Trilogia Irmãs MacBride - Liv...

By KiraFreitas33

5.5K 341 87

Para Aideen MacBride, não havia dor maior que a perde de sua irmã mais velha, após uma manhã fatídica que fic... More

Atenção!
Guia de Orientação
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10

Capítulo 03

325 29 4
By KiraFreitas33

A noite já estava caindo, mas a chuva já tinha cessado. O céu ainda estava carregado de nuvens escuras e uma tempestade se anunciava. Fechei meus olhos enquanto sentia o vento frio soprar em minha face. Tinha saído do castelo para cavalgar um pouco e espairecer, mas não adiantou muita coisa. O relinchar de um cavalo fez com que eu abrisse meus olhos e olhasse na direção da qual vinha o barulho. Reconheci o garanhão negro de Bruce e respirei profundamente. Fazia duas horas que estava cavalgando e certamente minha mãe ficara preocupada. Principalmente, após a discussão com meu pai. Minha mãe deve tê-lo convencido a me procurar.

— A estrada para o norte fica para lá, meu amigo. – ele apontou em direção ao caminho que seguia rumo à fronteira. – Só espero que tenha trazido bastante agasalho dentro desse alforje. Também será necessária uma pequena barraca. Sabe que o caminho é longo.

— Não está em mim, fugir, Bruce! – suspirei. – Se veio até aqui para impedir que eu o fizesse, perdeu seu tempo.

Minha voz saiu ríspida sem querer.

— Minha nossa! Você já foi mais gentil, meu caro. – ele debochou. – Pensei que a fama de lobo raivoso fosse apenas para os campos de batalha. Você sempre foi um lorde muito diplomático, por sinal.

Respirei fundo.

Bruce tinha razão! Sempre fui fadado à gentileza e cortesia. Muitas vezes me surpreendi com minhas atitudes cruéis com meus adversários. Às vezes temo a mim mesmo por meus rompantes.

— Desculpe por ter de fazê-lo vir me procurar.

— Não sinta! – ele disse sorrindo para mim. – Sabe que eu comeria grama com hidromel se ela me pedisse.

Fiz uma careta por causa da sugestão de alimento de Bruce. Ele adorava comer e comia tudo o que lhe convinha. Seria muito fácil envenená-lo com comida ou bebida.

— Bruce, às vezes, fico a me perguntar se você é um homem ou uma vaca! – disse com horror. – Só pensa em comida?

— Assim você me ofende! – disse ele com fingida mágoa. – Quem disse que vacas vivem a pensar em comida?

— Se não vivem, deveriam. Daí, poderíamos dar seu nome a uma dessas raças.

Ele revirou os olhos e ambos gargalhamos.

— Acredita mesmo que a ideia de uma aliança com Loch MacBride seja assim tão ruim? – Bruce perguntou mudando de assunto. – Roy não tem herdeiros que possam servir para sustentar uma aliança com os ingleses. Acredito que seja muito difícil que ele consiga algo com Phillipe. Ele precisaria trabalhar muito para oferecer mais que a promessa de vitória aos aliados.

— Sim, tenho que concordar que a ideia de meu pai foi brilhante e muito estratégica. Embora eu não suporte Ravenna, um filho com Annabel colocará um fim nas artimanhas de Roy. – disse olhando para uma das árvores.

— Então o que o preocupas? – Bruce fez um gesto teatral colocando as mãos sobre o peito. – Não me digas que está com medo de uma mulher?

Soltei uma risada e em seguida fiz uma careta. Eu não tinha medo de mulher alguma, exceto claro, de minha mãe. Ela era uma rainha esplêndida. Culta, diplomática, gentil e uma mãe formidável.

— Não tenho medo de mulher alguma, sabe disso. – respondi. – O problema é Ravenna. Se ela conseguir seu status social de volta, tenho certeza que ajudará Roy no que for necessário. Sabe bem como ela estima o meio-irmão.

Bruce soltou uma gargalhada apertando meu ombro.

— Meu caro, já o vi liderando mais de mil homens armados com suas espadas, escudos e coragem. Nunca perdeu uma batalha, Alistair. É o líder mais temido entre os clãs. Ravenna é quem temê-lo, não o contrário.

Olhei para Bruce fazendo uma careta. De fato ele estava certo. Não deveria me preocupar com Ravenna. Eu era um príncipe e logo me tornaria rei. Se ela desse um passo em falso, eu poderia prendê-la por traição e jogá-la em uma masmorra.

O relinchar de cavalos e o grito de uma mulher fez com que eu levasse minha mão até a espada.

— Socorro! – ela gritou quando o cavalo passou em disparada. – Alguém pare esse animal!

Estávamos há alguns metros, afastados da trilha que o animal seguia. Era uma bifurcação que levaria a uma clareira. Ele corria em disparada enquanto uma mulher tentava, sem sucesso, controlá-lo. Outros dois cavalos passaram em disparada. Em um deles havia uma mulher com os cabelos claros e tentava alcançar o outro que ia à frente. Um cavaleiro seguia o rastro da primeira mulher com determinação.

— O que foi aquilo? – Bruce perguntou levando sua mão a besta presa na sela de seu cavalo.

— Cubra o norte que vou pelo sul! – disse apontando a direção que ele deveria seguir.

Fiz sinal para Bruce e ele saiu em disparada na direção que apontei. Segui para o lado contrário, indo atrás dos três cavalos. Se estivesse certo, os cercaria e salvaria quem quer que estivesse em perigo.

— Parado! – gritei ao alcança o homem.

Ele olhou para trás com a besta nas mãos e se preparou para atirar em mim. Sem pensar, tomei à dianteira e fiz com que o animal o derrubasse. A mulher que passou à frente dele, surgiu em uma curva logo à frente. De surpresa, Bruce apareceu e saltou sobre o cavalo dela fazendo com que ambos fossem ao chão.

— Seu maldito, miserável! – a mulher gritou.

— Tudo bem? – perguntei.

Bruce assentiu, mas a mulher rosnou.

— Cristo! Alguém pare esse animal! – ouvi a outra gritar novamente.

— Idiota, miserável! – a mulher retrucou enchendo Bruce de tapas.

— Vá! – ele disse segurando as mãos dela. – Cuido desta aqui!

Corri em direção ao animal que, se assustou com algo que surgiu na clareira e empinou derrubando a amazona. Saltei do meu cavalo assim que ele parou. Ajoelhei-me ao lado dela e puxei o capuz da capa que usava. Fartos cabelos, cor de fogo se revelaram caindo por sua testa. Ela tinha um rosto fino e arredondado. Os lábios eram carnudos e rosados. Tinha aparência de ser muito jovem. Nunca tinha visto uma moça tão bela quando aquela menina.

— Jesus! Trouxeste-me um anjo! – sussurrei. – Um anjo feito de porcelana.

A menina estava desacordada, por isso, segurei seu rosto para saber se respirava. Notei que as mãos eram pequenas e delicadas, mas foram os pulsos que chamaram minha atenção. Eles estavam envoltos em bandagens escondidas sob a manga do vestido azulado.

— Santo Deus! – sussurrei. — O que terá havido para que se ferisse deste jeito?

Impulsivamente levei seu pulso aos meus lábios e os beijei com meus olhos fechados. Estava em um segundo de distração quando senti uma pontada na garganta.

— Tire suas mãos de mim ou arranco seu pescoço fora! – a menina disse em tom ameaçador, puxando a mão com força.

— Calma! Não vou feri-la! – disse erguendo as mãos. – Você caiu do cavalo. Fiquei preocupado, pois, estava desacordada. Só tentei saber se estava vida, pois, a queda foi feia.

— Obrigada por sua preocupação, mas nunca mais toque em mim novamente! – ela ordenou. – Agora se afaste!

Fiz uma careta incrédula olhando para ela.

— Está brincando comigo, certo? – perguntei com ar irônico. – Posso tomar esse punhal a qualquer momento, pois, sou mais alto e mais forte que você, menina. Fui treinado para batalhas e posso facilmente derrubá-la no chão. Agora pare de tolices e me dê este punhal!

Os olhos dela se arregalaram e foi então que notei os mais belos olhos verdes que já tinha visto. Eram tão expressivos e brilhantes, que não conseguia desviar meu olhar. Fiquei enfeitiçado por seu brilho e engoli em seco quando me senti hipnotizado. Ela aproveitou minha distração para me empurrar com um dos pés, ficando de pé em seguida. Desabei sentado no chão.

— Se tentar tocar em mim, juro que me mato antes! – ela gritou apontando o punhal para a garganta.

Arregalei os olhos em pânico, pois, não queria vê-la machucada. Eu não esperava por aquela ameaça e algo dentro de mim se revirou com a possibilidade de ter seu sangue em minhas mãos ou esparramado pelo chão. Levantei-me com um pulo e fiz gestos para que ela se acalmasse. Eu estava acostumado a lidar com homens ameaçando outros, mas não que ameaçassem a própria vida. Aquilo era novo para mim.

— Ouça, eu não a machucaria nem se eu quisesse. – disse com a voz suave. – Jamais faria na contra a vontade de uma mulher. Só queria saber se estavas bem, pois, a vi fugindo em um cavalo sem controle com um homem atrás de você e uma mulher...

— Onde eles estão? – ela perguntou olhando em volta.

Ela parecia assustada e preocupada ao mesmo tempo.

— O homem está caído mais lá para trás. – respondi. – Quanto a mulher, meu primo a derrubou do cavalo sem querer e foi socorrê-la.

— Maldição! – ela sussurrou em tom preocupado.

— Ouça, por que não solta esse punhal e me diz como se chama? – pedi suavemente. – Estou ficando muito nervoso com a possibilidade de você se ferir.

— Por que quer saber meu nome? – ela perguntou dando um passo para trás quando avancei. – Eu não estou brincando! Para trás ou me matarei na sua frente!

A menina estava, de fato, me deixando muito nervoso com a possibilidade de se machucar. Ela não parecia ter medo de tirar a própria vida e senti que não estava blefando. Aquilo me deixou realmente muito curioso. Ela parecia ser uma nobre e devia pertencer a algum clã muito rico. Por que razão uma menina tão bela atentaria contra a própria vida? Lembrei-me das bandagens em seus pulsos e a preocupação aumentou.

A menina apertou o punhal com ainda mais força contra a pele de seu pescoço e fez uma careta quando sentiu a lâmina abrir um corte superficial. Sem pensar, dei duas passadas cobrindo a distância que nos separava e agarrei seu pulso para evitar que ela se machucasse.

— Pare com isso já! – ordenei tentando pegar o punhal. – Não deixarei que se machuque, sua tola1

— Me larga! – ela gritou tentando evitar que eu pegasse o objeto.

Com sua tentativa de tomar o punhal, a ponta passou em meu antebraço abrindo um corte do cotovelo até o pulso. Senti a pele queimar por causa do objeto que estava extremamente afiado. Enlaçando sua cintura com um dos braços, dei um puxão e retirei a arma de suas delicadas mãos. Estava aborrecido por ter me ferido, mas, ao mesmo tempo, aliviado por ter conseguido desarmá-la.

— Isso dói! – sussurrei entre os dentes. – Viu o que sua imprudência fez?

— Me desculpe! – ela disse com tom preocupado. Pondo as mãos em meus ombros ela tentou se afastar. – Eu... Eu não tinha a intenção de feri-lo! Por favor, não me machuque!

Soltei uma gargalhada.

— Que pessoa tão corajosa pede desculpas após ter ferido seu oponente?

— Uma que não gosta muito de dor e teme qualquer um que possa machucá-la?

Meu sorriso esmoreceu e franzi a testa sem entender. De alguma forma não gostei daquela observação. Ela me encarou com os olhos verdes suplicantes. Sua respiração estava ofegante e pesada. Amenizei minha expressão para não assustá-la ainda mais.

— Sinto muito se dei a entender que a machucaria de alguma forma. – disse quase sem fôlego por causa de sua proximidade.

Os olhos dela voltaram a me prender com seu brilho intenso. Não sabia se era medo ou outra coisa.

— Sou Alistair MacCalister. Qual sua graça?

Ela arregalou os olhos de forma surpresa e assustada.

— Aideen MacBride. – ela sussurrou.

Pego de surpresa, não pude conter as palavras que saíram de minha boca.

— Isso não é possível! Não te pareces em nada com uma bruxa. – disse. – Talvez uma feiticeira, mas uma bruxa não.

Ela piscou ficando ruborizada. Gostei da maneira como minhas palavras a afetou. Quem sabe ela estivesse envergonhada por não ter me reconhecido, mas preferi imaginar que o rubor era por conta de minha presença.

— Sinto muito, alteza! – ela engasgou. – Realmente eu não pretendia feri-lo. Nunca fiz nada assim antes. Peço que não me puna tão severamente, mas acatarei qualquer castigo.

Respirei fundo, só então percebi que estava com uma MacBride nos braços. Se ela estava ali, então havia uma comitiva que deveria estar junto a ela. Onde estavam afinal?

— Acalme-se1 Não pretendo castigá-la de forma alguma. Além disso, foi só um arranhão. – suspirei sorrindo em seguida. – Peço que não tenha medo de mim, pois, não está em mim, assustá-la. Desculpe se dei essa impressão.

Eu a soltei devolvendo o punhal e Aideen ficou me olhando.

— Só não se machuque, tudo bem?

Ela hesitou por alguns instantes e me olhou desconfiada.

— Vamos, pegue! – disse apontando a arma em sua direção. – Pode confiar em mim. Não vou feri-la.

Ela franziu a testa me olhando de cima em baixo.

— Não costumo confiar nas pessoas.

— Por que não?

— Porque são capazes de coisas horrendas e estúpidas em favor de si próprios. – ela respondeu com a voz trêmula. – São capazes de ferir inocentes, caso tenham a oportunidade, sem remorso algum.

Fiquei surpreso com sua declaração firme, mas sorri. Nunca tinha conversado com alguém tão direto antes, principalmente uma mulher. Os homens me temiam e as mulheres costumavam ser muito contidas. Fiquei ainda mais curioso, pois, havia algo por detrás daquelas palavras. Algo que não consegui decifrar.

Bruce surgiu por trás de nós, montado em Odin. Outro cavalo o acompanhava com um homem amarrado e desacordado, debruçado sobre o lombo do animal. As rédeas estavam presas na sela em que Bruce estava montado. A mulher que vi ser derrubada, estava no cavalo com Bruce, presa entre seus braços. Ela parecia muito furiosa por causa daquela situação e muito descontente com Bruce, que a apertava para que não fugisse.

— O outro cavalo fugiu! – ele disparou fazendo uma careta. – Consegui amarrar o cavaleiro. Creio que seja guarda de algum clã, mas ainda não consegui descobrir, pois, a moça nervosa e de boca suja, não para de me ofender.

Ele apontou a loira que se debatia entre seus braços. Ela tinha os mais belos cabelos, cor de prata que eu já tinha visto. Eu a encarei por alguns segundos. Onde foi que já vi aqueles cabelos antes? Pisquei quando a ouvi esbravejar com Bruce.

— Boca suja? Nervosa? Diga isso novamente e arrancarei sua língua fora! Seu troll cabeçudo!

Bruce revirou os olhos.

— Viu o que eu disse? Foi por isso, que não consegui descobrir nada. Ela não para de me ofender e cheguei a conclusão de que prefiro que ela se cale.

Soltei uma gargalhada. Nunca uma mulher tinha agido daquela forma com meu primo. Pelo contrário, elas desmaiavam a seus pés.

— Tudo bem! Se eu estiver certo, – disse me virando para encarar Aideen. – está é uma das meninas MacBride.

Aideen me encarou encolhendo os ombros.

— MacBride? – Bruce sorriu com ironia olhando para a menina loira. – Hum! Então o que dizem é verdade? Você é uma bruxa. Ao menos, tem o temperamento de uma.

— Solte-me e mostrarei a ti, quem é a bruxa! – ela grunhiu

— Annabel! Isso são modos de falar com o cavaleiro?

Uma voz esbravejou em meio a mata e me deixou espantado com sua ferocidade. Era a voz de uma mulher e ela parecia muito brava. Logo Ravenna apareceu em meio a clareira. Ela estava montada em um belo cavalo branco, vestida em um vestido e tartã azuis. Loch MacBride vinha logo atrás dela e me encarou de forma séria, mas desviou o olhar em seguida.

— Vossa alteza! – Ravenna fez uma mesura. – Não mudou muito desde a última vez em que nos vimos.

— Gentileza sua! – balancei a cabeça com um sorriso irônico. – Já a senhora, vejo que não mudou absolutamente nada.

Ravenna me encarou com desdém. Ela sabia que eu não gostava dela. Loch não esboçou nenhuma reação diante de meu comentário. Ele mais parecia um boneco coadjuvante, do que marido de Ravenna. Aquilo despertou mais ódio em mim. Por que ele simplesmente deixava que a esposa o dominasse?

— Aideen, sua ratazana! – ela disse olhando de forma severa para a filha. – Pensei que tivesse morrido.

— Ainda não! – Aideen respondeu com ironia.

— Atreve-se a me responder? – Ravenna disparou de forma ameaçadora.

Aideen se encolheu de repente como se temesse a mãe de alguma forma. Ela deu um passo para trás. Olhava em volta buscando uma fuga e pude ver o pânico crescer em seus olhos quando ela constatou que não havia saída. Estranhei a atitude dela, mas assumi uma postura de defesa.

— Fique atrás de mim e não se mova! – sussurrei. – Com que razão, fala desta maneira com esta jovem?

— Esta jovem, minha filha, assustou o cavalo de propósito para fugir da comitiva e voltar para Inverness. Ainda por cima, arrastou a irmã, que saiu em seu socorro. – ela respondeu entre os dentes. – Quase morro de preocupação!

A última frase soou falsa e percebi que Ravenna estava mais preocupada com a menina loura do que com a ruiva.

— Annabel, o que fazes montada neste cavalo? – ela perguntou. – Isso são modos? O que o príncipe pensará sobre seu comportamento?

— Tudo bem, Ravenna! – disse com um suspiro frustrado. – Bruce é meu primo e confio nele. Sua filha está a salvo, confie em mim.

— Esse filhote de troll raivoso é seu primo? – Annabel perguntou fazendo Bruce revirar os olhos novamente. – Me desculpe, mas deveria ensinar-lhe boas maneiras.

Bruce grunhiu.

— Quer parar de me ofender? – ele disparou com raiva. – Sabe quem sou? O duque de Dunvegan. Sou o terceiro filho da casa dos MacCalister.

— Jura! – ela debochou. – Já disseram que o senhor não passa de um arrogante fanfarrão?

Soltei uma risada. Apesar de minha futura esposa ser muito bela, com seus cabelos, cor de prata; olhos azuis muito expressivos e língua ferina, foi a ruiva dos olhos, esmeraldas que me encantou.

— Annabel! – Ravenna a repreendeu. – Peça desculpa e desça deste cavalo agora mesmo. Venha e monte junto a mim que teu pai levará sua irmã.

— Eu... – Aideen fez uma pausa. – Eu não posso ter um cavalo só para mim?

— Deixe de bobagem menina! – Ravenna retrucou. – Seu pai pode muito bem levá-la. Desta forma, evitaremos novos incidentes. Concorda? Sei bem o que tentou fazer e não deixarei que ocorra novamente.

Aideen ofegou e em seguida prendeu a respiração. De repente a menina corajosa que me atacou já não estava mais ali e ela parecia um animal acuado. Acuado e sem saber para aonde ir. Ela abaixou a cabeça assentindo levemente. Fazendo uma reverência, ela virou em direção onde o cavalo de Loch estava e começou a caminhar lentamente. Ela parecia não querer que a distância se encurtasse e estava atrasando ao máximo suas passadas. Era impressão minha ou ela estava com medo de Loch?

Fiquei olhando sem acreditar que, de uma hora para outra, a menina corajosa que me enfrentara se tornara submissa. Estava claro que ela não fora educada para ser rude com ninguém, mas de certa forma sabia se defender quando necessário. Subitamente levei minha mão ao braço ferido por acidente. Lembrei-me do pulso coberto com ataduras e fechei meus olhos. O modo como Ravenna falava, a maneira como Aideen me encarava com medo, me levou a acreditar que Ravenna não a tratava como uma mãe deveria tratar uma filha. As palavras sobre dor e sofrimento que Aideen proferira, bateram forte em meu pensamento. Meu coração se apertou com angústia. Eu não era dado a sentimentos melosos por ninguém, mas algo dentro de mim, implorava que eu a protegesse de qualquer coisa. Instintivamente e, possivelmente por alguma razão que eu não sabia explicar, agarrei seu braço com força.

— Espere! Nós os escoltaremos até o castelo. – disse olhando em volta. –– Acredito que meu pai os aguarda ansiosamente. Aideen, você vem comigo.

— Alteza, mas isso seria imprudência! – Ravenna rebateu. – Aideen, monte no cavalo com seu pai.

Olhei para Bruce com firmeza.

— Bruce, você leva Annabel e vá à frente abrindo caminho. – ordenei. – Aideen virá comigo e assim pouparemos tempo com a falta de cavalos.

Bruce sorriu para a careta desgostosa que Annabel fizera e antes mesmo que ela retrucasse, ele saiu em disparada pedindo que o acompanhassem. Ravenna bufou, mas em seguida, se controlando, tentou sorrir.

— Perdoe-me, mas não creio que isso seja apropriado.

— A senhora não entendeu, não é mesmo? – disse já sem paciência. – Isso é uma ordem. Aideen virá comigo nem que eu tenha que arrastá-la.

Ravenna fez menção de dizer algo, mas Loch segurou sua mão a impedindo de falar. Ela soltou um longo suspiro frustrado e então me encarou com desgosto.

— Pois, bem! Então que o senhor acompanhe Aideen até Dunhill e nos tire desta maldita mata. – Ravenna disse entre os dentes.

Dito isso, fiz um gesto com a cabeça e peguei a rédea do cavalo que a derrubara. Soltando o braço de Aideen fui até a sela de meu cavalo e a amarrei de modo que, o outro animal, ficasse atrás para nos acompanhar. Loch seguiu a comitiva sem pestanejar, mas Ravenna ainda relutou, mas decidiu seguir os outros. Antes, porém, ela ainda lançou um olhar de ódio em direção à própria filha.

— Você vem? – disse estendendo a mão para Aideen.

Ela olhou para a minha mão com receio, mas estendeu a sua para que eu a ajudasse. Seu toque era macio e a pele muito delicada. Senti o calor que emanava dela e a segurei com firmeza para puxá-la até a mim. Em vez de colocá-la na cela atrás de mim, eu simplesmente a prendi entre meus braços colocando-a contra meu peito.

— Não se preocupe, pois, não deixarei que desabe do cavalo. – aquilo soou mais como uma promessa e ela olhou espantada. – Confie em mim e pare de me olhar como se eu fosse um monstro.

— Mas o senhor é um monstro, alteza! – ela disse sem cerimônia.

— Como pode dizer algo com tanta certeza, se não me conhece? – perguntei. – A última vez que a vi, não passava de uma criança. Estou ofendido com suas palavras.

— Não deveria. Conheço sua fama de guerreiro e sei como podes ser cruel! – ela respondeu prontamente.

— Sim, sou implacável e sanguinário em um campo de batalha. Que guerreiro não é? – perguntei, dando de ombros. – Isso não significa que eu seja rude. Já tinha visto algum guerreiro de perto, além é claro, de ter ouvido "histórias" sobre mim? Foi por isso, que estava com medo?

Aideen ficou em silêncio por alguns segundos e senti seu corpo arrepiar contra a pele do meu braço.

— Não tenho medo de você, só não gosto de ser tocada.

— Nem mesmo por seu pai?

Ela respirou fundo.

— Por ninguém! – Aideen sussurrou.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu já não sentia mais o corpo de Aideen tenso contra o meu. Na verdade, ela já estava bem relaxada e isso me levou a crer que eu tinha ganhado um voto de confiança.

— Por que estamos a trotes em vez de estarmos a galope? – ela perguntou virando a cabeça para me encarar.

Aideen era baixa e eu podia encostar o queixo em sua cabeça.

— Não estou com pressa de chegar.

— Por que não?

— Porque estou gostando de sua companhia. – sorri ao dizer. – Acredite em mim, raramente gosto da companhia de uma mulher sem tê-la despido antes.

— Isso foi extremamente grosseiro! – ela bufou.

— Sinto muito, mas você fala de uma maneira tão aberta, que me fico tentado a corresponder.

— E isso é ruim?

— Não. Pelo contrário. – fiz uma pausa e olhando-a e sorri. – Adoro a maneira franca e espirituosa como falas. Poucos têm a ousadia de falar de igual para igual comigo. Estou apenas há três meses longe do batalhão e já sinto falta das conversas com os homens. Embora eu prefira conversar com você, que é bem mais bonita.

Aideen enrubesceu desviando o olhar, mas pude notar que ela sorria. Estava claro que ela não recebia muitos elogios e mais uma vez fiquei intrigado.

— Sinto muito por tê-lo ferido. – ela disse novamente, colocando a mão sobre meu braço machucado. – Se houver um pouco de aloé vera, talvez eu consiga fazer um bálsamo para secar o corte e curar a ferida.

— Entende de ervas? – perguntei espantado.

Havia poucas mulheres no vilarejo que entendiam de ervas e a maioria delas eram senhoras. Pessoalmente, eu não conhecia jovem alguma que dominasse o conhecimento com plantas, exceto claro, a mulher que agora comandava o batalhão em meu lugar.

— Sim. – ela suspirou. – Aprendi há muito tempo.

— Nossa, falas como se fosse uma anciã. – soltei uma risada. – Qual é a sua idade?

— Dezessete. – ela disparou.

Fiquei espantado com a revelação. Sabia que ela era jovem, mas não esperava que fosse tanto. Apesar disso, ela não falava como uma jovem, mas sim como uma mulher determinada. Exceto quando estava na presença de Ravenna, aí ela se encolhia como um rato assustado.

— O senhor não deveria ter falado daquela forma com minha mãe. – disse Aideen de repente com voz preocupada. – Isso só a deixará furiosa com vossa alteza.

Soltei uma risada balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Acredite, conheço Ravenna desde muito jovem. Sei que qualquer coisa a irrita. – disse. – Por favor, me chame de Alistair. Odeio esses protocolos da nobreza.

Ela sorriu balançando a cabeça.

— O fato, Alistair, – ela disse com voz debochada enfatizando meu nome. Um arrepio percorreu minha espinha quando aquele som angelical saiu de sua boca. – é que muitos temem minha mãe e o senhor não deveria ficar desafiando-a. Ela pode ser muito perigosa quando está irritada.

Sorri para o seu tom de advertência. Estávamos nos aproximando da ponte de Dunhill e fiquei frustrado por nosso passeio chegar ao fim. Desmontando da sela, ergui meus braços para pegar na cintura de Aideen e ajudá-la a descer. Ela era tão leve que não precisei de muito esforço para colocá-la no chão. Enquanto eu a descia, Aideen manteve seu olhar preso ao meu, ao mesmo tempo, em que prendia a respiração segurando em meus braços. Eles estavam nus e pude sentir novamente o calor da pele da palma de sua mão.

— O fato, Aideen, – sussurrei em seu ouvido quando a coloquei de pé. – é que não sou parte desses muitos e não temo Ravenna. Já você parece fazer parte desse núcleo. Só não entendo por que, mas pretendo descobrir. Já que seremos parentes, acredito que terei muito tempo para isso.

Ela ofegou e eu me afastei sorrindo. Aideen deu um passo para trás engolindo em seco e então peguei sua mão beijando delicadamente.

— Foi um enorme prazer!

Aideen deu meia volta e então se misturou ao restante da comitiva. Bruce se aproximou de mim com seu falcão em um de seus antebraços e sorriu.

— Para alguém que não queria nenhum envolvimento com uma mulher do tipo "casamento", – ele debochou. – você me parece bem interessado na pequena.

Revirei os olhos para ele e então cruzei os braços.

— Intrigado, meu caro! Apenas intrigado! – respondi e em seguida soltei uma risada. – Quanto a você, amaciaste a fera para mim?

Bruce revirou os olhos.

— Aquela coisa não é uma mulher! Aquilo é uma cobra peçonhenta! – disse ele de forma ríspida. – Ainda bem que ela é sua noiva, se não já tinha arrancado aquela língua fora de sua boca.

— E não passou por sua mente tentar silenciá-la como tanto gostas de fazer com as donzelas? – perguntei irônico.

Bruce revirou os olhos fazendo cara de nojo.

— Deus me livre! – ele disparou. – Se eu tentasse beijá-la, seria eu a ficar sem a língua.

Soltei uma gargalhada dando uma tapa no peito dele e fiz com que Bruce me acompanhasse.

— Venha, ainda tenho tempo para tentar persuadir meu pai a acabar com essa palhaçada. – disse. – Daí, quem sabe você não a reivindica para si?

— Cruz em credo!

Bruce fez o sinal da cruz me arrancando mais gargalhadas e então me seguiu para dentro do castelo. Ainda tinha esperança de que aquela união não fosse feita e me agarraria a ela até o fim.

Continue Reading

You'll Also Like

133K 8.3K 26
Você é uma jovem estudante que se vê diante de uma escolha impossível: continuar seu relacionamento seguro e monótono com o popular bad boy do colégi...
5.4K 494 12
James Harper um piloto cheio de charme,ama sua profissão,apesar de ser jovem suas horas de voo impressiona qualquer um,era mais um voo como outro qua...
564K 24.4K 119
𝙨𝙚 𝙘𝙝𝙚𝙜𝙤𝙪 𝙗𝙖𝙜𝙪𝙣ç𝙖𝙣𝙙𝙤 𝙖 𝙢𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙩𝙤𝙙𝙖 𝙚𝙪 𝙣𝙖𝙤 𝙘𝙤𝙣𝙨𝙞𝙜𝙤 𝙢𝙖𝙞𝙨 𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖𝙧 𝙤𝙪𝙩𝙧𝙖, 𝙖 𝙜𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙨𝙚 𝙥𝙖𝙧𝙚...
51.9K 5.3K 27
( CAPÍTULOS FINAIS APENAS PARA AMAZON) O professor de história, Luke Hunter, estava super feliz em seu novo trabalho. A amada esposa com o seu primei...