"Tá frio pra caralho." Lauren murmura baixinho ao apertar a jaqueta em volta de seu corpo. "Como que você não está congelando?"
Camila olha para as pessoas passando pelas duas e vê que todas estão usando seus confortáveis trajes de outono. Ela, por outro lado, está usando uma calça jeans e uma camiseta básica. Dando de ombros, ela responde. "Eu geralmente só sinto frio quando o chão já está coberto com um metro de neve."
As duas garotas perambulam entre seus colegas em direção a suas respectivas salas de aula. Nessa manhã, a sala de Lauren fica no caminho da de Camila, então por que não andar até lá juntas?
As coisas estão mais fáceis. Camila não se importa mais de ser vista em público com Lauren. Talvez ela ainda tenha certa hesitação em se assumir totalmente e dizer que as duas estão namorando, mas ela já percorreu um longo caminho desde o começo do relacionamento entre elas. Camila se nega a deixar que Alexus ou qualquer outra pessoa interfira em seu namoro. Ela ainda está dando pequenos passos e a cada dia as coisas se tornam um pouco menos difíceis, especialmente porque ela sabe que Lauren está bem do seu lado.
O pingente e a chave do colar que Lauren deu para Camila balançam a cada passo que ela dá, e ela sorri olhando para o objeto de vez em quando. Ela ama saber que agora tem um pedacinho de Lauren consigo sempre, mesmo que seja em uma foto.
As duas chegam na sala de Lauren primeiro e a mais velha se vira para ficar de frente para Camila antes de entrar. Há um sorriso doce em seus lábios.
"Te vejo hoje mais tarde, ok? Eu vou segurar vela e passar um tempo com a Dinah e a Normani depois das minhas aulas já que faz um tempinho que não faço isso."
Camila bate palminhas animadamente. "Graças a Deus. Finalmente vou ter um tempo pra mim mesma, uma vez na vida." Ela provoca, prendendo a língua entre os dentes.
Lauren dá um tapa em seu braço com certa força e com o queixo caído, sentindo-se ofendida. "Sua grossa." Ela suspira. "Jesus, se a minha presença é tão incômoda assim então vou dar um jeito pra que você tenha todo o tempo do mundo pra si mesma."
Camila só ri divertida. "Eu estou brincando. Mas se divirta com a Dinah e com a Mani mais tarde e tentem não explodir nem quebrar nada, muito menos que chamem a polícia por causa de vocês, tudo bem?"
"Ok, mãe."
A mais nova faz uma careta. "Eca. Você não deveria me chamar de 'mãe' por razões óbvias." Para dar mais ênfase, Camila pisca sugestivamente.
Um leve rubor começa a aparecer nas bochechas de Lauren, fazendo Camila rir quietamente. É sempre adorável ver uma Lauren envergonhada e constrangida. "Ai, Deus, eu, uh, tenho que ir agora. Tchau, Camz." Ela dá um aceno fofo antes de entrar na sala de aula. Ela até mesmo tropeça de leve ao subir as escadas.
Camila balança a cabeça para si mesma, toda encantada, antes de sorrir sozinha e se encaminhar para sua sala. O quão sortuda ela é por poder chamar aquela bobona de namorada?
Ela é pega de surpresa quando sente um braço ao redor de seus ombros, então vira a cabeça para ver o rosto sorridente de Dylan.
"Oie." Camila cumprimenta alegremente. "Por que você está sorrindo de orelha a orelha assim?"
Ela lhe lança um sorrisinho que mostra que ela sabe que tem coisa aí. Há apenas uma única pessoa capaz de fazê-lo tão feliz assim.
"Por nada." Ele ri. "Não posso estar de bom humor?"
Camila revira os olhos internamente. Por alguma razão, ele não quer contar para ela sobre seu primeiro beijo com Ally noite passada, mas tudo bem. Ela sabe mesmo assim.
"Que seja." Ela sorri balançando a cabeça.
Eles caminham pela calçada, conversando e rindo e aproveitando a companhia um do outro, como sempre fazem. Mas Camila não pôde deixar de notar que eles estão sendo alvo de olhares persistentes, e não era o tipo de olhar que ela recebia às vezes quando estava com Dylan. Esses olhares pareciam... Esquisitos.
Camila interrompe seu percurso, fazendo com que Dylan pare de andar também. "Tudo bem?" Ele pergunta com a sobrancelha arqueada.
"Eu tenho alguma coisa na minha cara?" Camila pergunta, apontando para si mesma.
Dylan se inclina um pouco para analisá-la, batendo o dedo no queixo. E ele continua a olhar, e olhar, e olhar.
Finalmente, ele volta à sua posição normal e diz firmemente. "Sim, você tem."
"O quê?"
"Sua cara."
Camila lhe encara, sem expressão alguma. Dylan, por outro lado, está se matando de rir.
"Você é tão engraçado." Camila diz sarcasticamente ao dar um soco em seu peito. "Sério. Eu estou morrendo."
Dylan faz um carinho na bochecha da mais nova antes de se recompor. "Mas falando sério agora, não tem nada na sua cara. Por que você pergunta?"
Camila continua a andar e ele a segue. "Nah, nada. Eu vi algumas pessoas olhando pra mim de um jeito estranho então pensei que tinha resto de banana no meu cabelo ou algo do tipo."
"Hum, no seu cabelo? Por que haveria de ter banana no seu cabelo?"
Camila responde. "Foi uma manhã selvagem."
Lauren estava comendo uma barrinha de cereal (ou como Camila gosta de chamar, "comida de esquilo") essa manhã enquanto reunia suas coisas para a aula e Camila estava comendo uma banana. Camila pensou que seria engraçado se ela derrubasse a comida de esquilo das mãos de sua namorada, mas Lauren não viu graça nenhuma nisso. Então, em retaliação, ela agarrou o pulso de Camila e o forçou em direção à sua face, esmagando a banana em seu rosto e em seu cabelo.
Não é preciso dizer que elas tiveram uma pequena briga de comida antes de saírem do quarto.
Dylan abre a boca como se estivesse preparado para dizer algo, mas simplesmente balança a cabeça. "Acho que não quero saber. Só Deus sabe o tipo de coisa que você e a Lauren aprontam."
• • •
Mais tarde naquele dia, depois que suas aulas tinham acabado, Camila se encontrou com Ally no pátio enquanto Lauren ia ao encontro de Dinah e Normani. Camila sorri alegre quando nota o quanto Ally estava de bom humor. Era uma réplica perfeita de Dylan essa manhã.
"Sua noite de ontem foi boa, né?" Camila provoca sugestivamente enquanto elas se sentam em uma das mesas de frente uma para a outra. Ela já sabia dos detalhes porque Ally já tinha contado por mensagem, mas é adorável ver sua reação pessoalmente.
Ally abaixa a cabeça tímida ao corar. "Cala a boca."
Camila ri divertida. "Acredita em mim. Eu sei como você está se sentindo. Eu senti o mesmo depois que beijei a L-" Ela rapidamente para de falar antes de analisar seus arredores, e assim que verificou que as duas estavam relativamente isoladas, ela termina sua frase. "Lauren."
Ally sorri para ela de maneira delicada. "Eu fico abismada com o quão longe vocês duas chegaram. Vocês literalmente foram de odiar uma à outra para o completo oposto disso."
"Eu queria que a gente tivesse pulado essa parte de se odiar porque eu perdi muita coisa nesse um mês e pouco. Mas né, tudo acontece por alguma razão."
"Você acredita mesmo nisso?"
Camila não hesita antes de assentir com a cabeça. "Acredito muito. Tipo, no começo os motivos não ficam muito claros, mas acredito que as coisas acontecem como devem acontecer. Eu lembro que eu queria ter outra colega de quarto, uma com a qual eu me desse bem, mas agora eu não consigo nem imaginar não ter Lauren lá comigo todo santo dia."
"Ou indo mais além, e se eu não decidisse ter vindo pra essa faculdade? E se ela não tivesse decidido estudar aqui? Ela assegurou um lugarzinho na minha vida e literalmente tudo que nos fez estar aqui hoje é o que me trouxe pra vocês. Eu tinha que vir pra cá e tinha que encontrá-la. Eu acredito que a gente não encontra as pessoas por acaso e acredito que nada do que acontece é por acaso."
"Eu não sei se acho isso reconfortante ou assustador." Ally murmura pensativa. "E se alguém que é muito importante pra você de repente vai embora da sua vida?"
"Bem, e se esse alguém ficar?" Camila sorri delicadamente. "E mesmo se esse alguém sair da sua vida, isso só está deixando o caminho livre pra uma pessoa muito melhor vir. Como eu disse antes, os motivos por trás de tudo nunca ficam muito claros no começo."
O olhar de Ally cai para seu colo, seus dedos brincando com o zíper de sua jaqueta. Não precisa ser muito esperto para saber que ela está pensando em como isso se aplica à sua situação com Troy. Ela pode ter encontrado Dylan, mas isso não anula a dor que ela sentiu e provavelmente ainda sente com o término de seu namoro.
Camila estica o braço sobre a mesa e esfrega o de Ally, fazendo a mais velha olhar para o seu rosto. "As coisas podem acontecer por uma razão, mas isso não significa que você não pode ficar chateada ou triste ou com raiva disso tudo."
Os cantos dos lábios de Ally se erguem sutilmente e ela assente. "Obrigada, Mila."
Camila desvia o olhar para os lados quando percebe, mais uma vez, algumas pessoas olhando para ela de maneira estranha. Assim que ela os olha diretamente, eles viram a cabeça para o outro lado feito covardes. Ela ri com escárnio para si mesma. "Ok, sério, tem alguma coisa na minha cara? Eu estou recebendo uns olhares estranhos o dia todo, agorinha inclusive."
Ally inspeciona o rosto da amiga por um segundo antes de balançar a cabeça. "Não, não que eu esteja vendo. Mas acho que não é só você porque eu também notei alguns olhares em minha direção." Ela pondera. "Digo, primeiro pensei que eu estava sendo paranoica e que estavam olhando pra pessoa que estava do meu lado, mas agora eu não estou certa de que esse é o caso."
Camila bufa irritada. "De qualquer forma, é muito irritante, sem falar que é uma falta de educação sem tamanho."
Ally dá de ombros. "É, vamos deixar pra lá. Não há motivo pra se estressar já que provavelmente amanhã isso já vai ter passado."
"É, o que quer que 'isso' seja."
• • •
Por mais que Camila estivesse esperando que as palavras de Ally fossem verdadeiras, não foi bem o caso. Na verdade, as coisas pioraram.
Ela recebeu ainda mais olhares e ouviu seu nome sendo sussurrado por algumas pessoas ao seu redor. Em um primeiro momento ela ficou confusa, mas agora ela está mais do que irritada. Por que essas pessoas estão falando dela e por que ficam em silêncio total quando ela olha para eles? Se eles têm algo a dizer seria melhor que eles parassem de covardia e dissessem diretamente para ela. A essa altura, Camila adoraria que eles fizessem isso para que ela soubesse exatamente o motivo pelo qual o nome dela estava em suas bocas.
"Você não está recebendo alguns olhares tortos?" Camila questiona Lauren enquanto se senta no balcão do banheiro, observando a mais velha escovar os dentes. "Porque a primeira coisa que eu pensei foi que talvez tivesse alguma coisa a ver com a gente, mas se não estão te olhando de um jeito estranho minha teoria cai por terra."
Lauren, com espuma de pasta de dente cobrindo toda sua boca e até mesmo um pouco de seu queixo, murmura de maneira incompreensível. "Não, não fui alvo da atenção de ninguém. Nada mudou pra mim."
Camila joga as mãos para o alto exasperadamente e as derruba sobre o colo. "Então que caralhos está acontecendo? A Ally me falou que está recebendo alguns olhares também. Acontece que nós não fizemos nada, literalmente."
Lauren cospe e enxagua a boca antes de secar o rosto com a toalha que Camila alcança para ela. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo e toda a sua maquiagem já foi removida, dando a ela aquela aparência natural que Camila tanto ama.
"Eu não sei, amor, mas tente não arrumar nenhuma briga." Lauren diz com um pequeno sorriso. "Eu sei o quanto você quer perguntar qual é a deles porque eu também estaria irritada pra caralho se estivesse no seu lugar, mas eles não merecem sua atenção se não conseguem dizer o que têm pra dizer na sua cara. Mas se eles disserem, aí eu dou permissão pra você arrebentar eles na porrada."
Camila ri e abre os braços para Lauren, que se aconchega facilmente neles. Ela se posiciona entre as pernas de Camila com seu quadril pressionado firmemente contra o balcão e seus braços entrelaçados uma na outra. Camila sente as mãos de Lauren passando por baixo de sua camiseta e a mais velha arranha suas costas de leve, fazendo com que ela feche os olhos, visivelmente relaxada.
Não importa o quanto o dia de Camila tenha sido ruim, Lauren nunca deixa de fazê-la se sentir melhor. Não é nem como se ela tivesse que fazer alguma coisa ou dizer alguma coisa. Ela só precisa estar ali.
"Você sabe que eu te amo, não sabe?" Lauren sussurra inesperadamente depois de um silêncio longo e calmo, suas unhas ainda se arrastando pela extensão da coluna de sua namorada.
Camila sorri contra a curva de seu pescoço e assente com a cabeça. Claro que ela sabe. Lauren é a primeira pessoa que a fez se sentir genuinamente amada e aceita.
"Ótimo. E eu não quero que você esqueça disso, ok? Mesmo no seu pior dia quando tudo parece dar errado e você odiar o mundo e todas as pessoas que nele habitam, ainda assim eu vou te amar."
Lauren então se afasta para colocar as mãos no rosto de Camila, os polegares acariciando suas bochechas. Seu sorriso é contagiante e seus orbes verdes exalam apenas alegria e sinceridade. O coração de Camila está palpitando e seu estômago está dando cambalhotas enquanto ela olha para esse ser humano adorável, e por Deus, ela não quer que isso acabe nunca.
Camila se inclina para beijá-la delicadamente. "Você é maravilhosa, sabia disso?" Ela suspira contente, passando o polegar no lábio inferior de sua namorada.
"Dã."
A mais nova revira os olhos. "Esquece. Retiro o que disse."
Lauren ri divertida antes de pressionar seus lábios juntos mais uma vez. Então ela coloca as mãos na cintura de Camila e a retira de cima do balcão com cuidado, colocando-a novamente no chão. Camila se encosta na parede e observa Lauren procurar por um moletom no armário antes de jogá-lo sobre o corpo. A peça é grande o suficiente para cobrir seu short, dando à Camila a impressão de que o moletom é a única coisa que Lauren está usando.
Ela sorri ao olhar para baixo, mexendo no pingente e na chave que estão em volta de seu pescoço. Ela consegue sentir as letras que foram gravadas no pingente com o polegar.
Embora Camila se sinta o mais segura e feliz possível quando está no quarto com Lauren, fora dessas quatro paredes é uma coisa completamente diferente. Às vezes ela tem medo de sair do dormitório que compartilha com Lauren, medo esse que está mais proeminente agora que ela está sendo o centro das atenções por alguma razão desconhecida. Ela odeia os olhares. Ela odeia os cochichos. Ela odeia saber que eles estão pensando e dizendo algo sobre ela e ela não faz a mínima ideia do que seja.
Só que esses olhares não têm nada a ver com Camila e Lauren e ela se sente grata por isso, então não há mais nenhum motivo em que ela pense que poderia colocar seu nome na boca do povo. Alguma coisa está acontecendo e ela não faz ideia do que seja. Frustração é pouco, o que Camila está sentindo ainda não tem nome.
"Camz?"
Camila olha em direção ao som da voz de Lauren. "Oi? Que foi?"
Lauren lhe lança um olhar um tanto preocupado. "Está tudo bem aí? Você está com aquela expressão no rosto."
"Que expressão?"
"Aquela que você sempre faz quando está pensando sobre algo."
Camila pisca algumas vezes. "Eu nem sabia que eu tinha uma 'expressão' assim. Mas, hum, é, estou bem. Só estou tentando entender o motivo pelo qual as pessoas insistem em cuidar da minha vida. Nós podemos esquecer de nossas responsabilidades amanhã e ficar abraçadinhas na cama enquanto assistimos a filmes ruins e comemos porcaria?"
Lauren sorri para ela em solidariedade e pega em sua mão para trazê-la para a cama. Ela se deita de lado e dá tapinhas no lugar próximo a ela para que Camila se deite ali também. A mais nova acata seu pedido e se aconchega em seu peito, pressionando seu nariz contra a clavícula de Lauren e passando os braços ao seu redor.
"Você sabe que eu adoraria fazer isso." Lauren começa falando baixinho. "E eu adoraria fazer com que todas essas pessoas te deixassem em paz, mas eu não posso e nem você. Você não fez nada e sabe disso, então tente não deixar que isso te afete tanto. Qualquer boato que esteja rolando por aí com certeza é mentira e você sabe o que é verdade e o que não é, mas eles não sabem. Eles podem pensar e falar o quanto quiserem, mas no final das contas, você é a única que sabe tudo sobre si mesma. Não eles."
Lauren a beija afetuosamente no lugar entre suas sobrancelhas antes de passar os dedos por seu cabelo, fazendo Camila suspirar com a sensação de relaxamento. "Mas eu sinto muito por isso estar acontecendo com você." Ela continua. "Eu sei o quanto você odeia ser o alvo desse tipo de atenção negativa e desnecessária. Eu não sei o que diabos eles tanto têm pra falar de você, mas uma hora eles vão deixar pra lá. Até que isso aconteça, mantenha essa sua linda cabecinha erguida, ok?"
Camila deixa escapar algo entre um murmúrio e um resmungo antes de rolar para cima dela, colocando todo o seu peso sobre Lauren. Sua namorada ri surpresa, mas a segura forte mesmo assim.
"Posso ter uma mini versão sua pra guardar no bolso e levar você por aí junto comigo?" Camila diz com o rosto colado no pescoço da mais velha.
Lauren gargalha. "É uma coisa estranha pra se pensar. E conhecendo o seu jeito, você provavelmente tropeçaria em algo e me esmagaria nos cinco primeiros minutos que estivesse comigo."
Camila ergue a cabeça, equilibrando a parte superior de seu corpo com os braços enquanto olha para o rosto de Lauren, que está a menos de cinco centímetros do seu. "Eu não te esmagaria." Ela refuta de maneira confiante.
"O que você acha que está fazendo agorinha mesmo?"
Lauren ri quando Camila não consegue encontrar uma boa desculpa. A mais nova faz bico e Lauren sequer hesita antes de beijar seus lábios para desmanchar o bico que sua namorada estava fazendo.
"Mas não se preocupe." Lauren dá um sorrisinho sedutor. "Eu gosto quando você fica por cima."
• • •
No dia seguinte, enquanto Camila caminhava pelo campus para ir e voltar de suas aulas, as palavras de Lauren ficaram se repetindo em sua cabeça. A conversa motivadora que elas tiveram noite passada ajudou bastante e Camila, na maior parte do tempo, conseguiu bloquear com sucesso os olhares nada educados que estava recebendo.
Ally, contudo, pareceu não conseguir fazer o mesmo.
Ela e Camila estavam caminhando juntas pela calçada e os olhares estranhos pareciam ter se multiplicado. Eles não incomodavam Camila tanto quanto incomodavam sua amiga, que estava mexendo em sua pulseira nervosamente e chegava cada vez mais perto de Camila.
Agora Camila tem um problema.
Ela para de andar quando reconhece duas garotas, que fazem uma matéria com ela, paradas olhando diretamente para ela e Ally. Com toda a irritação e hostilidade reprimida pelos últimos dias e com seus instintos protetores falando mais alto, Camila se recusa a tentar se conter nesse momento.
"Hum, com licença, há algum problema por aqui?" Camila diz agressivamente, ficando entre as garotas e Ally.
Uma das garotas ri sarcasticamente e cruza os braços. "Todo mundo está confuso e se perguntando por que você ainda conversa com ela depois do que ela fez pra você."
Camila une as sobrancelhas, perplexa. "O quê? De que diabos você está falando?"
A garota aponta um dedo acusador para Ally. "Por que você não pergunta pra ela?"
Camila olha para as duas com cara feia enquanto ela e Ally se afastam, mas não sem antes continuarem a receber olhares tortos das garotas. Então Camila se vira para olhar para Ally mais uma vez, que parece estar à beira das lágrimas.
"Do que elas estavam falando?" Camila questiona, um pouco mais ríspida do que pretendia. A raiva ainda estava dominando seu ser por conta da conversa que tinha acabado de ter com aquelas garotas.
Então Ally começa a ficar nervosa e balança a cabeça rapidamente, com os olhos cheios de lágrimas. "Camila, eu não faço ideia do que elas estavam falando, ok? Você tem que acreditar em mim. Eu não fiz nada e não sei por que as pessoas ficam olhando pra mim e falando sobre mim e me evitando e eu sinto-"
Camila puxa Ally contra o seu peito repentinamente e a segura contra o seu corpo de maneira protetora. Ela se sente culpada por questionar sua amiga do jeito que questionou, especialmente depois de ver como ela acabou de reagir. Não tem como Ally estar mentindo sobre isso. Ela está tão confusa e chateada quanto Camila e isso é bastante claro.
"Ok, ok, ok." Camila sussurra tentando consolá-la, esfregando as costas de Ally enquanto ela respira tremulamente. "Me desculpa. Eu não queria falar com você desse jeito."
Alguma coisa está acontecendo e elas precisam investigar essa história mais a fundo. Camila pode até ser capaz de ignorar os olhares, mas sua amiga está envolvida e ela não vai ficar parada sem fazer nada e deixar que a situação afete Ally dessa maneira.
"Vamos." Camila diz baixinho, colocando os braços nos ombros de Ally e guiando-a em direção ao quarto de Dylan.
Ele abriu a porta depois de alguns segundos com elas batendo e o típico sorriso caloroso em seus lábios desapareceu em um instante quando ele viu o estado em que Ally se encontrava. Ele deixou as duas entrarem no quarto e fechou a porta antes de envolver a menor em seus braços fortemente.
"O que aconteceu?" Ele pergunta, olhando para Camila com os olhos cheios de preocupação.
"Eu queria poder te responder isso, mas não sei o que está acontecendo." Camila passa os dedos pelo cabelo e apoia as costas contra a porta. "Meu Deus, Dylan, nenhuma de nós sabia, mas tem alguma merda rolando e eu presumo que seja sobre mim e Ally porque a gente vem recebendo uns olhares sem parar e as pessoas ficam falando sobre nós e-"
"Espera." Dylan a corta, erguendo um dedo no ar para interromper as palavras de Camila. "As pessoas também estão encarando vocês nesses últimos dias?"
Camila pisca algumas vezes e assente com a cabeça lentamente. "Aham... Por favor, não me diz que você está passando por isso também. Meu Deus." Ela eleva o indicador e o polegar até suas têmporas e massageia a área, esperando que isso alivie sua dor de cabeça. "Então é algo que tem a ver com nós três e é isso. Normani, Dinah e Lauren não estão sendo alvo desses olhares e estão a salvo, ainda bem. A última coisa que eu quero é elas no meio disso."
Dylan suspira enquanto continua a segurar Ally contra o seu corpo. "Eu não achei que era grande coisa." Ele começa. "Mas acho que não consigo mais ignorar agora que sei que vocês duas estão envolvidas. O que faremos?"
Dylan pega a mão pequena de Ally e a direciona até a cama, onde eles se sentam um ao lado do outro. Ele cobre as bochechas dela com as mãos e sussurra algo baixo demais para Camila ouvir antes de beijar a sua testa. Camila sorri.
"Eu... Eu não sei o que deveríamos fazer." Ally diz baixinho, sua cabeça encostada no ombro de Dylan. "Desculpa. É que essa coisa toda me abalou muito hoje."
"A gente não pode simplesmente não fazer nada, apesar de não termos feito nada." Camila diz bufando, indignada. "Bem, pelo menos nada que a gente saiba."
"Eu literalmente não fiz nada além de ir pra aula e ficar aqui pra estudar." Dylan conta enquanto coloca a mão na cintura de Ally e a traz para mais perto dele. "E eu sei que vocês duas não fizeram nada fora do normal também. Tem que ser algum tipo de boato que inventaram, certo?"
Camila dá de ombros. "Esse é o meu palpite. Alguém provavelmente tirou alguma história do próprio rabo e começou isso tudo porque a vida dessa pessoa é tão triste e patética assim."
Para falar a verdade, Camila estava prestes a sair por aí procurando a pessoa que começou todo esse mal-entendido. Ela adoraria receber explicações a respeito do que essa pessoa sabe.
Dylan suspira pesadamente. "Acho que por ora a gente só deve ignorar. Eu sei que não é bem isso que queremos fazer, mas que opção nós temos? É a melhor coisa a se fazer nesse momento, já que não fazemos ideia do que está acontecendo e não queremos piorar as coisas. Vamos esperar pra ver." Ele se vira para Ally e olha para ela com uma expressão determinada. "Eu não vou deixar que ninguém mexa com você. Se eu vir ou ouvir alguma coisa, no mesmo instante eu vou intervir."
Ally assente com um sorriso agradecido nos lábios. "Obrigada, Dylan."
Ele se inclina e beija sua bochecha, fazendo com que ela sorria mais largo e que seu rosto se ilumine. Camila ri sozinha, contente em ver que sua amiga está se sentindo um pouquinho melhor. É notável que Dylan faz Ally feliz e vice-versa, e ela não poderia estar mais grata por eles terem um ao outro.
"Você vai ficar bem agora?" Camila pergunta com delicadeza.
Ally confirma balançando a cabeça. "Sim, vou. As pessoas são um saco às vezes."
Camila sorri ao andar até os dois e abraça Dylan e Ally, cada um de uma vez. "Ok, bem, eu vou vazar agora e deixar vocês namorarem em paz."
Os olhos dos dois se arregalam e eles coram furiosamente, para o divertimento de Camila. Ela ri e pisca antes de sair do quarto de Dylan.
Afinal, eles vão ficar bem ocupados.
• • •
Camila (16:10): quando você vai terminar de estudar?
Lauren (16:11): hmmm não falta muito. acho que daqui uma meia hora mais ou menos. já está com saudade de mim? ;)
A mais nova bufa ao ficar de barriga para baixo na cama, comendo a última bolacha com pedaços de chocolate do pacote.
Camila (16:11): sonho teu, amor. a bolacha acabou e eu estava pensando se você poderia parar em algum lugar e comprar mais pra mim
Lauren (16:12): você literalmente está escolhendo bolachas em vez de mim
Camila (16:12): sim
Lauren (16:13): então eu vou terminar com você
Camila (16:14): só compre mais bolachas antes
Ela ri sozinha ao derrubar o celular das mãos e enfiar o que sobrou da bolacha em sua boca, limpando as mãos em um guardanapo que estava ao seu lado. Ela então joga o pacote no lixo quando ouve batidas rápidas e urgentes na porta.
Ela não gosta de como isso soa. E, por um milésimo de segundo, ela chega a ter medo de abrir a porta. Mas quando Camila ouve que as batidas pararam e duas vozes familiares se fizeram presentes, ela corre até a porta e a abre, encontrando Dinah e Normani.
"Gente, mas que porra?" Camila ralha com as duas depois de suspirar aliviada. "Deus, vocês me assustaram com essas batidas incessantes." A expressão séria no rosto das duas garotas volta a causar medo em Camila, que franze as sobrancelhas. "Que foi? Tem alguma coisa errada?"
Suas amigas trocam um olhar discreto antes de Dinah se virar para Camila timidamente. "Hum..."
Camila estava observando-a em expectativa, esperando que ela elaborasse sua resposta. Uma simples hesitação estava fazendo Camila surtar horrores. "D, o que há de errado?" A morena pergunta mais uma vez, instigando a mais alta a falar o que ela tinha que falar. "Vocês estão começando a me assustar."
Camila nota Normani dando um aperto encorajador na mão de Dinah, e depois do que pareceram anos de completo silêncio, Dinah solta a respiração e abre a boca.
"É... É o Dylan e a Ally."