AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PE...

By wlangekeinde

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Em um país chamado Kailan, governado por uma ditadura militar, a jovem Kristina Lan Fer está mais preocupada... More

APRESENTAÇÃO
BOOK TRAILER
CAPÍTULO 1 - OS LAÇOS QUE PRENDEM A CORDA
CAPÍTULO 2 - AMIGO DE LONGA DATA
CAPÍTULO 3 - TRÊS MESES DEPOIS
CAPÍTULO 5 - DISTÚRBIO
CAPÍTULO 6 - LONGE DEMAIS
CAPÍTULO 7 - OS INCONFORMADOS
CAPÍTULO 8 - O VISIONÁRIO DA COSTA BAIXA
CAPÍTULO 9 - NOSSO ABRAÇO DE AGULHAS
CAPÍTULO 10 - AS TRAMAS OCULTAS DA GUERRA CIVIL
CAPÍTULO 11 - ESBOÇO DE UM CRIME FEDERAL
CAPÍTULO 12 - MEIA DÚZIA DE PROMOTORES DO CAOS
CAPÍTULO 13 - PENSAMENTOS PROIBIDOS
CAPÍTULO 14 - O TERCEIRO-SARGENTO
CAPÍTULO 15 - NO ALBERGUE I
CAPÍTULO 16 - NO ALBERGUE II
CAPÍTULO 17 - PAZ? SOMENTE AOS SUBMISSOS
CAPÍTULO 18 - O PRIMO
CAPÍTULO 19 - RECOMPOR
CAPÍTULO 20 - O DIA DA DECISÃO
CAPÍTULO 21 - O HOMEM QUE USURPOU A NAÇÃO
CAPÍTULO 22 - PEDRAS NA POÇA DE ÁGUA (final)

CAPÍTULO 4 - BASTIDORES DA PÁTRIA

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By wlangekeinde

Era uma sexta-feira de outubro, fim de expediente na sede da Corporação Horizonte. O mais novo Administrador de Rede se dirigia aos elevadores. Entrara na empresa como Analista de Processos de Primeiro Grau, mas dois meses atrás conseguira sua nova função. Ainda não era a necessária, porém ele acreditava que esta chegaria logo. Precisava acreditar, ou se sentiria ainda pior.

No elevador, encontrou um grupo de colegas da sua antiga equipe.

— Fala aí, Briel. Recebi notícia de que seu projeto vai finalmente ser lançado.

— No início de dezembro — disse Briel.

— Parabéns, parceiro.

— Obrigado.

— Tá sabendo da festa no sítio do Nero amanhã? Ele tá chamando todo mundo. O que você acha?

— Eu acho ótimo, mas nesse fim de semana não rola. É o casamento da minha cunhada, e não tem como eu faltar. Mas fica pra próxima, hein.

No primeiro andar, Briel se separou dos outros, indo em direção ao banheiro. Aliviou-se, lavou as mãos e ajeitou a gravata. Quando se virava para sair, um dos Administradores de Dados, que trabalhava com ele atualmente, entrou.

— Ei, olha quem tá aqui — disse o homem. — Segunda-feira eu ainda vou te ver ou você já vai ter virado presidente dessa porra?

Era um homem simpático.

— Dá licença, por favor — pediu Briel.

O homem continuou em seu caminho.

— Eu ainda não descobri qual é a sua, moleque, mas eu sinto um ar de trapaceiro em você.

Não é um ar, é uma ventania, pensou ele.

— Tá — disse. — Posso sair agora?

O outro liberou a passagem, mas manteve os olhos fixos em Briel enquanto ele saía. Do lado de fora, não houve mais obstáculos no caminho até o carro, na garagem do prédio. Ao entrar, Briel olhou para as flores no banco do carona: antúrios rubros de miolo escuro em um vaso decorado. Comprara-os pela manhã, antes de ir ao trabalho. Prendeu o vaso com o cinto de segurança, cauteloso para não amassar as pétalas, e deu a partida.

O centro de Orlestan era eternamente movimentado, ainda mais àquela hora, em que o trânsito se infestava de pessoas se deslocando do trabalho para suas casas. Briel deveria ir à faculdade, que tivera que mudar para o turno da noite. Entretanto, após uma hora e meia, seu sedan verde-escuro passava por um grande portão preto com detalhes dourados, ladeado por colunas com arbustos redondos em cima.

O carro atravessou a rota de entrada até um caminho circular com uma fonte no meio, parando em frente a uma porta dupla que já estava aberta. Aquela casa era o labirinto mais enfeitado com quadros de moldura de ouro em que Briel já entrara, e ele tinha demorado até aprender o caminho para o quarto. Mas agora, já adestrado, acertava de primeira.

A mulher estava deitada na cama de casal, de camisola, assistindo à televisão em uma tela maior do que o desgosto de Briel. Quando desligou o aparelho, a luz da lua e das estrelas que penetrava pela porta de vidro da varanda passou a ser a única iluminando o local e a face de Iore Eston.

— Oi, meu amor — disse Briel, mostrando-lhe os antúrios.

— Lindo. Pode colocar ali na mesa.

Pelo menos Iore era uma mulher conservada. Batia à porta dos cinquenta anos, mas seu rosto tinha feições vigorosas. Os seios não estavam tão abatidos, o abdome ainda era mais firme do que frouxo e ela tinha tanta energia para o sexo quanto o rapaz que agora rolava para seu lado, arfante. Apoiando o travesseiro no espaldar da cama, ela se sentou. O cobertor escorregou de seu tronco, fazendo fronteira na altura dos quadris enquanto ela se inclinava para pegar um cigarro no criado-mudo.

Briel, ainda deitado, a observou de baixo: a pele dela brilhava de suor à luz daquela noite quente de primavera, para a qual ela olhava pela porta da varanda. Os cabelos crespos de Iore eram curtos demais. Ele não podia deixar de pensar nos cabelos longos de Kristina, que ela cultivara com tanto cuidado e admiração até eles alcançarem, secos, a linha do início de suas nádegas.

Briel fechou os olhos. No vazio, surgiu o espectro de uma Kristina sorridente, jovem, delicada em seu corpo magro e vigoroso, tentadora em seus ombros retos e sua clavícula saliente. Não tinha muito peito nem muita bunda nem muita coxa, mas ele gostava do corpo dela do jeito que era. Já a tinha visto de biquíni várias vezes, quando os dois passavam horas na piscina da casa de um ou de outro, ou quando iam às cachoeiras de Almar ou às praias de cidades vizinhas.

De repente, um movimento ao seu lado interrompeu o devaneio. Iore sacudia as cinzas do cigarro no cinzeiro dourado sobre o criado-mudo. Erguendo-se para se sentar, Briel perguntou:

— Como foi seu dia, amor?

— Eu passei no SIK — respondeu ela, referindo-se ao Serviço de Inteligência de Kailan. — Fui resolver alguns contratos com a Horizonte sobre material, que eles estão em processo de atualização. E você, como foi seu dia?

— O de sempre. No fim do dia o pessoal me chamou pro sítio do Gerente de Negócios. Vai ter uma festa lá.

— Você vai?

— Não, eu combinei com você.

— A gente tem a opção de descombinar. Até porque tem tempo que você não sai com seus colegas. E se eles começarem a desconfiar?

Briel a beijou.

— Ninguém tá desconfiando de nada, amor. Além disso, eu prefiro ficar aqui com você do que sair com eles... Ou você quer que eu vá?

— Eu quero o dia de amanhã pra mim — disse ela sem rodeios, acariciando a nuca de Briel. O coração dele acelerou. Por quê?! queria perguntar. Mas não podia mostrar insegurança. Já o fizera uma vez e vira que não dava certo. Não podia mostrar medo. Lidar com Iore Eston era como um jogo.

— Beleza — disse ele. — Você manda.

A primeira impressão que Briel tivera de Iore era de uma doida, solitária, que queria um garoto para impressionar em troca de sexo. Depois achou que ela simplesmente não se importasse com nada. A verdade é que, quanto mais eles se encontravam, mais ele aprendia sobre ela. Era esperta, confiante. Controladora. Não à toa estava à frente da maior empresa do país. E queria mais do que um garoto impressionável, porém menos do que um homem com quem ter um relacionamento sério. Briel tentava ser esse meio-termo, mas era um trabalho cheio de incertezas.

— Eu tenho uma notícia pra você — disse ela. — Consegui o cargo que você queria.

— Sério?!

— Seríssimo. Você vai trabalhar no Palácio Presidencial, na mesma função.

— Nossa, isso é perfeito! Uau... Obrigado. Eu sabia que você ia conseguir.

— Eu também — disse ela, dando um trago profundo no cigarro.

Briel a beijou, começando pelo pescoço e descendo.

— Finalmente conseguiu a Sala de Operações do Palácio — disse Iore. Briel preferiu se manter ocupado. — O que quer que você esteja tramando, deve ser grande.

Briel interrompeu as carícias e deitou ao lado de Iore, virado para ela. Mordeu os lábios com medo de que tremessem. Estava em uma situação sensível agora. Talvez fosse melhor ficar na defensiva.

— O quê?

— Eu não nasci ontem, Briel. A quantidade de gente ambiciosa que eu já conheci é maior do que a quantidade de gente que você já conheceu.

— Todas as pessoas são ambiciosas. — Ele falava devagar, pensando em cada palavra, equilibrando-se na corda bamba. — Só que algumas sabem chegar onde querem, outras não. Quem não sabe passa a vida toda sendo operário de chão de fábrica. Quem sabe vira uma Iore Eston ou um Marechal Sarto.

Ela sorriu.

— Então você quer ser uma Iore Eston ou um Marechal Sarto?

— Seria ousado demais sonhar tão alto. Não... — Ele pensava em qual papel faria agora. Insistiria no amante apaixonado? Tentaria um interesseiro assumido? Desde que entrara naquele projeto, sua vida passara a ser uma eterna performance. — Eu realmente gosto de você, amor. E, não vou mentir, também gosto muito do que você tem feito por mim. Meus planos pra vida são os mesmos de qualquer cara normal: sucesso, dinheiro, amigos, amores. Todas as minhas atitudes, todas as minhas escolhas, correm na direção dessas coisas. Dessas quatro coisas juntas. Se eu tô tramando alguma coisa, é minha felicidade.

— Então você se vê como o tipo que sabe chegar onde quer. 

— Eu espero ser esse tipo. Mas o lugar onde eu acho suficiente chegar é menos do que onde você ou o Marechal Sarto chegaram.

— Por que você coloca o Marechal na conversa? Você acha que eu e ele temos muita coisa em comum?

— Os dois estão no topo desse país há anos. E provavelmente vão ficar por muito mais tempo.

Ela ajeitou o travesseiro e se virou para cima. Então, disse:

— Que assim seja pra mim.

— Que assim seja pra você... E pra ele.

Ao ouvir as últimas palavras, Iore ergueu as sobrancelhas em uma feição debochada.

— Não? — disse Briel. Respirou fundo, tentando impedir seu coração de acelerar tanto. Estava aprendendo mais uma coisa sobre aquela mulher, e era uma coisa positiva e inesperada.

— Eu sou uma cidadã, Briel. Tenho minhas opiniões como cidadã. Mas antes de tudo sou uma empresária, e o governo é meu maior consumidor.

— Eu não sabia que era assim. Quer dizer, achei que todo mundo que trabalhava com o governo era politicamente favorável a ele — mentiu. Ele próprio trabalharia para o governo na nova função e não podia estar mais longe de ser um apoiador de Sarto.

— "Politicamente favorável" é coisa de gente pequena. A política não é nada além de negócios.

Briel deu um sorriso. Sentia que Iore estava cada vez mais do seu lado. Ela seria uma ferramenta essencial para seus objetivos. Ele só precisava continuar falando o que ela queria ouvir.

— Uau. Esse é o pensamento de alguém que definitivamente merece ter chegado onde chegou.

— Você deveria pensar assim também. — Ela puxou Briel pelo quadril, colando seus corpos novamente. — Eu acho que você tem potencial, sabia?

E os dois continuaram aquela noite.






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