Julgamento dos Terráqueos

By KarllySore

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[COMPLETO E REVISADO ✔] E se o seu destino fosse decidido pela vida de uma pessoa? E se os erros dele se tor... More

Que o Julgamento Comece!
2° Seção
3° Seção

1° Seção

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By KarllySore

À sua direita se sentou o espírito, provindo de uma cadeira de aparência muito melhor que à sua.

"Ei! Ei!'', brandiu o antes vivo, meio morto. ''Como assi...aí!! ".

Tal ser, se virou, olhando para a direita, de onde tinha certeza ter vindo o pisão em seu pé. Porém, o espírito nada disse, entretanto, pareceu chamar-lhe para perto, então, assim o fez.

"Você está sendo julgado! Então cala a boca!", brandiu, e em resposta ele disse: " O que aquela criança disse é certo? Você escutou ela? ". Mal terminada sua frase e tal belo ser virou o cabeça em sua direção, com o mesmo olhar bestial de antes, querendo comê-lo vivo. Disse-lhe:

"Ele, a criança, é Deus!".

Demorou alguns segundos divinos para que o ser tolo acreditasse em suas palavras, mas quando conseguiu finalmente organizar a ideia respondeu: "DEUS?!"

"Eu! '', respondeu a criança, olhando para ele que agora estava de pé. ''Sente-se filho, não temos todo o tempo do mundo".

O riso quase escapou-lhe dos lábios, mas não ousou fazê-lo já que em seu lado direito havia algo; um ser; uma peste; uma salvação; que o mataria caso aquele julgamento não decidisse isso; por está razão levantou a mão.

"Aqui tem Wi-fi?", perguntou, e Deus respondeu sua pergunta com outra: "O que é Wi-Fi?"

Satisfeito, abaixou a mão, não olhando para a direita, sabendo que seria comido somente com o olhar.

Deus por fim riu.

" Claro que temos. Se vós, seres tolos, tem, porque não haveríamos de ter?"

O morto vivo olhou para o que estava ao seu lado, e esse, sorriu, como um aviso de que não deveria ter feito a pergunta.

"Então... Comecemos '', Deus disse, batendo o martelo. ''Ultimamente, por descaso de tais seres irracionais viventes na esfera azul, os lados — o Céu, o Inferno, a morte e o Limbo — andam tendo problemas para definir um por um, quem irá a qual lado. Cada vez mais a cobiça os toma, e guerreiam por razão alguma. Da última vez, me foi notificado que uma guerra se iniciou, pois, um Presidente disse ao outro que ele tinha uma minhoquinha entre as pernas.'' Murmúrios se instalaram pela cúpula.'' Shhh! Deixem-me terminar! Visando acabar de vez com tal tarefa que cada vez torna-se menos viável, decidiremos seu futuro de uma vez, usando como base esse humano que aqui está! '' Todos concordaram, por isso prosseguiu: '' Filho, diga teu nome e apresente sua defesa".

Não tendo este passado por educação rigorosa, olhou para os superiores à sua frente não compreendendo. Já preparada para isto, o espírito levantou-se, abotoando um dos botões de seu casaco branco quando disse o que estavam esperando:

" Perdoem-no vossas magnificências, mas este ser irracional não pode lembrar-se de seu nome quando morreu em outro plano. Foi regra que o senhor mesmo propôs depois do caso com o Palhaço. Mas, respondendo a outra explicação que pedis-te: serei eu a defesa."

"Ah, sim, sim, o caso do Palhaço. Recordo-me. Lembro-me como se fosse hoje de tal ser aparecido passeando por meu Quintal; roubando atenções, pregando peças... '' Deus suspirou, como se tivesse visto algo aterrorizante '' Mas não podemos prosseguir sem informações. Permito que recordes as memórias de sua vida passada para que possamos julgá-lo com êxito. 

Quando sua última palavra fora dita, passou o olhar por três senhoras, que assentiram.

Por alguns segundos a cúpula ficou em pausa, cochichando sobre planos, e enquanto faziam, os dois, que estavam ao meio, esperavam impacientes.

"Você já lembra de alguma coisa?" O da direita o perguntou, e que estava sendo julgado: "Não, mas acho que algumas vagas coisas estão começando a surgir.

Seu advogado de defesa concordou, e deixou sua língua passear pelos cantos internos da boca, parecendo estar aborrecido. O mesmo balbuciou algumas palavras desconexas, até colocá-las em ordem:

''Eles devem voltar suas memórias aos poucos. E antes que me pergunte o porquê, como grande acéfalo que es, respondo: Porque sua mente agora pequena e vazia se partiria com a entrada de informações".

O lamentável antes humano concordou. Não estava em posição de duvidar, e por mais que quisesse ter respostas, não as receberia; mesmo assim perguntou:

"Se o pirralho é Deus, quem é o Diabo? Uma vovó?".

Já exausto por tal impertinente atitude o belo advogado de defesa apontou para o Júri, da esquerda para a direta listou cada um:

"Diabo, Deus, Morte. Satisfeito?".

De forma alguma estava satisfeito, afinal todas suas esperanças estavam sendo quebradas. Antes não havia nenhuma memória em sua mente, mas tinha convicção de que Deus não era uma criança, assim como tinha convicção que o Diabo não era bonito com cabelos vermelhos e olhos mais dóceis do que todos o que o olhavam; e que a Morte não era uma bela moça. Estupefato, levantou a mão novamente, e com isso todos os murmúrios se encerraram, mas sua resposta não chegou a ser respondida pois sua mão foi abaixada com olhar repressor e, promessa de ir embora, deixando-o ali, sem defesa.

"Então comecemos! '' disse o ser que dizem tudo saber. '' Um passo à frente advogado de acusação e advogado de defesa! " .

O antes vivo observou enquanto sua defesa saia de seu lado, ficando à sua frente, e observou um Senhor se levantar do banco em que estava; usava túnica branca, e sandálias, tendo barba sem cor.

"Se estou sendo julgado por que estão me acusando?" perguntou o que estava sendo julgado, e antes que sua Defesa reclamasse por esse ter novamente aberto a boca o velho da acusação respondeu: " Aqui, estás representando a Humanidade. Seus erros, serão os erros deles. Eu estou aqui unicamente para apresentar tais fatos, assim como sua defesa para nos explicar sobre eles".

Se fosse ingrato o suficiente diria que poderia ele mesmo explicar sobre seus erros, mas vendo a imagem do ser horripilantemente belo à sua frente, de costas, não pôde deixar de se sentir feliz.

"Senhor..'' Olhou para o garoto sentado no meio, que havendo divagado em sua mente respondeu tardiamente"O quê?". Quando o fez, o velho prosseguiu: " Já que realizastes a abertura do julgamento, eu direi o que julgaremos: julgaremos a vaidade! A arrogância! Senhor, peço que entre a primeira testemunha! "

Do centro, o que estava sendo acusado observou enquanto uma porta se abria — sendo que não a tinha visto desde que entrou. Por ela, passou uma senhora, que com ajuda se sentou ao lado esquerdo de Deus.

"Conhece?" o advogado de defesa o perguntou, voltando a se sentar.

Ele negou de forma lenta. Memórias ricocheteavam em seu pequeno cérebro oco, e quanto mais esforço fazia, ainda mais vazio se parecia.Entretanto, como que iluminado por luz divina, ou praguejado pelo demônio, o bombear de memórias cessou, concentrando-se em uma.

"Ah! professora de matemática doida, que só me dava falta!!"

Todos no tribunal o observaram, e quando este percebeu um sorriso crescer por baixo da barba do velho decidiu que não deveria olhar para o lado, ou morreria com o olhar ofuscante e negro, jorrado por um ser que agora via-se em posição desvantajosa.

"Percebem? '' o velho perguntou. ''Percebem como tratam os mais velhos? Como honram o ensino que recebem? Os seres humanos de hoje são bárbaros! Verdadeiros bárbaros!". Enquanto isso, a velha concordava, não tendo dito uma palavra.

"Diga-me '' Deus começou. ''Conheces aquele humano? "

A mulher respondeu:

"Oh, se conheço! Era uma peste! Um demônio!".

O verdadeiro dono de todos os males deixou que o ar entala-se em sua garganta, ecoando som repressor que causou na velha uma reação em camadas, até chegar aos cabelos brancos, que se arrepiaram.

"Creio, que não precisamos dizer mais nada. Senhor, pode julgar o quanto quiser, mas sempre chegaremos ao mesmo ponto".

Deus concordou, apenas por concordar, afinal o julgamento prosseguiria da mesma forma.

" Ele me respondia, e nunca prestava atenção! '', gritou a velha. ''Não sei como aguentei ele por tanto tempo! "

"Foram só dois anos! " indignado rebateu. E ela: "Os piores anos da minha vida! Estudei por anos, pra que no fim, quando finalmente consigo o emprego que sempre quis um desaforado como você me faça passar por ridícula!".

O pobre ex-humano olhou para o lado, à sua direita, vendo sua defesa nada dizer. Vendo que seus advogado talvez não fosse rebater, se levantou.

" Isso é ridículo! Eu posso ter feito mal a ela, mas é errado julgar a ação de uma criança! Ainda mais comparar com a ação de todos no mundo! "

A moça vestida de preto no júri respondeu ela própria a exclamação:

" Então aquele que bate tem menos culpa que aquele que observa? Aquele que mata, rouba, é menos culpado que aquele que prende? "

"Mas prendemos pessoas para proteção! ", retrucou, e ela em resposta: " Seres não gostam de ser presos. Então porque soltam pássaros, mesmo que o tenham bicado, mas jogam pedras naqueles de sua própria raça? São os outros seres superiores a vocês, e por isso, menos culpados? "

"Sente-se", o ser à direita disse, dessa vez aconselhando.

Aborrecido, sentou-se, e nada mais disse; nem quando o moço com quem comprava balas entrou, apontando seus defeitos, que agora eram o de toda a humanidade. Ele saiu depois de ter lembrado-o de uma vez em que roubou quatro balas. O antes vivo se encostou na cadeira, completamente cansado. Cansado ao ponto de não escutar a terceira testemunha entrar, em passos calmos. Somente quando ela se sentou e que o júri a apresentou, foi que seus olhos se encontraram.

"Reconhece ela? ", o ser à direita perguntou-lhe, e chocado o réu concordou, enquanto seus olhos hipnotizados se mantinham na mulher com belos cabelos ruivos e aparência quase idêntica a que se lembrava.

"Eu gostava dela no Ensino Fundamental. Não sei como, mas... ela não mudou quase nada"

o outro ser assentiu, e de forma devagar e com pausas respondeu:

''Ela suicidou-se dois anos depois de entrar no Ensino Médio".

Os olhos do antes humano encheram-se de lágrimas, mas não conseguiu colocá-las para fora. Ainda era linda. Ainda via beleza na moça, assim como não conseguia imaginar ser tão belo, em lugar tão terrível quanto o inferno. O espírito vendo seu estado, levantou-se.

"Posso fazer as perguntas?'' perguntou. Todos no júri fizeram que sim, afinal em nenhum momento este havia decidido dizer algo. ''Por favor, comece dizendo seu nome''

"Daniela "

Sua voz fina e delicada ecoou, e nesse momento o julgado teve certeza de que era ela, então, sussurrou ao advogado: "É ela". Esse, fez que sim, voltando sua atenção a moça''.

"Então... Posso prosseguir perguntando o por que de estar aqui?".

Do outro lado, o advogado da acusação se levantou.

"Protesto! Ele está querendo saber da vida da... '' foi interrompido.

"Cala a boca,, Tales! '' o espírito gritou. ''Não estou perguntando sobre antecedentes, e sim o motivo para ela estar aqui. Não ache que pode protestar, só porque vai usar a linguagem formal. Se ponha no seu lugar!"

O velho olhou para o júri. Deus tinha a mão no queixo, parecendo cansado, e os outros dois estavam calmos da sua própria forma. Por isso, ele se sentou, vendo que não seria defendido.

"Me disseram que eu tinha que dizer algo, então, estou aqui para falar. É isso".

"Então posso presumir, que não tem nada contra ele? "

"Na verdade, não. Não tem como odiar alguém que você ama. Ou talvez tenha, mas eu não saberia odiá-lo".

"Então, o ama?'' Tales levantou-se. ''Ama um ser humano vulgar, que com desdém tratou a todos que tentaram ensiná-lo? "

Ela em resposta, concordou, respondendo oralmente logo em seguida: " Ele era idiota. Sim, era. Fazia brincadeiras, e quase nunca prestava atenção, mas era isso que eu gostava. Gostava do fato dele me fazer rir, mesmo que nunca soubesse que me fazia bem".

"Então... Pode dizer que somente a tí fez bem? "

Sem tempo para pensar, esta respondeu: "Não. Tenho certeza que não. Ele não parecia o tipo de pessoa que deixaria os amigos na mão"

"Então... '' Levou segundos para que o raciocínio tomasse forma em exato contexto, e quando o fez, seu tom era calmo. '' Se era assim tão maravilhoso, então por que se matastes? Não deveria ele evitar isso, se nunca deixava ninguém na mão? "

"Ei! '' o humano gritou baixo ao ser à sua frente, tentando alertá-lo. Esse, respondeu com um gesto para que se acalmasse. ''Você precisa pará-lo! Ou ele vai me complicar, ou vai acabar machucando ela! "

"Ela mesma já se machucou", disse seu advogado em resposta.

A moça pensou. No entanto, não era porque duvidava, mais sim, porque pensava na resposta.

" Sabe, um dia eu li em um livro, que ninguém sabe o que o outro sente. Ninguém pode entender, ao menos que se diga. Eu nunca disse. Nunca disse, porque sabia que ele se preocuparia comigo. E eu não queria isso. Não queria que alguém se ferisse por mim. Porque...eu sabia que se ele me amasse de volta, nada iria mudar. Então eu nunca disse nada".

Agora era tarde. Finalmente pelos olhos do homem escorreram as lágrimas que estavam dormentes, enquanto mais lembranças voltavam à sua mente. O espírito foi à frente, e em passos calmos, estendeu a mão a ela, que desceu. Com gentil ação, envolveu sua mão, a levando até o ser que conseguia chorar por alguém já morto. Alguém que a si mesma feriu, e que para si mesma guardou dores.

Um abraço findou aquele encontro impossível.

" Penso que não há palavras para descrever amizade. Existem vários tipos dela, e tenho certeza que até mesmo o mais frio ser vai lembrar-se de alguém que um dia o fez sorrir'', o espírito passeava pelo espaço, olhando vezes para o chão, vezes para os presentes.

" Digas o que quiser. Nada muda o fato que esse humano era um bárbaro! E como as ações desse refletem a humanidade, então podemos pressu..." novamente foi interrompido.

" Ponha-se no seu lugar! O quão ignorante podes ser? Vós mesmo dissestes um dia que a cria se torna aquilo que o pai reflete, e se tomas este humano como bruto, então posso presumir que também és. Afinal, todos os que antecederam tem grande culpa por isso. Não tem como parar de fazer graça quando se vive em um mundo aonde se suicidam pela pressão. Sorrir vira algo raro. Talvez, daqui a alguns anos venderão em potes!"

" Então, estás afirmando que é possível ajudar alguém apenas a fazendo rir? Pois eu acho engraçado o fato disso não ter salvo a garota que estava depondo a minutos atrás! "

Nenhum dos presentes poderia ver, afinal não estavam prestando atenção, mas o espírito cerrou os punhos.

"Se um gesto; o fato de existir e fazer algo, não são suficientes, então não haveria necessidade que existissem. '' Quando disse, olhava para os seres que todos nunca souberam se existiam. Os seres sentados ao lado do juiz, incluindo ele próprio ''Se palavras, ações e lendas não são o suficiente, então por que vocês ainda existem? Não é por que conseguem mover pessoas apenas por existirem? Então ele, que tentou, mesmo que não da forma correta, merece ser culpado?"

Dizendo isso, olhou para trás. Para o homem que estava segurando firmemente a mão da garota ao seu lado, que parecia feliz por revê-lo.

"Devemos encerrar a primeira seção'', a moça vestida de preto disse, com um pequeno sorriso no rosto ''Temos a resposta."

Deus olhou para o ser de cabelos vermelhos ao seu lado, que com os olhos fechados, concordou, também esboçando sorriso curto.

"Ah, que seja! O humano ganhou o primeiro Round!".

O martelo alcançou a madeira, fazendo um som capaz de ecoar até nos baixos pisos do inferno, e altos degraus do céu. Todos do júri desceram, e dois homens estenderam a mão à mulher, com essa, aceitando.

"Espera! '', o antes vivo pediu. Atrás dela escutou um assovio, vendo que o dono daquela bela alma pediu aos dois que esperassem. ''Porque fez aquilo? Porque não... Não... "

Ela sorriu, e em resposta disse: " Às vezes, você sente que o fardo é tão grande quanto respirar debaixo d'água."

Dizendo isso, aceitou a mão de um deles, começando a seguir seu caminho de volta.

"Então... Na próxima vida irei torcer para que volte como um peixe! "

Ela já estava longe o suficiente para estar olhando para o homem de cabelos vermelhos de perto, mas pôde escutar, e como resposta, concordou com emocionado sorriso. Ele observou a garota passar por uma porta do outro lado, e quando todos já haviam ido, se sentou, escutando os passos de seu advogado em sua direção.

" Eu pensei que você não iria dizer nada! Minha professora de matemática, e até o tiozinho que comprava bala todo dia deporão, e você não fez nada!"

"Ficar em silêncio também é uma forma de proteção.'' Essa foi sua resposta. ''Levante-se, ainda há muito pela frente, e recomendo que estejas preparado para os próximos rounds, pois só irá piorar".

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