Provocando Amor - Série Endzo...

By MariaFernandaRibeir2

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A vida de Peter é uma montanha-russa. Desde que engravidou a tia mais jovem do melhor amigo, as oscilações na... More

Prólogo
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Epílogo

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By MariaFernandaRibeir2

Noelle

Tudo que fiz desde que a escola acabou, cinco meses atrás, foi comer e estudar bastante para tentar entrar na universidade comunitária. Por isso, aproveitando o fim definitivo do verão, usufruo do calor que resta de novembro para correr um pouco e respirar algo que não sejam palavras. Faço isso toda vez que algo me lembra que não estou na faculdade hoje por um ato meu, e às vezes meu pai me acompanha. Hoje ele disse que vai me acompanhar, então espero no hall de entrada da casa deles, enquanto me encaro no espelho.

A líder de torcida animada com o último ano escolar de um ano atrás foi enterrada em um lugar perdido do meu cérebro. Olho para o meu cabelo, o único indício da infância que pode ter causado o trauma que gerou o cataclismo da minha vida. A cor é igual a do progenitor, alguém que fez a minha progenitora querer me vender a preço de banana.

Lembro perfeitamente do dia em que ela encontrou minha mãe, que estava de mudança para os Estados Unidos para fazer um tratamento para engravidar e colocou um preço em mim. Ela queria, com o dinheiro que receberia, mudar de país, deixando para trás o progenitor, que a havia traído com a prima. Minha mãe disse algo que nunca esquecerei. "Você pode vender tudo que seu marido te deu, mas uma criança não. Uma criança não tem preço, e sabe por quê? Porque essa mesma criança pode te salvar ou te matar." Como eu era uma despesa, ela me colocou na adoção então, e aí fui adotada pela minha mãe assim que ela soube. Lembrar da minha chegada na casa nova faz meus olhos marejarem, mas o choro é interrompido pelo meu pai.

— Vamos lá, criança. — ele se aproxima, alongando.

— Pai, tenho dezoito anos, use outro apelido.

— Querida, chamo sua mãe de bebê o tempo todo. Não é pessoal. — sorri.

Reviro os olhos e abro a porta. Saímos para o clima outonal, e corremos por três quilômetros antes que precisemos parar para comprar um suco. Na lanchonete, a manchete da televisão me assusta. O garoto que encontrei no consultório do terapeuta, Peter, se não me engano, foi preso.

— Você conhece este garoto? — meu pai pergunta para a minha expressão.

— Não muito, só conversamos uma vez. Ele não parecia alguém que sequestraria a filha.

— As aparências enganam, cher.

Balanço a cabeça, incrédula.

— Devem enganar muito mesmo.

Peter

Eu estou preso. Repeti isso para mim toda vez que acordava e estranhava a dor na coluna, ou que parecia estar em uma realidade paralela quando o delegado levava outra pessoa para um dos cubículos vizinhos. Só pude encarar a realidade quando conversei com o advogado que vai me defender, que não é dos melhores, mas é o que veio para mim porque é o que posso pagar.

— O seu caso não tem defesa. — afirma.

— Eu sou inocente, como não tem defesa?

— A sua inocência é algo em que só você acredita, Peterson. As provas contra você são fortes demais. Os testemunhos são verídicos. Tem certeza que você não inventou sua inocência? Porque já defendi presos que começaram a acreditar nela em um ponto de mentir no tribunal.

Tenho vontade de bater naquele cara. Não sou uma pessoa violenta, mas que saco, eu pago ele para me defender com a verdade e ele diz que não é possível por causa das mentiras? Não é exatamente o trabalho dele mostrar quais são as mentiras e as verdades?

— O que você está dizendo então, fora a alegação infundada de eu estar louco, é que vou ser sentenciado? A quanto tempo mesmo? No mínimo 30 anos, certo? Por um crime que não cometi? — rosno.

— Você não está em condições de conversar agora. Volto na semana que vem. Esteja mais calmo.

— Doutor Reagan. — chamo quando ele se levanta — Tudo que vai, um dia volta. Lembre-se disso.

Ele continua inexpressivo ao sair da sala. Espero o policial me levar até o meu lugar naquela delegacia. Sabe quando as pessoas dizem "não pode piorar?". Pode. Sempre pode, em níveis colossais. Encosto na parede gelada da cela, olhando o relógio lá fora.

Há oito dias estou aqui dentro. Oito dias sem saber como a Gwen está, sem ter nota dos passos da Anne, sem saber o que a Vivian vai aprontar. Oito dias do resto de uma vida sem liberdade. Já tenho vinte anos, trinta na prisão é metade da minha vida desperdiçada. Gemo. Sinto vontade de chorar, e só não choro porque o policial me chama.

— Você tem uma visita.

Espero que seja um anjo do céu dizendo que isso é só um pesadelo, mas é a Anne.

— O que você quer aqui?

Pela primeira vez em muito tempo, ela está sóbria. Nenhum sinal do uso de entorpecentes no corpo.

— Quero agradecer a você por estar aí no meu lugar.

— Annelise, este não é o tipo de coisa pelo qual você agradece, richtig?

Ela morde o lábio, nervosa.

— A Vivian não vai desistir até te ferrar até o fim, Peter. Você tem que agir agora.

— Não posso agir agora ou pelos próximos trinta anos. Estou preso. Ela já me ferrou até onde pode, e eu não tenho chance de defesa. — graças aos seus erros, também, tenho vontade de dizer.

— Olha, eu conheço uma advogada. Ela me tirou da prisão quando cheguei no país e não tinha encontrado você ainda. Ela é boa, mas só atende pessoas que são honestas sobre o que precisa ser defendido. Você... você não cometeu nada do que foi acusado, né? — olho para ela — Tudo bem. Vou contata-la.

— O nome dessa advogada não é Angela, é?

Já tive uma advogada chamada Angela, que me fez ir para a delegacia alguns meses atrás, porque a filha dela, Brittainy, minha ex-jogadora, é namorada do Zack, aquele que me odeia. Naquele dia tive sorte porque ninguém conseguiu provar nada do que me acusaram de ter feito, que no caso foi invadir propriedade privada, ainda que eu fosse convidado a estar no local e alguns dos crimes cujo hoje sou acusado com "provas".

— Não. Só que, provavelmente ela não conseguirá pegar seu caso antes do julgamento. Está acontecendo muito rápido.

Dou um sorriso de escárnio.

— Bem, eu tenho uma alta periculosidade por carregar duas pessoas muito perigosas nas minhas costas, não estranhe se querem me afastar da sociedade o mais rápido possível. — provoco.

— Não estou brincando, Peter. Você vai para um lugar muito pior que este.

Recuso a explicação mais detalhada com a mão.

— Eu sei. E estou disposto a fazê-lo se você me prometer voltar para casa. Na Alemanha.

— Eu vou.

— Então, Anne, confie em mim quando digo que vale a pena. — trocadilho. Mas sim, eu viveria o resto da minha vida em uma jaula se isso fosse garantia de que minha família está longe do perigo.

— Por que você está fazendo isso, Peter? Por que não deixar quem precisa pagar, como fez com todos que precisavam nos últimos anos?

Massageio minha têmpora, pensando nisso.

— Porque é só assim que todos terão paz. Meus amigos acham que eu sou perigoso, não vão acreditar em mim se eu tentar sair daqui com os recursos que poderia ter. Qual é o ponto de sair, então?

— Você precisa de amigos melhores. — resmunga.

— Você também. Não quero saber de você voltando para onde vivia novamente, verstanden?

— Entendi. Preciso ir agora, não é fácil ficar sem consumir nada e não substituir a vontade por outra coisa.

Ela se afasta, mas eu chamo ela.

— Você consegue. Não perca a fé.

— Eu subestimei muito você, por muito tempo. Você também, não perca a fé.

Não digo a ela que já perdi tudo que tinha, ela não precisa saber disso. O tempo passa muito devagar nos dias que prosseguem, e estou quase morrendo de tédio quando um policial bate na grade.

— Por favor, diz que tem alguém chegando para dividir a cela comigo. — resmungo, sem levantar da cama dura — Pode ser alguém perigoso, eu não ligo. Preciso de adrenalina.

— Seu julgamento é amanhã. Esteja preparado.

— Você estaria? Digo, se não tivesse feito nada, como não fez. Estaria preparado para enfrentar anos trancado? — pergunto, e só então percebo que estou falando sozinho.

Muito bom. Eu achava que sabia o que era ser solitário antes. Vivia em uma casa afastada, sem muitos vizinhos incomodando e só com um cachorro de companhia, na maior parte do tempo. Só que também podia ligar a televisão ou o rádio, ligar para alguém, e a companhia do Amigão era algo. Aqui, agora... não tenho de quem cuidar, ou como ligar algo para fazer barulho, conversar com alguém que me escute. Um livro para ler sequer.

Isso é a verdadeira definição de ser solitário para mim. E não sei por quanto tempo vou aguentar isso sem enlouquecer.

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