a soluçar baixo — quando Lizzie te olhar dali de cima, sabendo que você largou tudo para poder estar presente, ela vai sorrir e vai te provar que, independente de qualquer erro, você sempre será a melhor mãe do mundo.

***

Chegaram exatamente na hora do almoço, com a comida fazendo o estômago das três roncarem. Eliza era realmente boa na cozinha e sua comida com certeza entrou para a lista das melhores que a CEO havia provado. Por mais que já tivesse frequentado os restaurantes mais caros e exóticos, provado de diversas culinárias, a comida caseira, preparada com carinho e amor, tinha um gosto diferente. Não era simplesmente pelo tempero ou pela escolha do cardápio, e sim pelo momento e com certeza pela companhia. Todas comeram até se fartar, com a mesa regada a risadas e conversas cotidianas, fazendo a Luthor cogitar se aquela não poderia ser a sua vida, caso aceitasse de vez assumir um título com a pequena Danvers.

A questão não era Kara e sim os seus receios e medos, pois nunca havia se envolvido num relacionamento daquela forma. Claro, houve Jack e ele certamente que ocupou um espaço importantíssimo em seu coração, mas quando teve que escolher entre viver uma vida ao lado de quem amava e sua empresa, Lena escolheu a empresa, sem nem pensar duas vezes. Então, por mais que gostasse do amigo, nunca foi amor de verdade, aquele que te faz reconsiderar certos planos, que te faz pensar no outro como um conjunto da sua própria alma, uma extensão de si no mundo. Jack não fora isso para a morena. Ela não quis deixar seus sonhos de lado ou suas aspirações pessoais. Mas Kara era sua melhor amiga, a pessoa que confiava plenamente no seu caráter, na sua conduta e que lhe estava mostrando bem mais do que um dia pensou merecer.

A loira estava a fazendo reconhecer que não deveria carregar o fardo de ser uma Luthor tão a sério, que sim, seu irmão e sua mãe cometeram erros, a fizeram pagar por isso e ainda lhe assombravam em seus pesadelos. No entanto, aquele peso não lhe pertencia, mesmo que continuasse se punindo por não ter percebido antes, por não ter conseguido impedir ou avisar alguém que pudesse ser mais ágil. Talvez essa fosse a sua chance. Chance de ser amada de verdade, de deixar alguém penetrar aquelas paredes de vidro que havia levantado ao redor de si mesma. Mas havia medo, medo delas desabarem e não poder mais se defender como antes.

Depois de almoçarem, Alex se dividiu com a irmã para limpar a cozinha, enquanto Eliza finalizava um trabalho importante. Claro que houve briga no meio disso, pois a ruiva estava lutando pelo monopólio da televisão, de novo, e Kara dizia que era a vez dela, então tudo acabou virando uma discussão envolvendo água e panos de prato. A morena meneou a cabeça, vendo as duas crianças interagirem e aproveitou para adiantar algumas coisas da L-Corp. Trouxe seu notebook para a mesa e passou a ler alguns emails, respondendo os de mais relevância e encaminhando os outros para Sam. O que aliás a fez pensar que seria melhor ligar para checar como tudo estava em National City.

Vendo que estava sozinha e o local silencioso, ligou via Skype para a amiga. A pequena Danvers e a irmã haviam subido para tomar um banho, depois da guerra com o detergente.

— Senhorita Luthor, devo lembrar-lhe de que está de férias com sua namorada e a irmã super atraente dela? — Sam provocou ao atender, fazendo a outra rolar os olhos.

— Boa tarde para você também — bufou — sabe que gosto de manter o controle sobre a empresa.

— Sim eu sei, mas nem sempre o que a gente gosta é o que deve ser feito — pontuou — e claro que está tudo bem por aqui, nada demais aconteceu na sua ausência.

— Muito trabalho? — afastou alguns papéis para o lado — os investidores falaram alguma coisa sobre o novo projeto?

— Eles disponibilizaram mais uma quantia para que fosse feito o mais rápido possível, acontece que não podemos acelerar os laboratórios — explicou — tenho trabalhado bastante sim, mas Ruby tem vindo comigo, já que estamos em semana de feriado.

— Mande um beijo para ela — sorriu — e não fique até tarde na L-Corp, por favor.

— Sim senhora — piscou. Antes que a Luthor pudesse continuar a conversa, Alex passou atrás de si, indo em direção ao balcão da cozinha pegar água do bebedouro.

No entanto, ela usava apenas um camisão de sua época de faculdade, em que havia a logo do time de baseball e o mascote desenhado nas costas. O restante de seu corpo estava nu e seus cabelos curtos enrolados numa toalha branca.

— Belas pernas, Danvers — Sam comentou, sorrindo divertida.

— Puta que pariu! — pulou no lugar, quase derrubando o copo — céus, Lena! Porque não me avisou que estava em ligação?

— Não deu tempo — fingiu se importar — mas também não avisaria se desse.

— Não se preocupe, Alex, prometo não falar para ninguém sobre essa cena — a morena tentou não rir do outro lado da tela — talvez você tenha alegrado o meu dia — provocou.

— Ela está interessada em te mostrar o restante que está embaixo da blusa — Alex engasgou com a água ao ouvir a ousadia da CEO.

— Okay, eu vou para a sala assistir um filme — mudou rapidamente de assunto — eu... uh, me desculpe por isso.

— Oh, não faça isso — Sam importunou mais um pouco — agora eu tenho um motivo a mais para trabalhar relaxada — piscou.

— É para isso que servem as amigas — Alex devolveu no mesmo tom, pois duas podiam jogar aquele jogo.

Lena arqueou a sobrancelha, pensando bem em deixar as duas mulheres a sós.

— Você não vai usar essa frase comigo, Danvers — gargalhou, cruzando os braços e encarando bem o corpo da ruiva se movendo na camisa.

— Posso usar a frase que quiser, só não garanto o que acontece depois — piscou, saindo finalmente por cima na situação e orgulhosa de si mesma.

— Ham, eu ainda estou aqui — Lena bufou, ouvindo Sam rir mais uma vez — peço para que mantenham a discrição e que por favor, façam isso em privado — soou quase como ciúmes, o que não passou despercebido pela outra morena.

— Vai lá se divertir, Lena — moveu-se do outro lado — não se preocupe comigo, estarei aqui vivíssima para lhe incomodar. E você ainda é a minha favorita — a CEO rolou os olhos e então ambas desligaram.

Os papéis esparramados por sobre a mesa foram juntados numa pasta e o notebook novamente guardado na bolsa. Depois de guardá-los no quarto, caminhou para o sofá, onde as duas Danvers estavam deitadas com Agnes no meio delas. Aliás, a cachorrinha nunca havia sido tão mimada na vida. Eliza estava constantemente lhe dando petiscos ou pedacinhos de carne do almoço, como forma de evitar os olhos pidões dela. Sem contar que a bola peluda dormia onde bem queria, fosse no sofá ou até mesmo no quarto da Danvers mais velha — apesar de acabar mudando para a cama da Lena no meio da noite. Kara, ao ver a morena se aproximar, sentou-se rapidamente e a chamou para ficar entre suas pernas.

— Senti sua falta, mas você não me dava atenção — fez um bico enorme e então recebeu um beijo rápido.

— Eu precisava adiantar alguns emails, prometo que toda atenção será sua — sorriu carinhosamente, franzindo a testa e apertando os ombros — mesmo que eu quisesse continuar, minhas costas doem e não consigo encontrar uma posição confortável na cadeira.

— Vocês são tão melosas que meu refluxo subiu e tive que engolir de volta — a agente resmungou, tentando prestar atenção no filme enquanto acariciava Agnes deitada ao seu lado embaixo da manta grossa.

— Eu tenho a receita certa para isso — a morena tirou um papel de dentro do bolso da calça e o entregou — o médico geralmente pede para que use-o mais de uma vez no dia, previne estresse, mau humor e até rugas — ambas as Danvers levantaram a sobrancelhas.

Ou Lena estava falando muito sério ou elas perderam algo nas entrelinhas.

— Lena! — Alex resmungou ao desdobrar o papel e Kara gargalhou.

— De nada — respondeu presunçosa — já pode mandar mensagem para Sam e utilizar o remédio que começa com S.

— Com S? — a loira franziu o nariz — qual?

— Sexo.

— Serotonina.

A pequena Danvers encarou ambas.

— Porque eu insisto em entender vocês duas? — bufou, deixando o assunto de lado.

Ela então começou a apertar os dedos sobre a linha do ombro da CEO, subindo lentamente pela lateral do pescoço até a base da orelha e então fazendo o caminho inverso. Podia sentir a tensão do corpo dela se esvaindo aos poucos, relaxando lentamente e suspirando. Todas as vezes em que tinham esse contato, algo a mais reagia em seus interiores, pois o ardor crescia e elas nada faziam para aliviar. Lena fechou os olhos e passou a gemer baixo, agradecida pela massagem mais do que bem vinda naquela hora. No entanto, estava excitada e seus pensamentos voaram longe, imaginando coisas que ela jamais diria em voz alta. Afinal, combinaram ir devagar.

Mas isso foi há quase um mês atrás.

— Ugh, Lutessa, se você vai apresentar um porno aqui no sofá, me deixe pelo menos me preparar — a ruiva tacou uma almofada na outra e recebeu um olhar mortal — não me venha com essa cara.

— Deixe de ser estraga prazeres, Danvers — resmungou.

— Muito pelo contrário, de prazer eu entendo bem — retrucou, fazendo Kara bufar sem conseguir falar nada.

— Okay, vamos mudar de assunto — tossiu nervosa. Não falaria sobre sexo na frente da sua irmã mais velha com a sua... amiga presente ali — Lena, eu queria te levar num lugar hoje a noite. Acha que consegue ir? Não quero que fique cansada ou que fique com dor ou que...

— Claro que sim — virou-se para encará-la, puxando seu rosto para mais um beijo, com Alex grunhindo no fundo — só não quero voltar tarde.

— Prometo que não iremos demorar — sorriu, perdendo-se naquelas íris esverdeadas cristalinas.

— Agnes, como você aguenta? — Alex perguntou para a cachorrinha, que levantou uma orelha e a fitou confusa — se um dia quiser fugir, saiba que é bem vinda na minha casa.

— Inveja, Danvers? — Lena provocou.

— Cala boca, Lutessa.

***

O inferno começou quando Kara a pediu para se arrumar e foi tomar banho no outro banheiro. Sinceramente a CEO não pensava que seria tão complicado assim, ou tão doloroso. Eram raros os momentos em que sentia-se insegura com o corpo, com suas curvas e com cada detalhe que compunha sua beleza. Claro, como toda adolescente, Lena também teve pensamentos ruins, vontade de fazer dietas malucas e impossíveis, mas com o tempo aprendeu a se aceitar e a enxergar que não precisava encaixar-se no padrão imposto por uma sociedade doente. No entanto, após a descoberta da gravidez, seu psicológico ficou abalado e enfraquecido, e olhar-se no espelho tornou-se uma tarefa árdua.

Depois da conversa que teve com Alex no bar, há meses atrás, ela forçou-se, de certa forma, a tentar ter um pensamento mais positivo. Ficou mais fácil quando o amor por Lizzie nasceu em seu coração, quando acompanhar sua barriga crescendo a deixava com uma mornidão gostosa no peito, pois sua filha estava ali com ela, lhe fazendo companhia e crescendo forte. Cinco meses haviam se passado, cinco meses de mudanças drásticas e um novo tipo de aceitação, seu corpo não era o mesmo, sua mente não era a mesma, mas ainda sim estava difícil. Não porque a tristeza em não se ter domínio sobre o próprio corpo havia acabado ou diminuído, mas porque queria estar bonita naquela noite.

Kara merecia todo o seu esforço.

Sua auto estima escorreu pelo ralo ao perceber que algumas estrias surgiram na base do seu ventre, demonstrando que mais um detalhe iria compor a enorme mudança em sua vida. Sua vontade foi de chorar e gritar, não conseguia se conformar com aquilo. Passou os dedos sobre a pele nua, sentindo a elevação de cada risco e respirou fundo, com as lágrimas teimando consigo mesma. Como poderia enfrentar a loira tendo algo tão profundamente marcado em si? O que ela pensaria agora que não tinha a mesma beleza de antes? Claro, não estava achando que a amiga seria tão fútil, porém doía. Doía saber que aquelas estrias não iriam embora nunca mais.

Sentou-se no chão do banheiro, ainda vestida somente com a roupa íntima, maquiagem feita e tentou se concentrar em outra coisa. Mas foi uma tentativa frustrada. Estava quebrada, por fora e por dentro, e eram nesses momentos de queda que seus pensamentos ruins e autodestrutivos vinham com força. A voz de sua mãe lhe dizendo o quão irresponsável era gritava em sua cabeça, assim como a lembrança de que não seria boa o suficiente para Lizzie quebrava seu coração em pedaços. Como supostamente conseguiria ser forte por uma criança, quando não conseguia ser forte nem por si mesma? Eram apenas estrias, repetiu em silêncio, você ainda é bonita.

Riu ironicamente, deixando uma lágrima solitária escapar. Estava grávida, engordando, com as roupas apertadas, com todos os seus melhores vestidos já não servindo mais e agora seu corpo estava marcado para sempre. Isso a fazia pensar no fato de que Lizzie sempre estaria ali. Por mais que assinasse cada papel da adoção, sua filha ainda permaneceria em todos os detalhes do seu ventre, das suas pernas, dos seus braços e do seu coração machucado. Aquelas marcas eram a prova de que sua menina estava viva e escrevendo na sua pele algo incompreensível.

Abraçou as pernas e se permitiu chorar, cansada demais de segurar o nó na garganta. No mesmo instante, a porta do banheiro foi aberta e brilhantes olhos azuis lhe encararam confusos, mas repletos de compreensão.

— O que houve, baby? — agachou-se rapidamente, ouvindo os batimentos acelerados da outra — está com dor? Está se sentindo bem? — passou as mãos pelos longos cabelos negros e esperou por uma resposta.

— Não tenho roupa que sirva e eu... eu me sinto horrível — confessou chateada — e-eu me olho no espelho e não me vejo, às vezes... — levantou o rosto e demonstrou toda sua dor através do olhar — eu queria estar bonita para você hoje...

— Oh, Lena — sentou-se ao lado dela, a puxando em seguida para seus braços. Como sempre, a Luthor escondeu o rosto em seu pescoço, suspirando fundo — você ficaria linda até se fosse de pijama — comentou docilmente — não precisa usar o vestido mais caro ou a roupa mais chique que tiver, sou apenas eu, sua amiga. E para mim, Lena, você é a mulher mais linda do mundo — ambas se encararam novamente — se quiser podemos ficar em casa, não precisamos ir a lugar algum.

— Não — murmurou, em seguida pediu ajuda para se levantar — eu... eu quero ir, mas olhe isso... — passou a mão sobre as marcas brancas na barriga — elas são tão feias, Kara.

— Elas são a prova de que você gerou uma vida por cinco meses — pontuou, se aproximando mais e acariciando seu rosto — elas me fazem pensar na sementinha, no quão incrível vai ser quando ela nascer e isso não te deixa feia, baby, pelo contrário — suspirou — te deixa cada vez mais linda. Sei que... pode parecer mentira ou que eu estou apenas tentando... te ajudar, mas eu... — desviou o olhar, sem coragem.

— Olhe para mim — Lena pediu com carinho, depositando uma mão em cada bochecha rosada da loira — respire fundo, okay? — ela assentiu.

— Me desculpe, e-eu só... só queria que soubesse que realmente te acho extraordinária e que seus olhos são os meus favoritos, assim como a cor da sua pele, dos seus cabelos e também... — corou fortemente — do seu sorriso...

Lena então a beijou apaixonadamente, tentando enfiar cada desconfiança em si mesma em caixas e as jogando no fundo da alma. Não valia a pena sentir tudo aquilo quando alguém como sua melhor amiga lhe dizia tantas coisas boas e incríveis. O que fez para merecer alguém como ela? Quando que iria pensar em ter Kara em sua vida? Parecia surreal, um sonho impossível ou uma bela ilusão. Esperava ainda pelo dia que tudo desmoronaria, pois sempre era dessa forma. Receber e nunca manter. Nunca conseguir lidar com seus relacionamentos pessoais sem quebrá-los em pedaços.

— Eu vou me trocar, mas será que poderíamos ir em algum lugar que não tenha muita gente? — perguntou receosa.

— O que você quiser — a beijou novamente.

Resolvendo não cobrar tanto do seu emocional, ela optou por um vestido cinza, de mangas compridas, solto da base dos seios para baixo, assim Lizzie não ficaria apertada dentro de uma roupa justa. Deixou os cabelos soltos, caindo como uma cascata negra em suas costas e buscou pelo casaco, sabendo que não precisava se preocupar tanto com o frio. O pôr do sol começou a pintar a cidade de laranja, com seu brilho majestoso cobrindo o mar de um dourado envelhecido e agraciando cada ser humano com toda sua grandiosidade. Havia algo sobre o sol que sempre encantou a Luthor, algo que ela não sabia explicar, mas que tirava seu fôlego todas as vezes.

Optaram por irem a pé, mesmo Alex insistindo para dar uma carona, pois a mesma estava saindo para passear. A caminhada foi regada a um silêncio confortável. A orla estava vazia, por conta do vento úmido e gélido que abraçava o final da tarde. As ondas batiam com força sobre a areia e recuavam para o mar, refazendo seus atos com uma repetição fascinante. Lena não se lembrava da última vez em que esteve próximo ao oceano, admirando-o e curtindo a brisa salgada. Não iria mentir, a paz e a calmaria eram bem vindas, principalmente depois do nervosismo dentro do banheiro. Elas até a faziam se esquecer de seus motivos para chorar e se preocupar, pois ali, naquele momento, eram apenas ela, Kara e Lizzie.

E Lena poderia facilmente se acostumar a estar assim. Em família, pensou consigo.

Seus dedos continuaram entrelaçados aos da loira, seus pés descalços afundaram na areia molhada e sua pele arrepiou com o contraste. Paz. Era como pisar em nuvens, flutuar num céu alaranjado e quente, com o vento beijando suas bochechas e penteando seus cabelos. Céus, como precisava daquilo, daquela felicidade genuína, que não pesa, que não sufoca e que não assusta. Sequer conseguia pensar em como enfrentaria toda sua rotina mais uma vez, com reuniões, conselhos, pilhas de papéis e sem poder ver sua repórter favorita no mundo todos dias, sem poder acordar ao lado dela. Parecia tão errado.

— Dança comigo? — Kara pediu num sussurro. Seu coração retumbava no peito e caso não tivesse controle acabaria dizendo tudo o que guardava dentro de si ali mesmo.

— Eu não danço — franziu o cenho — e não temos música.

A loira então buscou o celular no bolso, escolhendo uma música e conectando o fone de ouvindo. Ofereceu um lado para a melhor amiga e encaixou o outro em sua orelha. A melodia tocava suavemente, trazendo uma sensação de filme clichê, daqueles que te fazem acreditar em amor verdadeiro. Aquele amor que se encontra numa cafeteria qualquer num sábado de manhã chuvoso.

— Kara...

— Shhhhh — a silenciou com o indicado em seus lábios. Seus corpos ficaram colados um no outro, com a kryptoniana segurando na base das costas da Luthor e erguendo uma de sua mãos.

Lena riu desacreditada, enquanto a música soava no fone, e permitiu se mover com a outra, dançando sobre a areia que começava a grudar em suas pernas. O vento empurrou seus cabelos, assim como os cachos loiros da pequena Danvers e foi quando ela percebeu que eles combinavam. Tudo parecia se encaixar tão perfeitamente e seu coração desejou profundamente nunca acordar daquele sonho.

Come a little bit closer

Venha, chegue mais perto

Hear what I have to say

Ouça o que eu tenho a dizer

Just like children sleepin'

Como crianças adormecidas

We could dream this night away

Nós podemos sonhar esta noite afora.

Kara a girou no lugar, com um pouco de dificuldade e ambas riram. Não eram dançarinas profissionais e nem amadoras, na verdade, sequer sabiam o que estavam fazendo. Descansaram suas testas juntas, com a gaita sendo tocada e ninguém mais ouvindo. Aquela letra, cada verso, cada nota eram apenas para elas, como uma apresentação secreta, uma música que só ambas pudessem escutar e descobrir seus significados. E era isso que tornava aquele momento tão especial, o fato de que ninguém conseguiria impedi-las de dançar.

Because I'm still in love with you, I want to see you dance again — a pequena Danvers sussurrou, fechando os olhos e suspirando — Because I'm still in love with you, on this harvest moon...

— Kara? — ambas continuavam de olhos fechados, com o coração batendo no mesmo compasso, com suas almas se abraçando.

We know where the music's playin'

Pois sabemos onde a música está sendo tocada

Let's go out and feel the night

Vamos sair e sentir a noite

— Hum?

— Eu aceito — a loira parou por um momento.

— O quê?

— Ser sua namorada.

Because I'm still in love with you

Pois eu ainda estou apaixonado por você

***

A chuva caía impiedosa naquela manhã e lavava todo o rastro de pegadas na praia, fazendo com que a noite anterior fosse apenas uma memória. Um bela memória. Ambas voltaram para casa repletas de uma alegria contagiante, roubando beijos quando podiam e se permitindo não pensar nas dificuldades que lhes aguardavam na volta. Lena adormeceu assim que botou os pés em casa, cansada pela caminhada e também pela montanha russa de emoções que lhe abateu em poucos dias. Havia aceito ser namorada da sua melhor amiga, onde isso iria às levar? Claro, tinham receios de não serem suficientes uma para a outra, de acabarem arrastando traumas irreparáveis e pesando isso em cima do carinho e do amor que levaram tanto tempo para fortalecer.

A noite foi testemunha da coragem quase inexistente que ambas tiveram e observou-as dormirem abraçadas, como quem segura o mundo nas mãos e como quem pede silenciosamente para não deixar nada cair.

A CEO acordou um pouco perdida, sem conseguir encontrar o celular e verificar as horas. Como não havia sol, não tinha como ter uma ideia. Agnes já não estava na cama, assim como a kryptoniana, que sempre deixava o seu lado mais quentinho e a fazia sentir falta quando levantava. Fez sua higiene pessoal diária e desceu as escadas, procurando por algum sinal de vida na casa. Encontrou então Eliza e Alex sentadas em frente a tv, conversando sobre a rotina pesada da ruiva e os trabalhos da Danvers mais velha, porém seu coração perguntava onde estaria sua — agora — namorada.

Seu corpo estremeceu. Namorada. Não parecia real.

— Bom dia, querida — a loira virou-se para encarar uma Luthor sonolenta — dormiu bem?

— Sim, obrigada — sorriu — onde está Kara?

— Na varanda dos fundos — Alex respondeu — está com a Agnes.

Assentindo, caminhou até a porta da saída para a área de serviço, vendo então uma loira sorridente sentada no chão e uma Agnes curiosa, esperando ansiosamente por algo. Foi então que Kara se levantou e pediu para que a cachorrinha se deitasse, o que ela prontamente obedeceu.

— Agora, sente — pediu novamente — isso, muito bem! Quem é a melhor cachorrinha do mundo? Isso mesmo, você! — ofereceu um petisco e acariciou as orelhas da cachorrinha — agora late — Agnes obedeceu mais uma vez.

— Sabe que ela faz isso porque quer comer, não sabe? — comentou, abraçando a loira por trás e descansando o queixo sobre seu pescoço.

— Se eu fizer o mesmo também ganho comida? — brincou.

— Idiota — beijou suas bochechas — o que temos para hoje?

— Por enquanto nada, Eliza vai visitar uma ex colega de trabalho e Alex vai levá-la até lá — respondeu, virando-se para encarar a morena — está cansada?

— Apenas com um pouco de dor, nada sério — deu de ombros — preciso de um banho.

— Te encontro lá em cima em alguns minutos — a beijou.

Vendo a loira voltar a sentar no chão, ela soube que provavelmente ficaria sozinha por mais um tempo e não se importava. Passou pela sala, agora vazia, e subiu as escadas devagar, pois não queria forçar mais ainda seus pés doloridos. A camisa do seu pijama já não permanecia ajustada em seu corpo como antes, na verdade, ela ficava levantada na ponta, por conta da barriga e Lena achava adorável. Dedilhou com cuidado a pele do ventre, tentando não surtar mais uma vez e sorriu, sabendo que Lizzie estava bem e saudável. O sentimento que tinha de segurança por mantê-la ali consigo era algo confuso e sempre a pegava de surpresa. Sabia que o mundo era cruel, que cobrava juros em cima de situações e decisões, e que não perdoava facilmente. Não queria que sua filha sofresse, por isso amava o fato dela ainda estar confortavelmente dormindo em sua barriga.

Ao chegar ao pequeno corredor do andar de cima, encarou as quatro portas posicionadas quase uma em frente a outra. O quarto que pertencia a Alex era o último, que ficava em frente ao banheiro. Um instinto dentro do seu coração a fez ficar pensativa. Desde a última aula para grávidas que a Luthor não conversou com a ruiva sobre os vidrinhos dentro de sua bolsa, não que tivesse visto, mas podia claramente escutá-los bater. Não queria invadir o espaço pessoal dela, principalmente porque odiava quando faziam isso consigo, porém temia perguntar e não receber resposta alguma. Como era de praxe se tratando de Alexandra Danvers.

Abriu a porta do quarto dela com cuidado, ouvindo-a ranger baixo e então observou a decoração. Diferentemente de sua namorada, os tons de vinho e cinza ornavam graciosamente em todos os cantos, nos objetos da mesa e na colcha da cama. Haviam fotografias em cima da escrivaninha e do criado mudo, livros espalhados pelas estantes e roupas jogadas em cima de uma cadeira branca. O cheiro do perfume da ruiva invadiu seus pulmões, porém algo a mais também chamou sua atenção. Cheiro de álcool. Respirou fundo e caminhou até uma das instantes, encontrando a bolsa da viagem e a abrindo. Documentos e papéis de recibo se misturavam numa bagunça sem fim e, junto a eles, pequenas garrafas de vidro de vodka.

Não ficou surpresa. Olhou embaixo da cama e lá havia também algumas garrafas de cerveja, umas que a Luthor sequer viu Alex tomar ou entrar em casa com elas. Sabendo que provavelmente já havia ultrapassado todos os limites, deixou o quarto e voltou para o seu, o banho a esperava.

Despiu-se tranquilamente enquanto a água subia pelas paredes de porcelana da banheira, sem atentar muito aos detalhes do seu reflexo. Ainda não tinha tanta coragem. Deixou a roupa no canto e testou a temperatura, sorrindo ao sentir a mornidão acalmar seus nervos. Ao entrar na água, cada membro seu agradeceu silenciosamente e deixou a tensão escorrer para fora. Estava mais difícil não se cansar, não sentir as mudanças mais drásticas e o peso de sua filha. Lizzie provavelmente cresceria muito mais, a impedindo de caminhar por longas distância ou ficar em pé durante horas.

Em manhãs como aquelas, Lena agradecia por Kara levantar antes dela. Não porque gostava de ficar sozinha, mas porque não saberia explicar ou controlar as reações do seu corpo toda vez que a abraçava e sentia seus toques precisos na pele da barriga. Excitada, ela estava excitada mais uma vez. Bufou, porque tinha que ser aquele poço sem fundo de hormônios descontrolados? Não aguentava mais não ter como se aliviar da forma que queria, da maneira que realmente precisava e logo seu corpo iria entrar em combustão espontânea caso não fizesse algo sobre.

Alcançou o chuveirinho e o ligou, deixando a água cair em seu pescoço. Uma de suas mãos pálidas e quentes acariciavam os seios, deixando então o jato firme cair sobre suas auréolas sensíveis, fazendo todos os seus poros se eriçarem e seus mamilos enrijecerem. Deitou a cabeça sobre a borda da banheira e continuou a descer pelo ventre, ignorando todos os sons do lado de fora e prosseguindo para onde precisa de um alívio maior. Entreabriu as pernas como pode, alcançou sua boceta melada e passou o indicador sob a extensão dela, abafando um gemido sôfrego que teimava em escapar dos seus lábios. Com movimentos circulares, Lena friccionou seu clitóris e deixou a água bater em frente a entrada da sua vagina, aumentando a sensação de prazer.

Fechou os olhos e gemeu baixo, com toda sua pele arrepiada. Tinha consciência de que aquilo em nada aliviaria sua necessidade atual, porém teria que funcionar. Quando estava perto de chegar no clímax, uma batida forte na porta e tirou de seus devaneios.

— Lena? — a loira a chamou e ela sentou-se rapidamente — está tudo bem?

Inferno.

Seu coração batia acelerado e sua irritação atingiu um nível quase descontrolado. Era capaz de chorar apenas por ter sido interrompida e por estar tão desesperada por contato físico.

— Si-sim — titubeou na resposta, procurando pelo roupão atrás da porta e a destrancando — sim, Kara, está tudo bem — saiu para o quarto, sem vontade e sem coragem de encará-la.

— Você está aí dentro já faz um tempo, achei...

— Está tudo bem — falou mais firme e quase ríspida, vendo a outra desviar o olhar e sentir-se culpada.

Respirou fundo.

— Me desculpe, eu só... — manteve uma distância segura do corpo da outra — só estou estressada e irritada com... algumas coisas.

— Me diz no que eu posso ajudar — pediu carinhosamente, sem saber se dava um passo a frente ou se continuava no lugar. O quarto permanecia no breu de algumas horas atrás, com a janela e as cortinas ainda fechadas e a chuva batendo forte na vidraça — por favor...

O que supostamente Lena deveria falar? Que precisava de sexo? Que sentia falta de ser tocada daquela forma e perder o fôlego num orgasmo incrível? Não tinha coragem sequer de colocar esses desejos em palavras. Bufou derrotada e quando voltou a encarar a mulher a sua frente, encontrou seus olhos azuis ternos lhe fitando com tanto carinho e confiança. Kara queria lhe ajudar. Foi pensando nisso que suas mãos desataram o laço do roupão, fazendo com que o mesmo escorregasse e só esse simples movimento em sua pele despertou sua excitação mais uma vez. Ficou nua e exposta, com todos seus detalhes e defeitos descobertos naquela manhã.

Aproximou-se da loira, com a respiração pesada e segurou suas mãos, sentindo seus dedos quentes contrastar com a pele fria. Ambas se encarava com intensidade e certa ansiedade. A Luthor então levou suas mãos até os seios, deixando a outra se acostumar com o peso e a sensação de tocá-los. Fechou os olhos por breves instantes e se concentrou no momento. Era capaz de explodir em tesão. Kara arfou pesadamente e movimentou o polegar sobre os dois mamilo duros e prontos para serem acariciados, ouvindo a morena gemer e vendo suas mãos tremerem.

— Do que precisa, Lena? — sussurrou.

— Preciso que me toque, Kara.

***************************************

Pra quem quer saber, o nome da música é Harvest Moon do Neil Young :)

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