Provocando Amor - Série Endzo...

Por MariaFernandaRibeir2

223K 27.1K 6K

A vida de Peter é uma montanha-russa. Desde que engravidou a tia mais jovem do melhor amigo, as oscilações na... Más

Prólogo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
Epílogo

13

7.7K 965 283
Por MariaFernandaRibeir2

Noelle

O retorno para casa não foi como pensei semanas atrás. Nada como a viagem tranquila e musical que imaginei. Meu rádio pifou ainda no sítio e eis uma coisa que não sei consertar. O Peter já havia saído, então sem chances de uma ajudinha. No meio da interestadual, a caminho de Lincoln, parei para comer e quem encontrei lá?

— Graças a Deus. Oi Gwen. Você precisa dar uma olhada no meu rádio. — digo ao alemão.

— O papai não sabe consertar rádios... — a Gwen começou, mas parou ao olhar para o pai.

— Eu posso tentar. Deixa só acabarmos o lanche aqui.

Aproveito para pedir o meu lanche, mas ele acaba antes que fique pronto, então sento sozinha enquanto observo ele apontar partes do carro explicando para a menina. Ela parece interessada, mas finjo desinteresse quando os dois rabinhos estão balançando ao meu lado, as mãozinhas sujas.

— O papai fala seu nome enquanto dorme, tia.

Um pedaço de fruta fica preso na minha garganta ao ouvir isso. Bebo toda a água do copo para desentalar minhas vias respiratórias, mas não tenho tempo de limpar as lágrimas quando ele volta, vê minha cara e suspira.

— Gwyneth, você não pode falar o que pensa das pessoas, tudo bem? Além do mais, a Noelle é linda.

Ele me acha linda?

— Eu não falei que ela é feia, papai. Ela não é, só tem essa cor estranha de cabelo, mas acho legal. Falei que você fala o nome dela enquanto dorme, só isso. — sorri orgulhosa de si mesma.

— Isso é muito, muito pior. — murmura e levanta — Era um mau-contato. Só apertar o cabo. Vamos, Schatz.

O nível de vermelhidão do rosto dele me faz levantar, arrastando a cadeira e chamando atenção de todo o local. Me asseguro de manter a voz baixa ao dizer.

— Não é culpa dela. Não faça nada com ela.

Ele inclina a cabeça.

— Eu não faria. Só estamos indo para casa, estamos atrasados. — ah — Você pode soltar o copo agora, não é como se acertar minha cabeça fosse muito agradável. — continua falando no mesmo tom tranquilo com que falava com a filha.

— Oui. Quero dizer, sim. — largo um copo que peguei sem ver e o dono resmunga que sou doida.

Só respiro fundo e saio do local, recebendo um olhar do gerente atrás do balcão que significa que este é o vigésimo lugar onde estou banida, e nem quebrei nada. Sentada atrás do volante e imersa em culpa, me assusto quando alguém bate na janela. Abaixo ao ver as roupas pretas daquele homem que ri na cara do calor.

— Se você precisar de alguma coisa, uma carona para algum lugar para gritar ou para o terapeuta, é só me ligar. Sou o único dos que você conhece que ainda mora em Lincoln.

— Eu não tenho seu número, Peter.

— Pedirei para algum dos seus amigos mandar. Ei, você é muito forte por conseguir vencer essas batalhas, não deixe a única vez que a luta te venceu parecer o que te define.

Ligo o carro sem responder, mas não saio enquanto ele não entra no carro. Quando chego em casa, minha mãe me intercepta na saída para a piscina, e me convida para o jantar. Não recuso porque estou faminta, e fico feliz ao ver que não há filhos de clientes deles ali.

— Como foi a viagem, filha? — meu pai pergunta.

— Boa. Rever meus amigos foi bom. Eu também conheci alguém.

Resolvo contar de uma vez, mesmo não tendo nada com aquele cara, porque isso previne explicações sobre ele se eu realmente for ligar alguma vez, ou se eu encontrar com ele em algum lugar e a honestidade dele me colocar em uma situação... delicada.

— Alguém? — minha mãe ergue uma sobrancelha escura.

Eu e ela, e eles, não poderíamos ser mais diferentes fisicamente. Compensamos isso estando no mesmo patamar de honestidade e amor emocionalmente. No fim das contas, a aparência é o que menos importa.

— Alguém. Ele é alemão. — digo, esperando uma reação deles. — É uns dois anos mais velho também.

— Filha, isso deveria ser os defeitos? Porque, por nós, não importa se ele é marciano, desde que te respeite. O que aconteceu com a nossa família nunca fará que julguemos um povo, e a idade não importa, você já é adulta, sabe o que fazer e com quem.

— Eu não sei como me sentir sobre ele, e esperava que vocês pudessem me ajudar a entender isso. — Respiro fundo. — Ele também tem uma filha. Isso também não é um defeito.

Nada é ouvido por muitos segundos, até a minha mãe tocar minha mão e dizer:

— Não é mesmo um defeito. Só que esta é uma coisa que você precisa decidir sozinha; quer uma criança na sua vida agora?

— Mas você não precisará agir como mãe dela se não quiser, cher, sei que isso te apavora. — o meu pai também aconselha.

— A última coisa é que eu não conheço ele. Já foi até preso, mas parece inocente, só que, e se não for? — Isso é o que mais me aterroriza sobre ele.

A minha doença me fez ser mais recatada por que posso aparentar algo que não sou às vezes, e sabendo como isso é prejudicial, não quero mais ninguém assim na minha vida.

— Conheça ele. Chame-o para sair. Você vai ficar na dúvida até conhecê-lo, e este é o tipo de dúvida que incomoda. — minha mãe aconselha.

— Depois eu ligo. Você não precisa de ajuda no restaurante?

Ela é herdeira de uma rede de restaurantes com comida saudável, e gerencia tudo por aqui para os pais, que moram na França ainda. Nem quando eu queria comer algo diferente podia comer besteira, porque sempre tinha o restaurante da mamãe.

— Na verdade, sim. Eu estava indo para lá agora para procurar uma atendente, desde que a Nala se demitiu sou eu quem atendo e gerencio. Você pode trabalhar à tarde? O salário é o mesmo de antes, mas é um acréscimo para a poupança da faculdade.

— Que eu não vou usar quase nada, — acrescento — porque não fui aceita em quase nenhuma.

— Não fica assim, filha. Dê o seu melhor nesta que você conseguiu entrar e você será aceita na que quer. O segredo é ser a melhor Noelle nos estudos e para a comunidade, e eles verão o seu potencial.

No restaurante, ajudo anotando os pedidos. É um restaurante de comidas europeias, e vemos mais imigrantes e turistas aqui que nativos. Por isso, não me surpreendo tanto ao encontrar um certo imigrante alemão com a filha dele.

— O que é um chucute papai?

Ele faz careta e puxa o cardápio para saber o que é.

— Sauerkraut é repolho fermentado. Este vem com a carne de porco típica, quer experimentar?

Ela faz um sinal veemente com a cabeça ao ouvir "carne".

— Chucrute, então? — pergunto parando ao lado da Gwen.

Os dois olham para mim, a Gwen abaixando a cabeça logo tentando reproduzir a palavra que o pai disse para chucrute e o Peter não desviando o olhar.

— Você trabalha aqui?

— Sim. Não frequentemente, mas sempre que posso.

Ele desvia o olhar para o cardápio.

— Um Sauerkraut para ela, com Schweinefleisch. — chucrute com carne de porco, pelo que aprendi com o cardápio — E para mim eu não sei, o que você sugere?

— As Wurst são minhas favoritas. Salsichas alemãs, as melhores.

O mesmo brilho do olhar daquela primeira vez que nos vimos está lá de novo. Só que ele não diz nada, só balança a cabeça e sorri.

— Se você diz. Pode ser para mim, se você tiver um pouco de mostarda também, será agradável.

Me afasto para levar o pedido, e mesmo enquanto atendo outras mesas, a voz dele é a única que se destaca no restaurante. Não fui a única a notar.

— Temos um alemão aqui hoje, foi ele quem pediu as salsichas? — Minha mãe olha para ele curiosa.

— Sim. É o Peter, eu conheço ele. — digo distraída com o nome de um dos pedidos.

Noto que ela entra na minha frente, e ergo a cabeça.

— Ele é o Peter? — ela percebe que não faço ideia do que está falando. — O alemão que você conheceu. É ele?

— Sim. Mãe, onde você está indo? — gralho, vendo ela correr pelas mesas até alcançar a dele.

Para evitar distúrbios, me coloco duas mesas à frente, anotando um pedido e ouvindo a conversa deles.

— ...Fazia tempo que ela não ficava assim, por isso quero te agradecer te dando uma sobremesa. Escolha qualquer uma e trarei depois da refeição.

Escondo meu rosto nas mãos, sem querer saber como eu ficava. O cliente na minha frente ri.

— Moça, você está envergonhada por que eu pedi uma torta ou pela pronúncia dela?

— Me desculpa, qual torta mesmo? — sorrio do jeito mais bonito.

Atendo mais duas mesas antes do meu nome ser gritado do jeito mais francês possível, para todo o restaurante ter certeza de que o meu nome não tem a pronúncia que eles usam. Corro até a janela da cozinha.

— Mãe, você pode parar com isso?

— Queria ter certeza que não seria a Lisa a entregar essa sobremesa para a mesa dez.

A mesa do Peter.

— Certo, e por que a Lisa não poderia fazê-lo? Ela precisa da comissão mais que eu.

Um sorriso é a única resposta que tenho quando dois pratos são enfiados na minha bandeja. Deixo os pratos na frente dos dois, e a Gwen adora todo o açúcar, pegando o biscoito do prato antes que seja depositado na mesa.

— Zimtsterne, o preferido dela. — ele diz, sorrindo para a animação da criança.

— O que a minha mãe te disse?

— Nada demais. Agradeça pela sobremesa, bitte.

— Aceito sair com você se você me disser o que ela disse. — contraponho.

— Ela perguntou se eu achava você interessante. — Caramba, mãe. — Eu disse que sim, e ela também perguntou se eu planejava manter contato com você, porque fiz você feliz. — Duas vezes caramba! — Aí ela disse que nós ganhamos o número da sorte da sobremesa.

Isso não existe, dona Jeanne.

— Eu sei que isso não existe, gata. Já vim aqui muitas vezes antes, mas agradeça de qualquer maneira.

— Pode escolher o restaurante, qualquer lugar menos aqui. Me mande por mensagem onde e quando.

— Você quer mesmo sair comigo? Não vou te obrigar só pelo que disse. — A cor das minhas bochechas é a resposta que ele precisa. — Qual é o seu número?

Ele pega meu celular para anotar, e eu coloco o meu no dele. Só vejo o nome de contato dele quando já saiu há duas horas. Você é bem bonitão - Jeanne. Em uma mistura de vergonha e mortificação, a única reação possível é rir. Ele manda uma mensagem quando estou em casa.

"A Gwen acabou de me perguntar por que a sua mãe é doida, o que eu respondo?"

"Me desculpe por ela traumatizar sua filha, eu tentei impedir."

"Ah, não peça desculpas. Agora ela quer ser uma dona de restaurante por causa dela. Estamos até cozinhando pipocas para ela treinar."

"Aliás, amanhã, às 19:00. Esteja vestida para algo casual."

Não gosto do mistério dele quanto ao encontro, mas não contesto. Deixo que escolha o que quiser, sabendo que, se eu escolher algo, ficarei frustada se algo não der certo. É bom ter outra pessoa sob controle para que eu possa só relaxar e me arrumar.

Ainda que eu não relaxe nada, a noite inteira, pensando no que pode dar errado. Ao me encontrar acordada no meio da madrugada, meu pai, sonolento, senta na minha cama e acaricia minha cabeça.

— O que está te incomodando?

— Eu vou sair com o Peter hoje. E se eu fizer algo errado e ele não quiser mais falar comigo? É o único amigo que tenho aqui, agora.

Ele não diz nada por alguns momentos, olhando o quarto.

— Não vá pensando no que pode dar errado, porque aí o seu foco estará no erro. Eu não conheço este garoto, mas se você gosta dele, tenho certeza que é gentil. Se algo der errado e ele for mesmo gentil, vocês contornarão isso. E filha, nem tudo vai dar certo, é algo que você precisa aceitar. Não adianta querer seguir um plano, vocês estão se conhecendo, é normal perguntar como é a relação dele com algum parente que nem está vivo mais.

Checklist: não perguntar da relação dele com nenhum parente.

— Você fez isso com a mamãe?

— Se eu fiz isso com a sua mãe? Querida, eu perguntei se ela estava com dor de dente na primeira vez que falei com ela, quando tinha acabado de ganhar um tapa da minha irmã. — Rio baixinho, e ele sorri ao ver minha reação — Você ri, mas eu precisei pedir desculpas por uma semana antes de conseguir vê-la novamente depois que descobriu nosso parentesco, e tive que obrigar minha irmã a fazer o mesmo, e você conhece a sua tia. Elas se odiavam, Deus. A máquina de fax da minha casa até estragou de tanto que usei. O ponto é, errar algumas vezes é normal, e não aceite nada menos que isso.

— Obrigada, pai.

Relaxo o suficiente para dormir depois disso, e meu último pensamento antes de dormir é um só. Se tivermos um filho um dia, e cada um falar sua língua materna com a criança, o sotaque dele será alemão ou francês? Durmo tranquila com a minha estupidez abrandando os temores, por hora.

Coisas inúteis que pensamos antes de dormir, non? Faço isso todas as noites, não posso falar nada.

Seguir leyendo

También te gustarán

91.4K 14K 58
Grace Bailey tinha absolutamente tudo que alguém poderia desejar na vida. Um pai amoroso que a enchia de presentes, uma carreira em ascensão como pat...
742K 122K 78
" Eu não preciso de ninguém ao meu lado, eu estou muito bem sozinha. Sou capaz de conquistar os meus sonhos por conta própria sem depender de homem a...
11.2K 1.3K 24
Elisie Allen Leican tornou-se rainha, a rainha infértil que assassinou seu marido, tomou como seu, o filho de uma concubina e se tornou a pior das mu...
4.3K 608 67
Assim com o corsa deseja as águas do ribeirão, assim também eu quero estar na tua presença, ó Deus! Salmos 42;1 Olivia Mendez, uma jovem de 19 anos...