Capítulo 1

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Isa

Dia 1

— Você perdoaria uma traição?

Logo que tudo aconteceu, meu melhor amigo me perguntou isso e eu respondi: não.

Apenas erros podem ser perdoados e traição não é um erro, é uma escolha. Ninguém esbarra numa vagina por acaso e a gente conhece as pessoas pela maneira como saem da nossa vida, não pela forma que entram. Então, pensando nisso, li, pela última vez, a carta que escrevi:

Agora o que mais faz doer é o desgosto da traição. A dor física de uma mágoa incalculável, o escurecimento da alma, a sensação de ter o coração pisoteado por uma manada de búfalos e o sentido da minha vida alterada.

Por que você fez isso conosco? Por que está fazendo tudo isso comigo?

Essas perguntas não têm respostas, não há desculpas cabíveis e nada acabará com o que estou sentindo. Não se pode rebobinar a fita e resgatar os sentimentos feridos. Não tem volta.

Tudo foi perdido.

E, agora, é isso que mais faz doer. Nada será como antes. Acabou! O que tínhamos foi morto por você. O que me resta não é juntar os cacos de um relacionamento destruído, de meu coração partido ou de tudo que foi quebrado em pedaços... Não, nenhum remendo seria suficiente e coisa alguma faria isso tudo sumir.

O que posso, e vou fazer, é curar as feridas e recomeçar. Não vou te esquecer, assim como nunca sairá de mim tudo que está me fazendo sofrer, porém, vou superar. E depois disso voltarei a viver, buscarei ser feliz novamente e serei.

Tenha certeza disso: EU serei mais feliz que você!

E quanto a você? Espero que alguém te faça sofrer assim como fez comigo. Desejo de todo coração que um dia perceba o mal que me causou e que Deus te perdoe, pois eu não farei.

Depois dessa última leitura, queimei a carta escrita num papel qualquer e soprei ao vento, através da janela aberta em meu quarto. Já estava curada, era hora de seguir em frente. Precisava caminhar firme na direção da minha meta, porque o pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza.

Eu acreditava, tinha optado por isso. Seria feliz.

— E agora? — questionei Abnel. — O que sua bruxa interior me diz?

— Sempre haverá outra chance, outro amor, mas nunca outra vida.

— Tenho certeza disso. — Sorri.

— Agora, bicha, você joga um batom nessa boca e bola pra frente!

— Já estou usando. Olha! — Fiz biquinho para meu grande amigo.

— Meu ditado preferido é aquele que diz: Não há nada que...

— Que não se cure com um bom batom vermelho ou uma taça de sangria! — completei sua frase preferida.

— Pois é, minha filha, mas com batom cor-de-rosa você não vai conquistar nenhum bofe! Capricha no vermelho! Mas, lembre-se de que: se você está procurando a pessoa que vai mudar sua vida, comece dando uma olhadinha no espelho — disse, apontando para meu pequeno espelho preso na porta do guarda-roupa.

Abnel é um rapaz inigualável, bem-sucedido em sua área de atuação. Ele trabalha em um banco internacional e todo ano é premiado em suas ações com o setor de recursos humanos. Homossexual, ou melhor, apenas gay, como prefere ser etiquetado, é uma figura única. Um amigo que certamente levaria para a vida toda, o melhor do mundo, um irmão do qual nunca me separaria.

[Degustação] 100 Dias para AmarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora