AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PE...

By wlangekeinde

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Em um país chamado Kailan, governado por uma ditadura militar, a jovem Kristina Lan Fer está mais preocupada... More

APRESENTAÇÃO
BOOK TRAILER
CAPÍTULO 1 - OS LAÇOS QUE PRENDEM A CORDA
CAPÍTULO 2 - AMIGO DE LONGA DATA
CAPÍTULO 3 - TRÊS MESES DEPOIS
CAPÍTULO 4 - BASTIDORES DA PÁTRIA
CAPÍTULO 5 - DISTÚRBIO
CAPÍTULO 6 - LONGE DEMAIS
CAPÍTULO 7 - OS INCONFORMADOS
CAPÍTULO 8 - O VISIONÁRIO DA COSTA BAIXA
CAPÍTULO 9 - NOSSO ABRAÇO DE AGULHAS
CAPÍTULO 10 - AS TRAMAS OCULTAS DA GUERRA CIVIL
CAPÍTULO 11 - ESBOÇO DE UM CRIME FEDERAL
CAPÍTULO 13 - PENSAMENTOS PROIBIDOS
CAPÍTULO 14 - O TERCEIRO-SARGENTO
CAPÍTULO 15 - NO ALBERGUE I
CAPÍTULO 16 - NO ALBERGUE II
CAPÍTULO 17 - PAZ? SOMENTE AOS SUBMISSOS
CAPÍTULO 18 - O PRIMO
CAPÍTULO 19 - RECOMPOR
CAPÍTULO 20 - O DIA DA DECISÃO
CAPÍTULO 21 - O HOMEM QUE USURPOU A NAÇÃO
CAPÍTULO 22 - PEDRAS NA POÇA DE ÁGUA (final)

CAPÍTULO 12 - MEIA DÚZIA DE PROMOTORES DO CAOS

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By wlangekeinde


— Eu não sei. Preciso pensar. — Ela não conseguia esconder a perturbação. O tom de voz oscilava, fora de controle. — Só preciso de um tempo sozinha, agora.

Elinor a olhou com duas rugas entre as sobrancelhas, depois direcionou a careta para Marko. Ele encolheu os ombros como se não soubesse de nada, mas então relaxou a postura e revelou a verdade:

— Tá, eu disse pra ela sobre o Ronan.

— Marko, qual o seu problema? — disse Elinor, levantando as mãos à altura da cabeça. — Dá pra parar de agir por conta própria? Será que dá pra você parar de decidir sozinho o que vai falar ou fazer?

— Você sabe que não é bem assim — retrucou ele à mulher que agora massageava as próprias têmporas.

— Kristina... — disse Adriana — Você que quis vir com a gente. Você só precisava contar o endereço, mas veio pra cá porque quis.

— Eu vim num momento em que acreditei que meu pai tava mesmo nisso e antes de saber que o Briel foi responsável pela prisão dele e mentiu pra mim. Eu quis entrar nisso por eles dois, em primeiro lugar.

— Você pode ter vindo pelos dois — disse Elinor —, mas que tal continuar por você mesma?

Kristina ficou em silêncio. À sua volta, o grupo todo se entreolhou, até que Franke tomou a palavra:

— E tu vai fazer o quê? Vai dar pra trás? Voltar pra casa e chorar? Vai denunciar a gente, por acaso? Porque, se a gente cair, tu sabe que a gente pode incluir teu nome na lista negra dos engomadinhos.

— Eu não vou entregar ninguém, tá? Eu só tenho que processar tudo isso. E mais do que nunca eu quero falar com o Briel, então eu vou sim atrás dele com vocês.

— Vai mesmo? — disse Tone. Ela confirmou com um balanço de cabeça. O gesto pareceu rasgar um pouco da dureza que pairava no ar, entre as respirações fundas e os olhares significativos.

— Se quiser tomar um ar no jardim... — Adriana apontou a direção, e Kristina seguiu.

Sentada na grama incrivelmente verde, as costas apoiadas em uma árvore, a garota tentou não se desesperar. Seguiria o caminho até Briel: fato. Nem tinha mais possibilidade de desistir daquilo, visto que já tinha revelado o endereço, e sabe-se lá o que o grupo faria com Briel se ela os deixasse ir sozinhos atrás do desertor. Mas e depois? A nova informação que Marko tinha lhe dado dificultava tudo. Ronan era inocente e Briel culpado. Naquele caso, juridicamente falando, inocentar Ronan era culpar Briel e continuar escondendo a culpa de Briel era manter Ronan na cadeia. A não ser que a morte de Sarto mudasse o sistema do dia para a noite (isso se o assassinato desse certo), um dos homens da vida de Kristina estava perdido.

Diante da complicação, ela buscou desfocar o futuro mais longínquo e contou apenas os próximos passos a curto prazo: respirar; levantar; respirar; voltar para dentro da mansão; respirar; se preparar para a viagem do dia seguinte; não se partir em pedaços. E assim executou.

O resto do dia correu de acordo com o decreto de Elinor: mais técnicas básicas de desarme e luta corporal, mais informações sobre o planejamento da viagem. Elinor explicou a Kristina que Briel nunca quisera forjar aquela armadilha para Ronan, mas que ela tinha conversado com ele e dito que sabia o que estava fazendo, pois já tinha uma experiência de quase dez anos na militância e sabia que Ronan, naquelas circunstâncias, não seria morto. Kristina teve que acreditar.

Mais tarde, Esteban lhe pediu uma foto para fazer uma identidade falsa, como todos no grupo tinham, para garantir mais segurança na viagem. Ao início da noite, Kristina tomou um banho quente e, na medida do possível, revigorante. Após o jantar todos foram dormir.

A casa tinha quatro quartos, todos suítes. Esteban ocupou o seu, Franke e Tone dividiram outro, Marko e Elinor pegaram o terceiro e Kristina ficou na suíte ao lado, a de Adriana. Adriana deixou a cama para Kristina e arrumou um colchão para si. As duas se deitaram e apagaram a luz. Depois de se revirar na cama por uns quinze minutos, Kristina pediu para ir à cozinha buscar um copo de água.

— Eu já disse: fica à vontade.

Com cuidado para não fazer barulho, ela foi até o corredor. A casa já estava toda apagada, exceto pelo quarto de Elinor e Marko. Lá de dentro saíam vozes baixas.

— Ele vai, sim — disse a voz feminina. — Claro que ele tá com medo, mas a gente tem que fazer ele voltar a achar que a luta é mais importante. Se a gente não acabar com a ditadura, toda a nossa vida vai ser medo, e no fundo ele sabe disso. Nem precisa ir tão no fundo assim, na verdade. Essa sensação de precisar lutar pra melhorar, isso é forte no Briel, a gente só precisa despertar isso nele de novo.

— Pode ser — disse a voz masculina. — É, acho que você tá certa.

— Já a Kristina é mais difícil. Mesmo ela não agindo no plano, é quase nossa confidente agora. O ideal seria que ela tivesse o mesmo pensamento que a gente. Mas ela não é de luta.

— Da vez que eu falei com ela na casa dela até aqui, já dá pra ver que ela tem uma vontade de mudar, pelo menos. A gente tem que fazer essa vontade crescer, mostrar pra ela a importância do que a gente tá fazendo. Importante até pra fazer o pai dela não ter sido em vão. Mostrar que esse é o único jeito real de mudar o país.

Um dos dois respirou fundo e as vozes pausaram. Kristina passou logo pelo corredor em direção à cozinha. Demorou para descobrir onde ficavam os copos. Na volta, a porta do quarto de casal estava semiaberta e a luz ainda acesa, mas os ocupantes apenas deitados, em silêncio, prontos para dormir. A garota ia continuar seu caminho, mas no meio de um passo ficou em dúvida e congelou com um dos pés ainda no ar. Por fim decidiu bater à porta, e foi chamada a entrar.

— Tá tudo bem? — perguntou Elinor. Ela e Marko se sentaram na cama enquanto Kristina hesitava entre fechar a porta ou mantê-la semiaberta. Optou pela segunda.

— Tá. Eu só... — Não queria gaguejar, então escolheu dizer a verdade. — Eu ouvi vocês, agora há pouco. Falando do Briel e de mim.

— Quer conversar? Pode sentar se quiser. — Elinor apontou o sofá que havia no quarto e Kristina o ocupou.

— Vocês disseram que eu não tenho o mesmo pensamento que vocês. O que isso quer dizer?

— O pensamento de necessidade — disse Marko. — É uma coisa que a gente acredita muito. É a essência da política.

Kristina passara muito tempo da vida acreditando que "política" era sinônimo de "voz do governo Sarto", e essa voz sempre falava em necessidade. Era necessário prender os rebeldes, era necessário reestruturar Kailan. Briel, o primeiro contato de Kristina com um pensamento político alternativo, dizia que era necessário lutar por mudança, pelo fim da ditadura. E agora Marko, Elinor e o resto do grupo afirmavam a necessidade de matar o presidente. Todas essas necessidades eram sempre caminhos a se percorrer, mas qual seria o destino, o objetivo final da política? Paz? Felicidade? Liberdade?

— Elinor, você é samista — disse Kristina. — No aniversário do Briel, você reclamou que aquele garoto tava usando um discurso samista pra defender a ditadura. O Marechal Sarto também usa um discurso samista pra justificar o papel dele no poder. O discurso de vocês não é meio parecido? O Sarto fala em paz quando na verdade usa o caminho da violência pra conseguir o que quer. Vocês, de certa forma, não estão dizendo a mesma coisa?

— Como assim? — perguntou Elinor.

— A luta armada e a morte do Sarto como caminho pra uma revolução pacifista?

— Eu acredito que Kailan, do jeito que tá, não tem condições para uma revolução totalmente pacífica. E, de qualquer jeito, o fim da ditadura vai diminuir a violência. É tudo uma questão de estratégia, de tática. O próprio Guerreiro Sama sempre foi um estrategista. Todas as vezes que ele aparece não é pra fazer guerra, e sim pra acabar com ela. Uma guerra se resume a matar todos os seus inimigos, e quem age assim é o governo, e não a gente. A gente não sai matando, não somos assassinos. A gente elimina quem realmente precisa ser eliminado, e só como último recurso. Dar um fim no Sarto é salvar milhares de vidas. Isso não é guerra, não contradiz o samismo e, principalmente, não é a mesma coisa que o Sarto faz.

Kristina não tinha resposta para aquilo. Por um instante, achou que Elinor estava ofendida, mas a expressão da mulher passava a calma de quem confia nas próprias ideias. Kristina deveria confiar também? Resolveu mudar de assunto, pois a lembrança do aniversário de Briel trouxe outra coisa que também a incomodava, e ela não conseguiria dormir sem saber:

— Quando você era Lorena, você e o Briel tiveram alguma coisa de verdade?

Marko pôs nos lábios o mesmo sorriso de quando falara sobre Briel e Iore Eston.

— Não — disse Elinor. — Aliás, desde que eu conheci o Briel ele só fala de você. Acho que ele gosta de você.

— E você não gosta dele, então?

— Não faz meu tipo.

— O tipo da Elinor é um cara mais Marko — disse o próprio, e a mulher ao lado dele revirou os olhos.

— Cala a boca.

— Vocês dois são um casal ou alguma coisa assim? — perguntou Kristina. Gostou de desviar a conversa para algo mais leve. Até Elinor também estava sorrindo agora.

— Não — disse ela. — A gente já foi, mas agora, só amigos.

— Que pena, porque dizem que um casal que dorme de luz acesa é porque tem uma relação boa, ou coisa do tipo.

Mas de repente Elinor voltou a ficar séria. Marko pareceu constrangido ao dizer:

— É... Quem te disse isso não conheceu a gente.

Kristina baixou a cabeça e encarou as próprias mãos, mexendo nos dedos.

— Desculpa, eu só quis fazer uma brincadeira.

— Não — disse Marko. — Não é o que você tá pensando. A nossa relação sempre foi ótima, seja no namoro ou na amizade. É a parte da luz acesa, essa sim é uma história complicada.

— Tudo bem, eu vou dormir.

Ela fez menção de se levantar, mas Elinor interrompeu:

— Espera, Kristina. Não é como se fosse um segredo. É até bom você saber disso. Então, se quiser, eu posso te contar.

A garota se recostou no sofá novamente. Elinor começou:

— Eu só durmo de luz acesa. Só fico de luz acesa. A escuridão pra mim é insuportável. Dormir sozinha ou ficar em lugares fechados também é muito difícil. Eu já tentei fazer terapia, mas acho que vou ter que aguentar pra sempre esse trauma que ganhei na câmara de tortura.

— Câmara de tortura? Isso existe mesmo? — Mas logo ela se arrependeu da pergunta, com a mesma sensação de infantilidade que já provara naquele dia. Pelo menos nem Elinor nem Marko fizeram de sua ingenuidade um evento.

— Sim, existem. — disse Marko.

— Eu não conheço ninguém que tenha servido em uma. Nunca conversei com muitos soldados, mas quem eu conheço que fez o serviço obrigatório nunca foi em uma câmara de tortura.

— Os oficiais quase nunca mandam recruta pra lá. Só se o garoto mostrar engajamento de verdade, e não ser só mais um cumprindo a obrigação.

— Todo mundo que eu conheço só cumpriu a obrigação. Menos meu primo, que tá no exército até hoje, é Sargento. Mas a gente não se fala muito.

— O Marko era bem engajado quando entrou — disse Elinor. Kristina franziu o cenho ao imaginar um Marko militar.

— O exército era meu único jeito de me sustentar, e eu comecei a criar um sentimento por eles, como se eles tivessem me acolhido. Daí é foda, porque você começa a querer dar tudo que você tem por aquilo. Mas quando me mandaram ver uma sessão de tortura pela primeira vez, foi uma onda de realidade. Daí eu fui mudando o pensamento, mas claro que ainda era obrigado a cumprir as ordens.

— E foi mais ou menos assim que a gente se conheceu — disse Elinor.

Eu tinha dezessete anos, morava no Coração e participava de uma companhia de teatro. A gente fazia peças denunciando a ditadura, mas sempre de um jeito implícito, porque não tinha como saber se teria algum governista infiltrado na plateia.

O pior dia da minha vida começou quando eu e mais três companheiros nos reunimos na casa de um deles, o Pedro, pra passar um texto. Até lembro do nome: O Rei dos Centauros. Mais ou menos às onze da noite, os pais do Pedro brigaram, e falaram pra ele que não queriam ninguém passando a noite lá. Foi bem chato, porque a gente tinha planejado dormir lá, e de repente a gente teve que correr pra ir embora antes do toque de recolher, à meia-noite. Os dois outros companheiros foram de ônibus e eu liguei pro meu pai.

Enquanto esperava ele chegar, eu e o Pedro sentamos na cozinha. Ele perguntou se eu tinha grandes expectativas pro dia da apresentação e eu respondi que tinha medo. Perguntei por que ele não sentia medo. Ele disse que era porque os militares queriam matar a gente de medo, e ele preferia morrer de tiro. Pouco depois disso, a gente ouviu alguém batendo na porta da frente. Depois, a porta caiu.

A gente saiu correndo pra porta dos fundos, sem nem saber quem eram aqueles invasores, mas já imaginando que fossem soldados. Mas o barulho dos passou foi subindo a escada e o Pedro ficou preocupado com os pais. Ele parou de correr e eu tive que puxar o braço dele até a gente chegar no muro do quintal. Era um muro alto. Eu lembro que peguei uma lixeira pra gente subir. Mas não deu tempo. Uma mão puxou minha blusa por trás e eu devo ter batido a cabeça na queda, porque quando acordei eu já não tava mais ali.

Eu acordei numa cela vazia. Não tinha cama nem vaso nem mesmo janela. E eu tava sem roupa. Fiquei lá por muito tempo, muitas horas, até que apareceu um soldado e me levou pra câmara de tortura. Era uma sala pequena, com as paredes de pedra, e tinha uma banheira em um dos cantos. A água tava vermelha e tinha um corpo lá dentro. Era o Pedro.

Eu comecei a chorar e nem vi quando chegaram outros soldados trazendo uma caixa que eles chamavam de cofre. "O cofre", "traz o cofre". Tinha uns dois metros quadrados. Me trancaram lá dentro. Eu só cabia sentada. O chão, as paredes e o teto do cofre eram revestidos de um material macio, estranho, e quando eles fecharam a porta, eu não consegui ver nem ouvir mais nada. Nem luz nem som entravam ali.

Eu lembro de cada detalhe. Naquele silêncio absoluto, minha respiração ficou cada vez mais audível, e chegou um ponto que eu só conseguia escutar isso. E, já que minha respiração tinha saído do modo automático, agora parecia mais difícil respirar naquela caixa abafada. De repente meu estômago roncou de fome, e o som foi enorme. Depois vieram outros: as batidas do meu coração, a glote abrindo e fechando para engolir saliva, até o sangue correndo pelas minhas veias. Até os ossos e a pele faziam barulho toda vez que eu me mexia. Foi tão horrível... Eu não aguentava mais ficar ali. Eu comecei a me desesperar. Bati nas paredes, tentei arranhar, e o barulho da minha unha no tecido, ou seja lá que material era aquele, foi um barulho gigante também. Eu comecei a escutar o barulho das minhas unhas e da pele dos meus dedos soltando da carne. Chegou a arder muito, de verdade. Eu chorei e escutei todo o caminho das lágrimas: saindo do olho, escorregando pela bochecha, caindo.

De repente, abriram a porta do cofre. A luz quase me cegou e os barulhos vieram todos ao mesmo tempo, enchendo minha cabeça. Uma mão cobriu meus olhos e uma voz sussurrou pra eu me acalmar. Era o Marko. Depois de um tempo eu abri os olhos devagar e ele tirou a mão de cima. Eu olhei pros meus dedos e tava tudo normal. As unhas, a pele, nada esfolado. Marko falou que eu tinha ficado no cofre por só uma hora. Ele me levou pra uma outra sala, onde um oficial primeiro me espancou e depois me mandou revelar meus crimes e os nomes e localizações de outros "terroristas". Eu tava muito confusa, mas não abri a boca, e o Marko me levou pra cela de novo.

No dia seguinte me bateram de novo, mas quando o Marko foi me levar pra cela, ele disse que era melhor eu falar alguma coisa pro oficial, senão os soldados iam me matar. Eu pedi pro Marko me ajudar, porque eu já sabia que ele não era igual aos outros. Eu sentia que ele tinha um espírito bom, que alguma coisa dentro dele podia lutar contra a maldade do serviço que ele era obrigado a fazer. Mas ele disse que não ia me ajudar. Eu insisti, comecei a pensar em um plano. Dava pra ver que, por dentro, ele tava num conflito. No fim, ele aceitou.

Nosso plano foi eu fingir que morria dentro do cofre. Ele me tirava do cofre e ia se livrar do meu corpo. A gente fez isso. Ele me enrolou num lençol e me colocou na caçamba de um carro militar. Eu desmaiei de fome e dor, e quando acordei a gente tava num beco, e tava de manhã. O Marko me deu comida, água, roupas e dinheiro e disse pra eu continuar determinada, só tomar mais cuidado. Eu voltei pra casa.

Ver minha família de novo foi a melhor sensação da minha vida, mas eu também sabia que era perigoso continuar ali. Mesmo oficialmente morta, o banco de dados do exército nunca exclui o rosto de ninguém. Se algum capacete me reconhecesse, eu tava perdida, e minha família também corria riscos. Eu me mudei pra Cabeça e recomecei minha vida sozinha. Arranjei documentos falsos e mudei a algumas coisas na aparência, pra enganar o sistema de reconhecimento facial. Na época ainda era em duas dimensões, então uma franja, umas joias no rosto, uns óculos, essas coisas já enganam o reconhecimento.

Na Cabeça, eu entrei na faculdade, arrumei um emprego e fui morar numa república no centro de Orlestan. Eu dividia quarto com a Adriana. Ela morava lá porque não queria usar o dinheiro do avô, queria ser independente. E ela que me trouxe de volta pro caminho da luta, com a ideia de matar o Sarto.

Um dia... No 17º Dia da Decisão, eu e a Adriana estávamos numa lanchonete. De repente, eu vi o Marko ali. Já tinham se passado uns anos desde quando ele me ajudou a fugir da prisão, e ele já tinha saído do exército. O Franke e o Tone eram amigos dele e estavam lá com ele. A gente conversou. Foi quando a gente se conheceu de verdade. Depois a gente começou a namorar e ele e os meninos se juntaram a mim e a Adriana no nosso plano. Agora a gente tem que dormir pra amanhã buscar o Briel e daqui a mais alguns dias, botar enfim esse plano em ação.

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