Capítulo 03

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A noite já estava caindo, mas a chuva já tinha cessado. O céu ainda estava carregado de nuvens escuras e uma tempestade se anunciava. Fechei meus olhos enquanto sentia o vento frio soprar em minha face. Tinha saído do castelo para cavalgar um pouco e espairecer, mas não adiantou muita coisa. O relinchar de um cavalo fez com que eu abrisse meus olhos e olhasse na direção da qual vinha o barulho. Reconheci o garanhão negro de Bruce e respirei profundamente. Fazia duas horas que estava cavalgando e certamente minha mãe ficara preocupada. Principalmente, após a discussão com meu pai. Minha mãe deve tê-lo convencido a me procurar.

— A estrada para o norte fica para lá, meu amigo. – ele apontou em direção ao caminho que seguia rumo à fronteira. – Só espero que tenha trazido bastante agasalho dentro desse alforje. Também será necessária uma pequena barraca. Sabe que o caminho é longo.

— Não está em mim, fugir, Bruce! – suspirei. – Se veio até aqui para impedir que eu o fizesse, perdeu seu tempo.

Minha voz saiu ríspida sem querer.

— Minha nossa! Você já foi mais gentil, meu caro. – ele debochou. – Pensei que a fama de lobo raivoso fosse apenas para os campos de batalha. Você sempre foi um lorde muito diplomático, por sinal.

Respirei fundo.

Bruce tinha razão! Sempre fui fadado à gentileza e cortesia. Muitas vezes me surpreendi com minhas atitudes cruéis com meus adversários. Às vezes temo a mim mesmo por meus rompantes.

— Desculpe por ter de fazê-lo vir me procurar.

— Não sinta! – ele disse sorrindo para mim. – Sabe que eu comeria grama com hidromel se ela me pedisse.

Fiz uma careta por causa da sugestão de alimento de Bruce. Ele adorava comer e comia tudo o que lhe convinha. Seria muito fácil envenená-lo com comida ou bebida.

— Bruce, às vezes, fico a me perguntar se você é um homem ou uma vaca! – disse com horror. – Só pensa em comida?

— Assim você me ofende! – disse ele com fingida mágoa. – Quem disse que vacas vivem a pensar em comida?

— Se não vivem, deveriam. Daí, poderíamos dar seu nome a uma dessas raças.

Ele revirou os olhos e ambos gargalhamos.

— Acredita mesmo que a ideia de uma aliança com Loch MacBride seja assim tão ruim? – Bruce perguntou mudando de assunto. – Roy não tem herdeiros que possam servir para sustentar uma aliança com os ingleses. Acredito que seja muito difícil que ele consiga algo com Phillipe. Ele precisaria trabalhar muito para oferecer mais que a promessa de vitória aos aliados.

— Sim, tenho que concordar que a ideia de meu pai foi brilhante e muito estratégica. Embora eu não suporte Ravenna, um filho com Annabel colocará um fim nas artimanhas de Roy. – disse olhando para uma das árvores.

— Então o que o preocupas? – Bruce fez um gesto teatral colocando as mãos sobre o peito. – Não me digas que está com medo de uma mulher?

Soltei uma risada e em seguida fiz uma careta. Eu não tinha medo de mulher alguma, exceto claro, de minha mãe. Ela era uma rainha esplêndida. Culta, diplomática, gentil e uma mãe formidável.

— Não tenho medo de mulher alguma, sabe disso. – respondi. – O problema é Ravenna. Se ela conseguir seu status social de volta, tenho certeza que ajudará Roy no que for necessário. Sabe bem como ela estima o meio-irmão.

Bruce soltou uma gargalhada apertando meu ombro.

— Meu caro, já o vi liderando mais de mil homens armados com suas espadas, escudos e coragem. Nunca perdeu uma batalha, Alistair. É o líder mais temido entre os clãs. Ravenna é quem temê-lo, não o contrário.

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