~Leah On~
O que eram meus pequenos problemas perto daquilo? O que eram minhas lágrimas por conta de uma decepção amorosa perto daquilo?
Quando eu vi Caleb naquela manhã conversando, rindo e pegando na mão de Olivia, achei mesmo que queria sumir do mapa, mudar-me para o Brasil, Havaí ou outro lugar que aquecesse meu coração, mas então, quando soube daquela notícia, tantas coisas não importavam mais.
Tantas vezes eu dei importância demais para coisas pequenas, mas mesmo me dando conta disso, continuava a fazer as mesmas coisas, como se estivesse presa em um looping eterno.
A mesma garota idiota lamentando pelos cantos por isso ou aquilo outro, ao invés de me divertir, de sorrir mais, aproveitar a vida que eu tinha. Isso até perceber que a vida era tão curta e frágil, tanto a minha quanto a das pessoas que eu mais amava.
Ben era o maior emblema da minha vida, parece que meu eu foi construído ao redor dele. Aquele sentimento que me preencheu durante boa parte da minha vida e tudo o que ele me fazia sentir, das mais diversas formas. Eu não pensava mais no que pensava antes, não fazia ilusões sobre nós dois juntos, a única coisa que eu queria era que ele ficasse vivo. Se ele estivesse vivo, nada mais iria importar, eu só queria poder chamá-lo de ''Tio Ben'' como nos velhos tempos. Mas ele estava desacordado desde que chegara em Holmes Chapel.
Segundos os médicos, ele não estava ouvindo nada. Estava incosciente. Respirando através de aparelhos. Como ele ficou daquele jeito?
Meu irmão me abraçava na recepção do hospital. Meus pais estavam em casa com meus avós que vieram para nossa casa, para ficar mais perto de Ben.
Nenhum de nós conseguia aceitar o fato de Ben estar daquele jeito, sendo que antes apresentava-se tão saudável. Eu nunca soube que ele tinha Lúpus, porque nunca pareceu que ele tinha.
Eu estou com a cabeça apoiada nas minhas duas mãos quando ouço a voz de Caleb. Olho para cima e ele está com as duas mãos nos bolsos de seu moletom.
Ele me olha e depois fala com Charlie. Estranho quando ele o abraça. Não sabia que os dois já estavam se falando outra vez. Pelo visto, eu era a única que ainda não queria vê-lo.
- Eu posso ficar aqui enquanto vocês almoçam. - Ele disse sentando-se em uma das cadeiras.
- Obrigado. - Charlie diz e se levanta. - Vamos Leah. - ele me chama.
- Não estou com fome. - respondi sem olhar para ele- Pode ir comer. Depois eu vou.
Ouvi os passos do meu irmão indo para o final do corredor e depois saindo do local. Permaneci em silêncio, assim como Caleb, até que ele simplesmente pega em uma das minhas mãos. E a segura forte. Nos olhamos. E ele está ali. Como quem diz exatamente isso: ''Estou aqui''. Ficamos com as mãos dadas por tanto tempo, completamente em silêncio, ouvindo os barulhos dos aparelhos hospitalares e os passos dos enfermeiros e médicos que passavam pelo local.
Só nos soltamos quando Sam chegou no ambiente.
- Oi- ele disse, meio sem graça e nos olhando- Trouxe isso para você. - ele me entregou um potinho- É uma tortinha de frango com requeijão. Minha avó fez para você. Eu sabia que estava sendo teimosa e não estava se alimentando direito.
- Hum, obrigada, sua avó é mesmo um amor- Segurei o potinho. Mas por mais que eu amasse a comida da vó de Sam, naquele momento, eu não estava nem um pouco afim de comer nada.
Continuei sentada no mesmo lugar em que estava. E Sam cruzou os braços, fazendo cara de bravo.
- Está esperando o que? Vai comer isso. - Ele disse e puxou meu braço- Eu fico aqui e aviso qualquer coisa, vai com ela Caleb. - Falou e empurrou o outro em minha direção.
Não tive o que fazer a não ser seguir para uma área livre do hospital, Caleb avistou uma mesa e apontou para que fóssemos para lá. Era estranho como em vários momentos da minha vida, um acontecimento anulava vários outros. Por mais que Caleb tivesse me decepcionado, agora ele estava comigo e por incrível que pareça, eu não queria que ele me deixasse.
Abri o potinho e o cheiro da torta invadiu minhas narinas, eu não estava com tanto apetite antes mas aquele aroma fez minha barriga roncar e implorar por alimento.
- Você quer? - Perguntei antes de começar a comer mas Caleb negou com um sorriso singelo.
Comi algumas colheradas até que me deparo com ele olhando para mim, fixamente. Com aqueles olhos de cachorrinho que caiu da mudança e que eu facilmente caía.
- Meu pai foi para a Alemanha- ele disse aleatoriamente.
- Como assim? Ele foi atrás da sua mãe? - perguntei com os olhos arregalados. Ele assentiu sorrindo.
- Acho que nunca o vi tão determinado. - Falou rindo - Eu não sei no que vai dar, mas sabe, ver ele fazer isso me fez pensar em tanta coisa.- ficou mais sério ao falar isso.
- O que você pensou? - Olhei no fundo dos olhos dele.
- Pensei que a vida passa rápido, daqui a pouco vamos nos formar, e será que vamos ter vivido tudo que queríamos viver? Será que vamos fazer tudo o que esperamos fazer?
- Não dá para saber- falei encarando a mesa.
- Eu sei de uma coisa. - sinto sua pele tocando a minha, seus dedos acariciam minha mão e logo estamos de mãos dadas, instantaneamente- Cansei de passar tanto tempo longe de você. Sei que eu sou o maior culpado por não estamos juntos agora. Mas não posso perder tempo lamentando pelo que já passou... Não quero perder mais nenhum segundo... - Sua cabeça aproximou-se da minha, nossos olhos estavam colados um no outro, e eu só pensava em como tentar controlar meu coração.
Sinto seus lábios tocando os meus e sinto que mesmo naquela situação horrível no hospital, eu tenho um lugar em que me sinto bem. De repente Caleb se afasta e olha para trás, ainda estou tonta, ainda quero senti-lo novamente.
Mas então ele fala algo e logo depois consigo ouvir a voz de Charlie. Ele parece terminar uma frase, fico confusa.
- O que foi? - pergunto à Caleb meio confusa.
- Seu tio... - meu coração gela mas logo sinto todo o alívio do mundo- Ele acordou.
Levanto-me tão depressa, com o coração pulsando forte. Caminho junto a Caleb até aquele mesmo corredor e seguimos até a frente da U.T.I. Meu irmão está com Sam, eles conversam com o médico. Paro próximo a eles e consigo ouvir quando ele diz que Ben está estável e daqui a poucos minutos já poderá receber visita.
Esperamos ansiosamente e então Charlie e eu entramos na sala. Nunca tinha visto Ben naquela condição e nunca achei que veria. Ele estava tão pálido, os cabelos agora mais curtos, jogados para trás, enquanto uma máscara lhe fornecia um pouco mais de oxigênio. Seus olhos sorriram assim que ele nos viu.
- Oi tio...- Charlie segurou em sua mão- Você deu o maior susto de todos na gente.
Ele ainda não podia falar com a gente, o médico aconselhou a não fazer isso por enquanto. Por mais que ele parecesse estar sofrendo, mesmo assim, tentava esboçar um mísero sorriso para não nos preocupar.
Eu fiquei tão feliz por saber que ele havia acordado, mas olhando-o naquela cama, parado, sem poder nem ao menos falar... Isso doía, eu só queria que ele melhorasse logo.
Levo minha mão até a dele, e sinto seus dedos forçarem-se pouco em direção aos meus. Mesmo ali, ele ainda se preocupava comigo, em silêncio, podia ouvi-lo dizer '' Não fique preocupada, eu vou ficar bem'', oh Deus sabe como eu desejava que isso acontecesse mesmo.
Não consegui dizer nada, minha garganta estava entalada. Charlie disse mais meia dúzia de coisas, entre elas que nossos avós e meus pais já estavam a caminho. Todo o tempo ali foi como uma eternidade, eu sentia como se estivesse sendo asfixiada. Tudo naquele ambiente me deixava tensa, os barulhos dos aparelhos, o cheiro, as cores tão mórbidas.
Charlie despediu-se de Ben e eu fiz o mesmo, segurando sua mão mais firmemente e depois a soltando. Assim que coloquei os pés para fora, toda aquela pressão foi demais, lágrimas somente caiam dos meus olhos, sem parar. Sam me abraçou e eu chorei nos ombros dele por minutos, enquanto ele acariciava minhas costas.
Ben sempre foi uma das pessoas que eu mais amo na vida. Já amei ele de tantas formas e vê-lo ali. Era devastador.
Logo meus pais e meus avós chegaram, meu pai mandou meu irmão me levar para casa. E assim, eu saí daquele hospital depois de passar várias e várias horas lá.
Eu estava tão cansada mas ao mesmo tempo, não conseguia dormir de jeito algum. Fiquei me remexendo na cama, nem ao menos conseguia apagar a luz do quarto, até que alguém bate na porta do meu quarto.
- Entra... - falei, achei que fosse Charlie, mas então, vejo a figura de Caleb ali, na porta do meu quarto. O que ele fazia ali.
Segurava uma xícara de chá e andou até a minha cama.
- Achei que fosse precisar disso. - entregou-me a bebida quente.
- Vai dormir aqui? - perguntei bebendo um pouco. Ele assentiu.
- Como meu pai está viajando, os seus pais permitiram que eu viesse aqui. Mas contanto que eu ficasse bem longe do estúdio e da filha deles. - sorriu erguendo a sobrancelha.
- Ora ora, o Caleb rebelde ainda está aqui. - ri de volta. Ele fez o mesmo. Ainda estava em pé, do lado da minha cama, fiz um gesto para que sentasse.
Fiquei bebendo o chá.
- Sei como isso deve estar sendo difícil para você- falou e eu vi nos seus olhos que ele se preocupava.
Só de pensar naquele assunto, já dava vontade de chorar. Não queria ver Ben daquele jeito. Ficamos em silêncio até eu terminar de beber todo o chá, logo depois Caleb pegou a xícara e foi colocar na minha mesinha de cabeceira, e então seu olhar parou em um objeto logo depois de colocar a xícara lá.
Ele aproximou-se e pegou, logo vi que era o chaveiro de bicicleta que eu havia dado a ele.
- Nunca devia ter devolvido esse presente. Eu estava tão confuso sobre tudo- Ele disse encarando o pequeno chaveiro.
- Não está mais? - perguntei um pouco cética.
- Sobre o essencial, não estou mais. - falou decidido.
- Hum, e o que é o essencial?
- Você. - seu olhar parou em mim. - Mas eu não quero voltar com você.
Algo em mim se quebrou e eu tentei mesmo manter a postura. Do que ele está falando?
- Eu quero começar algo totalmente novo com você. Sem pensar no passado.Sem pensar nos anos em que não estivemos juntos por um ou outro motivo. E justo agora, não espero mesmo que seja rápido.
- O que você espera então Caleb? Estou mais confusa do que nunca - Eu disse totalmente perdida.
Sinto seu corpo aproximar-se mais do meu. Seu perfume me traz tantas memórias que é complicado se concentrar. Ele mexe no seu cabelo, desfazendo seu topete, deixando-o bagunçado.
- Meu nome é Caleb Black, eu estou no segundo ano do ensino médio, adoro matemática, amo andar de bicicleta, passear com minha cachorrinha que se chama Bolinho e a alguns anos sou apaixonado por uma garota linda... E eu só quero que ela me dê a chance de estar com ela, para segurar sua mão, para apoiá-la em todos os momentos. - Malditas lágrimas que começaram a se formar nos meus olhos.
Seus olhos castanhos eram meus naquele momento. Peguei o chaveiro das suas mãos e então novamente lhe entrego.
- Isso é seu. Assim como meu coração também é.
Não sei como consegui ter coragem para expressar meus sentimentos daquele jeito mas valeu a pena, seus olhos brilharam em minha direção e então logo a distância entre nós já não existe mais.
Como eu estava com saudades de beijá-lo, de estar com ele, naquele momento, tê-lo ali comigo era algo que me ajudava muito.
Continua...
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AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
espero que tenham gostado do caps amorzoesss
Para quem está perguntando sobre o lançamento de No Quarto ao Lado, eu realmente não tenho mais ideia de quando vai ser lançado, mas para quem quiser, pode perguntar à editora Ases da Literatura, no facebook, e no twitter @asesdaliteratura
Meta de votinhos: 1000 votem e eu volto ainda esse fds com mais coisinhas
ALL THE LOVE
Drica