Provocando Amor - Série Endzo...

By MariaFernandaRibeir2

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A vida de Peter é uma montanha-russa. Desde que engravidou a tia mais jovem do melhor amigo, as oscilações na... More

Prólogo
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Epílogo

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By MariaFernandaRibeir2

Mãe, tire esse distintivo de mim,
Eu não posso mais usá-lo.
(Knockin' On Heavens's Door - Guns 'n Roses)

Peter

Os preparativos para a mudança acabam por engolir o meu tempo e o da Gwen. Encaixotando o que consegue, ela me pergunta um monte de coisas sobre a minha mama e o meu papa, e eu respondo o que sei guardando o resto. Ela vai para o quarto uma hora, em uma quarta-feira que a Noelle está terminando o semestre da faculdade comunitária.

— Eu separei isso aqui pa doação, papai.

É uma caixa gigante e eu me pergunto se ela também colocou a cama dentro aquilo. Pego a caixa estupidamente leve e olho o conteúdo. Uma bolinha de gude, uma boneca e uma bola de futebol americano de pelúcia.

— Isso é incrível, liebe, mas por que você vai doar coisas que gosta tanto?

— Eu vi na TV que tem gente que não tem nada, nadinha mesmo, nem uma boneca, e por isso não bincam. Pensei que, se eu desse o que eu tenho, eles vão poder bincar também!

Pego ela no colo e finjo morder o nariz. Ela também tem poucos brinquedos, estes da caixa, um carrinho de controle remoto e o resto das bolinhas de gude, que eu não deixo ela brincar ainda por ser perigoso. Por isso, sempre que ela acha alguma no chão, achando ser a mesma, trata como uma pérola, e não vidro. Escondo assim que ela não está vendo mais, no entanto.

— Isso é muito gentil da sua parte, liebe, mas você quer mesmo dar sua bola de futebol?

Ela nega, mas sorri.

— Não, mas se eu der a bola vou ter mais gente pa jogar!

Até onde vi ontem, ela dorme abraçada com a pelúcia, e já que o que ela quer é mais gente pra jogar, caminho até a estante da sala e tiro a bola do meu primeiro jogo de lá, pegando a bola de pelúcia em troca.

— Aqui, essa bola é pra jogar. A sua é mais um travesseiro, mas essa bola aqui tem aerodinâmica. — Ela pisca, sem entender o que falei. — Ela voa melhor, entende? E é menor que a normal, para crianças jogarem. Comece com esta, e logo você estará ganhando o Superbowl.

— Eu vou ganhar pa você, papai. Vou te dar a minha medalha.

Sorrio, encantado pela minha menininha, mas como isso não é um conto de fadas, o telefone logo quebra o encanto.

— Vá guardar a sua bola na caixa de brinquedos. Já vou lá te ajudar com os sapatos.

Pego o fone no gancho e escuto um suspiro alto no outro lado da linha.

— Peter? Você atendeu?

— Vivian? — Estranho. — O que... como você está me ligando?"

Ela choraminga.

— As penitenciárias do país, elas têm telefone. Peter, eu tenho que falar rápido. Preciso da sua ajuda. Eu vou para o corredor da morte, e não quero isso. Por favor, estou com medo.

Acho isso esquisito.

— Vivian, a sua sentença já saiu?

— Já, hoje cedo. Eu vou para o corredor, por favor me ajuda. Por favor.

Esfrego minhas têmporas, exausto. A mulher só precisa dizer o meu nome para drenar a minha energia.

— O que você quer que eu faça, Vivian? Não posso mudar a lei. É triste que essa lei ainda exista, mas eu não posso mudá-la. — digo honesto.

— Eles me pediram para pensar na minha última refeição. Eu não posso fazer isso.

Penso em ligar para a Julia e concluo que é o máximo que eu posso fazer. É estranho conversar com uma Vivian sóbria, a última vez foi na concepção da Gwen. É estranho lidar com medos reais dela. É estranho só conversar com ela. Aviso o que vou fazer e faço. A advogada soa profundamente doente.

— Peter, eu não sei se posso te ajudar no momento. Me desculpa. Eu tô doente pra caramba e o Pierre não me atende.

— O que aconteceu com o Dustin? — Pergunto, me questionando quem é Pierre, mas é claro que não vou perguntar isso.

— Aconteceu que ele é um idiota. Eu voltei para Atlanta. Me diz o que você precisa e eu vejo o que faço.

Conto e ela assobia.

— Eu costumaria atender casos assim, mas como te defendi contra ela prefiro não me envolver. Vou te passar o contato do Pierre, está bem? Ele provavelmente está namorando agora, mas... — Ela para de falar para tossir da maneira mais bizarra existente. É como se ela estivesse cuspindo a faringe. — Mas vai te retornar depois.

Preocupado, pergunto se há algo que eu possa fazer por ela. Ela pede que eu contamine o Dustin com a mesma gripe que ele passou para ela, e que, claro, acometeu ela com mais força. Um gemido medonho ecoa pela linha.

— Não, não há nada que você possa fazer, na verdade. Mas obrigada por se preocupar, diferente de certos maridos. Te aviso caso haja uma brecha na lei. Se mantenha longe do perigo e nunca seja o Dustin. — Ela desliga e eu fico olhando para o fone. E eu não faço ideia de quem diabos é Dustin ainda.

Volto para perto da Gwen, que achou um monte de tintas da minha mama no quintal e olha com nojo para o líquido há muito vencido.

— Ei liebe, o papa precisa conversar com você. — Preciso esclarecer a situação da mãe dela, antes que um jornal faça isso.

Ela larga o pote e olha pra mim. A atenção dela me faz ser cauteloso.

— A sua mama...

— Ela não vai me levar de volta, vai? Po favor. — Implora, os olhinhos brilhando com o medo.

Sorrio e nego.

— Não, você vai ficar comigo até sair para a faculdade. Gwen, a sua mama fez coisas muito ruins. Ela machucou muitas pessoas e isso não é certo, richtig? O que ela fez tem um nome. Crime. Crime é a coisa mais errada que você pode fazer, e quando um é cometido, é necessário pagar por ele. Os crimes que ela cometeu, de acordo com a lei atual, só tem um pagamento.

Não consigo continuar. Não consigo dizer para a minha filha que a mãe dela vai... vai... merda, Vivian.

— Papai? Você não vai terminar de falar?

Olho para trás dela, procurando uma escapatória e a Amigão se apresenta como uma.

— Amigão, o que é isso na sua boca, garota?

Sangue. Caramba, é sangue. Abro a boca dela, procurando por qualquer coisa, e uma vizinha grita no muro.

— Ela atacou alguém? Meu Deus, ela atacou alguém! Eu sabia! Esse cachorro é uma máquina mortífera, eu te avisei, Peter! Te avisei para jogar fora enquanto era tempo!

— Não se joga cachorros fora, Marnie.— Isso não sou eu quem diz. É a minha filha. — Eles pecisam de ajuda, você também pecisa. Se você jogar fora, vai matar eles, e matar é errado. Fala pa ela papai.

Levanto uma sobrancelha ao ver que é a Amigão quem está ferida.

— Você como uma conservadora, senhora, deveria defender a vida dela, não tentar matá-la. Espere pela visita do xerife hoje.

Saco o telefone do bolso, ligando para a única veterinária que conheço. A Noelle diz que não pode ajudar, já que é uma estudante e só sabe o que biologia ensinou pra ela, mas me passa o número de um conhecido da faculdade, que vem até a minha casa dada a gravidade da situação. Ele diz que precisa levá-la para consulta, e eu morro um pouco ao ouvir isso.

— É grave assim?

— Não, irmão. Mas sabe como é, eu preciso olhar mais dessa perfuração balística e... — paro de prestar atenção aí. Posso não saber tudo da língua nativa desse lugar, mas conheço as expressões da polícia.

— Ela levou um tiro? — concluo, interrompendo ele.

— Sim. Pitbulls causam indignação em algumas pessoas, que acham que eles são selvagens e atacam por qualquer razão. Eles atacam quando se sentem ameaçados, o que qualquer cachorro faz, mas talvez a mordida deles acabe por dar essa fama ridícula de que eles vão atacar qualquer um. Vê, eu estou perto de você há vários minutos e ela não fez nada. Ela sabe que não sou ameaça.

O cara ganha minha simpatia, e só por isso deixo ele levar o meu bebê. Fico sozinho com a Gwen e com os dois elefantes brancos na sala: a Vivian e a vizinha. Como com a primeira eu não posso fazer muito, opto por adiantar o que tenho que fazer com a segunda. A polícia decide levar a mulher para prestar depoimento na delegacia.

— Essas pessoas chegam no nosso país só para acabar com tudo! Como se tivessem algum direito! Você vai ver, Peter Patrowski! Eu vou te mandar de volta para aquele vilarejo na Alemanha, aquele lugar sujo de sangue de inocentes!

— Oh, será um prazer, Marnie. Visitar minha família por sua conta é a minha meta de vida agora! — ironizo.

A Noelle estaciona o carro durante as tentativas frustradas dos policiais de colocar a vizinha para dentro.

— Devo perguntar o que aconteceu ou o seu sorriso esquisito é a resposta menos assustadora?

— Ela machucou a Amigão e agora quer que eu seja deportado.

Vejo nos olhos de mein liebe o momento que ela perde o controle. Deixo a Gwen com uma policial e tento evitar, mas quem consegue segurar um furacão? Outra policial é a única a ter coragem de enfrentar a Noelle, segurando os ombros dela.

— Fazer justiça com as próprias mãos pode não ser a melhor opção, mocinha.

— Eu não vou agredir ela. Não fui dispensada da terapia para voltar por um motivo tão besta quanto alguém que acha que agredir um animal vai retratar uma guerra inteira. — Ela consegue avançar e fica encarando a vizinha. — Estou tentando entender como alguém do que chamam "alta-sociedade" tem a coragem de alugar uma casa só para implicar com um cachorro. Me pergunto se é uma paixão irrevogável pelo Peter, uma vontade louca de cuidar da Gwen ou só uma frustração por nunca poder ter um cachorro? Desde que você roubou o meu e fez ele sumir, quero dizer.

— Você conhece ela? — pergunto confuso.

— Claro que conheço. Ela mora na casa da frente da minha desde que me mudei para cá oito anos atrás. Ela tem passagens na polícia por roubar outros cachorros inclusive, é algum tipo de vício adquirido.

Entendo tudo.

— Ah meu Deus, Marnie. Você não gosta da Amigão porque ela sempre volta, não é? Ela foge, mas sempre volta. Bem que dizem que de perto ninguém é banal.

— Normal, Peter. De perto ninguém é normal. — a Noelle corrige e se dirige a vizinha. — Você sempre vai nos abrigos fazer voluntariado comigo, Marnie. Sabe o tanto de cachorros que precisam de um lar. Pra quê quer tirar um cachorro já adotado do dono?

A mulher só resmunga que vai me fazer pagar caro quando sair de lá. Que eu não mereço a Amigão, e que ela não precisa ficar com um sádico, sempre repetindo que vou pagar caro. Bem, se ela conseguir me encontrar no Massachusetts posso até dar a quantia bancária que tenho pra ela, um incrível total de doze dólares.

— Depois quero ver ela dizer que eu não posso ficar solta na sociedade pela TEI. Ela acredita que a trepanação pode me ajudar, acredita? Como se a doença fosse sair correndo da minha mente. — a ruiva diz indignada. Talvez ela não saiba o quanto, mas ter ela e a indignação aqui me faz um bem enorme.

Busco a Gwen com a policial e agradeço por ter ficado com a minha filha, e ela sorri dizendo que a menina quer ser uma capitão como ela algum dia. O que eu acho que a policial não percebeu é que a Gwen quer ser capitão de um time, não da polícia, mas não digo nada. Levo as garotas para dentro, tirando algumas caixas para acomodar as duas e a Gwen senta no lugar da Amigão no sofá, tristonha.

— Primeiro a mamãe, agora a Amigão. — reclama frustrada.

A Noelle me olha por respostas sobre essa declaração. Sento perto da minha filha e seguro as mãozinhas.

— Como eu estava dizendo, o que a mamãe fez foi muito errado. E, liebe, o juiz aumentou a sentença. — olho para o chão, e a Noelle arfa. — Liebe, a mamãe vai logo achar um lugar pertinho da vovó.

Lágrimas brilham nos olhos da minha filha, e isso quebra o meu coração. Foda-se, isso me quebra todo.

— Eu nunca nem vi a vovó, papai. Você disse que ela morreu. — Ela percebe o que vai acontecer e despedaça em um milhão de pedacinhos tristes.

Os soluços dela preenchem uma sala já carregada de perdas. Abraço ela enquanto chora, esfregando as costas e dizendo palavras de conforto, e só dou falta da Noelle quando ela abre a porta com um monte de sacolas. Vai para a cozinha e mexe lá por muito tempo. Volta para arrumar a mesinha de centro pro jantar, que nada mais é que uma sopa.

— Não faça essa cara, Peter. É pra ela se sentir aquecida.— recebo um sermão, e levanto as mãos.

A refeição é feita em silêncio, e apesar de sopas não serem minha praia, preciso admitir que essa está aceitável. Certo, está maravilhosa.

— Você se sente melhor, Gwen? — a rothaarige pergunta.

— Sim. Está muito gostoso. — responde já sem lágrimas nos olhos.

— Eu também fiz um fudge, o Zack dizia que era o seu preferido.

Ela assente e vira pra mim.

— Vai acontecer o mesmo com o tio Zack, papai? Ele também fazia coisas erradas.

Ah, nós fazíamos.

— Não, liebe. Não vai. Com mais ninguém, tudo bem?

Pelo menos eu espero que não.

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