Melissa
Já tiveram aquele aperto no peito como se algo ruim fosse acontecer e você não pudesse fazer nada para evitar? É o que estou sentindo desde que acordei de um maldito pesadelo esta madrugada. Não lembro muito bem o que acontecia, mas tinha muito sangue sob meus pés, do céu caía uma chuva forte, que machucava minha pele e eu sentia tanto frio e medo. Acordei chorando como se algo apertasse com força o meu coração, deixando-o pesado, roubando o meu sono e tranquilidade.
A primeira coisa que fiz quando o sol nasceu, foi ajoelhar ao pé da cama e rezar para que Deus Pai Todo Poderoso levasse, o que quer que aquilo significasse, para muito longe da minha vida, da minha família e das pessoas que eu amo. Não sou uma pessoa de ir muito na igreja, mas tenho muita fé e agradeço a Deus todos os dias pelo dom da vida, por todas as bênçãos e o seu infinito amor por todos nós.
Não vai acontecer nada. Foi tudo culpa do Simon e de suas malditas histórias de terror sobre fantasmas passeando de madrugada pelos corredores do hospital.
Isso mesmo. Só fiquei impressionada e por isso estou me sentindo estranha.
"Você está parecendo uma zumbi." Enxugo meus cabelos com a toalha, enquanto Samantha amarra os dela em um coque, preparando-se para o início de seu plantão. "A doutora Collins está no modo cão infernal outra vez?"
"Por incrível que pareça, hoje, ela não veio trabalhar. Mas quando o diabo não vem, manda o Brad, como seu secretário." Não é segredo para ninguém neste hospital que Bradley Carl é um serzinho asqueroso, puxa-saco, que não passa um dia sem provocar ou tentar humilhar alguém, simplesmente por ser o sobrinho do diretor do hospital.
"Ainda bem que o imbecil previlegiado só trabalha durante o dia. A noite deve servir de bonequinha para os machões casados." Abafamos as risadas e mudamos de assunto quando algumas colegas entram no vestiário.
Depois de passar um pouco de maquiagem para esconder as olheiras e dar um pouco de cor para as minhas bochechas, penteio os cabelos e os deixo soltos para enxugar. Despeço-me de Samantha e desço até o primeiro andar pelo elevador, já que Gabriel veio me buscar para irmos ao cinema e a uma pizzaria. Encontro-o encostado no seu carro, a brisa gelada do início da noite bagunçando os cabelos claros. Um belíssimo colírio para os olhos de qualquer mulher e até de alguns homens, já que flagro um rapaz quase dando de cara com um poste, pois não parava de olhar para trás.
"Olá, namorado." Essa palavra se tornou a minha preferida há três semanas e não canso de usá-la para a felicidade de Gabriel, que sempre me presenteia com um lindo sorriso e um beijo maravilhoso. "Sentiu minha falta?"
"As últimas 24 horas foram horríveis. Namorar uma médica tem suas desvantagens por causa desses plantões loucos." Fico nas pontas dos pés para roçar nossos lábios suavemente e me afasto antes que aprofunde o beijo, pois estamos na frente do meu local de trabalho e não será de bom tom se me verem trocando carinhos com meu namorado.
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"Tem certeza que não quer assistir um filme de terror?" Gabriel questiona pela milésima vez tentando me convencer a ir para a sessão de A freira. Sinto um calafrio só de lembrar que todo filme de terror é baseado em algum fato real sinistro, sem falar nas imagens do pesadelo que pipocam em minha cabeça. "Está tudo bem?"
"Vamos assistir o Pé Pequeno." O arrasto até a fila e enquanto ele compra os ingressos, vou atrás de pipocas e refrigerante.
A sessão está cheia de pré-adolescentes e vários adultos, que assim como eu, não perdem a chance de assistir a um bom desenho animado. Os noventa minutos de filme passam em um borrão, deixando-me encantada com o Abominável Homem das Neves. Tão fofinho, que a qualquer hora sou capaz de roubar a Mia para assistirmos juntas. Ela vai amar.
"No próximo final de semana tia Rebekah fará um almoço para comemorar o aniversário do tio Marcel." Gabriel passa o braço pela minha cintura. Estamos andando abraçados como vários casais fazem e isso é uma novidade tão boa, que aquece meu peito. A sensação de não se esconder, de mostrar a todos a nossa felicidade e relacionamento me deixa sorrindo à toa. "Ela exige sua presença caso esteja livre."
"Vou trabalhar até as dezessete horas no sábado." Entramos na primeira pizzaria que encontramos na praça de alimentação. Escolhemos uma pizza média de 5 queijos com margherita e uma Coca-Cola. "Só é tempo de passar em casa e tomar um banho. O que você vai dar de presente?"
"Um relógio?" Dá de ombros como se fosse tão fácil.
"Vou comprar uma garrafa de vinho ou uma camisa. Rosa combina com o tio Marcel." Penso nas opções que tem na loja da tia Caroline e no desconto que ela terá de me dar já que pagarei à vista.
"Você está exausta, Mel. Seus olhos não escondem isso." Fecho os olhos quando Gabriel acaricia meu queixo. Não adianta negar para quem me conhece tão bem, ainda mais estando explícito no meu rosto. "Depois vou te levar direto para casa e poderá descansar."
"Eu quero dormir com você, mas hoje é só dormir mesmo. Sem segundas ou terceiras intenções." Encosto a cabeça em seu ombro, o seu cheiro bom penetrando em minhas narinas.
"Eu vou cuidar de você, amor." Abro os olhos imediatamente e me indireito para ver o rosto sorridente e calmo de Gabriel. Meu coração incha de tal forma que não parece haver espaço suficiente em minha caixa torácica para comportá-lo.
"Você me chamou de amor." Sussurro emocionada e levo a mão até o rosto de Gabriel. Ele a segura e a beija, sem desviar nossos olhares.
"Se eu te amo, é mais que claro que você é o meu amor." Suas palavras são de uma profundidade tão certeiras, que me jogo em seus braços e o beijo como se não houvesse um amanhã.
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Aquele estranho aperto no peito volta com força total quando chegamos no estacionamento. Para um shopping, aqui está estranhamente parado demais e um calafrio percorre minha espinha ao ver um rapaz de capuz escuro encostado em uma pilastra. Gabriel solta minha mão e passa o braço por meu ombro, puxando-me mais para perto de si antes de passarmos em frente ao estranho suspeito. Quando penso em respirar aliviada, a voz alta do homem nos faz parar no mesmo momento.
"Passa as chaves do carro, mauricinho!" Ele para a nossa frente, seus olhos vermelhos e dilatados mostram que está sob o efeito de alguma droga. "Eu mandei passar as chaves ou eu estouro os miolos da loirinha, aí." Aperto o braço de Gabriel quando o homem tira um revólver do bolso do casaco moletom e o aponta em nossa direção. Minhas pernas parecem gelatinas e me obrigo a respirar fundo várias vezes para não hiperventilar.
"Vou pegar a chave no bolso de trás da calça." Gabriel fala com calma levando a mão até o bolso traseiro, pega a chave e a entrega para o bandido, que parece ainda mais nervoso olhando ao redor.
"Inferno! Os tira tá vindo me pegar!" Ele grunhe puxando o capuz, revelando a cabeça raspada. A arma continua apontada em nossa direção. "Você vem comigo, loirinha."
Grito quando ele segura meu braço, tentando me puxar. No entanto, Gabriel me empurra para trás e parte para cima do homem, deixando-me angustiada, incapacitada de fazer algo. Escuto passos e ao olhar para trás reconheço dois dos meus seguranças correndo ao nosso encontro. Um som estrondoso faz meu corpo gelar em puro pânico e tudo ao meu redor desmorona tal como um castelo de areia devastado por um tsunami, quando encontro Gabriel caído ao chão e sangue escorrendo de sua cabeça. Logo em seguida, outro disparo faz o maldito bandido cair ao chão com os olhos abertos sem vida.
Não sei de onde encontro forças para levantar e correr até Gabriel, já que meu corpo se encontra dormente e sem forças. Seu peito sobe e desce lentamente, a respiração fraca, mesmo assim já é um alívio saber que se encontra vivo. As lágrimas caindo copiosamente, as mãos trêmulas ao segurar seu rosto. Com uma rápida avaliação constato que a bala passou de raspão, mas o que me preocupa é o ferimento causado pelo impacto da cabeça com o chão. Tiro a jaqueta jeans e a uso para tentar conter a hemorragia, em poucos minutos ela está encharcada de sangue e mesmo o segurança afirmando que a ambulância já está a caminho, sinto-me desesperada porque cada segundo perdido pode significar a morte de Gabriel.
"Aguenta, por favor. Você não pode me deixar. Você prometeu sempre estar ao meu lado." Beijo os lábios frios em desespero.
Pouco depois os paramédicos chegam e sou obrigada a me afastar para que realizem os primeiros socorros. Vou com eles na ambulância, o tempo todo segurando a mão de Gabriel, mesmo eles tentando me afastar. Nesse momento esqueço que também sou médica, que deveria manter controle. Mas como fazer isso quando vejo o homem que amo correndo risco de vida? Sabendo que ele pode...
Só o mínimo pensamento dói a minha alma e preciso morder o lábio inferior para não gritar de dor.
No hospital uma equipe já o espera e sou obrigada a ficar para trás quando passam por aquelas portas, que nunca me pareceram tão cruéis.
Encosto-me na parede mais próxima e minhas pernas cedem, levando-me ao chão. Respirar se torna um processo doloroso ao se misturar com o choro compulsivo. Minhas mãos e roupas sujas de sangue. Imediatamente o pesadelo me assombra, esfregando-se na minha cara como um maldito aviso.
"Filha..." Não levanto a cabeça ao ouvir a voz de papai me chamando, principalmente quando tia Caroline surge desesperada querendo notícias do filho. "Estou aqui, meu anjo. Estou aqui." E papai está. Ele sempre está quando preciso e seus braços são os únicos capazes de me dar um pouquinho de acalento nesse momento.
Nunca pensei que encontraria
Alguém para amar
Nunca acreditei que viveria o amor
Quando te vi
Meu mundo mudou
E agora não deixo de sentir
Sem você nem posso respirar
Não quero viver
Se não está aqui comigo
Eu não posso ser feliz
Um só olhar, uma palavra
Um raio de luz
Realidade em um sonho o amor
Quando te vi
Meu mundo mudou
E agora não deixo de sentir
Sem você nem posso respirar
Não quero viver
Se não está aqui comigo
Eu não posso ser feliz
É a voz do amor
Que vem do meu coração
Preciso de você aqui em mim
Vem ser minha vida
E agora não deixo de sentir
Sem você nem posso respirar
Não quero viver
Se não está aqui comigo
Eu não posso ser feliz
E agora não deixo de sentir
Sem você nem posso respirar
Não quero viver
Se não está aqui comigo
Eu não posso ser feliz
(Sem você - Rouge)
Ah, não! 😭😭😭 O nosso Gabriel. 😭😭😭