— Meu Deus a Catarina é uma cobra mesmo! — Gargalho mordendo mais um grande pedaço de pizza.
Eu e Matthew estamos vendo uma daquelas novelas mexicanas que eu costumava ver no começo da viagem. Como ele não pode sair para nenhum lugar porque está em recuperação nós decidimos comprar uma pizza enorme de metade calabresa e a outra metade frango e catupiry para fazermos uma festa do pijama em seu quarto. Gosto da presença dele, ele me faz gargalhar com os seus comentários engraçados e idiotas sobre a novela. Confesso que nunca me diverti tanto quanto estou me divertindo hoje.
Eu e ele estamos deitados em sua cama, a caixa da nossa pizza está em cima do criado mudo, e Matthew está quase pegando no sono, com a cabeça deitada nas minhas pernas.
— Na minha humilde opinião, eu realmente acho que a Carlota deveria dar um pé na bunda do Ricardo. Ele é um idiota. — Matt comenta, pegando mais um pedaço de pizza da caixa.
A história é a seguinte, Carlota e a Catarina são irmãs, e as duas estão apaixonadas pelo Ricardo, que é o segurança do pai bilionário das duas. Carlota se casa com Ricardo, mas ela ainda não sabe que ele a trai todas as quartas-feiras com a Catarina. E o pai da Carlota e da Catarina é um ladrão corrupto que desvia dinheiro para ser cada vez mais rico e poderoso, só que ninguém sabe disso, apenas nós, os telespectadores. Eu e Matthew já estamos vendo essa novela há horas.
— Concordo. — Bebo um gole do refrigerante.
— AÍ É AGORA! — Matthew dá um pulo da cama e grunha de dor, mas mesmo assim fica com os seus olhos focados na televisão. — É agora que a Carlota descobre que ela está sendo traída. FINALMENTE!
— Matthew, você sabe que não pode fazer muito esforço. Por que deu um pulo da cama? — Reclamo cruzando meus braços e revirando os olhos.
— Me desculpa, foi sem querer. — Ele sorri rapidamente, mas depois o seu foco volta para a televisão.
Carlota entra dentro do quarto e na hora certa pega o marido beijando a sua irmã. Ela faz um discurso longo, e joga a aliança para o alto enquanto chora. Carlota corre rápido para fora do quarto ainda chorando, e o Ricardo a segue, mas ela dá um tapa e um soco em sua cara. Matthew gargalha.
— Eu vivi para ver esse momento. Sério, essa novela é muito boa. Como você conseguiu parar de vê-la?
— Sei lá, acabei enjoando.
— É impossível enjoar dessa novela!
Mais um episódio acaba, e quando começa o comercial o Matt leva sua mão até a caixa da pizza para pegar o último pedaço. Eu o repreendo.
— Ou! Esse pedaço é meu!
— Agora é meu. — Ele morde.
— Matthew, me dá!
— Não. — Contesta.
— Se você não me der, eu te contarei um spoiler da novela.
— Você não cometeria um crime tão maldoso como este.
— Você não sabe do que sou capaz.
Ficamos nos encarando por alguns minutos, com raiva no olhar.
— Não vou te dar, pimenta. — Ele engole a pizza de uma vez só.
— A Carlota vai voltar para o Ricardo depois dele terminar com a Catarina. Ah! A Catarina morre. — Grito como vingança.
— Sua idiota. — Ele arregala os olhos com a revelação que acabo de fazer.
— Eu avisei que iria falar se você não me desse o último pedaço.
Ele faz um biquinho de tristeza, e eu gargalho. Matt é tão falso. Ele deita ao meu lado e eu encosto a minha cabeça em seu ombro, ele dá um beijo no topo da minha cabeça e eu abro um sorriso enquanto me aconchego ao seu lado.
— Não pense que eu te perdoei, ruiva. Eu ainda não te perdoei. — Ele sorri, mas logo em seguida faz uma careta engraçada de dor. Me afasto e olho para os seus olhos, buscando uma instrução vinda dele para me dizer o que fazer ou como ajudar. — Levante minha camisa, passe aquele remédio em cima da ferida. — Ele aponta para uma caixinha em cima da poltrona ao lado da cama. — E depois troque o curati... — Matthew não consegue completar a sua frase, já que em seguida grita de dor.
— Tudo bem. — Me sinto um pouco perdida e nervosa, mas decido não passar esse nervosismo para ele.
Levanto sua camisa e faço tudo o que ele me pediu para fazer enquanto ao mesmo tempo tento não olhar para o seu abdômen, tanquinho e músculo. Uma batalha difícil. Mas, o que me assustada é ver uma pequena tattoo bem no canto da sua cintura. Está escrito Hope em letras maiúsculas.
Depois de fazer tudo o que ele me pediu, volto ao meu lugar de origem ainda me perguntando o significado daquela tatuagem.
— Obrigada, Julieta.
— Eu vi a sua tatuagem. O que significa?
Ele dá um risinho de lado.
— Por que está rindo? — Arqueio a sobrancelha.
— Eu já imaginava que iria me perguntar isso.
— Então, pode me dizer?
— Eu fiz assim que acordei do coma. Era eu contra o mundo, literalmente. Já que todos pareciam me odiar. Meu pai vivia trabalhando, Ethan tinha me traído, e a minha ex também. Endy tinha morrido. Endy é a minha mãe. Todos os esquiadores que antes eram meus amigos também me odiavam, já que o Ethan havia espalhado todas aquelas mentiras sobre mim. Eu me senti sozinho, e por isso tatuei Hope. Eu ainda acreditava que eu daria a volta por cima. Ainda acreditava que tudo iria melhorar. Eu tinha sonhos. Eu tinha esperança.
Sorrio com felicidade por ele ter decidido compartilhar a sua bela história comigo.
— Sabe, às vezes eu ainda me sinto sozinho, mas você, pimenta, anda fazendo eu deixar de acreditar nisso. Eu não sei explicar o que eu vejo em você. É simplesmente a maneira que você me faz sentir e que ninguém mais consegue.
Eu sorrio largamente e mais uma vez me encolho em seu abraço.
— Você é especial. — Ele sussurra em meu ouvido com a voz rouca.
Levanto a minha cabeça e consigo sentir sua respiração perto da minha enquanto o seu olhar está fixo nos meus lábios. Ele se aproxima, e eu não recuo. Eu não ouso recuar. Porque eu não quero. Eu não quero recuar.
Suas mãos envolvem a minha cintura delicadamente e as minhas vão até o seu cabelo. Matthew toma atitude e sela os nossos lábios, eu sorrio. Ele conduz o melhor e mais mágico beijo que eu poderia imaginar ter em toda minha vida. Caio para trás, mas Matt me segura com as suas mãos firmes enquanto ainda me beija.
O nosso beijo é intenso, daqueles que deixa sem fôlego. É a sintonia perfeita. O ritmo perfeito. A pessoa perfeita. É como se nós estivéssemos esperando esse momento há tempos.
É como se precisássemos disso.