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Demorou, mas finalmente eles entenderam que era preciso aço para contê-la. Emery, por sua vez, aprendera há algum tempo que se deixar ser contida e escoltada sem retribuir com violência ajudava no calor da comida e na lavagem dos lençóis.

Assim como todos os outros terceiros e quintos dias da semana, dois guardas foram até sua cela, ordenaram que erguesse os braços e lentamente os pusesse nas costas, juntos, para que os pulsos fossem unidos por algemas frias — pelo menos ajudava na luta contra o calor.

No quinto dia da sua nova semana na prisão, a rotina prosseguiu sem interrupções. Caminharam pelos largos corredores, observados por câmeras e iluminados por lâmpadas embutidas. Emery sempre fazia questão de levantar a cabeça a cada câmera que passava, exibindo um sorriso provocador para quem quer que a observasse do outro lado.

Alguns corredores e portas à frente, os guardas a empurraram para dentro de uma sala quadrada, com apenas uma janela coberta por grades.

— Espere aí — ordenou o guarda, apontando para a área onde Emery designara como sua. — Eles estão chegando.

— Eu faço isso todos os dias há quase três meses — Emery rebateu baixo e desinteressada. — Não precisa repetir as mesmas palavras todas as vezes.

— O que disse, prisioneira?

Emery sabia que ele ouvira cada palavra; pronunciara baixinho, mas não tanto. Em resposta ao guarda, apenas lançou um olhar inocente por cima do ombro e seguiu seu caminho até a janela.

Há muito não sentia vontade de tentar afastar as grades com um pouquinho mais de esforço, talvez gerando uma consequência desastrosa em algum canto daquele presídio. Com o decorrer das semanas, simplesmente passara a admirar a vista além do do ferro: o campo muito verde onde alguns prisioneiros usavam para diminuir suas sentenças, usando habilidades de plantar e colher.

Emery havia se perguntado algumas vezes qual das habilidades era mais refrescante para o psicológico atormentado pelas paredes das celas, pela comida rotineira e a hora única de recreio no pátio. Se julgasse o sol como inimigo sobre as cabeças, dar aula para prisioneiros ignorantes parecia uma escolha mais inteligente — embora estivesse longe de ser uma escolha.

Todos são designados para uma atividade, dissera o Diretor do Presídio Estadual de Eurin, por isso, procuramos por algo que o indivíduo já saiba dominar, para facilitar.

Emery lembrara de sorrir com sarcasmo.

Não sei fritar sequer um ovo, respondera.

Pelo relatório, sua mãe é professora. Com sua idade, creio que saiba de algumas coisas...

E, por conta da incrível habilidade de Diana Maid em ensinar história, Emery fora designada a ensinar os prisioneiro ignorantes, afim de, quando as sentenças terminassem, eles retornassem à sociedade mais socialmente cultos e menos inclinados a cometer novos crimes.

Aos poucos, de dois em dois, os prisioneiros iam chegando. Emery os cumprimentava apenas com um olhar demorado, observando detalhes nos movimentos até que cada um estivesse sentado em sua respectiva cadeira no círculo formado no centro da sala.

Cinco minutos mais tarde, todas as cadeiras estavam ocupadas, exceto uma. Emery olhou uma última vez além da janela, para os muros rodeando sua vida, então tomou seu lugar.

Cruzou as pernas sobre o assento e averiguou os rostos tão tediosos. Cada olhar era uma facada de desinteresse, mas Emery lembrava de sua mãe sempre que sentava ali para falar. Tal obrigação passara a ser uma viagem para as boas recordações.

Artoris - O Preço da VingançaWhere stories live. Discover now