Artoris - O Preço da Vingança

By c4mali

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Ela foi traída e, por conta disso, presa. Esperou quase três meses por seu julgamento - e sabia que seria con... More

PRÓLOGO
PARTE UM
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CAPÍTULO EXTRA: TRAILER
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By c4mali


Demorou, mas finalmente eles entenderam que era preciso aço para contê-la. Emery, por sua vez, aprendera há algum tempo que se deixar ser contida e escoltada sem retribuir com violência ajudava no calor da comida e na lavagem dos lençóis.

Assim como todos os outros terceiros e quintos dias da semana, dois guardas foram até sua cela, ordenaram que erguesse os braços e lentamente os pusesse nas costas, juntos, para que os pulsos fossem unidos por algemas frias — pelo menos ajudava na luta contra o calor.

No quinto dia da sua nova semana na prisão, a rotina prosseguiu sem interrupções. Caminharam pelos largos corredores, observados por câmeras e iluminados por lâmpadas embutidas. Emery sempre fazia questão de levantar a cabeça a cada câmera que passava, exibindo um sorriso provocador para quem quer que a observasse do outro lado.

Alguns corredores e portas à frente, os guardas a empurraram para dentro de uma sala quadrada, com apenas uma janela coberta por grades.

— Espere aí — ordenou o guarda, apontando para a área onde Emery designara como sua. — Eles estão chegando.

— Eu faço isso todos os dias há quase três meses — Emery rebateu baixo e desinteressada. — Não precisa repetir as mesmas palavras todas as vezes.

— O que disse, prisioneira?

Emery sabia que ele ouvira cada palavra; pronunciara baixinho, mas não tanto. Em resposta ao guarda, apenas lançou um olhar inocente por cima do ombro e seguiu seu caminho até a janela.

Há muito não sentia vontade de tentar afastar as grades com um pouquinho mais de esforço, talvez gerando uma consequência desastrosa em algum canto daquele presídio. Com o decorrer das semanas, simplesmente passara a admirar a vista além do do ferro: o campo muito verde onde alguns prisioneiros usavam para diminuir suas sentenças, usando habilidades de plantar e colher.

Emery havia se perguntado algumas vezes qual das habilidades era mais refrescante para o psicológico atormentado pelas paredes das celas, pela comida rotineira e a hora única de recreio no pátio. Se julgasse o sol como inimigo sobre as cabeças, dar aula para prisioneiros ignorantes parecia uma escolha mais inteligente — embora estivesse longe de ser uma escolha.

Todos são designados para uma atividade, dissera o Diretor do Presídio Estadual de Eurin, por isso, procuramos por algo que o indivíduo já saiba dominar, para facilitar.

Emery lembrara de sorrir com sarcasmo.

Não sei fritar sequer um ovo, respondera.

Pelo relatório, sua mãe é professora. Com sua idade, creio que saiba de algumas coisas...

E, por conta da incrível habilidade de Diana Maid em ensinar história, Emery fora designada a ensinar os prisioneiro ignorantes, afim de, quando as sentenças terminassem, eles retornassem à sociedade mais socialmente cultos e menos inclinados a cometer novos crimes.

Aos poucos, de dois em dois, os prisioneiros iam chegando. Emery os cumprimentava apenas com um olhar demorado, observando detalhes nos movimentos até que cada um estivesse sentado em sua respectiva cadeira no círculo formado no centro da sala.

Cinco minutos mais tarde, todas as cadeiras estavam ocupadas, exceto uma. Emery olhou uma última vez além da janela, para os muros rodeando sua vida, então tomou seu lugar.

Cruzou as pernas sobre o assento e averiguou os rostos tão tediosos. Cada olhar era uma facada de desinteresse, mas Emery lembrava de sua mãe sempre que sentava ali para falar. Tal obrigação passara a ser uma viagem para as boas recordações.

— Alguém quer falar sobre o que comentamos na semana passada?

Esperou, virando o rosto para detectar qualquer vislumbre de interesse. Segurou a vontade de suspirar — transparecer sua exaustão parecia deixá-los mais engajados em serem ruins.

Todos os prisioneiros eram mais velhos que ela. Apenas um parecia ter quase sua idade, mas, assim como a maioria, sempre entrava na sala com um olhar reprovador e desinteressado, como se fosse culpa dela. Homens e mulheres, brancos e negros, gordos e magros: não importava quem fossem, o que tinham feito, o que queriam ou não fazer, ela os faria aprender.

Por bem ou por mal.

— Como Nebrya e Pardo viram a trégua como única saída para sobreviverem — respondeu uma mulher alta e rechonchuda, cujo dentes da frente apodreciam com o tempo, e o lábio cortado e avermelhado indicava que estivera em uma briga recentemente.

— Certo, isso mesmo. — Diana Maid talvez tivesse dito tais palavras com mais afinco, mais clamor. Mas sua filha, Emery, parecia prestes a enterrar a própria animação. — O que ficou conhecida como a Guerra das Mil Espadas foi separada, na história, em dois momentos: o primeiro, nós falamos, quando conflitos de interesse fizeram dois grandes impérios se enfrentarem e, com isso, cada um deles puxou países menores para a luta; o segundo momento é o assunto da próxima semana. Hoje, contarei a vocês o que aconteceu no intervalo entre eles. O por que e como.

O mais novo da turma levantou a mão pela primeira vez em semanas. Emery preparou a mente para responde-lo sem grosseria.

— Conseguiu o que te pedimos na última vez?

Emery apertou os olhos, criando linhas de expressão ao tentar lembrar.

— Ah, sim. Como eu disse antes, é impossível. — Realmente era. Nenhuma barganha faria o Diretor liberar aulas ao ar livre — Eu tentei, mas apenas perdi meu tempo.

O rapaz, Davi, cruzou os braços sobre o peito e direcionou sua voz para baixo ao responder:

— Como é a sensação de estar em nosso lugar?

Emery poderia ter rebatido, mas, em vista de ser uma verdade, apenas ignorou.

Então começou a contar, com o máximo de detalhes que conseguia lembrar, vez ou outra respondendo algumas perguntas — umas mais inteligentes que outras. À medida em que falava, os prisioneiros pareciam realmente interessados, como se a tragédia natural fosse a única maneira de atingir o lado mais humano daqueles ladrões e assassinos.

— Os oficiais começaram a reparar que muitas mortes não aconteciam nos enfrentamentos entre os exércitos, mas sim antes, ou depois, com soldados lamuriando no chão, nas tendas, na beira de rios... Algo chegava lento e silencioso, atingindo em etapas, mas em grande escala. Os respectivos governadores da época, Synrise Eshya de Pardo e Hagas Elran I de Nebrya, preocupados em ter seu exército diminuído e, consequentemente, levado à derrota, decidiram dar uma trégua na guerra que já se estendia para seu quarto ano, sem previsão nenhuma de fim.

Emery explicou como foi a primeira aparição da praga negra, conhecida assim por fazer as vítimas vomitaram sangue tão escuro quanto a noite sem estrelas. Cada detalhe fazia seus alunos resmungarem ou torcerem o nariz, enojados e agradecidos por não fazerem parte da época.

— Até hoje ninguém opina confiantemente no surgimento da praga. Os mais religiosos culpam a própria guerra, como incentivo para os deuses condenarem os pecadores.

— Como se a própria guerra já não fosse pecado o suficiente — resmungou Davi.

Outra vez, Emery preferiu não responder, sabendo que o silêncio significava concordância.

— A praga só pode ser vencida quando atingiu as terras orientais. Lá, magos e curandeiros famosos pesquisaram a história de Valaris desde o seu princípio, às vezes recorrendo à história da própria dimensão Nove.

— Onde existe o planeta exclusivo para humanos, não é?

Emery quase sorriu de orgulho.

— Sim, Emerson — respondeu. — O planeta Terra faz parte da dimensão Nove. Dizem que é chamada assim por conta de seus planetas, mas nunca estive lá para confirmar.

Esperou segundos para mais uma pergunta, mas nenhuma surgiu.

— Bem — continuou ela. — A saída para o fim definitivo da praga, que havia matado milhões... Lembrando que, na época, a população não chegava perto da que temos hoje, então milhões é considerado o nosso bilhões. — Talvez tivesse sido sua falta de entusiasmo o motivo para nenhuma reação acerca daquele detalhe. Segurando com força a vontade de educar, mantendo a imagem de sua mãe como apoio mental, prosseguiu: — Era preciso unir os quatro elementares da geração, reunindo os poderes extraídos da natureza mais o poder gerado das Marcas, a língua dos deuses e dos magos. Com o sacrifício dos quatro elementares, mais o esgotamento de força de muitos magos, a praga foi contida. Desde então, nunca se viu nada parecido, mas houve sobreviventes que conviveram com resquícios dela até a chegada da própria morte por causas naturais.

— Quando foi isso, exatamente? — Perguntou outro prisioneiro.

— Há quase dois séculos.

— E não há risco de que a praga volte? E se voltar, é só repetir o processo?

Se julgasse o homem como alguém que temesse o retorno da praga, Emery podia jurar que havia esperança atrás da sua última pergunta.

— Se não sabemos até hoje como ela surgiu, não podemos garantir que tenha sido a primeira e última vez. E, sobre os meios para leva-la ao fim, posso apostar que repetir o processo seja a solução. — O prisioneiro relaxou os ombros com as palavras ouvidas, cruzando os braços e olhando com plenitude para os rostos mais próximos. Emery quase se sentiu triste por complementar: — Mas, precisa lembrar que não é obrigação de um elementar sacrificar a própria vida. E, tendo em vista que eles não podem ser vítimas dessa praga ou de qualquer outra, é escolha deles deixar ou não o mundo morrer diante dos olhos.

Houve apenas três minutos para uma discussão de caráter, da qual Emery decidiu não participar por achar hipocrisia que pessoas como aquelas, que tiraram sonhos e vidas de outras, pudessem ter a audácia de julgar outros por fazerem. Percebeu, nos últimos segundos, que Davi decidira não comentar sobre o assunto também. Ele se manteve calado, de braços cruzados e olhar baixo, até que os guardas abrissem a porta e anunciasse o fim da aula.

Emery mal notara os sessenta minutos passando.

Quando voltou a si, a sala estava vazia, e era sua vez de ser escoltada de volta a cela. Repetiu o mesmo processo: um sorriso a cada câmera, um andar calmo e obediente e um retorno silencioso.

Mais tarde naquele dia, fazendo flexões no chão da cela privada, Emery ouviu o destrancar da porta de ferro e o arrastar de pés e correntes com a chegada de um novo prisioneiro. Achou ser psicológico a intensidade do calor que sentiu, fazendo suor escorrer por entre os cabelos e pingar pela ponta do nariz e queixo. No entanto, para sua surpresa e resposta, o calor intensificado parecia vim do próprio recém-chegado.

Ele tinha uma esquisita pele pálida, como a neve. Não alguém claro, branco. Mas pálido, como se não houvesse sangue nenhum sobre a pele para contrastar. Foi jogado para a cela em frente a dela, e, com tamanha proximidade, pode notar que os olhos dele eram amarelo como o sol aparentava ser. Brilhava como se... queimasse.

— Se fosse você não ficava tão perto — alertou um dos guardas. — Esse, no sentido literal da palavra, é uma anomalia.

Quão literal está sendo? Porque, caso fosse literal vindo de uma pessoa estudada ou, no mínimo, conhecedora de espécies, estava dizendo que aquele novo prisioneiro vinha de outra dimensão que não fosse Nove, o Paralelo Dimensional de Valaris.

Anomalia, Emery pensou, jogando o corpo para trás, sentando frente a cama, com as costas suadas encostadas na lateral do móvel de madeira. Apoiou os braços nos joelhos e encarou a anomalia pelo vão entre as pernas.

A própria Emery tinha uma pele naturalmente humana e olhos castanhos como o tronco de uma árvore, mas, se o recém-chegado a olhava com tamanha atenção, era porque, talvez, para ele, fosse ela a anomalia.

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E ai, gente, tudo bem? Espero que sim. Essa história já foi reescrita algumas vezes até eu ter responsabilidade de finalmente colocar passo por passo nos papéis e deixá-la se tornar real. Essa história é tão importante pra mim que eu sempre tive medo de revelar para qualquer pessoa. Mas, agora, eu tenho essa vontade de compartilhar. Quero que todas as sensações que eu tenho ao escrever sejam as sensações de vocês ao ler.

Irei postar um capítulo por semana, mas sem dia específico. Posso postar na sexta de uma e na segunda de outra. Depende do meu tempo mesmo, mas prometo manter atualizada. Acho que é isso, falei demais hehe

Como sabem, é importante para o escritor e sua obra o reconhecimento, por isso, para que eu siga firme e possa melhorar cada dia mais, irei amar receber o feedback de vocês; votos e comentários. Estarei sempre a disposição =)

Beijosssss, e amem a menina Emery como eu amo.; ela é cheia de defeitos, mas encontrarão um motivo para amá-la.

Fui

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