[DEGUSTAÇÃO] Codinome Venturi...

By AC_NUNES

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APENAS CAPÍTULOS DEGUSTAÇÃO. E-BOOK COMPLETO NA AMAZON Cheio de crises na vida pessoal, Levi Alencastro se r... More

CODINOME VENTURINI: POR TRÁS DA FAMA
DREAM CAST
PRÓLOGO
1 - EM CRISE
ESTREIA DE CODINOME VENTURINI | AMANHÃ
2 - TRAIÇÃO
4 - DO OUTRO LADO
5 - CODINOME VENTURINI
6 - REENCONTRO COM O ACASO
7 - "ENSINA-ME"
8 - CADA ENCONTRO, UMA DOSE
9 - O OUTRO
10 - CASOS E ACASOS
INTERLÚDIO - ORGULHO E DECEPÇÃO
20 - ENCONTRO DE CASAIS
ROMANCES NOVOS
ÁLBUM DE FOTOS
AGRADECIMENTOS
CURIOSIDADES CODINOME VENTURINI + RECADINHOS
A VERDADE PRECISA SER DITA

3 - DECLÍNIO

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By AC_NUNES



São Paulo, março de 2013, antes da fama

Ana Paula entrou no escritório do marido sem bater. Estava visivelmente eufórica e agitada, parecendo ter corrido uma maratona São Silvestre inteira.

Levi deu um salto em seu lugar. Estava concentrado na frente do computador, terminando de editar algumas sugestões feitas pelo seu orientador de doutorado, quando a esposa entrou daquela maneira.

— Levi, amor! — exclamou, contornando a mesa e se sentando em seu colo. Ele riu um instante, arrastou a cadeira para melhor acomodá-la em suas pernas e a olhou nos olhos. — Tenho boas notícias, eu acho.

— Me diz — incentivou-a, olhos brilhando.

— Minha menstruação está atrasada. Vinte e um dias, amor! Acho que, finalmente, vamos ter um bebê. Isso não é maravilhoso?

O esposo sorriu um pouco, mas não tão animado quanto ela, ou quanto a primeira vez que achou que teriam um filho. Vinham tentando uma gravidez já tinha, pelo menos, um ano. No começo, a ginecologista informou que poderia realmente demorar algum tempo, pois Ana fizera uso de pílulas contraceptivas por mais de dez anos. Ela havia parado com a medicação deveria ter pouco mais de doze meses, as transas eram sempre sem camisinha, e em seu período fértil tentavam transar, ao menos, duas vezes no dia. Até o momento, porém, não haviam encontrado êxito.

A menstruação de Ana atrasava com frequência, mas nada nunca muito exagerado. A última vez tinha sido de dez dias. E em todo atraso, a esposa tinha certeza de uma gravidez. Podia ser cinco dias, mas ela comprava o teste de farmácia. Ansiosa, esperançosa, só para vê-lo dar negativo. Dizia a si mesma para esperar mais uns dias, pois poderia ser cedo demais para o exame apontar um resultado positivo. Contudo, a menstruação sempre vinha dois, três, quatro dias depois.

Embora agora estivessem falando de um atraso de vinte e um dias ainda era cedo para ter esperanças. E, com a experiência do último ano, Levi tinha aprendido a não criar falsas esperanças. Não queria chatear a esposa com seu pessimismo — ou realismo —, mas também não a queria criando grandes expectativas e depois fosse frustrada, de repente. Quanto mais alto, maior a queda, já diria tia Erica.

— Vinte e um dias, uau! — fingiu um entusiasmo. — Mas, olhe, querida, vamos manter os pés no chão. Ainda é cedo pra criarmos expectativa.

— Levi, dessa vez tenho certeza! São três semanas! Nunca atrasou tanto assim, amor. Vou hoje mesmo fazer um exame na clínica. — Antes de o marido ter tempo de respondê-la, Ana o beijou na boca, levantou-se de seu colo e saiu rápida e eufórica, dizendo, alegremente: — Vamos ter um bebê, amor. Vamos ter um bebê.

Suspirando, vendo-a virar na esquina do corredor, Levi fez uma prece para que sim. Para que ela estivesse certa dessa vez.

Ela preparou um jantar especial. Levi chegaria da faculdade em breve. Apesar de muito ansiosa, queria esperá-lo para abrir o exame BetaHCG que fizera no dia anterior e o pegara na clínica naquela tarde. Olhou no relógio enquanto ajeitava a mesa, o jogo americano e a louça de porcelana que ganhara da mãe no dia do seu casamento, sete anos atrás.

A porta se abriu, revelando seu esposo bonito, dentro apenas de um jeans e uma camisa de manga comprida azul-marinho. Ele descarregou a valise no sofá, aproximou-se da esposa e lhe deu um beijo singelo.

— Oi — disse, sorrindo, perto de sua boca.

— Oi. Como foi hoje, com seu orientador?

— Tudo certo. Ele finalmente aceitou o arquivo da minha tese. Agora só preciso ajustar com as normas da ABNT e, dentro de um mês, posso defender minha tese de doutorado. Em breve, senhora Fernandes de Alencastro, terá um doutor dentro de casa — brincou, inclinando-a em seus braços e lhe dando outro beijo.

Ana Paula riu um instante, segurou-se aos braços do marido e, se afastando dos lábios dele, completou:

— Um doutor e papai, também.

Levi a puxou rapidamente, encarando-a com olhos bem abertos e ligeiramente frenéticos.

— Abriu o exame? Deu... positivo?

— Não abri ainda. Estava te esperando chegar para fazermos isso juntos — disse, segurando-o pelas mãos. — Pulamos o jantar ou não?

— Não. Vamos jantar, primeiro.

Concordando com o marido, colocou tudo à mesa, e os dois jantaram juntos, falando cada um do seu dia. Ana era microempresária e tinha uma Boutique em sociedade com Larissa, a prima de Levi; falou das boas vendas e de alguns novos investimentos. Ele discorreu sobre as aulas no ensino médio, reclamando dos adolescentes baderneiros. Ao final, limparam a cozinha e se juntaram na sala, sentados no sofá. Ela segurava o envelope lacrado em mãos, mordendo o lábio inferior com força. Levi a pegou pelas mãos, acariciando-a.

— Ei, se acalma. Vamos abrir o envelope e acabar com o mistério, certo?

Ana assentiu. Com cuidado, rasgou as laterais do envelope. Retirou o exame de lá de dentro, o papel ainda dobrado, escondendo o resultado. Inspirou fundo, olhando para baixo. Levi se aproximou mais, dando-lhe apoio e coragem. Por fim, desdobrou o papel e procurou pelo resultado.

Segurou o choro na mesma hora, levando a mão à boca. Não pôde se conter por muito tempo. Quando percebeu, estava chorando quase de forma desesperada nos ombros do marido. Levi lera o resultado junto com ela.

Negativo.

De novo.

— Ana... — não sabia o que dizer para confortá-la.

— O que há de errado conosco, amor? — choramingou, o rosto escondido no pescoço dele. — O que tem de errado comigo que não consigo engravidar, Levi?

— Eu não sei, querida. Mas vamos descobrir, tudo bem? — disse, tentando acalmá-la. — Vamos falar com a ginecologista. Isso deixou de ser normal há muito tempo — divagou, mais para si, enquanto a esposa continuava em seus braços, quase inconsolável.


O casal procurou por ajuda especializada. Na mesma semana, marcaram uma consulta com a ginecologista e explicaram a dificuldade por qual estavam passando. A médica pediu alguns exames para Ana Paula e, em paralelo, também pediu a Levi para procurar o urologista da clínica e fazer alguns exames necessários.

— A causa de infertilidade pode vir de um de vocês ou de ambos — disse a doutora, na ocasião — e não é aconselhável focarmos em apenas um de vocês, mas nos dois.

Agora, quase dois meses depois, com todos os exames prontos, estavam novamente junto da ginecologista e do urologista, prontos a receberem o resultado. Levi tinha feito algumas pesquisas em casa, escondido da esposa, e tinha esperanças de ser algum problema hormonal, e não algo mais sério. Doutora Padilha abriu os exames de Ana, enquanto doutor Jair, o de Levi.

Examinaram por alguns segundos, atentos, em silêncio. Ana apertou a mão do esposo, tensa, nervosa, ansiosa pelo resultado. Rezava para ser algo simples, que pudessem resolver logo e ter o bebê que planejavam desde a formatura da faculdade.

Ana e Levi se conheceram ainda no colégio. Ela, como mais velha em um ano, era a veterana do terceiro ano quando o rapaz foi transferido de outra escola, indo estudar em uma sala ao lado. De começo, não se davam muito bem, ele a achava muito esnobe e metida, e ela não suportava vê-lo sempre rodeada de meninas, sendo paparicado pelos professores e sendo sempre considerado um aluno exemplar.

A moça se formou primeiro, entrou na faculdade e, por dois anos inteiros, não o viu mais. Até se reencontrarem em um barzinho perto da universidade. Conversaram, descobriu que ele cursava Letras na USP. Estava ligeiramente mais bonito e maduro, as meninas ainda o rodeavam, mas isso não a incomodava mais. Trocaram telefones e se reaproximaram aos poucos. Meses depois, namoravam. Em fevereiro, pouco depois de Levi completar 21 anos, se casaram.

Durante os primeiros sete anos de casados, fizeram a vida. Trabalharam, economizaram, pouparam, compraram o primeiro apartamento, o primeiro carro, estudaram — Levi fez pós-graduação, mestrado e, no ano de 2012, defendia seu doutorado —, Ana Paula investiu no próprio negócio — uma boutique, em sociedade com Larissa Alencastro —, para só então pensarem em ter filhos. Havia uma quantia considerável guardada em uma poupança; quantia essa para o planejamento do bebê. Um ano atrás, quando ela tinha 30, e ele 29, com a vida financeira e profissional estabilizada, decidiram finalmente realizar o sonho de ter um filho. Desde então, vinham tentando a gravidez.

E queriam isso, mais do que tudo. Ana Paula principalmente. Era quem mais queria. Por esse motivo, interiormente rezava para os resultados apontarem para um problema fácil de ser resolvido.

— Bem — disse a médica, trazendo-a de volta ao mundo real. Soltou as mãos do marido para se inclinar e ouvir o que tinham a lhe dizer. — Os exames de Ana Paula estão tudo ok. Aparentemente, o problema não é com você — constatou, olhando-a.

— Então sou eu — concluiu Levi, a voz baixa. — É só um problema hormonal, não é?

Urologista e ginecologista trocaram um olhar.

— É um pouco mais... complicado do que isso, senhor Alencastro — Jair disse com cuidado. — Seu espermograma apontou... uma azooespermia.

Ana Paula olhou para o marido, praticamente estático no seu lugar. O termo era grego para os dois. Não conseguiam identificar se aquilo era ruim ou muito ruim.

— Certo — foi só o que conseguiu dizer segundos depois, ainda digerindo a informação. — E isso tem tratamento, não tem? É muito complicado... É...? — pausa. Levi estava visivelmente perdido.

— Calma, Levi. — pediu o urologista. — Existem dois tipos de azooespermia. A obstrutiva; significa que tem algo impedindo que os espermatozoides façam o caminho deles. E a não-obstrutiva, e significa que você não produz espermatozoides. A causa pra azooespermia pode ser congênita ou adquirida. De qualquer maneira, pra determinarmos exatamente o problema, precisamos de uma biopsia testicular.

Levi meneou a cabeça em positivo, quase como um gesto mecânico. Ana Paula não o olhava mais. Mirava para baixo agora, para as próprias mãos entrelaçadas.

Depois de um segundo de silêncio, o doutor explicou como seria o procedimento da biopsia: ele seria sedado e teria uma pequena incisão feita nos testículos, a alta seria no mesmo dia, de meia hora a uma hora depois do procedimento; repouso após o método era o mais aconselhável. Levi tentou manter as esperanças. Havia uma chance de ser algo facilmente resolvido. Caso fosse uma azooespermia obstrutiva, uma intervenção cirúrgica poderia ser feita para reverter fosse lá o que estivesse obstruindo o canal de saída dos espermatozoides. Ou, se isso não pudesse ser feito, tinham a opção da inseminação in vitro. Seria um procedimento caro, mas gastaria cada centavo se fosse preciso pra realizar o sonho que tinha junto da esposa.

Ana e Levi tentaram se manter positivos nos dias seguintes, enquanto ele se preparava para o procedimento. Precisavam se manter confiantes. A semana seguinte à biopsia passou com relativa demora. A ansiedade pelo resultado parecia fazer o tempo passar mais devagar do que o usual. Principalmente para ele, que estava muito mais ansioso e, ainda por cima, teve de se afastar alguns dias da sua rotina para o repouso depois da biopsia.

Cinco dias após o procedimento, recebeu o telefonema da secretária de Jair, informando que o urologista já tinha o resultado em mãos. Levi poderia ir imediatamente à clínica. Ligou para Ana, avisou-a e passou na Boutique para irem juntos à clínica.

Antes de o médico lhes contar o resultado, porém, pediu uma consulta particular com Levi. Ana relutou, mas acatou e esperou na recepção. No consultório, Jair fez algumas perguntas ao paciente, sempre anotando as respostas em seu prontuário. Só depois, a mulher pôde entrar no escritório do médico.

— E então, doutor Jair? Os resultados são... bons? — a esposa perguntou, com a voz carregada.

Ele ajeitou os óculos no rosto antes de prosseguir.

— Infelizmente, não.

Levi apertou os olhos com os dedos. Era a resposta que mais temia. Ana Paula cruzou os braços, segurando o choro.

— Levi — o médico se dirigiu ao paciente —, sua azooespermia é não-obstrutiva. Você não... produz espermatozoides. Pelo seu histórico, o mais provável é ser um problema congênito.

Os olhos da esposa encheram-se de lágrimas. O coração dele se apertou de um jeito insano, em uma dor que nunca pensou sentir. Seus planos tinham sido frustrados de uma maneira abrupta, dolorosa e incompreensível. Sonharam tanto, tão alto, e queda agora era enorme.

— Há... tratamento? — ele perguntou, a voz rouca e apenas um fiapo.

O médico suspirou.

— Não. Mas há a opção de uma microdissecção testicular. Sabemos que cinquenta por cento dos casos de azooespermia não-obstrutiva, o homem produz uma quantidade mínima de espermatozoide pode ser coletado para a inseminação in vitro ou a busca de um tratamento adequado para aumentarmos os gametas. Esse procedimento, chamado de micro-TESE, é mais agressivo do que a biopsia convencional, mas tem uma boa taxa de resultados. Esse teste recupera cerca de 1/3 dos casos onde a biopsia convencional, a que você fez previamente e chamamos de TESE, falhou.

— Então eu... — Levi arfou, antes de continuar — ainda tenho uma chance de 30% mais ou menos de ter um filho?

— Sim. Impossível do jeito convencional. Mas sim, Levi. Você ainda tem uma chance.

Ao olhar para a esposa, esperava ver nela a mesma esperança, mas só viu um par de olhos opacos, uma faceta entristecida e abatida. Depois de tantas tentativas frustradas, era natural Ana estar desiludida e sem esperanças com qualquer tratamento ou possibilidade de ter um bebê.

— Obrigada pelos esclarecimentos, doutor — disse a mulher de repente, se levantando. Tinha uma força na voz que não combinava com o rosto desolado. — Vamos pensar nessa possibilidade mínima. — Dito isso, virou-se e saiu rapidamente, deixando o esposo para trás.

Jair deu um sorrisinho encorajador a Levi, despediram-se com um aperto de mão, e ele logo correu atrás da esposa, a essas alturas, já o esperando pelo lado de fora do carro, o rosto molhado.

— Ana... — Antes de terminar de dizer, ela se jogou em seus braços e chorou com toda sua força.

— Estou despedaçada, Levi... — soluçou, apertando-o forte. — Estou despedaçada. Despedaçada!

Acariciou-a nos cabelos, tentando manter o controle de suas emoções. Estava tão ou mais desolado.


Aos meses seguintes depois da terrível notícia de que não poderiam gerar um filho, Levi fez mais exames para descobrir a causa exata de sua azooespermia. O problema era de nascença, e se um dia achou que não poderia ficar ainda mais ressentido com os pais, estava enganado. Não bastou abandoná-lo quando criança, tiveram mesmo de lhe deixar um problema congênito como aquele?

Ana Paula se afastara um pouco depois disso tudo. Nas primeiras semanas estava aborrecida, quieta e mal-humorada. Levi compreendeu a situação e, apesar de sempre tentar animá-la de alguma forma, respeitava seu espaço e sua necessidade de se sentir triste. Embora a distância da mulher o machucasse — poxa! Também estava sofrendo e queria o apoio e o consolo da esposa, queria que um fosse o alicerce do outro nesse momento, o que não estava de fato acontecendo — deixou-a em paz e por muitas semanas não tocou mais no assunto de tentarem a micro-TESE. Deixaria a poeira abaixar, esperaria Ana estar mais bem-humorada e ter digerido todos os últimos acontecimentos para poder conversar sobre fazerem mais essa tentativa.

Era uma chance pequena, mas ainda assim, era uma chance. E precisava apostar todas as fichas. Um filho completaria sua felicidade, a felicidade da esposa. Só desistiria de tentar se lhe garantissem que suas chances eram zeras.

Dois ou três meses depois de saberem sobre sua infertilidade, com Ana Paula ainda ligeiramente estranha e distante, Levi voltou pra casa em uma tarde de sábado, carregando debaixo dos braços um filhote de gato. Era completamente preto, olhos verdes e um laço vermelho no pescoço.

Adentrou o apartamento, procurando pela esposa — estava na cozinha, perto da pia, olhando pela janela, com uma xícara de café nas mãos. Usava apenas uma camisa longa, até um pouco abaixo da bunda, de magas cumpridas o suficiente para lhe cobrir os dedos em torno da caneca. Um traje que denunciava que estivera deitada havia pouco tempo. Virou-se para o marido ao notar sua presença. Reparou que ele estava estranhamente feliz, um sorriso no rosto que, imaginou, não deveria estar ali. Não depois de tudo, não quando ainda não tinha digerido todas as informações, não quando ainda não tinha aceitado que não podiam ter um filho. Como então o marido poderia estar, aparentemente, feliz?

— Ei... — ele murmurou, parado à porta. Estava sempre tentando animá-la, sempre tentando retornar à sua vida antes de tudo. Antes eram um casal perfeito, unido e que se amavam. Aos poucos, a relação e o casamento pareciam mudar, porque a esposa estava permitindo isso. Mas ele seguia tentando. Tinha as esperanças de, uma hora ou outra , a mulher deixar sua tristeza de lado, colocar um sorriso na cara e, positiva como sempre, lhe dizer que micro-TESE poderia funcionar. — Trouxe algo pra nós. — E acariciou as orelhas do gato.

Ana Paula o analisou com atenção, avaliando-o dos pés à cabeça com uma expressão sisuda e confusa.

— O que é isso?

Levi ainda acariciava o gatuno quando a respondeu, com um sorrisinho:

— É um gatinho, pra cuidarmos e darmos carinho. Quer escolher o nome?

A esposa o encarou com uma nítida fúria nos olhos. A xícara em suas mãos foi deixada com brutalidade sobre a pia, fazendo um barulho estrepitoso e irritante. Levi se assustou com a reação da esposa.

— Está tentando compensar o fato de não poder me dar um filho com a droga de um gato? Quer mesmo substituir uma criança por um maldito gato, Levi Alencastro? — gritou essa última parte, quase fora de si.

O marido pestanejou, confuso com tal reação.

— Não! — disse, um segundo depois, alarmado. — É só um animalzinho, Ana. Nós dois estamos tensos demais, com as emoções à flor da pele. Precisamos de uma distração, de algo para amenizar nossa aflição até...

— Sabe o que vai me deixar calma? — cuspiu de volta, dando um passo à frente. Atrás dela, um fio de fumaça de seu café escaldante subia para a atmosfera. — Um filho! Eu quero um filho! Algo que você não pode me dar!

Levi pôs o gatinho no chão, que correu acuado para algum outro canto do apartamento. Respirou fundo e se aproximou da companheira, de braços cruzados diante do peito.

— Por que direciona toda essa raiva em mim, como se eu realmente tivesse culpa? — perguntou, magoado. — Eu queria um filho tanto quanto você.

Ana Paula não respondeu. Voltou ao seu café, segurou a xícara com força e ficou olhando para o lado de fora.

— Amor, olha... você sabe. Temos uma chance e...

— Não! — ela o cortou, ríspida e com rapidez. — Sabe muito bem que a micro-TESE pode dar em nada como na primeira biopsia. Estou cansada de ter esperanças e depois ser frustrada.

— Ouviu o doutor. As chances são mais de trinta por cento! Precisamos arriscar tudo o que pudermos.

— E torrarmos todas as nossas economias de anos com tentativas que podem resultar em nada? Já não gastamos o bastante com todos os exames e consultas na ginecologista e no urologista, Levi?

— Não me preocupo com o dinheiro — rebateu, com um suspiro.

— Mas eu me preocupo! Sabe como gosto de controlar nossos gastos e economias, de ter planejamento sobre tudo o que vamos fazer. Por sete anos, Levi! Sete anos nós economizamos para ter um bebê. Esse dinheiro que está sugerindo gastar com o tratamento seria para nosso filho. Para roupas, remédios, médicos, brinquedos e, no futuro, para uma educação de qualidade para ele.

Levi desviou o olhar, tentando não bufar. Quando irritado, tinha um temperamento explosivo e, a última coisa que queria no momento, era gritar com a esposa, em uma situação onde estava fragilizada. Mas era inegável que seu jeito controlador e seus planejamentos a longo prazo às vezes eram exagerados e irritantes. Nem sempre dava para planejar. Nem sempre era possível ter controle da situação. Muitas vezes, era preciso arriscar, sair da zona de conforto, afundar de cabeça.

Estava preparado e disposto a isso. A esposa, nem tanto.

— Ana, isso é o de menos! Seja flexível, pelo amor de Deus. Sei que o tratamento será caro, vamos precisar de uma inseminação in vitro, algo ainda mais elevado, mas vai valer a pena, amor!

Ana bebeu o resto do café e pôs a xícara na pia.

— Sabe que cada procedimento de inseminação in vitro pode custar uns 15 mil reais, não sabe, Levi? Mesmo se a micro-TESE encontrar um ou outro espermatozoide, nada garante que serão fortes o suficiente para fecundar meu óvulo! E você bem sabe, não temos dinheiro pra fazermos mais do que duas tentativas. Não posso ser flexível quando estou sendo racional.

— Dinheiro a gente recupera! — A voz começava a se elevar, e a paciência de Levi, a se esgotar. — Ou... se quiser, nós economizamos mais um pouco, esperamos por mais um tempo até fazermos a inseminação e...

— Chega! — ela gritou. — Já estou na casa dos trinta, Levi! Quanto tempo mais quer que eu espere? Quando estiver velha e infértil, como você?

Aquilo o tocou no fundo da alma, doeu de um jeito tão intenso e imenso como nunca nada o feriu em toda uma vida. Nem o abandono dos pais podia ser comparado àquelas palavras, que Ana parecia fazer questão de jogar em sua cara, e o machucavam sobremaneira.

— Já está decidido. Não vamos tentar nada. Vou me acostumar ao fato de que me casei com um homem incapaz de me dar um filho. — Dizendo isso, passou pelo marido e se trancou no quarto, onde chorou por quase toda a noite.



Levi chegou em casa, e Bukowski veio logo ao seu encontro, passando por entre suas pernas e miando repetidamente, como se pedindo por alguma coisa. Ele foi até o cantinho do animal e conferiu água e comida. Fome. Era fome o problema do gato. Suspirou, pensando que, se dependesse de Ana Paula, o bichano morreria de sede e de fome. E antes fosse apenas distração. Era falta de interesse, mesmo.

Caminhou até a cozinha, revirou os armários e retirou uma embalagem pequena de ração, dispondo no recipiente apropriado. Bukowski sentou-se nas patas traseiras e passou a comer, enquanto o dono retirava o blazer e afrouxava a camisa fechada até o pescoço que começava a sufocá-lo.

Pôs água e pó na cafeteira. Encostou-se à pia e ficou ali, esperando seu café ficar pronto. A campainha tocou, o tirando de sua meditação. Olhou no relógio. Segunda de tarde, perto das seis horas. Segunda quinzena de outubro. Quase seis meses desde que souberam sobre sua infertilidade — ou esterilidade. Ele ainda não tinha certeza. Dispersou os pensamentos.

A campainha tocou de novo, e só então resolveu atender a porta. Já sabia quem era. Poucas pessoas podiam subir até ali sem ser anunciada. Do outro lado, segurando o filho pequeno num dos braços, uma mochilinha do Homem Aranha no ombro direito, e carregando uma forma — desajeitadamente, é verdade — na mão esquerda, estava Larissa Alencastro, que adentrou a passos rápidos, quase o atropelando, jogando a forma em suas mãos e dizendo:

— Segura isso, Levi, porque o Felipe está um peso!

Levi fechou a porta. Apoiou a forma — era um bolo — sobre a mesa de centro. Observou a prima colocar o garotinho com menos de um ano sentado no sofá e desamassar sua roupa, enquanto falava e conversava com ele. Desviou o olhar um minuto, tentando não se sentir atingido pela cena. Desde tudo, estava mais propenso a esse sentimentalismo besta. Sentia-se mal, e até um pouco de inveja, quando via alguém com um filho nos braços.

— O que está fazendo aqui? — perguntou, soando meio mal-educado. Larissa lhe lançou um olhar de advertência. — Desculpe.

— Ana me pediu pra vir aqui e te convencer a jantar lá em casa. Ela me disse que tinha algo pra fazer depois de sair da boutique e não ia poder voltar já e fazer o seu jantar.

Levi segurou uma risada. Ana Paula nunca foi realmente o tipo de esposa que se importava em deixar o jantar pronto. Não seria agora a se importar. Mas a conhecia o suficiente pra saber que, quando tinha essas crises de preocupação, era porque tinha feito alguma coisa capaz de irritá-lo. Quando como uma vez ela bateu o carro dentro da garagem, ao engatar a ré, mas entrou a primeira, e amassou toda a parte da frente. Por uma semana inteira Ana o agradou com paparicos. Que diabos teria feito agora?

— Sou adulto e sei cozinhar. Posso me virar. Mas obrigado pela preocupação — respondeu, contudo. A última coisa que queria era jantar na casa de Larissa, estar em volta da mesa junto com sua família feliz e perfeita. Não quando a sua parecia a um triz de desabar.

— Pare com isso, Levi. Faz tempo que não vai em casa. Vamos lá. Hoje tem futebol na tevê, você e Gabriel podem até assistir a partida tomando uma cerveja.

— Não. Prefiro ficar e esperar pela Ana. Aliás, ela disse se vai demorar?

— Disse que deve chegar até umas dez da noite.

Levi mordeu os lábios, tentando entender o que Ana estaria fazendo. Era certo que os dois estavam mais distantes um do outro desde final de abril, quando eles (ou melhor ela) decidiram por não tentarem a micro-TESE e, consequentemente, a inseminação in vitro. Ana passou as primeiras semanas chorando muito, tendo de tomar remédio para dormir. Depois, pareceu bem de novo, mas podia senti-la diferente. Não se animava tanto mais para os programas a dois, o sexo, antes constante, tinha se resumido para duas, no máximo três, vezes na semana. O humor vacilava demais, também. Num dia aparentava estar bem. Ria, sorria, conversava, o procurava para o sexo, fazia planos para a boutique, falava de comprar um apartamento maior, trocar o carro, fazer outra graduação. No dia seguinte, estava amargurada, entristecida, chorando pelos cantos, irritada, mau humor. E então, ao amanhecer, se aconchegava em seus braços, dizia que estava tudo bem não terem um bebê, que estaria ali para ele como ele estava para ela, pedia perdão pelas suas oscilações, dizia o amar e iam superar isso juntos. Ana tinha mudado da água para o vinho.

— Sabe o que eu acho? — Larissa opinou, retirando um brinquedo de dentro da mochila do filho e lhe entregando. Colocou-o sentado no carpete da sala, mais seguro do que o sofá. — Você e Ana deveriam ter um bebê. Já está passando da hora.

Levi perdeu a compostura só por um segundo. A prima não percebeu a leve mudança em seu comportamento, estava tagarelando sobre como um filho pode mudar nossas vidas, enquanto pegava a forma de bolo. Foi até a cozinha sem parar de falar sobre as maravilhas da maternidade e da paternidade, voltou com faca, garfos e pratos.

— Vocês já estão com a vida estabilizada, podem planejar um filho — continuou, agora cortando os pedaços de bolo e os distribuindo nos pratos. Antes de ir buscar Felipe na escolinha, tinha feito a guloseima em casa, já na intenção de vir à casa do primo. — Eu sei que não deveria estar me intrometendo assim, na vida conjugal de vocês, mas, de verdade, Levi... poderi...

Ela não conseguiu terminar de falar. O telefone perto da estante tocou.

— Vai comer, eu atendo — disse, já retirando o telefone do gancho. — Alô? — Silêncio. Levi sentou-se e deu uma garfada no bolo de chocolate, meio desanimado, e olhou para o priminho, quieto e brincando no chão. O peito doeu. — Larissa. Sou prima do esposo dela. — Levi desviou o olhar do menino para a mãe, curioso com a conversa. Quem era?

Larissa arregalou os olhos, um enorme sorriso brotou em seus lábios e iluminou todo seu rosto.

— Claro! — exclamou. — Pode deixar. Eu aviso ela. Obrigada. — Colocou de volta o telefone no gancho.

— O que foi? — Levi indagou, inclinando a cabeça.

Larissa abriu um sorrisinho.

— Era do laboratório médico. Por que não me contou, Levi?! O exame de gravidez dela já está pronto, mas ainda não foi buscar!

Levi deu um grande salto do sofá no momento dessas palavras, assustado com a informação. Ao mesmo tempo, Larissa veio ao seu encontro e o abraçou com força, desejando que o teste desse positivo, pois eles precisavam e mereciam isso. Por um segundo, pensou que o mundo tinha acabado ou estava vivendo em um sonho — sonho, não; pesadelo — e que fosse acordar a qualquer minuto.

Não... não aquilo não poderia ser verdade. Não poderia ser possível. Por que Ana faria isso com ele?

Um sentimento estranho cresceu dentro dele. Era dor, tristeza, mágoa, raiva. Era algo simplesmente indescritível. Mas era grande, forte e negativo. Algo que lhe causava uma dor maior do que poderia suportar.

— Levi, Levi! — A prima seguia dizendo, ainda o abraçando. — Estou torcendo tanto por vocês. Se Ana estiver mesmo grávida quero ajudar no enxoval e...

Levi a empurrou com força, assustando-a não só com sua agressão, mas com o grito esganiçado e doloroso vindo de sua garganta:

— Não seja estúpida! Esse filho não é meu! Eu sou estéril!

Larissa petrificou-se em seu lugar, o olhar assustado, a face horrorizada. Levou a mão à boca, e até demorou a notar Felipe chorando de susto por causa do grito de Levi.

— Sou estéril — repetiu, agora com um sussurro, deixando as lágrimas descerem pelo rosto. — Descobrimos há um tempo, porque Ana não conseguia... não conseguia... — Desabou de volta no sofá, chorando com força.

A prima correu até ele o envolveu em seus braços, enquanto Levi se desmanchava em lágrimas.

Ele já estava mais calmo. E perdido. No sofá, jogado, sozinho, com uma lata de cerveja nas mãos, esperava pela esposa. Talvez ex-esposa, muito em breve. Larissa já tinha ido embora, apenas depois de se certificar de que o primo estava apto a ficar sozinho no apartamento. Teve medo de deixá-lo ali, medo de os dois discutirem e ele fazer bobagem. Uma pessoa com a cabeça quente sempre está propensa a cometer algum erro terrível. Ainda mais quando o assunto é tão delicado quanto uma traição. Levi garantiu que não aconteceria nada e manteria o controle e se, por acaso, não conseguisse se controlar, sairia e dormiria fora.

Antes de ir, porém, Levi a fez jurar que não ia comentar nada com ninguém. Nem sobre sua infertilidade nem sobre a traição de Ana Paula. Compadecida, ela o beijou no rosto e concordou não dizer nada. Garantiu que ele teria um lugar pra ir se precisasse — sua casa sempre estaria de portas abertas, e então se foi com o pequeno Felipe.

A porta de entrada se abriu. Dez e meia da noite. Levi estava bebendo no escuro, mas ficou imóvel e quase prendendo a respiração quando a ouviu chegar. Seu coração parecia bater com mais força, bombeando não sangue, mas raiva, em suas veias. Ela nunca fora de chegar tarde em casa. Hoje resolvera ter esse atraso. E o marido já sabia o porquê.

Pé por pé, o mais quieta possível, Ana Paula estava se dirigindo para o quarto quando Levi disse, assustando-a:

— Onde você estava até esse horário?

Ana levou a mão no coração, sentindo-o bater mais rápido. A luz se acendeu de repente, e o marido já estava em pé, os olhos vermelhos. Choro e leve embriaguez.

— Levi, que susto! — exclamou.

— Onde. Você. Estava? — perguntou, fazendo pausas. Maxilar trincado, punhos cerrados ao último.

— Eu... — começou, mas o esposo a interrompeu:

— Me deixa adivinhar. Trepando com seu amante?

O sangue pareceu ter drenado do seu rosto no mesmo instante. Empalideceu e deu meio passo atrás. Mão no coração.

— De onde...?

Não minta mais pra mim, porra! Já sei de tudo! Já sei... já sei... — A comoção o tomou de novo, caiu de joelhos na sala, e dessa vez não teve a prima para ampará-lo. — Como pôde, Ana, como pôde? Eu não sei o que dói mais. Ter me traído, depois de tudo, ou ... ou estar grávida! Grávida de outro homem. Tudo que eu não podia te dar... você...

Seu corpo foi tomado por espasmos, e Levi caiu em um choro copioso, doloroso e alto. A esposa não se atreveu a se aproximar, nem a dizer qualquer palavra, embora quisesse muito perguntar como descobrira. Esperou-o se acalmar. Coisa que demorou a acontecer. Ana já sabia da gravidez. Antes do exame laboratorial, tinha feito um exame de farmácia. O resultado positivo a desesperou e, na esperança de ser um falso positivo, fez o BETA. Ansiosa demais pelo resultado do laboratório, fez mais três testes de farmácia, de marcas diferentes. Todos positivos. Isso tinha exatos dois dias.

— Eu abortei — revelou, voz trêmula.

Levi se ergueu do chão, encarou-a.

— O quê? — murmurou. Zonzo da bebida e da raiva.

— Fiz um aborto — repetiu. Silêncio. Olhos nos olhos. Levi a encarava com um misto de confusão e ódio. — Um filho era o que mais queria, mas um filho seu, não o fruto de um erro, um erro cometido num momento de dor e desespero e...

— Cale a boca — ele a interrompeu, baixo. Estava surpreso com a própria calma.

Ana calou-se, mas em sua mente remoía todas as explicações.

— Levi... — tentou de novo.

— Não... — murmurou, movendo a cabeça. — Não diz nada.

Saiu andando até o quarto deles. Ana o seguiu.

— Me deixe te explicar... — Mas o marido a ignorava.

Abriu o guarda-roupa, pegou uma mochila.

— Levi, o que está fazendo? — perguntou.

— Preciso... de um tempo sozinho. Vou ficar na casa da tia Erica.

— Amor...

Ele explodiu:

Não me chame de amor, Ana! Não quando dormiu com outro homem! Que amor é esse; me fala? Você me ama, mas fode outro?

Na defensiva, Ana não respondeu. Chorava timidamente, braços cruzados na frente do corpo.

— Não me chame de amor quando veio de outra cama! — Baixou novamente o tom de voz. Levi arquejava, o peito doía, garganta arranhada. Voltou-se para o guarda-roupa e pegou mais algumas peças.

— Não, Levi — contestou Ana. — Aconteceu só uma vez. Eu estava... estava no... procedimento. Estava tirando... — Pausa. Choro. — Me desculpe.

Levi jogou a mochila nas costas. Abaixou a cabeça um instante, diante dela. Não conseguiu proferir nada. Apenas passou por ela e partiu, batendo a porta com força.

Com a força de alguém profundamente magoado. 



Olá,amores! Primeiro de tudo, muito obrigada pelos 3K de views de Codinome Venturini! <3 

Agora quero que me contem tudo sobre o que acharam do capítulo de hoje. Olha, teve gente nos comentários no prólogo e capítulo um que acertou sobre o motivo da decadência no casamento de Levi. Ora, ora, temos uns xerolque homes aqui ahhahahaha.

Levi se quiser pode vir aqui em casa, eu consolo ele uehue

Preparem as calcinas para o próximo capítulo, xoxonhas. 

Até domingo. :* 

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