Orgulho e Preconceito

By Classicos

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COMPLETA Na Inglaterra do final do século XVIII, as possibilidades de ascensão social eram limitadas para uma... More

Concluído
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
QUATORZE
QUINZE
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE QUATRO
VINTE E CINCO
Vinte e seis
VINTE E SETE
VINTE E OITO
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
TRINTA E QUATRO
TRINTA E CINCO
TRINTA E SEIS
TRINTA E SETE
TRINTA E OITO
TRINTA E NOVE
QUARENTA
QUARENTA E UM
QUARENTA E DOIS
QUARENTA E TRÊS
QUARENTA E QUATRO
QUARENTA E CINCO
QUARENTA E SEIS
QUARENTA E SETE
QUARENTA E OITO
QUARENTA E NOVE
CINQUENTA
CINQUENTA E UM
CINQUENTA E DOIS
CINQUENTA E TRÊS
CINQUENTA E QUATRO
CINQUENTA E CINCO
CINQUENTA E SEIS
CINQUENTA E SETE
CINQUENTA E OITO
CINQUENTA E NOVE
SESSENTA
SESSENTA E UM

VINTE E NOVE

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By Classicos


O triunfo de Mr. Collins com aquele convite foi completo. A possibilidade de mostrar a grandeza da sua protetora e a amabilidade com que Lady Catherine o tratava, bem como a sua esposa, era exatamente o que tinha desejado. O que mais lhe agradava, lançando-o numa admiração sem limites, era a condescendência que Lady Catherine mostrara, convidando-os tão cedo.

— Confesso — disse ele — que eu não teria ficado surpreso se Lady Catherine nos convidasse para tomar chá e passar a tarde em Rosings no sábado. A experiência que tenho da sua afabilidade me autorizava a fazer essa suposição. Mas quem poderia ter previsto tamanha atenção? Quem poderia ter imaginado que iríamos receber um convite para jantar, um convite aliás que abrange todo o grupo, tão imediatamente depois da vossa chegada?

— A mim não me surpreende tanto — replicou Sir William —, pois eu conheço os hábitos dos grandes, graças à minha situação na vida. Na corte, por exemplo, essas coisas não são raras.

Durante o resto do dia, e na manhã seguinte, não se falou quase em outro assunto. Mr. Collins teve a precaução de lhes descrever as maravilhas que os esperavam para que o espetáculo dos salões, dos inúmeros criados e do opulento jantar não os ofuscasse inteiramente.

Antes das senhoras se retirarem para os seus quartos a fim de se preparar, ele disse a Elizabeth:

— Não fique inquieta, minha cara prima, a respeito da sua toalete. Lady Catherine está longe de exigir de nós a elegância que ela e sua filha ostentam . Eu lhe aconselho apenas a pôr o seu vestido mais elegante. Não é necessário mais do que isto. Lady Catherine não ficará aborrecida de vê-la vestida com simplicidade. Ela gosta de manter as distinções de classe.

Enquanto as moças se vestiam, Mr. Collins veio bater duas ou três vezes em cada porta, para recomendar que se apressassem, pois Lady Catherine não gostava que a fizessem esperar para o jantar. Maria Lucas, que tinha pouca prática da sociedade, estava assustada com as formidáveis descrições da suntuosidade de Lady Catherine e do seu estilo de vida. E a sua apreensão não era menor do que a que seu pai sentira antes da sua apresentação em St. James.

Como o tempo estava bom, o passeio através do parque foi muito agradável. Todos os parques têm as suas belezas e as suas perspectivas. Elizabeth o achou bonito, embora não visse motivos para os êxtases de Mr. Collins. A enumeração que este fez das janelas da fachada da frente e a sua revelação da soma que tudo aquilo custara a Sir Lewis de Bourgh a impressionaram pouco.

Enquanto subiam as escadas para o hall, a emoção de Maria crescia a olhos vistos. E mesmo Sir William não parecia perfeitamente calmo. A coragem de Elizabeth não lhe faltou. Pelo que ouvira falar a respeito de Lady Catherine, não

acreditava que ela impusesse graças a talentos extraordinários ou virtudes miraculosas. E acreditava poder contemplar sem desfalecer a simples pompa do dinheiro e da ostentação social.

Do hall de entrada, cujas belas proporções e ricos ornamentos Mr. Collins fez ressaltar com ar extático, as visitas acompanharam os criados através de uma antecâmara até uma sala onde estavam Lady Catherine, sua filha e Mrs.

Jenkinson. Ao vê-los entrar, Lady Catherine, com grande condescendência, levantou-se para recebê-los. E como Mrs. Collins tinha combinado com o marido que a formalidade das apresentações deveria ficar a cargo da esposa, a cerimônia decorreu corretamente, sem todas aquelas desculpas e agradecimentos que Mr. Collins teria julgado necessários.

Apesar de já ter sido recebido em St. James, Sir William estava tão impressionado que se limitou a fazer profundas reverências e a sentar na sua cadeira sem dizer uma palavra. E sua filha, quase fora de si de medo, sentou na beirada da sua cadeira, sem saber para que lado olhar. Elizabeth não se sentiu absolutamente perturbada e pôde observar serenamente as três damas à sua frente.

Lady Catherine era uma senhora alta, bastante gorda, com traços fortemente marcados, que outrora deveriam ter sido bonitos. O seu ar não era conciliador, nem a sua maneira de receber as visitas era tal que lhes fizesse esquecer a sua inferioridade social. Os seus silêncios não a tornavam formidável, mas tudo o que ela dizia era pronunciado num tom tão autoritário que revelava a sua pretensão; Elizabeth lembrou-se imediatamente da descrição de Mr. Wickham . E achou que Lady Catherine deveria ser exatamente como ele a tinha descrito.

Quando, depois de examinar a mãe, em cujo rosto e gestos percebeu logo uma forte parecença com Mr. Darcy , voltou os olhos para a filha, achou-a tão mirrada que quase lhe escapou dos lábios a mesma exclamação de espanto que Maria tivera. Não havia a menor semelhança entre a mãe e a filha, nem no tipo nem no rosto. Os traços de Miss de Bourgh, embora não fossem desagradáveis, eram insignificantes. Falava muito pouco e só em voz baixa para Mrs. Jenkinson, cuja aparência nada tinha de excepcional e que se ocupava exclusivamente em ouvir o que ela dizia e em colocar um quebra-luz em situação conveniente diante dos olhos da moça.

Depois de ficarem sentados durante alguns minutos, eles se dirigiram até a janela para admirar a vista; Mr. Collins se encarregava de lhes detalhar as belezas enquanto Lady Catherine tinha a bondade de informar a seus convidados que a vista era muito mais bela no verão.

O jantar foi dos melhores. Mr. Collins não tinha exagerado o número de pratos e de criados. Como previra igualmente, ele se sentou na extremidade da mesa, por desejo expresso de Lady Catherine, mas a sua atitude era a de um homem a quem nada de melhor na vida pudesse suceder. Serviu-se, comeu e elogiou tudo

com deliciada alegria; e todos os pratos foram louvados, primeiro por ele, em seguida por Sir William que, agora mais tranquilo, repetia tudo o que o seu genro dizia, como um eco, de tal modo que Elizabeth perguntou a si mesma se Lady Catherine não o acharia cacete. Mas Lady Catherine parecia satisfeita com a admiração excessiva dos seus hóspedes e sorria da maneira mais graciosa, especialmente quando era servido algum prato que eles não conheciam . Os outros conversavam pouco. Elizabeth estava sempre pronta para falar quando encontrava uma ocasião. Estava sentada entre Charlotte e Miss de Bourgh. A primeira seguia com atenção as palavras de Lady Catherine, e a segunda não deu uma palavra durante todo o jantar. Mrs. Jenkinson fiscalizava o apetite de Miss de Bourgh, e se mostrava preocupada porque ela comia tão pouco, insistindo para que provasse dos vários pratos e temerosa de que Miss de Bourgh estivesse indisposta. Maria nunca se atreveria a falar. E os cavalheiros nada mais faziam senão comer e admirar.

Em seguida as senhoras voltaram para a sala. E até a hora do café tiveram que ficar ouvindo Lady Catherine falar. Ela falava sem interrupção, dando a sua opinião sobre cada assunto, com uma segurança que mostrava que não estava habituada a que lhe contestassem as palavras. Fez perguntas a Charlotte a respeito de assuntos domésticos, com familiaridade e minúcia. E deu-lhe muitos conselhos; disse-lhe como tudo deveria ser regulado numa família pequena como a sua e ensinou-lhe a cuidar das vacas e das aves domésticas. Elizabeth verificou que nenhum assunto, por mais humilde que fosse, escapava à atenção de Lady Catherine, contanto que encontrasse neles uma oportunidade para doutrinar. Nos intervalos das recomendações a Mrs. Collins, fazia uma série de perguntas a Maria e Elizabeth, especialmente a esta última, que conhecia menos e que, observou ela para Mrs. Collins, era uma mocinha muito gentil e bonita. Perguntou-lhe várias vezes quantas irmãs tinha, se eram mais moças ou mais velhas do que ela, se era provável que alguma se casasse, se eram bonitas, onde tinham sido educadas, qual era a situação do seu pai e qual o nome de solteira de sua mãe. Elizabeth sentiu toda a impertinência contida nessas perguntas, mas respondeu com grande simplicidade. Lady Catherine então observou:

— A propriedade do seu pai está destinada, pela sucessão, a cair nas mãos de Mr. Collins. Alegro-me por sua causa — continuou ela, virando-se para Charlotte. — Mas não vejo a necessidade de privar a descendência feminina do direito de herdar propriedades. Na família de Sir Lewis de Bourgh, isto não foi julgado necessário. Sabe tocar piano e cantar, Miss Bennet?

— Um pouco.

— Então, um dia destes precisa nos dar este prazer. O nosso instrumento é dos melhores. Provavelmente superior ao... Precisa experimentá-lo qualquer dia. As suas irmãs também sabem tocar e cantar?

— Uma delas sabe.

— Por que as outras também não aprenderam? Deviam todas saber música. As irmãs Webb todas sabem tocar. E o pai delas não tinha tanto rendimento quanto o seu. Sabe desenhar?

— Não, senhora.

— O quê? Nenhuma de vocês?

— Nenhuma.

— Isto é muito curioso. Mas com certeza não tiveram oportunidade. Sua mãe devia ter levado vocês todas as primaveras para a cidade, para tomar lições.

— Minha mãe não faria objeção a isto, mas meu pai detesta Londres.

— A sua governanta foi despedida?

— Nós nunca tivemos governanta.

— Nunca tiveram governantas? Como é isto possível! Educar cinco filhas sem uma governanta! Nunca ouvi tal coisa! Sua mãe deve ter ficado escravizada à educação de vocês!

Elizabeth não pôde deixar de sorrir ao responder que este não fora o caso.

— Então quem ensinou a vocês? Quem se encarregou da sua educação? Sem uma governanta, ela deve ter sido relaxada.

— Em comparação com a de certas famílias, acredito que sim . Mas lá em casa, às meninas que quiseram aprender nunca lhes faltou meios para isto. Sempre nos encorajaram a ler e tivemos todos os professores necessários. Mas às que preferiram não estudar foi-lhes feita a vontade.

— Sem dúvida, mas isto justamente é o que uma governanta teria evitado. Se tivesse conhecido a sua mãe, eu a teria aconselhado com muita insistência a que tomasse uma governanta. Eu sempre digo que não é possível fazer nada em educação sem uma instrução constante e regular, e só uma governanta pode fazer isto. É espantoso o número de famílias para as quais eu arranjei governantas. É sempre com prazer que eu coloco uma moça bem -educada. Graças aos meus cuidados, quatro sobrinhas de Mrs. Jenkinson foram magnificamente colocadas. E outro dia mesmo eu recomendei outra jovem cujo nome ouvi apenas acidentalmente e a família ficou muito satisfeita com ela. Mrs. Collins, eu já lhe contei que Lady Metcalf veio me visitar ontem para me agradecer? Ela acha Miss Pope um tesouro. "Lady Catherine", disse ela, "a senhora me deu um tesouro." Alguma das suas irmãs mais moças já foi apresentada à sociedade, Miss Bennet?

— Sim, minha senhora, todas.

— O quê? Todas cinco de uma vez? É muito estranho. E você é apenas a segunda! As mais moças já frequentam a sociedade antes das mais velhas se casarem! Suas outras irmãs são muito moças?

— A mais moça ainda não fez dezesseis anos. Talvez seja um pouco cedo demais para fazer vida social. Mas realmente, minha senhora, eu acho que seria uma crueldade recusar-lhes a sua parte de distrações e sociedade, só porque a

mais velha não teve os meios ou a inclinação para se casar mais cedo. As mais moças têm os mesmos direitos aos prazeres da mocidade que as mais velhas. E trancá-las em casa, creio que não seria um bom meio de promover a afeição fraternal ou delicadeza de sentimentos.

— Sob minha palavra — disse Lady Catherine —, você dá a sua opinião muito decididamente para uma pessoa de tão pouca idade. Diga-me, quantos anos tem?

— Com três irmãs mais moças já crescidas — replicou Elizabeth —, Vossa Senhoria não pode esperar que eu lhe dê uma resposta.

Lady Catherine pareceu ficar atônita com a resposta e Elizabeth suspeitou que ela tinha sido a primeira pessoa que jamais ousara fazer pouco de uma tão pomposa impertinência.

— Você não pode ter mais de vinte anos, portanto não precisa esconder a sua idade.

— Ainda não fiz 21 anos.

Depois do chá, quando os cavalheiros se reuniram a elas, as mesas de jogo foram colocadas. Lady Catherine, Sir William, Mr. e Mrs. Collins sentaram -se para jogar quadrille. E como Miss de Bourgh preferisse jogar casino, as duas moças e Mrs. Jenkinson tiveram a honra de formar uma segunda mesa com ela. Esta mesa foi extremamente cacete.

Não se ouviu uma sílaba que não se referisse ao jogo, exceto quando Mrs. Jenkinson exprimia os seus receios de que Miss de Bourgh estivesse agasalhada demais ou de menos ou que a luz estivesse deficiente ou em excesso. A outra mesa era muito mais animada. Lady Catherine em geral estava sempre falando, apontando os erros dos três outros, ou contando algum caso a respeito de si mesma. Mr. Collins estava ocupado em concordar com tudo o que Lady Catherine dizia, agradecendo-lhe cada ponto que ganhava e pedindo desculpas se achava que estava ganhando demais. Sir William pouco dizia. Ele estava sondando na sua memória anedotas e nomes nobres que conhecia.

Quando Lady Catherine e sua filha se fartaram de jogar, as mesas foram carregadas, a carruagem foi oferecida a Mrs. Collins, aceita com gratidão e imediatamente chamada. Todos se reuniram em torno da lareira para ouvir Lady Catherine lançar os seus oráculos sobre o tempo que faria no dia seguinte. A chegada da carruagem a interrompeu.

E depois de muitas tiradas de agradecimentos da parte de Mr. Collins e outras tantas reverências de Sir William, partiram . Mal tinham passado a porta, Mr. Collins pediu à sua prima que desse a sua opinião sobre tudo o que tinham visto em Rosings. Para o bem de Charlotte, Elizabeth deu uma resposta mais favorável do que realmente tinha vontade de dar. Os seus louvores, embora lhe custassem algum trabalho, de nenhum modo foram julgados suficientes por Mr. Collins e imediatamente ele se sentiu obrigado a tomar a seu cuidado o elogio de Lady Catherine.

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