[Degustação] 100 Dias para Am...

By EditoraPL

117 24 0

Isa é uma garota sonhadora e depois de uma grande desilusão amorosa resolve encontrar um verdadeiro amor. Ass... More

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7

Capítulo 1

47 6 0
By EditoraPL

Isa

Dia 1

— Você perdoaria uma traição?

Logo que tudo aconteceu, meu melhor amigo me perguntou isso e eu respondi: não.

Apenas erros podem ser perdoados e traição não é um erro, é uma escolha. Ninguém esbarra numa vagina por acaso e a gente conhece as pessoas pela maneira como saem da nossa vida, não pela forma que entram. Então, pensando nisso, li, pela última vez, a carta que escrevi:

Agora o que mais faz doer é o desgosto da traição. A dor física de uma mágoa incalculável, o escurecimento da alma, a sensação de ter o coração pisoteado por uma manada de búfalos e o sentido da minha vida alterada.

Por que você fez isso conosco? Por que está fazendo tudo isso comigo?

Essas perguntas não têm respostas, não há desculpas cabíveis e nada acabará com o que estou sentindo. Não se pode rebobinar a fita e resgatar os sentimentos feridos. Não tem volta.

Tudo foi perdido.

E, agora, é isso que mais faz doer. Nada será como antes. Acabou! O que tínhamos foi morto por você. O que me resta não é juntar os cacos de um relacionamento destruído, de meu coração partido ou de tudo que foi quebrado em pedaços... Não, nenhum remendo seria suficiente e coisa alguma faria isso tudo sumir.

O que posso, e vou fazer, é curar as feridas e recomeçar. Não vou te esquecer, assim como nunca sairá de mim tudo que está me fazendo sofrer, porém, vou superar. E depois disso voltarei a viver, buscarei ser feliz novamente e serei.

Tenha certeza disso: EU serei mais feliz que você!

E quanto a você? Espero que alguém te faça sofrer assim como fez comigo. Desejo de todo coração que um dia perceba o mal que me causou e que Deus te perdoe, pois eu não farei.

Depois dessa última leitura, queimei a carta escrita num papel qualquer e soprei ao vento, através da janela aberta em meu quarto. Já estava curada, era hora de seguir em frente. Precisava caminhar firme na direção da minha meta, porque o pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza.

Eu acreditava, tinha optado por isso. Seria feliz.

— E agora? — questionei Abnel. — O que sua bruxa interior me diz?

— Sempre haverá outra chance, outro amor, mas nunca outra vida.

— Tenho certeza disso. — Sorri.

— Agora, bicha, você joga um batom nessa boca e bola pra frente!

— Já estou usando. Olha! — Fiz biquinho para meu grande amigo.

— Meu ditado preferido é aquele que diz: Não há nada que...

— Que não se cure com um bom batom vermelho ou uma taça de sangria! — completei sua frase preferida.

— Pois é, minha filha, mas com batom cor-de-rosa você não vai conquistar nenhum bofe! Capricha no vermelho! Mas, lembre-se de que: se você está procurando a pessoa que vai mudar sua vida, comece dando uma olhadinha no espelho — disse, apontando para meu pequeno espelho preso na porta do guarda-roupa.

Abnel é um rapaz inigualável, bem-sucedido em sua área de atuação. Ele trabalha em um banco internacional e todo ano é premiado em suas ações com o setor de recursos humanos. Homossexual, ou melhor, apenas gay, como prefere ser etiquetado, é uma figura única. Um amigo que certamente levaria para a vida toda, o melhor do mundo, um irmão do qual nunca me separaria.

Saído de uma família maravilhosa, do interior de nossa cidade, nunca teve problemas de relacionamento com seus pais ou com os três irmãos. Só não se manteve ao lado deles por opção de não querer seguir os negócios com gado e preferir a carreira que hoje atua com muita alegria.

Detentor de uma beleza rara, ele traz nos traços um ar austero, como os de um príncipe asiático. Sabe aquele cara lindo, por quem você ficaria caidinha à primeira vista? Pois é! Um pouco mais alto que eu, corpo atlético, trabalhado no abdominal, pele clara e cabelos sedosos castanhos. Tipo Keanu Reaves, mas com muito mais estilo e muito mais bonito.

Confiante, acatei a sugestão do meu melhor amigo e passei um batom Chanel 45, vermelho intenso. Ergui a cabeça. Era esse o meu recomeço e o pontapé inicial para uma nova vida. Agora, já quase na casa dos trinta, não tinha tempo a perder e acharia meu príncipe encantado. Queria tudo: flores, vinho e sentar à lareira, um dia, com meus filhos e marido. Um amor tranquilo, uma vida feliz e o cheiro da panela com comida quentinha.

Mas, para tudo isso acontecer, era necessário ir à luta e então, naquela noite, fomos a um pub famoso por reunir pessoas de nossa idade e lá constatei uma coisa que Abnel já havia alertado: os bofes, digo, os homens de nossa idade, estavam em maioria comprometidos. E aqueles que ainda estavam solteiros deveriam ser por algum grave motivo negativo, pelo menos, essa era nossa teoria.

— Aquele tem cara de psicopata; o outro ali deve ser um babaca; e aquele que fica perto do banheiro deve ter alguma disfunção naquele lugar. — Meu belo amigo tecia suposições, enquanto bebia seu drinque azul e rosa. — E lembre-se sempre de que as pessoas são muito previsíveis! Querem tudo e só valorizam aquilo que perdem ou que ainda não possuem.

— Eu sei que deve ter algum cara legal, que preste, mas hoje é a primeira noite, então vou com calma.

— Isa, você precisa desabrochar — comentou com carinho. — Depois de tudo o que houve com o falecido.

— Nem toca nesse assunto, Bi, não quero pensar mais naquele otário — repreendi, voltando a dançar.

— Ok. Se hoje o plano A não der certo, ficamos com o plano B.

— Como é? — Ri intrigada.

— Se o plano A, de amor, não rolar, ficamos com o B, de beber — disse, arrancando-me gargalhadas.

O falecido em questão era o imbecil do meu ex-companheiro, cujo nome nem ousava mais pronunciar. Não, ele não estava verdadeiramente morto. Ficamos juntos por mais de três anos, morando em um apartamentinho charmoso, como qualquer casal apaixonado. Tudo estava indo maravilhosamente bem, até certo dia, quando ligações anônimas começaram a informar que ele estava me traindo. Nada fazia sentido, nem mesmo Abnel suspeitava, porém bastou um pouco de atenção e tudo foi confirmado.

Não só fui traída como ele mantinha outra mulher na cidade vizinha e era para lá que viajava a trabalho a cada quinze dias. Acha pouco? Como se não bastasse, era atual frequentador de um bordel do pior nível possível, onde trabalhava outra infeliz. E só foi possível descobrir toda essa vida dupla quando essa segunda ou terceira "senhora" teve pena de mim e revelou tudo em ligações sigilosas. Foi assim que toda a farsa desmoronou como também a felicidade de uma vida tranquila.

Ah, e os números de telefone também eram dois, assim como seu perfil na rede social e uma porção de detalhes que só fui percebendo depois. Ele era a amostra de como podemos ser enganadas e do quanto um homem pode ser cretino. Entretanto, agora era passado. Depois de tantos meses, estava reerguida e disposta a ser feliz. E ele, morto e enterrado na minha vida.

Eu merecia mais. Desejava ser feliz e encontraria, um dia, um cara que verdadeiramente me amasse. Poderia ter me tornado amarga ou arredia? Sim. Mas, em vez de viver mentiras ou uma vida de desconfianças, havia optado por acreditar que ainda seria muito feliz.

Já eram mais de três, meus pés doíam, dançamos bastante. Não bebi nada alcoólico, me diverti muito na companhia daquela bicha má e depois voltei para casa sozinha. Sozinha!

Nada aconteceu, nenhum príncipe surgiu através da cortina de fumaça, mas havia valido a pena. A partir de agora seria assim: todo final de semana iríamos a algum lugar diferente, até eu achar minha alma gêmea.

— Manfred confia em mim, sabe que estou fazendo caridade para uma amiga — garantiu Abnel, quando perguntei pela milésima vez sobre seu namorado. — Uma encalhada que amo muito.

— Encalhada. — Fiz uma careta, tomando um gole de suco. — Quanto tempo até você ir para a Alemanha?

— No fim do ano nos encontraremos em Veneza, um roteiro incrível pela Europa nos aguarda — confirmou, explodindo de entusiasmo. — Só depois eu vou para a Alemanha, por seis meses.

— Será que consegue um bom trabalho por lá? — questionei com o coração dividido.

— Acreditamos que sim. Mas antes prefiro ver como é por lá. Não sou um homem de meio-termo, tenho que gostar de tudo.

— Fico feliz em saber, mas quem sabe você volta e o traz junto? — Levantei a possibilidade. — Seria fantástico também!

— Quem sabe, Isa. Mas, não se preocupe, até lá já teremos encontrado um par perfeito para você! Temos cem dias para achar o seu amor, para você se apaixonar.

— Cem dias... — repeti.

— Miga, nada acontece por acaso e, embora te pareça o contrário, até o mal está a serviço do bem — aconselhou. — E pensando na noite anterior...

— Do fracasso — comecei a rir, interrompendo-o.

— Bem, acho que devemos insistir em buscas diurnas, além das noturnas.

— Como e onde?

— Shopping, museus, livrarias, cafés como esse aqui. Lugares simples, sabe?

— Mas vou ter que ir sozinha?! Não sei, posso parecer uma desesperada — sussurrei a última palavra.

— Na maior parte, sim. — Deu uma piscadinha. — Agora, sério, você precisa aprender a observar o lugar. E qualquer coisa, estou no WhatsApp. Sempre!

— E não vai mais sair comigo nessa busca?

— Claro que vou, mulher! Mas faltam apenas cem dias para a minha viagem! Tenho tanto a resolver e você precisa achar seu cara. Precisamos acelerar o processo.

— Então me ajuda, por favor. — Peguei sua mão macia.

— É o que estou fazendo, bicha! Hoje vamos ao salão dar uma geral nisso aí que você chama de sobrancelha e também comprar vestidos novos!

— Só posso no sábado. Tô sem uma folga e tenho zilhões de textos para ler lá na editora.

— Tudo bem, então você passa no salão do Daniel assim que possível — ordenou. — Na quarta, vamos ao cinema, ok? Te pego.

— Certo — disse já me despedindo, precisava ir ao mercado.

Das compras básicas que fiz para a semana, voltei para casa e o resto do final de semana passou arrastado. Papai levou Richard, meu irmão, para pescar e resolvi aproveitar para passar meu amor, que não desbota nos cabelos. Levei todo o domingo na função da henna indiana que tanto gostava, ainda assim, o resultado definitivo eu só veria dali a uns dias, quando a cor definitiva fixasse. Apesar disso, já estava num tom castanho avermelhado incrível.

Meu pai chegou ao fim do dia, exausto e animado, e Richard cochilava no banco traseiro da velha Belina 85 vermelha. Sorri ao ver os dois, eram minha família e meus maiores tesouros. Desde que minha mãe nos deixou, para viver uma paixão, meu pai tem feito tudo por nós dois. Ela nem mesmo pensou em nosso sofrimento e por isso agora evitamos qualquer contato. Hoje, com dez anos, Richard não a perdoa pelo abandono, que foi há quase cinco. E eu, que já não mantinha uma boa relação com ela, cortei de vez um pseudoconvívio para fins sociais e a trato como um parente qualquer.

— Como foi? — perguntei a papai, dando um beijo em seu rosto suado.

— Ótimo, pescamos cerca de dez bons peixes! Estão todos na caixa térmica, já limpos.

— Posso fazer algum agora à noite.

— Não, filha, você parece cansada. Hoje podemos abrir uma exceção e pedir comida de fora. Que tal yakisoba?

— Maravilhosa ideia, estou com preguiça mesmo — admiti.

— E esse cabelo novo? — questionou, observador.

— Gostou? — Balancei as madeixas, orgulhosa.

— Você está sempre bonita, mas esse tom em você ficou muito bom — comentou, treinado em sua tarefa de bom pai. — Imagino quantas horas precisou ficar com aquela mistura na cabeça!

— Obrigada, pai, cinco horas dessa vez.

— Por que você não usa mesmo aquelas tintas de farmácia, que agem em vinte minutinhos?

— Metais pesados, petrolatos, muitos aditivos químicos que...

— Tá certo, lembrei. — Sorriu, dando um tapinha em meu ombro. — Siga com suas plantas, você ficou linda, além desse cheirinho gostoso de chá com mel.

Ele era um herói, um ótimo homem e excelente pessoa. Não havia um vizinho no bairro que deixasse de elogiar o seu Jairo Leal, exímio carpinteiro e contador. Ou seria o contrário? Era eclético esse meu pai. Mais que isso: um artista dos números e da madeira, pessoa de bom coração.

Na vinda do trabalho, na segunda-feira, estava animada para mostrar ao meu amigo Tobias que finalmente havia tocado o barco. Esperei pacientemente pelo ônibus 401 da Linha Azul e, pela janela, vi seu sorriso iluminar meu fim de dia.

Sempre era assim. Desde que começamos a conversar, há muitos meses, adorava sua companhia todo fim de tarde. Conversávamos coisas leves, por cerca de quarenta minutos, observando o pôr do sol e relaxando na companhia um do outro.

— Oi, Tobias! Tudo bem? — cumprimentei sentando ao seu lado.

— Oi, Isa, que cabelo bonito, hein!

— Ah, obrigada! É muito bom mais alguém perceber, depois de horas com uma pasta no cabelo...

— Ficou ainda mais bonito — elogiou novamente. — Quem foi o outro que percebeu? Já fiquei com ciúmes! — brincou.

— Meu pai. — Sorri. — Valeu, mas, mudando de assunto, olha aqui o livro que te falei. Pode levar, mas me devolve sem orelhas ou amassados. Tá?

— Legal. Pode deixar, obrigado — disse, guardando-o dentro da mochila preta. — Come esse chocolate comigo?

— Tobias, que maldade! Sabe que amo chocolate, mas, por favor, que seja a última vez — disse pegando a barra de sua mão. — Preciso diminuir dois manequins, pelo menos!

— Bobagem! Você parece uma daquelas ilustrações antigas: perfeita.

— Talvez não seja isso que faz sucesso hoje em dia. Saí nesse final de semana, pela primeira vez. Nada aconteceu — lamentei.

— Às vezes, olhamos longe, quando deveríamos observar perto — disse — para algo acontecer...

— Como assim?

— Deixa pra lá. Abre esse chocolate logo, menina, antes que eu coma sozinho.

— Tobias! — protestei, pegando o chocolate e mordendo-o logo em seguida. — Você é cruel! 

Continue Reading

You'll Also Like

15.9M 1.3M 98
(CONCLUÍDA) Livro Um Os opostos se atraem, mas não se entendem. Será? Helena, é uma adolescente rebelde que já acha que é dona do próprio nariz. Mima...
366K 36.8K 53
"Quando ele morrer, Pegue-o e corte-o em pequenas estrelas, E ele vai fazer a face do céu tão bem Que todo o mundo vai estar apaixonado pela noit...
370K 142 1
Alex Fox tem 17 anos e é filha de um mafioso perdedor que acha que sua filha e irmãos devem a ele, Ele acha que eles tem que apanhar se acaso algo es...