Provocando Amor - Série Endzo...

By MariaFernandaRibeir2

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A vida de Peter é uma montanha-russa. Desde que engravidou a tia mais jovem do melhor amigo, as oscilações na... More

Prólogo
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Epílogo

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By MariaFernandaRibeir2

Peter

A Noelle estava certa. A Jeanne deu açúcar para a Gwen num nível que a minha menininha pediu para voltarmos lá durante três semanas, e mesmo eu levando todas as três, sem toda a quantidade de açúcar, ela ainda pediu uma quarta.

Claro que tive que contar uma hora como a Gwen surgiu na minha vida, e a mera menção à Vivian fez caretas surgirem no rosto dos anfitriões. Isso me deixou curioso para saber o que a ruiva tinha dito sobre isso, só não mais que a rotina da Noelle estava me deixando. Ela não estuda tanto mais, mas em todas estas quatro semanas ela sai da mesa antes de terminar a sobremesa, pedindo desculpas e indo para a casa dos fundos, e não volta. A Gwen reclama de sono logo depois disso e tenho que ir com ela para casa. Mas esta noite foi diferente. A Gwen dormiu no meio da janta e está em um quarto, por isso, assim que a Noelle sai, eu me levanto e peço que os pais dela fiquem de olho na minha filha.

— Pode deixar. Você cuida da nossa menina, nós cuidamos da sua. — a Jeanne garante.

— Vocês não notaram nada de estranho?

— O mesmo de sempre. — o Maurice responde. — Dorme cedo, acorda tarde, come pouco, essas coisas que já te falamos.

Atravesso o caminho até a casa apagada e entro em silêncio. Ela está deitada na cama em um pijama de bolinhas, encolhida como um tatu. Fico o mais quieto possível ao tirar os sapatos para entrar no quarto dela, e sento na cama. Ela vira com um pulo.

— Ah meu Deus, que susto! Você pode fazer algum som, sabia? — reclama.

— O que está errado, liebe? Você vem agindo estranho ultimamente.

— Eu não. — contrapõe, e arqueio uma sobrancelha.

— Você sim. Na semana passada seus pais me perguntaram se você não estava fazendo nada proibido. Sei que não, então também não faço ideia da razão para as saídas sorrateiras do jantar. Não conto a eles se você não quiser, mas alguém precisa saber.

— Estou muito cansada. Só isso. Estive estudando bastante nas últimas semanas, e mesmo sendo saudável quanto a isso, me cansa fazer provas e trabalhar.

Esfrego as costas dela, procurando os pontos de tensão. Ela grunhe quando aperto um.

— Muito bom, mas isso não é tudo. Eu estudo com você, lembra? Sei o quanto isso te cansa, e apesar disso, não é tanto quanto você tem mostrado. Gata, vou fazer uma pergunta e quero a resposta verdadeira, tudo bem? Você está vendo o terapeuta?

— Não tanto quanto antes, mas você também não vai mais. — tenta me usar como exemplo, e isso me deixa de cenho franzido.

— Ele me liberou naquele dia. É por isso que não vou mais. E mesmo assim, penso em voltar, muita coisa aconteceu e eu não sei lidar com tudo sozinho. É para isso que ele trabalha, sabia? Para nos ajudar. — cutuco ela, que se afasta com cócegas.

Ficamos em silêncio, e eu mantenho meu rosto perto da cabeça da Noelle.

— Você é doido de ter mantido a sua personalidade real escondida por tanto tempo. É um cara tão legal. — muda de assunto.

— Eu nunca fui nada menos que eu mesmo, Noelle. Talvez o meu jeito meticuloso e arbitrário de lidar com a vida tenham me prejudicado, até por não serem características combináveis na maior parte das vezes, mas é assim que eu sou.

Nossos dedos entrelaçados me deixam em paz, e, com isso e o cansaço, acabo cochilando. Sou acordado pela Jeanne, que pergunta se eu e a Gwen vamos dormir aqui.

— Ela está dormindo muito profundamente, não acho que acorda-la seja uma boa ideia.

Balanço a cabeça em concordância.

— Não mesmo. Peço desculpas por isso.

Ela faz um som ofendido.

— Pelo quê? Pela sua filha ser humana? Vou te contar uma história. Eu só conheci o Maurice por ter dormido na casa dele e da irmã, minha colega. São nessas situações adversas que as oportunidades surgem.

Não entendi oportunidade do quê ela estava falando, mas acredito que ela não imaginava o que ia acontecer. Depois de ser orientado onde a Gwen estava e já sozinho com a Noelle novamente, me levantei para ir até a minha filha e checar se estava tudo bem, e quase escorreguei em um potinho.

Mein Gott. — arfo ao ver do que se trata.

Um remédio que é perigoso demais para estar por aí. E Jesus, o que isso faz aqui?

— Noelle. — chamo. — Noelle.

Ela abre os olhos irritada. Me vê e coloca um travesseiro na cabeça.

— Noelle, eu preciso da sua palavra quanto a isso aqui. — balanço o potinho, sacudindo as pílulas.

O meu tom de voz sério faz com que ela acorde. Sentada e irritadiça pelo sono interrompido, ela pega o potinho da minha mão.

— É um remédio.

— Jura? Se você não falasse. Eu quero saber é o que um remédio entorpecente faz no seu quarto. — inquiro, por que foi assim que a Anne começou me enganando.

Inventando desculpas para alimentar um vicio nada saudável, ela passou a esconder de mim e de qualquer outro que queria sempre mais e mais. Tanto que ela fez o que fez. Não posso deixar a Noelle ir por esse caminho também.

— Você acha o quê? — rebate chateada — Que eu gosto de tomar isso? Eu odeio, Peter. Por mim, não tomaria nada. Mas eu preciso. Sem isso, o mundo é pior. Isso é o que me faz não explodir o tempo todo. Aqui dentro — aponta a cabeça — o mundo é cheio de gatilhos. Isso é o que tira a munição de mim, junto às visitas ao terapeuta e ao psicólogo. São essa três coisas que me permitem viver sem ter tanto medo.

Meio confuso e meio envergonhado por ter acusado ela, fico de pé onde estou, encarando o pote de remédios.

— É altamente viciante. — murmuro, como se explicasse minha acusação. Sei que não.

— Você acha que eu não sei disso? É um perigo que tenho que enfrentar, se quiser viver. Acredite quando digo que já me questionei um monte de vezes se vale a pena arriscar tanto por um pouco de normalidade. E os meus pais também. Eu só queria ser normal, sabe?

Eu não tinha noção do quanto uma única acusação pesaria nela, até o momento que vi as lágrimas nos olhos depois de confessar o desejo pelo normalidade. Culpado, me aproximo e fico por perto.

— Me desculpa. Já vi tanta gente de diversas maneiras terríveis pelo vício, julguei mal a presença disso aqui. Fico orgulhoso por ver você lutando por si mesma. Quero que você saiba que estou aqui para o que precisar, richtig? Quando precisar.

— Não me trate como se eu fosse uma criança por causa disso. — resmunga. — As pessoas têm tendência a achar que a mente doente faz com que sejamos incapazes de sermos adultos.

— Não estou tratando. Pedir ajuda não é infantil, na verdade é um ato muito maduro admitir que precisa de ajuda. Não é fácil perceber que nem tudo em nós se regenera sozinho, e a mente é algo muito nosso, deixar que alguém participe na recuperação é corajoso, apesar de necessário. Você é corajosa, e eu te amo por isso.

Ela toca meu rosto com a mão calejada.

— Como diz isso em alemão? "Eu te amo".

Ich liebe dich. — respondo, deixando minha mente flutuar na minha língua sobre o quanto essa garota é incrível.

Ich liebe dich, Peter. Você é incrível, e o mundo perdeu por muito tempo ao não enxergar isso.

Traço uma das bolinhas do pijama dela com o dedo.

— Nós dois temos potencial, gata. Só precisamos saber coordenar isso de uma forma que todos sejam beneficiados.

Noelle

O Peter dormiu comigo essa noite, preocupado com onde as emoções da noite passada me levariam. Avisou minha mãe antes, pedindo que ela ficasse aqui enquanto ele dormia com a filha, mas ela disse que acha minha cama macia demais e preferiu fazer companhia à Gwen. Depois de tantas recomendações quanto a bula de um remédio e algumas promessas dela, ele deixou ela ir. De manhã cedo, a Gwen pulou na minha cama, feliz por ter encontrado o pai e acordou nós dois com isso.

— Você não sumiu, papai. — diz com um sorriso muito feliz.

Queria eu ter a disposição dela para acordar já sorrindo tanto. O Peter segura as mãos dela, dando um sorriso sonolento.

— É claro que não sumi, liebe. Prometi que não te deixaria sozinha nunca, não prometi?

Pometeu. Eu dormi com a tia Jeanne, foi muito legal. Ela me deu lanche de noite, mas é seguedo e contou um monte de historinhas da Fança, e disse que morava perto da sua casa. — a alegria dela se esvai quando me encara. Preocupação toma o lugar do brilho feliz. — Ela não tá feliz, papai. Po quê?

Ele me olha e sorri pra mim. Isso me amolece.

— Ela está passando por uma coisa não muito legal, que deixa ela triste e desanimada às vezes, mas vai ficar bem. — tranquiliza a menina.

Ela fica de pé, mas desequilibra, acertando a barriga do pai quando cai. Levanta, pede desculpas sem prestar muita atenção, e me alcança, sentando do meu lado e me encarando. Mais que desconfortável com isso, e ouvindo o Peter resmungar em alemão, desvio o olhar para ele.

— Você vai ficar bem, tia Noelle? Eu fico tiste às vezes também, mas aí o papai assiste desenho comigo e eu fico melhor. Quer que eu assista desenho com você? — ela oferece com preocupação.

Santa inocência. Sorrio porque é impossível não fazê-lo depois de ouvir isso.

— Quero. Qual você sugere?

Ela descobre que tenho Netflix, e mexe sozinha no computador para achar o desenho. Shlek é a escolha dela, na fala da mesma, e a animação dela com o filme do ogro verde é contagiante. O Peter atenta ela, com carinho, à falta do r na fala, e ela treina com ele enquanto o desenho carrega. Quando carrega uma quantidade, ela vem correndo para o meu lado.

— O papai é o Shrek, eu sou o Burro e você é a Fiona! Deu certinho! — diz animada.

— Por que você é o Burro? — questiono surpresa.

— O burro é legal, eu gosto dele. — explica — E ele é o melhor amigo do Shrek, eu sou a melhor amiga do papai. E você é a namorada do papai, não é? Então é a Fiona, se o papai é o Shrek.

A lógica dela estava certa e isso me faz rir. O Peter, porém, discorda de algo.

— A Noelle não é namorada do papai, Gwen. É só uma amiga.

Ela coloca as mãos na cintura e eu imito o movimento.

— Como assim? — dizemos em uníssono.

Uma sobrancelha dele sobe em uma careta.

— Meninas unidas, jamais serão vencidas. Você está ok com isso? — pergunta para mim.

— Estive bem com isso nas últimas duas semanas que achei que já era sua namorada. — reclamo.

Os braços dele me puxam para um abraço quentinho, e ganho um beijo também.

— É só um status. Se você era, então era. Freund. — a palavra é dita com tanto clamor que sei o que significa sem perguntar.

A Gwen se enfia no meio de nós, e senta.

— O filme vai começar, nada de beijar igual a tia Heaven faz com o Will. — resmunga — Ela finge que está dormindo quando olho, o que é pior.

Ele dá risada e eu sorrio para os dois. Minha pequena nova família. Se eu tentasse criar uma eu mesma, não seria tão boa quanto eles são juntos. Eu sou a terceira parte, mas incrivelmente consigo me encaixar como nunca fiz em nenhum outro grupo antes. Talvez pelas duas outras peças serem uma criança e um cara que sabe como é tóxico viver sob julgamentos, mas estes dois significam mais para mim que imaginam.

E eu não tenho medo disso.

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