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Mais um dia.

Nos primeiros, Emery contou. Chegou ao trigésimo sétimo dia quando desistiu.  Suas ideias de fuga não vingaram e criar expectativa só apinhava a ilusão de liberdade; uma realidade distante. Estar presa na capital de Nebrya, esperando o julgamento especial — diante da governadora do país —, sem poder fazer uma ligação para avisar os pais... aquela era uma realidade crua, mas era a sua.

Morrerei sozinha. Porque sei que morrerei. Kiera jamais me perdoará.

Para ocupar a mente, procurou por um culpado para estar ali. Julgar seus movimentos como motivo para tal consequência tinha se tornado uma verdade infundada. Ela tinha se preparado. Tinha pesquisado sobre Nebrya, sua política, as leis específicas da capital e, principalmente, estudado cada detalhe da área que circundava o edifício Kiran.

O edifício escondia segredos e riquezas de Nebrya.

Uma dessas riquezas, roubada. Roubado dela, de Emery.

Estava presa por tentar recuperar algo que era seu por direito. E a culpa disso tudo estava sobre os ombros de Morgana Maid, a avó. Se ela previu a apreensão de Emery, não havia estratégia de invasão que a fizesse ter êxito na missão. Afinal de contas, ela era uma maga.


Morgana tinha suas manias, suas adorações e sua própria bagunça, mas fazia um chá de ervas capaz de disputar com a essência do café. Ninguém reclamava do cheiro pregnado desde as paredes até o último fio das almofadas.

Emery cruzou as pernas sobre o sofá, incapaz de elogiar alguma questão em relação a avó, e esperou a mulher retornar à sala com a xícara efervescente.

— Diga novamente para que eu possa concordar com isso — Insistiu Morgana.

Após a primeira bebericada que fez os lábios enrugarem, Emery respondeu:

— Fui designada para mais um trabalho. Uma missão internacional.

— Para onde?

— Nebrya.

Morgana remexeu-se na poltrona diante da lareira apagada.

— Um trabalho no país com o qual temos rixa há séculos? Dependendo da sua missão, Emery, isso pode acarretar em problemas diplomáticos. Você conhece a história. Não pode esperar que Nebrya queira manter uma trégua se suas terras, seus produtos ou povo seja corrompido por uma ação de Pardo.

— Eu sou boa no que eu faço, Morgana. Não fui designada à toa.

A avó apoiou o queixo na mão.

— Se está aqui, é porque seus pais não sabem disso. Correto? — Emery abriu a boca para responder, mas a avó balançou a outra mão em sua direção — Poupe nós duas. Sabemos ser a verdade. Se veio até mim, é porque eles jamais aceitariam isso. Você fará, eu sei, mas não ter a aprovação deles é um peso.

— Meus pais não são muito adeptos a assassinatos.

— E mesmo assim você resolveu ser treinado pelo Clã.

Emery assoprou o chá dentro da xícara, desviando o olhar.

— Nasci para fazer isso. Não sou nenhuma justiceira, apenas faço valer o ouro que me pagam.

— Realmente, você para o lado de assassinato, é natural demais.

  Fui treinada para isso, Morgana. Sou humana e tenho instintos e sentimentos humanos, mas quando estou trabalhando...

Artoris - O Preço da VingançaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon