— Por que ir pra casa agora? – Perguntou Gih — A festa começou praticamente agora! A gente não pode simplesmente voltar para casa, eu disse pra minha mãe que eu voltaria uma da manhã, e são 11 da noite!
Ela continuou monologando, eu apenas peguei no braço dela e fui a arrastando para fora da casa.
— O que é que tu tem hein mulher? – Indagou irritada.
— Há tanta coisa que eu preciso te falar... Agora nessa zuada não consigo. Ligue para sua mãe agora. – Obriguei.
Com bastante má vontade, ela ligou, e, em poucos minutos, a mãe dela já tinha chegado.
Ficamos em silêncio a trajetória inteira, até a casa da Gih. Eu iria dormir lá, já que eu já tinha deixado com ela minhas coisas.
Quando chegamos em casa, fomos imediatamente para o quarto dela.
— Agora diga, o que foi que rolou?
Gih parecia bastante curiosa, e eu decidi não prolongar muito aquela conversa.
— Além de eu ter te visto com meu ex? Ah, aconteceu algo inimaginável, que você não vai acreditar. – Falei.
Ela suou muito quando eu falei que a vi com meu ex.
— Eu posso explicar isso! Eu não queria, mas ele...
— Deixa isso pra lá vai, tem coisa mais importante pra eu dizer nesse exato momento. – Interrompi.
Contei para ela tudo que tinha acontecido na festa, ocultando apenas as partes do meu cupido, já que eu sabia que ela não ia acreditar que meu cupido caiu do céu. Falei do beijo. Falei do choro, do desmaio, de tudo.
— Bom, eu meio que sabia que ele gosta de mim, nós meio que tivemos um lance um tempo atrás...
— E o pior de tudo é que eu não sei o que senti naquele beijo – Interrompi Gih — Eu teria certeza que não senti nada, mas... Eu não sei. Eu definitivamente não sei, e... Pera aí, como assim vocês já tiveram um lance?
— Eu e ele já ficamos uma vez – Comentou ela — Ninguém sabe disso. Foi no aniversário dele. Todo mundo já tinha ido embora, e eu fiquei lá com ele, ajudando a fazer algumas coisas. Pois bem, ele, do nada, disse que queria me beijar. Então eu beijei ele. Aí nós nos prometemos que não contaríamos isso para ninguém, não sei porque. Acho que desde aí que ele gosta de mim, sei lá.
— Nossa, isso faz tempo então viu, que o aniversário dele foi em agosto... – Falei — Por que você nunca me contou isso? Não somos melhores amigas?
— É que ele pediu pra guardar segredo, mas, com isso tudo acontecendo, eu decidi contar – Gih respondeu enrolando uma mecha de cabelo em seu dedo, como costuma fazer quando está um pouco tensa — Sabe, eu não gosto dele assim, é que tipo, ele é bonito e beija maravilhosamente bem, mas é que aquilo não significou nada pra mim. Eu nem sequer fiquei relembrando o beijo a todo instante, como eu faço normalmente.
Engoli em seco. Para ela, o beijo não significou nada. Mas para mim? Eu não conseguia nem processar aquilo direito. Quer dizer, eu não conseguia parar de pensar nisso! Qual é, eu tinha acabado de sair de um namoro, eu não poderia ter me apaixonado apenas com um beijo não é?
— Gih, preciso te confessar algo. – Falei, não aguentando os meus milhões pensamentos. Minha cabeça estava prestes a explodir.
— Pode dizer.
Contei o que estava se passando pela minha cabeça. Toda aquela confusão nos meus pensamentos. Que eu estava com medo de estar me apaixonando por ele.
— Ô, calma aí – Gih deu uma pequena risada e colocou a mão no meu ombro — Ninguém se apaixona do nada. Foi só um beijo. Antes disso, você não tinha nenhum sentimento. Você está apenas confusa pelo fato dele ter te beijado sem mais nem menos.
— Mas...
— Ele estava bêbado. Bêbado normalmente não sabe o que faz – Me interrompeu — Vai ficar tudo bem, daqui a pouco você vê que isso na sua cabeça é apenas bobagem.
Como não queria discutir mais sobre isso, apenas concordei. E mudamos de assunto.
***
Passamos tanto tempo conversando que fomos dormir apenas às 3 da manhã. Eu literalmente capotei depois das longas conversas, já que eu estava exausta. Eu não tinha ficado nem uma hora naquela festa mas eu fiquei exausta.
Acordei meio que sem saber onde eu estava. Aos poucos, fui lembrando que eu dormi na casa da Gih. Me sentei no meu colchão que estava ao lado da cama dela, e percebi que Gih não estava lá. Estranho.
Deitei novamente e fui olhar a hora. Dez e meia? Por que fui acordar tão cedo?
Percebi então que tinha algumas mensagens que eu não tinha visto. A primeira era da minha avó, perguntando qual era o canal da novela das sete, e também perguntou onde minha mãe guardava as panelas. Coisas que ela sempre pergunta quando vai a minha casa.
Fui olhar a próxima. Era do Lucas.
Lucas
Oi, eu queria conversar sobre algumas coisas.
Achei um pouco estranha aquela mensagem, que ele tinha mandado há 5 minutos. Então eu disse que ele podia começar a falar.
Depois de um bom tempo digitando, do nível que minha mãe leva para digitar um oi, não pude deixar de notar que ele apagou várias vezes. Então, ele finalmente enviou.
Lucas
Deixa pra lá. Não é nada importante.
O que? EU PASSEI 10 MINUTOS ESPERANDO ELE TERMINAR DE DIGITAR E ELE ME VEM COM ISSO???
Eu
Mas é óbvio que deve ser importante! Eu sou sua amiga e quero saber.
Ele viu minha mensagem e não respondeu. Fiquei um pouco chateada, me perguntando o que ele iria me falar, mas deixei isso um pouco de lado e fui ver outras mensagens.
Nada relevante, até eu ver que Renato me enviou uma. Meu coração quase saiu pela boca.
Renato
Oi... Eu acordei hoje com uma ressaca das bravas e não me lembro de absolutamente nada que aconteceu ontem! Pelo amor de Deus me dá uma luz! Espero não ter feito besteira.
Ah Renato, você fez muita besteira. Você conseguiu fazer uma confusão nos meus sentimentos. Meus parabéns! Você me confessou que amava a Gih mas me beijou como se me amasse. Novamente, meus parabéns!
Fiquei com vontade de escrever exatamente o que eu tinha pensado, mas acho que ele só ficaria mais confuso ainda. Então, eu decidi falar algo inusitado.
Eu
Eu vou te explicar tudo, mas não dá pra falar por mensagem, sério mesmo. A gente deveria se encontrar pessoalmente, sabe?
No mesmo instante, ele viu a mensagem, e respondeu na hora.
Renato
Eu só quero tirar um pouco da confusão que tá na minha cabeça... Pode ser hoje às 3 lá na sorveteria?
Confirmei com ele. E eu senti algo inusitado: medo. Eu estava com medo de me encontrar com ele. Medo de parecer uma boba, medo dele achar que eu tô inventando história. Medo de ver ele e querer sair correndo.
Mas por que eu estava com tanto medo? Nem era um encontro! Era só um rolê para explicar as coisas para ele, certo?
Me perguntei onde estava Gih, e, assim que eu me fiz essa pergunta, vi ela abrindo a porta e entrando no quarto, com o seu pijama com uma estampa de um pônei, com o cabelo totalmente bagunçado e uma cara de derrota.
— Onde era que você tava hein? – Perguntei.
— Você já acordou? – Ela deu um bocejo — Caramba, eu tava no banheiro...
Como meu colchão estava relativamente perto da porta, senti um leve odor entrando no quarto. Opa, eu falei leve? Socorro, aquilo estava parecendo um lixão misturado com um ônibus lotado ao meio-dia cheio de gente com suvaqueira e mau-hálito. Talvez três vezes pior que isso.
— Como é possível que essa catinga toda saiu de ti? – Falei tampando o nariz.
Ela deu uma risada e fechou a porta. Se estava daquele jeito dentro do quarto, era bem capaz de não existir oxigênio no banheiro, que era ao lado do quarto.
Eu ia falar alguma coisa inútil para Gih, mas meu celular vibra. Fui olhar o que era. Era uma resposta de Lucas.
Lucas
Precisamos conversar pessoalmente qualquer dia...