A Outra - Degustação

By Ju-Dantas

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Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9

Capítulo 5

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By Ju-Dantas

— Está louca?

Eu tento soltar a minha mão que Melanie segura com força. Ela não me solta. E mais assustador do que a força com que ela segura minha mão é a determinação que vejo em seu olhar.

— Sim! Não vê? É perfeito. A solução perfeita. Para nós duas.

— Trocar de lugar? — repito, como que tentando achar um sentido naquela simples frase absurda.

Como Melanie podia sequer cogitar algo tão insólito?

— Sim! Eu faço a turnê promocional e você fica no meu lugar em Lakewood. — Ela sorri agora. No seu rosto há uma alegria fervorosa.

Enquanto eu ainda acho que ela enlouqueceu.

— É tão ridículo!

— Não é!

— Melanie, está falando sério? — De alguma maneira, eu continuava achando que ela poderia estar brincando.

— Com certeza!

— Não. — Puxo minha mão e pulo da cama ignorando o olhar ansioso de minha gêmea.

— Sei que parece uma ideia insana, porém, quanto mais eu penso mais sentido faz para mim — insiste.

— Não, você só pode estar delirando! Onde pode haver algum sentido em trocarmos de lugar! Meu Deus!

— Por favor, Mel! Pense bem, a gente consegue!

— Claro que não! E você deveria deixar estas ideias malucas de lado e pensar em voltar para sua casa e seu marido antes que seja tarde.

— Eu já te disse que não posso. Não ainda! Mas também sei que Connor não vai esperar muito. Sua paciência está se esgotando e ele vai me forçar a voltar — diz cheia de angústia. — Por outro lado, se você for no meu lugar...

— Meu Deus, é tão errado em tantos níveis.

— Não, se ninguém descobrir!

— Como acha que vamos conseguir fazer algo tão temerário?

— É possível e sabe muito bem. Ninguém sabe que somos gêmeas. E somos iguais. Eu te falei, Charlote acreditou que eu fosse você e nem desconfiou de nada.

— Está delirando.

— Não estou! Faz muito sentido! Sem contar que se você fosse pra Lakewood, poderia conhecer o papai.

— E você ficaria aqui.

— Sim! Seria perfeito, você se veria livre de toda esta coisa de promoção, porque eu faria no seu lugar e dentro de dois meses a gente trocaria novamente.

— Não, está louca. — Não querendo admitir a existência de um assustador sentido na proposta irresponsável de Melanie.

No entanto eu sou uma pessoa sensata. Claro que é algo muito errado.

Insano.

Suspiro.

— Vá dormir Melanie. E pense no que deve fazer, eu a amo e a quero comigo, mas tem uma família que precisa de você e precisa voltar para eles. E eu tenho que continuar com a minha vida.

— Uma vida que odeia. Assim como odeio a minha.

— Feliz ou não é a vida que temos.

— Podemos trocar. Apenas por um tempo, fugir...

— Boa noite, Melanie.

Vou para meu quarto, ignorando as palavras tão insanas quanto sedutoras de Melanie quando finalmente deito a cabeça no travesseiro e tento dormir.

***

Não me sinto bem.

Tento conter a onda de náusea que me acomete enquanto me visto para a tão temida entrevista.

É impossível. Antes de conseguir abotoar a blusa corro de novo para o banheiro e vomito. Outra vez. Já era a terceira vez naquela manhã.

Levanto-me tropegamente e olho minha imagem no espelho. Estou péssima. Não preguei o olho quase a noite inteira e, quando finalmente consegui adormecer, fui acometida por pesadelos. E agora não conseguia parar de vomitar. A quem eu queria enganar?

Estava apavorada.

— Mel? Já está pronta? — Escuto a voz de Melanie entrando no quarto e respiro fundo, fechando os olhos, uma nova onda de ânsia me dominando. — Seu porteiro acabou de avisar que a Charlote está subindo. Meu Deus! — Ela arregala os olhos no momento que entra no banheiro, porque estou com a cara enfiada na privada novamente, expelindo o que ainda resta no meu estômago. — O que você tem?

Começo a chorar.

— Está doente? — Melanie insiste. — Charlote está subindo para te buscar.

Eu a encaro.

— Acho que não consigo fazer o que preciso. — Soluço.

— Ah, Mel, você tem que ir, Charlote está chegando e...

— Ela terá que cancelar, estou péssima. Vou dar vexame.

Melanie fica me encarando por um momento, o rosto cheio de consternação, até que escutamos a campainha.

— Espere aqui, vou falar com ela.

— Não... — Mas Melanie já desapareceu porta a fora.

Encosto minha cabeça no piso frio. Mais do que nunca me sinto horrível. Como é que ia encarar toda uma turnê promocional se na primeira entrevista já estava tomada de pânico?

Não sei dizer quanto tempo se passa, se segundos, minutos ou horas quando escuto passos se aproximando e me preparo para ver Charlote surgir no meu campo de visão, mas quem aparece é Melanie.

— Vem, vou colocar você na cama. — Ela me ergue facilmente do chão e me deixo levar até a cama onde Melanie me faz deitar e puxa as cobertas sobre mim.

— Charlote... — balbucio, porém Melanie já se afastou de mim. Com minha visão ainda turva a vejo abrir meu closet e começar a tirar as próprias roupas. — O que está fazendo?

— Não se preocupe, tudo dará certo — diz, enquanto coloca um vestido preto e saltos.

— Melanie, porque está vestida assim?

Ela se aproxima da cama e sorri.

— Vou no seu lugar.

— O quê? Não... — Tento me levantar, mas ela me segura com as mãos firmes.

— Acalme-se, Mel! Ninguém vai saber. Nem a Charlote. Fique aí e descanse. Vou salvar sua pele! — Ela pisca, como se tivesse prestes a viver uma grande aventura e não uma farsa perigosa.

Não tenho forças para detê-la, enquanto a vejo sair do quarto e fechar a porta devagar atrás de si.

E a quem eu queria enganar? Não queria detê-la.

Estava aliviada por ter outra Mel para tomar o meu lugar.

Após sua saída, começo a me sentir melhor pouco a pouco. Já não existe o pavor de ter que encarar uma tarefa que odeio e me aterroriza.

Levanto-me da cama e tomo um banho, quando volto para o quarto vejo as roupas de Melanie no chão, uma bagunça sobre o carpete.

Então o medo me bate de novo. E se descobrirem?

E se ela responder alguma besteira e sacarem que aquela não é a escritora Mel Blake?

Por que descobririam? Ninguém sabe que tenho uma gêmea. Que somos idênticas. E, se ela enganou Charlote que me conhece muito bem, conseguiria enganar multidões.

Visto um roupão e vou para a sala, ligando a tevê. Sintonizo no canal da entrevista que já deve estar para começar.

O casal de apresentadores aparece na tela e então, lá está ela.

A outra Mel.

— Estamos aqui hoje com a autora do best seller que conquistou uma legião de fãs pelo mundo "Os vampiros de Nova York", Mel Blake.

Ela sorri para a câmera e responde às perguntas com desenvoltura impressionante. É simpática, charmosa e engraçada. Tudo que eu nunca fui e nunca vou ser.

Fico ali, olhando fascinada para aquela mulher. Tão parecida fisicamente comigo que poderíamos passar facilmente pela mesma pessoa. E tão diferentes na personalidade. As perguntas se multiplicam na tela. Os apresentadores a levam para fora, onde uma horda de fãs a espera com cartazes apaixonados. Ela sorri e acena, assina os livros estendidos, abraça as fãs que choram emocionadas por poder tirar uma self.

E de repente me imagino ali. Como seria? Seria carismática e tranquila como Melanie?

Claro que não. Estaria travada e sem saber se ria ou chorava com todo aquele alvoroço.

Definitivamente, não nasci para aquele papel.

Eu amava escrever. Amava dar vida a novos personagens, novos mundos. Porém, de maneira alguma gostaria de ser famosa daquele jeito.

De repente escuto o som de um telefone tocando e vejo que Melanie deixou o celular em cima da mesa de centro.

Apanho o aparelho e o nome Connor Carter brilha na tela. Por um momento me recordo da beleza quase assombrosa daquele homem. Meu rosto se tinge de vermelho culposo no instante seguinte. O telefone continua a vibrar e tocar em minhas mãos. Insistentemente.

Posso imaginar o que ele sente. A urgência que aquele toque persistente significa. A carência. A preocupação. O desespero.

Sem ao menos pensar no que estou fazendo observo meus dedos trêmulos deslizarem para atender. Coloco o fone no meu ouvido.

— Connor? — sussurro.

— Melanie, pelo amor de Deus, por que não atendeu minhas ligações? Que inferno! — Sua voz é feroz. Pura fúria e dor.

— Me desculpe — me escuto murmurando.

— Porra! — ele solta um palavrão. Vários. Me pergunto se é um cara de boca suja ou se só está furioso.

Fico ali, com o telefone no ouvido, incapaz de desligar nossa conexão.

Até que ele respira fundo.

— Eu falei que não ia mais brigar. Que não ia mais insistir, mas que inferno, Melanie. Se não se importa comigo, pense nos seus filhos.

Fecho os olhos, comovida e solidária com sua dor.

— E Deus sabe que eu queria deixar você ir, mas eles precisam de uma mãe. Precisam de você.

— E você? — De repente me vejo perguntando. — Você precisa de... — Ia dizer "de Melanie", mas consigo me manter firme na farsa — de mim?

Silêncio. Escuto seu respirar profundo.

— Volte para casa, Melanie. Volte e podemos tentar consertar tudo.

Deus, eu acredito. Acredito tanto nele. Quero tanto que ele tenha o que quer.

E ele quer que Melanie volte para casa. A casa para a qual ela disse que não estava preparada para voltar. Não ainda...

— Tudo bem. Vou voltar, Connor — me vejo dizendo. — Voltarei para Lakewood. Para você.

— Quando? — indaga, entre ansioso e desconfiado.

— Só mais alguns dias. Eu prometo.

Desligo e fico olhando para o celular na minha mão. Meus dedos estão molhados. Demora para eu perceber que são das minhas lágrimas.

***

Quando Melanie aparece horas depois, ainda estou no mesmo lugar. Ela bate à porta e vem em minha direção. O rosto vermelho de calor e empolgação, enquanto retira os saltos e se joga em cima de mim num abraço desajeitado.

— Mel, foi incrível! Incrível! — Ela ri e então me encara. — Você está bem? — Sua animação arrefece um pouco quando vê meu semblante inexpressivo. — Ainda está mal? Pensei que fosse só medo e que iria melhorar.

— Estou bem — respondo por fim.

— Então fique feliz! Eu consegui. Quer dizer, nós conseguimos! — Ela ri. — Ninguém desconfiou de nada e, quer saber? Amei!

— Melanie, Connor ligou.

Seu riso congela no rosto.

Continuo.

— Eu atendi.

— Você...

— Ele pensou que era você. Parece que mais alguém estava criando uma farsa nessa manhã, embora minha audiência fosse menor — ironizo.

— Ele achou que fosse eu?

— Eu não disse quase nada, mas...

— O que ele falou? — Ela ri sem humor. — Claro, deve ter brigado, xingado, implorado...

— Eu disse que você ia voltar para casa.

Ela arregala os olhos horrorizada.

— O quê? Não!

— E você vai voltar Melanie.

— Não, não posso, eu já disse...

— Vou voltar no seu lugar — digo por fim, o que, percebo agora, já estava na minha mente desde que disse a Connor que Melanie voltaria.

Sabia que ela não queria voltar para casa ainda.

Assim como eu começava a perceber que seria extremamente  sedutor  deixá-la tomar o meu lugar.  Ela havia provado que era capaz de ser eu. Até melhor do que eu mesma.

Ela era a Mel Blake perfeita.

Será que eu seria a Melanie Carter, esposa de Connor Carter perfeita?

Sinto um frio na barriga.

E não é só de medo.

E isto é mais assustador do que tudo.


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