O Dia Depois da Minha Morte [...

By SOODELIGHT

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Kyungsoo tinha planejado tudo muito bem: O dia 23 de outubro era um bom dia para morrer. Todavia, ele não esp... More

Capítulo 1
Capítulo 3
Capítulo 4
Epílogo

Capítulo 2

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By SOODELIGHT

Desde a entrada daquele rapaz moreno tudo foi um caos para a mente de Kyungsoo: Esse rapaz tirou a cadeira de cima de si, o ergueu pelas axilas e o colocou de volta na cadeira enquanto continuava perguntando com uma voz suave, mas assustada, se ele estava bem. Mukmool seguia os seus passos movendo seu rabinho e latindo, e de vez em quando Kyungsoo pensava unicamente no quão patético ele devia ter parecido ali, jogado no chão chorando como uma criança, e ainda mais agora, estando na frente dele, sendo observado, estando com o rosto vermelho e inchado. Se perguntava quando ele iria embora enquanto olhava para as suas mãos acariciando os cachos de Mukmool, que tentava tirar a correia com os dentes.

— Posso saber o seu nome?

Essa frase o tirou de seus pensamentos e o fez olhar diretamente para o rosto do desconhecido. Ele tinha o cabelo liso da cor chocolate, assim como a sua pele da mesma cor. Kyungsoo nunca tinha visto um coreano de pele escura e era o que pensava enquanto perdia o olhar na clavícula a mostra pelo suéter de gola solta de cor creme. Ele também usava uma camiseta preta, e jeans que se ajustavam às suas pernas firmes e torneadas.

— Me chamo Kyungsoo... — disse simplesmente, baixando o olhar novamente, sentindo-se patético por causa de seus olhos vermelhos e bochechas quentes. — Você encontrou a Mukmool... — Fixou seu olhar na cachorrinha, que puxava a correia entre grunhidos.

— Sim... Ela é sua, certo? — o rapaz moreno aproximou seus dedos, ocultos pelo suéter, de Mukmool que se viu distraída pela carícia em seu focinho. Ela tentou mordê-lo, brincalhona, fazendo-o sibilar entre risadas por causa da dor causada pelos pequenos dentes ao mastigar os seus dedos.

— Você pode ficar com ela — Kyungsoo disse abruptamente, fazendo com que o moreno o olhasse nos olhos diretamente, surpreso. Foram minutos enquanto uma luta de olhares era mantida por ambos os homens, a mescla de confusão do moreno e a insegurança de Kyungsoo. Mukmool se revirava no chão mordiscando a mão que lhe acariciava, sem perceber nada.

— Mas ela é sua... tem o seu número e o seu nome na coleira dela.. e... — olhou para o cômodo e acabou deparando-se com as coisas da cadela sobre uma mesa. — Você tem todas as coisas dela... você estava chorando porque ela tinha ido embora, não era?

— Você não sabe de nada... — Kyungsoo mordeu rapidamente a sua bochecha por dentro para não explodir. Achava que já tinha dado muito espetáculo por hoje na frente de outro cara. — Eu não posso ficar com ela... não posso continuar cuidando dela. Estou procurando um lar para ela. — Baixou seu olhar para não olhar para a cachorrinha por causa da culpa apenas para ser surpreendido pela moita de pelos negros de Mukmool revirando-se em seu colo quando o rapaz a deixou ali. A cachorrinha parou de brincar e reconheceu os braços de quem estava, começando a lamber suas mãos e mover sua cauda animada.

— Ela te ama muito... você ainda pode cuidar bem dela... — ouviu a voz masculina, e algo em seu peito explodiu. Kyungsoo ergueu o olhar para ver o sorriso gentil do outro rapaz que estava apoiado sob os seus joelhos, olhando-o. Seu cenho se franziu rapidamente.

— Você não entende... — pegou Mukmool em seus braços e a estendeu para ele. — Fique com ela... leve-a embora... eu não posso... — Um som seco vindo da porta os distraiu fazendo os dois se depararem com um homem de terno entrar com rapidez para dentro da sala de estar.

— Kyungsoo! — seus olhos se encontraram com os de Junmyeon, que se aproximou depressa dele, parando ao ver a cena: um Kyungsoo estendendo Mukmool para outro homem que o olhava perplexo. — Você está bem? A porta estava aberta... eu pensei...

— Está tudo bem... — Kyungsoo encolheu os seus braços, depositando a cadelinha em seu colo novamente. — O vizinho já estava saindo...

— Jongin... — o rapaz o interrompeu, pondo-se de pé. — Kim Jongin. Moro no quarto andar... — ele fez uma reverência diante do advogado, para voltar seu olhar para Kyungsoo. — Eu vim devolver a cadelinha ao vizinho... ela tinha fugido pela porta... — Sorriu largo fazendo com que o cenho de Junmyeon se franzisse diante da calma do jovem. Porque sim, ele havia notado a tensão de Kyungsoo muito bem.

— Sou Kim Junmyeon, advogado e amigo de Kyungsoo — devolveu o cumprimento e contemplou o rapaz sentado na cadeira de rodas que acariciava a cachorra adormecida em seu colo. — Ela tinha fugido?

— Sim... — Jongin respondeu. — Eu a encontrei no corredor, mas agora, ela já está de volta ao seu lar. — Mencionou o último com o olhar fixo no rapaz de olhos grandes, para em seguida, aproximar-se da porta de saída voltando a inclinar-se num gesto de despedida. — Se me desculpam, tenho meus próprios cães para atender... Foi um prazer conhecê-los. — E saiu, deixando os dois homens olhando-o pasmos.

— O que foi isso? — Junmyeon interrogou Kyungsoo, que concentrava seu olhar em Mukmool.

— Nada... Não foi absolutamente nada.


💭


Se Kyungsoo pensou que a história com o vizinho tinha acabado, pois se enganou completamente: Jongin começou a frequentar a sua casa continuamente, perguntando por Mukmool e pela sua saúde. No começo, o moreno não passava da porta principal, um pouco pela raiva por ele não ter aceitado a cadelinha e o outro pouco era porque Kyungsoo ainda estava envergonhado pelo seu acidente e como quase Jongin o resgatou de uma vida no chão. Suas respostas curtas e grossas sempre eram interrompidas pelo latido animado de Mukmool, como se adorasse o seu vizinho, mas não o suficiente a ponto de ir com ele. Jongin começou a ganhar entrada para o apartamento em troca de bolinhos, pó de café e comida feita em casa, já que ao que parece, notou a frequência de vindas do delivery a casa de Kyungsoo e dizia que a comida feita em casa nunca era ruim, a não ser se fosse a sua mãe quem a fazia. O rosto compungido de Kyungsoo lhe deu a entender que ele havia dito algo errado, e o outro apenas soltou com uma voz sombria e solitária que ele não teve mãe porque a perdeu muito jovem.

Foi a primeira informação íntima que Kyungsoo compartilhou com alguém fora Junmyeon.

Jongin estava cada vez mais próximo e não se incomodava com os gestos frios e secos de Kyungsoo. Ele sempre chegava com um sorriso, guloseimas para ele e Mukmool, como também oferecia-se para levá-la ao veterinário ou ao pet shop animava-o para que o acompanhasse, pedido o qual Kyungsoo se negava rotundamente. Jongin contava detalhes de sua vida sem que fosse pedido, como por exemplo, que era professor de dança em uma academia para crianças a partir de três anos. Isto deu a Kyungsoo mais motivos para odiá-lo, porque agora entendia a fodida e eterna paciência que ele parecia ter, e o fato de que dançava. Kyungsoo imaginava-o com o mesmo sorriso que lhe deu quando contava sobre o seu trabalho, enquanto flutuava pelo ar em um salão espelhado. Foi uma imagem tão clara e vívida que lhe causou um pouco de dor, não porque o outro rapaz pudesse fazê-lo, mas sim pela angústia por si mesmo. Kyungsoo não lembra a última vez que dançou, muito menos a última vez que pôde estar sobre os seus próprios pés. Jongin era o epítome de tudo o que ele não era e jamais seria: o completo pólo oposto e isso despertava sentimentos encontrados nele. E o irritava que o outro não parecesse se dar conta disso, e quisesse levá-lo até o limite, incluindo a sua vida.

Um dia, Jongin ofereceu para levá-lo ao veterinário de Mukmool, e como sempre o fazia, Kyungsoo se negou, dando-lhe a mesma resposta de sempre. Mas desta vez, o moreno não cedeu em suas insistências e prontamente pegou a cadeira de rodas, levando-o para a saída do apartamento. Os gritos de raiva de Kyungsoo e as tentativas se segurar a cadeira de rodas com as mãos fizeram com que elas acabassem com uma dolorosa rigidez que torceu dolorosamente os seus pulsos fazendo-o gritar de dor que fez com que Jongin parasse e voltasse a olhá-lo, com pressa e angústia nos olhos. Porém, a visão do garoto na cadeira o desestabilizou completamente fazendo-o arquejar de medo e começar a sacudi-lo para tentar fazê-lo reagir. Kyungsoo não fazia nada. Seus braços estavam rigidamente dobrados, suas mãos em uma posição estranha com os pulsos dobrados, seu rosto em uma careta contraída pela dor e seus olhos fechados, como se estivesse dolorosamente adormecido.

Junmyeon... — Kyungsoo conseguiu pronunciar antes de ficar rígido como uma estátua.

A partir desse momento, tudo foi uma completa loucura. Jongin encontrou o telefone do moreno, discou o número do advogado e entre gritos e soluços afogados, conseguiu explicar que Kyungsoo estava rígido em sua cadeira. A ambulância chegou em minutos, arrancando Kyungsoo de suas mãos enquanto o massageavam preocupado, para levá-lo para a emergência. Viu como o corpo de Kyungsoo relaxou, soltou a cadeira e deixou-se cair lânguido e adormecido no processo, sendo levado pelos paramédicos, enquanto Junmyeon gritava consigo culpando-o pelo o que acontecera e obrigando-o a ficar para cuidar de Mukmool.

Kyungsoo não soube o que aconteceu entre eles ao acordar na cama do hospital. Sentiu angústia quando reconheceu o quarto e a intravenosa, mas não estava preparado para ver um Jongin adormecido no sofá ao seu lado, curvado de um jeito estranho para conseguir ficar apoiado entre os seus braços. Kyungsoo quis gritar com ele, mas não adiantaria nada. O moreno não tinha culpa pelo o que aconteceu. Nisso, o viu remexer-se e reclamar suavemente de dor por causa da postura; ele ergueu o olhar e o encarou com olhos cheios de medo e preocupação.

— Hyung? Você está...

Fora, Jongin — disse suavemente, sem olhá-lo diretamente. Sentia que a única coisa que queria era expulsar o moreno a gritos de sua vida, mas ele mal acordou, e o moreno continuava ali ao seu lado, desorientando-o, obrigando-o a pensar em coisas que não queria. — Eu só quero que você vá embora. — Continuou sem olhá-lo, fazendo com que o moreno se levantasse e dissesse que voltaria no dia seguinte, e que Kyungsoo procurasse comer. E que o perdoasse. Quando se foi, Kyungsoo notou a bandeja com comida intacta, e sentiu que o seu peito apertava de pura comoção.


💭


O distanciamento com o vizinho durou algumas semanas, no mínimo, enquanto Kyungsoo esteve no hospital. Ainda assim, margaridas frescas ou algum chocolate chegavam ao seu quarto junto a um recado dizendo que Mukmool estava bem cuidada. Ele se perguntava se Jongin lhe deixaria flores quando morresse também, odiando esse pensamento do moreno envolvido em seu plano.

Junmyeon notou o silêncio selado de seu amigo e cliente uma vez que foi buscá-lo para levá-lo para casa, mas não fez nenhum comentário a respeito. Sabia que Kyungsoo era uma bomba relógio devido a presença do vizinho e como este tinha se infiltrado em seu mundo, fazendo-o sair de sua rotina diária, e como isso também alterava demais os nervos do moreno.

— Você tem que relaxar a respeito do seu vizinho... — murmurou com o olhar fixo à sua frente e mãos ao volante.

— É uma merda — Kyungsoo respondeu, com os lábios apertados e o cenho franzido. — Espero ter sido suficientemente claro a respeito de ele ir embora.

— Ele só está tentando melhorar a sua qualidade de vida.

— E se eu não quiser?! Por acaso você não entende que eu tenho uma decisão tomada? Eu tenho que exigir respeito de você de novo sobre isso, ou dessa vez vou ter que te despedir?! — os olhos de Kyungsoo perfuravam a bochecha de Junmyeon que tinha uma expressão tensa em seu rosto.

— Você pode parar de ser um fodido orgulhoso e entender?! Ele não sabia sobre a sua doença! E nem da sua fodida decisão!

Kyungsoo ia responder quando prestou atenção na última frase do advogado e entrecerrou os olhos. — Como assim ele não sabia? Quer dizer que agora ele sabe? Você contou à ele Junmyeon?!

Junmyeon o encarou alterado. — Não! — inspirou devagar e o mordeu seu lábio. — Ele só sabe sobre a sua esclerose. Ele chegou quando o seu médico estava me dando instruções sobre essa nova crise que você teve, e eu não pude negar nada na frente do doutor. Jongin perguntou diretamente para ele, e o médico pensou que ele era o seu namorado...

— Puta merda! — a pancada que Kyungsoo deu na porta do carro fez Junmyeon pular. — Que mania é essa de se intrometer onde não é chamado?! Por que você não o parou?!

— Porra, Kyungsoo, eu não podia me impor na frente do médico! Não é minha culpa se você está preso e está fazendo a merda que está fazendo! — Junmyeon apertou o volante com força.

— É minha fodida vida e eu faço com ela o que eu bem quiser! Pensei que isso tinha ficado claro.

Junmyeon deu uma virada brusca para entrar no estacionamento do edifício e ocupar um lugar perto da entrada. Bufou irritado, passando suas mãos pelos cabelos repetidas vezes.

— Você não pode me culpar por não estar de acordo com isto e por perder o meu melhor amigo. E nem venha com essa merda de dizer que eu não estou em seus pés de novo, porque posso entender isso, mas não quer dizer que eu aceite. Isso é um suicídio, Kyungsoo! Você está abandonando a vontade de viver e de lutar... — fungou para logo piscar repetidas vezes e deixar que as lágrimas caíssem pelas suas bochechas, e limpá-las desajeitado com o dorso de suas mãos.

Kyungsoo pôs uma mão em sua coxa, dando-lhe um suave aperto. Seu gesto furioso havia passado enquanto via o seu amigo deixar sua testa apoiada no volante.

— Eu estou cansado, Junmyeon, e você sabe. Eu não quero esperar até acabar preso em vida dentro do meu próprio corpo — fechou os olhos para afastar a sensação de pavor. — Eu estou fazendo pelo meu bem, porque não se pode fazer mais nada. Você tem estado comigo durante todo esse tempo, eu pensei... que você já me entendia...

— Entender não quer dizer que eu aceite... — repetiu para logo descer do carro, tirar a cadeira de rodas do porta-malas e colocá-la a uma distância prudente para Kyungsoo, para em seguida abrir a porta do carro e pegar o moreno em seus braços e acomodá-lo na cadeira. Apesar de ter recém discutido, Kyungsoo se deixou ser ajudado e não esboçou nenhuma expressão ou reclamou ao seu amigo, permitindo que este o subisse ao elevador e o levasse até o andar em morava. Odiava que estivessem ajudando-o sempre, mas era Junmyeon quem estava ao seu lado, inclusive diante desse desejo antinatural que estava empenhado em levar a sério. Ele logo descobriria como se livrar de Jongin e suas intenções de bom samaritano.

Era nisso que Kyungsoo pensava enquanto seu amigo abria a porta do apartamento para que entrassem, encontrando no meio da sala, uma cadeira automática especial motorizada completamente nova, que podia ser dirigida através de alavancas pelo usuário. E um recado sobre ela que Junmyeon logo leu.


"Me perdoe, e não se dê por vencido. Eu não vou desistir de você. Jongin".


— Merda! — Kyungsoo resmungou, novamente irritado.

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