O mês passou muito rápido, estava com cinco meses completo, eu e Ronald estamos namorando firme, minha mãe estava radiante pelo meu namoro; gostava de John, mas era um homem durão e teimoso. Amoroso com as pessoas e me fazia feliz "era o que eu achava", mas sua preferência sempre foi Ronald, nunca se conformou de ter terminado com ele para ficar com John.
E todos nós sabemos ninguém manda no próprio coração.
Era sexta e estava me arrumando para ir a uma festa de aniversário de um dos amigos de Ronald, comprei um vestido salmão curto para grávida de chiffon, de mangas compridas e caimento reto, assim minha barriga não ficava em evidência, eu estava muito magra e minha barriga uma bolinha, me sentia linda e esquisita ao mesmo tempo. Coloquei um salto alto rosa, e Kim ajudou a modelar os meus cabelos. Ronald já me esperava na sala conversando com minha mãe, enquanto minha irmã me ajudava a terminar a minha maquiagem, nos olhamos e ela me abraçou.
― Tem certeza que está fazendo a coisa certa em namorar com ele?
― Ele gosta de mim, Kim! O que posso fazer?
― Deveria procurar o pai do seu filho. ― Kim me olhou entregando meu relógio. ― Você é da polícia, tem como achar alguém nesse país.
― Ninguém o acha, Kim! Acha que não estão procurando? ― Respirei fundo. ― Não adianta procurar. Ele não quer ser achado e disse que não estava preparado para ser pai... Não posso decepcionar a mamãe e contar para ela que o pai do meu filho é um assassino profissional... Ela vai surtar.
― Tudo bem! Você está querendo bancar a certinha e está pensando em todos, menos em você.
― Kim!? Meu filho merece um pai... Honesto... Amoroso e que o queira... Ronald o quer.
― Você fica falando que é um menino, mas acho que espera por uma menina.
― Só no sétimo mês que vamos confirmar. ― Sorri puxando Kim para um abraço. ― Eu prometo ser feliz ao lado de Ronald... Não se preocupe.
― Para que serve a separação não é?!
Bati de leve no braço de Kim em protesto, rimos e saímos do quarto, Ronald e James se levantaram ao me ver, nem parecia que estava grávida, só quando passava a mão na barriga.
― Uauuuuu... Você está linda, Denise! ― Ronald beijou o meu rosto. ― Está pronta? Podemos ir?
― Claro!
Me despedi de mamãe, Kim e James e saímos, há dias me perguntava como seria andar com um bebê recém nascido naquele carro luxuoso, Ronald surtaria se o bebê vomitasse naquele banco de couro cinza, olhei para ele que estava calado, também não estava muito a fim de conversar. Normalmente sou tagarela e gosto de contar sobre meu dia entre outras coisas, mas Ronald não gostava do meu trabalho e como interna não tinha muito que dizer. Não deixava de levar minha arma e distintivo, ainda poderia estar correndo perigo, não sabíamos qual era o tamanho do Cartel, faltava gente para prender, e os que já estavam na cadeia não abriam a boca para dar nomes.
Ronald parou próximo ao salão de festa, achei que fosse uma reunião pequena, e me deparei com uma bela festa, olhei em volta analisando o perigo, Ronald tocou na minha mão.
― Ei? O que foi?
― Só analisando o local Ronald, nada mais que isso. ― O olhei sorrindo.
― Tenho uma coisa para você. ― Ronald enfiou a mão no bolso do paletó, fiquei em pânico, pois se ele me desse um anel de noivado eu teria que recusar, havia pedido que fossemos com calma.
Para meu alivio, ele tirou uma caixa quadrada cinza e abriu, respirei aliviada. ― Esses brincos vão ficar perfeitos.
― São lindos, Ronald! Obrigada.
Tirei os meus brincos e peguei o que estava na caixinha, Ronald ficou me olhando a colocar os brincos, eles tinham um brilhante na ponta, eram compridos que quase chegava ao meu ombro, ficaram lindos com os meus cabelos presos, sorri ao me olhar no espelho e olhei para ele.
― Está linda! Perfeita. ― Me puxou para um beijo.
― Adorei. ― Sorri limpando sua boca que tinha batom. Abri a bolsa e puxei o batom para retocar.
― Por que trouxe a arma? ― Ronald me olhou reprovando minha atitude.
― Não vamos começar, Ronald! Por favor? ― Deixei meus ombros caírem.
― Tudo bem, Denise! Desta vez vou deixar passar, mas não quero que faça isso novamente.
Não respondi, eu sei o quanto sentia pavor de ser abordada e não poder fazer nada, descemos do carro e seguimos para o salão de festas, entramos e fomos logo cumprimentados pelo anfitrião junto de sua esposa, a maioria nos olhou, não estava tão chique assim, eu e mais duas mulheres usávamos vestidos curtos, deixei meu casaco na chapelaria e seguimos salão adentro, Ronald parou para cumprimentar um grupo de homens, fiquei de lado apenas sorrindo e apertando as mãos enquanto era apresentada, e como previa, Ronald se esqueceu de mim, bem ali do seu lado.
Senhor Peter Ross ficou me olhando e bebericando de seu champanhe, me senti incomodada com seu olhar, era um homem completamente charmoso e elegante, ar misterioso e sedutor, sua barba semigrisalha muito bem feita era um charme e um convite para passar as mãos nele, fiquei apenas ouvindo o que conversavam, tentando não olhar para Peter, olhei em volta, não conhecia ninguém e resolvi sair de perto já que a linguagem jurídica me dava náuseas, eu vivia o dia inteiro com relatórios e termos jurídicos, sentia falta das ruas, de Torres.
Andei até o outro lado do salão para ver a vista do jardim, muitos estavam por lá, mas estava frio e não arrisquei sair, apenas peguei um champanhe e fiquei olhando, sentia os olhares sobre mim, vi o quanto Peter não desgrudava os olhos, aquilo era irritante.
Depois de um tempo senti as mãos de Ronald me envolvendo, olhei para ele por cima do ombro querendo confirmar que era ele mesmo, acabei ganhando um beijo.
― Fugindo de mim? ― disse ele baixinho perto do meu ouvido.
― Não sei como aguenta sair do trabalho e ainda ter ânimo para conversar sobre trabalho. ― Franzi o cenho. ― Eu quero conversar sobre outras coisas.
― Como o que, por exemplo? Não disse uma palavra se quer no carro, e agora quer conversar?
― Natural que isso aconteça. Eu só não puxei assunto no carro, por que achei que precisava de silêncio.
― Quando estou com você o que eu menos quero é silêncio. ― Ronald ficou de frente para mim. ― Você mudou muito depois que se casou com John... Eu soube que ele era um homem ciumento e teimoso. ― Pisquei várias vezes, mamãe deu com a língua nos dentes, e ele continuou. ― Por que desistiu de nosso casamento, Denise! Por mais que tenha me explicado... Eu não entendo!
Acariciei seu rosto, sorri terna.
― Vai fazer alguma diferença agora, Ronald? Porque acho que não... Se não aprender a passar uma borracha no que aconteceu em nossas vidas, isso que estamos vivendo agora não vai dar certo.
Ronald deslizou a mão pela minha barriga e cintura e me puxou para ele e sorriu.
― Tem razão... Me desculpe! Sou um idiota.
Ronald me beijou, o meu batom ficou em sua boca novamente, ri achando graça e peguei o guardanapo que envolvia a taça e passei em sua boca para limpa-la, um casal se aproximou e Ronald me apresentou, ficamos por ali conversando, eram bem simpáticos, a mulher percebeu que estava grávida, mas não disse nada, depois se afastou com o marido e de longe vi comentando algo. Logo fomos chamados para nos sentar para ser servido o jantar. Comi calada praticamente, Ronald se pôs a conversar com um amigo, eu me sentia deslocada, agora me lembrava por que terminei com Ronald, me sentia angustiada.
Peter Ross da outra mesa não tirava os olhos de nós dois, seu sorriso era ameaçador, mas não podia sacar a minha arma e apontar para ele e cobrar explicações e do por que me olhava daquele jeito, mas que era estranho, isso era.
Resolvi ir ao banheiro, estava precisando retocar minha maquiagem e fazer xixi, tinha exagerado no champanhe e me sentia culpada por isso, uma mãe alcoólatra não era nada bom para um bebê.
Segui com calma atravessando o salão e entrei no banheiro, duas moças lavavam as mãos e fofocavam entre si, fiz o que tinha que fazer e fui lavar as mãos e retocar o batom, estava sozinha agora, uma moça ruiva entrou no banheiro, puxei papel para secar a mão.
― Está acompanhando o promotor Ronald?
― Sim... ― A olhei pela imagem do espelho e passei o batom com calma.
― Não sabia que estava namorando... Vi vocês dois juntos desde que chegaram, não te soltou um minuto.
A encarei pelo espelho, aquilo estava me soando à dor de cotovelo, os cabelos dela passavam um pouco dos ombros, era vermelho e não ruivos como vi de primeira.
― E o que tem isso?
― Nada... É que geralmente não trás ninguém com ele... E... ― A moça se calou, mas o sorriso já dizia tudo, Ronald provavelmente transava com ela.
― Você é quem? ― Perguntei me virando para encará-la.
― Sophia Amaranto, namorada de Ronald... ― Ela estendeu a mão para mim, olhei bem para a sua mão, não peguei e a olhei.
― Muito prazer... Tenente Denise Prescott, Homicídios... Noiva de Ronald. ― Passei a mão na barriga e sorri desafiando-a, abri a bolsa para que visse minha arma e joguei o batom dentro. ― Passar bem!