Trilogia Irmãs MacBride - Liv...

By KiraFreitas33

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Para Aideen MacBride, não havia dor maior que a perde de sua irmã mais velha, após uma manhã fatídica que fic... More

Atenção!
Guia de Orientação
Capítulo 01
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10

Capítulo 02

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By KiraFreitas33

Aideen

A chuva caía fraca no horizonte. Da janela do meu quarto eu contemplava a vastidão verde da colina em torno do castelo de Inverness. Meu pai era um dos lordes que serviam ao rei Brice do clã MacCalister. Seus antepassados lutaram incansavelmente contra as invasões dos povos do norte e depois contra o avanço do domínio inglês, que outrora, nos fizera de colônia.

Nunca entendi bem a razão de minha mãe impedir meu pai de colaborar com as campanhas, que segundo eu ouvia dos criados, iam muito bem. O destemido príncipe Alistair vencia batalhas atrás de batalhas e mantinha as legiões de lorde MacGregor longe das Highlands. Embora fosse muito corajoso e tivesse um enorme sucesso, ele ainda dependia de um milagre para pôr fim ao cerco de meu tio, que tinha nas mãos, uma grande vantagem. Por descender de uma linhagem de sangue inglês, ele vivia tentando iniciar uma negociação para obter apoio da coroa inglesa. Embora tentasse bastante, ouvi dizer, que seus esforços eram sempre compelidos por homens de Alistair. Nada entrava ou saia daquela fortaleza. Quem tentasse, era morto ou capturado. Roy queria a coroa de Brice e pouco se importava com nosso povo. Seu intuito era obter poder. Igual a minha mãe, que sonhava voltar a corte inglesa com seu título de nobreza, cuja identidade eu desconhecia.

Respirei fundo de forma frustrada quando o vento frio soprou meus cabelos para longe. Odiava prendê-los, pois, dava muito trabalho reunir todos aqueles cachos em uma trança. Minha mãe dizia que uma moça descente e submissa a seu marido, deveria manter sua aparência impecável. Isso significava que meus cabelos deveriam estar sempre bem arrumados e trançados. Pouco me importava, pois, sabia que nunca me casaria. Ainda não tinha certeza se aquilo era bom ou ruim, mas se houvesse um jeito de sair de Inverness e que não colocasse minha vida em risco, eu aceitaria de bom grado.

Olhei mais uma vez a paisagem sentindo a tristeza me consumir um pouco mais naquela manhã. Toda manhã me pegava olhando para aquele mesmo cenário com a certeza de que nunca mais iria lá fora. Embora sentisse falta de pisar na grama verde ou tocar a água fria do lago Ness, meu quarto ainda era o local mais seguro que existia em toda Highlands. Uma batida na porta de carvalho interrompeu meus pensamentos. Eu não precisava me virar para saber que, Annabel, minha irmã, era quem entrava nos meus aposentos. Sorri levemente, mas não olhei para ela e continuei encarando a paisagem. Aquele se tornara meu único momento feliz.

— Bom dia! – Annabel disse com sua voz suave. – Trouxe seu café da manhã. Torradas com geleia e um belo bule de chá. Também consegui A megera domada que você tanto queria.

— Parece bom! – sussurrei sorrindo. – Come comigo?

Annabel assentiu sorrindo. Toda manhã ela vinha trazer o café da manhã e, de vez em quando, um livro. Eu não tinha permissão para ir além da porta de meu quarto, por isso, ela vinha até mim. Minha mãe vinha poucas vezes, o que era um alívio.

Meu quarto era o maior do castelo e tinha pertencido à Aila. Annabel insistira com minha mãe para que eu ficasse com ele após a partida de Aila. Já que eu me tornaria uma prisioneira, que ficasse no quarto mais confortável. Não me incomodava com o fato de ser uma prisioneira em minha própria casa, já que tinha muito medo do mundo lá fora e das pessoas que o habitava.

O quarto contava com uma área para banho; uma cama com dossel, que ficava no centro do aposento e uma mesa com duas cadeiras apenas. Na parede junto à porta havia uma lareira e em frente a ela uma poltrona, na qual eu passava a maior parte do tempo lendo, rezando ou olhando para a janela estreita. Muitas das vezes eu passava tanto tempo ali, que acabava adormecendo.

— Está um lindo dia, embora uma chuva fina esteja caindo sobre Inverness. – ela disse. Pude ouvir o tilintar das xícaras quando ela colocou a bandeja sobre a mesa. – Você sabe que conheço bem as passagens. Por que não vem dar um passeio comigo?

— Boa tentativa, mas prefiro ficar aqui! – respondi seca.

— Aideen, não pode ficar neste quarto para sempre, minha irmã! – ela fez uma pausa. – Sabe que posso ajudá-la a sair deste lugar, não é mesmo?

Como se eu tivesse escolha! Pensei.

— Sair para quê? Para onde? – perguntei me virando. — Sabe que não sei caçar e tenho muito pouca habilidade com a espada. Morreria antes mesmo de chegar ao próximo povoado.

— Morrerá se continuar solitária neste quarto. – ela devolveu.

Eu ri sem vontade.

— Uma grande ironia! – resmunguei. – Não sei o que seria mais prazeroso: morrer aqui, sendo humilhada por nossa mãe, acusada de ser uma inútil ou lá fora, sozinha.

Dei de ombros suspirando.

— Se bem que não há tanta diferença entre ambas opções.

Annabel balançou a cabeça de um lado para o outro. Ela só tinha permissão de ficar em meu quarto durante as refeições, por isso, eu aproveitava ao máximo sua companhia. Ela era minha irmã do meio. Era doce e gentil. Embora tivesse aparência delicada, era muito destemida e adorava aventuras. Sabia de todas as passagens escondidas de Inverness e vivia fugindo. Nossa mãe nunca conseguira descobrir sobre suas fugas, mas duvidava que ela a punisse de alguma forma. Annabel sempre fora a preferida de nossa mãe. Tinha os cabelos, cor de prata e os olhos azuis, cor de safira. Ela não se parecia com nenhuma de nós, já que eu e Aila éramos ruivas como nosso pai. Nossa mãe dizia que Annabel era parecida com nossa avó materna, mas eu nunca tive contato com ela para ter certeza.

Annabel respirou fundo antes de alisar seu vestido, cor de marfim e sentar-se em uma das cadeiras. Fui caminhando até ela e me sentei na cadeira seguinte. Ela começou a se servir das torradas, que já estavam com a geleia, enquanto bebericava o chá de amoras, o nosso preferido.

— Sem facas? – perguntei franzindo a testa.

— Sim. – ela suspirou olhando para meus pulsos. – Creio que sabemos bem a razão.

Revirei os olhos ficando em silêncio. Há alguns dias, quando Annabel trouxe meu café, peguei a faca que ela trouxera e tentei cortar os pulsos. Tinha brigado com nossa mãe e tentei acertá-la com a faca. Tinha acertado seu ombro e ela saiu do quarto em desespero. A faca cravou na parede e eu a peguei na esperança de acabar com minha vida. Annabel ficou muito nervosa quando me viu sentada na cadeira com o sangue escorrendo pelos pulsos. Uma das aldeãs veio e fechou o ferimento que não era tão profundo quanto eu imaginava.

— Penso que você deveria fugir! – ela insistiu na conversa.

— Aonde quer chegar com isso, Annabel? – perguntei com a voz irritada. – Você nunca me fez essa proposta antes. Por que decidiu insistir nesta ideia justo agora?

Annabel respirou profundamente recostando na cadeira.

— Mamãe arranjou meu casamento com um dos lordes. – ela disparou.

— Estava demorando que ela voltasse com essa ideia. – resmunguei batendo os punhos na mesa. – É, por isso, que está tão preocupada comigo?

— Sim. – ela respondeu com tristeza. – Não quero deixá-la aqui sozinha. Você não sobreviverá.

— Sobrevivi até agora, não é mesmo? Posso sobreviver por muito mais tempo. – disse. – Aproveite sua libertação daquela megera desalmada.

— Oh! Aideen! Você tem apenas dezessete anos, mas fala como se tivesse muito mais.

— É por isso que sei que sobreviverei muito mais tempo, embora não queira que minha vida se prolongue ainda mais.

Annabel sorriu para mim, mas sua expressão continuava preocupada. Suspirei, pois, sabia que ainda havia algo errado.

— Então, quem é o felizardo? – perguntei soltando minhas mãos das dela.

— Príncipe Alistair!

— O quê? – disse dando um salto da cadeira. – Ele tem nove anos a mais que você e é um ogro! Esteve em inúmeras batalhas e está acostumado a tratar todos sem nenhuma delicadeza. Ele será mau contigo! Como Ravenna pôde concordar com um absurdo desses?

Meu rompante, com misto de raiva e medo foi tão forte que chegou até os corredores do andar em que estávamos. Ela entrou em meu quarto sem ser anunciada. Trajava um vestido de cor escura combinando com seu cabelo castanho-avermelhado. Seus olhos eram azuis como os de Annabel.

— O que está havendo aqui? – ela perguntou com a voz zangada.

— Sua... Sua monstra! – vociferei com raiva. – De todas as coisas terríveis que tem feito conosco, casar Annabel com aquele carniceiro, foi de longe a pior delas!

— Baixe o seu tom, menina! – ela ordenou com frieza. – Antes de tudo, sou sua mãe e deves-me respeitar.

— Mãe? Você não é minha mãe! – retruquei. – Você é apenas um ser que nos colocou no mundo.

Minha mãe sorriu com a mesma frieza que sorria toda vez que falava comigo.

— Aideen, será que preciso lembrá-la de como é ter modos? – ela perguntou levando a mãe à cintura onde ficava preso o chicote curto.

Arregalei os olhos engolindo em seco. Ela andava com aquele chicote preso à cintura desde que tentei acertar uma facada nela. Senti uma pontada na pele de minhas costas e um frio percorreu minha espinha. Lentamente fui respirando para conter a raiva e o medo que começava a se apossar de mim.

— Não será necessário. – sussurrei abaixando o olhar para o chão. Minhas mãos estavam fechadas com tanta força que eu começava a sentir as unhas cravarem na pele da palma da minha. – Sei bem qual é seu nível de punição.

— Ótimo! – ela sorriu com satisfação. – Agora pode me explicar que rompante foi esse?

— Não foi nada, mãe. – disse Annabel com voz suave. – Aideen só está preocupada porque me casarei com o príncipe Alistair.

— Não fui eu quem propôs aliança a Brice. Ele quem procurou seu pai e ofereceu um ótimo dote pela mão de Annabel. – ela explicou. – Essa aliança é vantajosa para nós, por isso, não pude recusar.

— Sua egoísta, maquiavélica! – disse entre os dentes. – Você vendeu minha irmã para aquele porco?

Nunca vira Alistair pessoalmente, mas conhecia a sua fama de ser o guerreiro mais cruel no campo de batalha, pois, havia sido criado para a guerra. Nos anos em que estivera fora, Alistair dedicou-se ainda mais a essa função. Ouvi coisas pavorosas sobre sua conduta. Da maneira como ele esmagava a cabeça de seus oponentes com as mãos. Sem contar as histórias de orgias com seus homens e diversas mulheres. Uma pessoa assim não servia para ser esposo de minha irmã. Eu o imaginava alto, cheio de músculos, com os cabelos desgrenhados e com cicatrizes horrendas que deformavam seu rosto e corpo. Um ser asqueroso, sem nenhuma sensibilidade.

— Você deveria parar de dizer bobagens. – Ravenna disse cruzando os braços. – Annabel, deve se preparar para a viagem. Aliás, às duas devem.

— Viagem? Para onde? – perguntei confusa. Annabel foi baixando o olhar.

— Iremos a Dunhill para o noivado esta noite. – ela respondeu dando as costas. – Annabel se casará amanhã ao pôr do sol.

Desespero se apossou de mim. Só de pensar em ir lá fora e ficar no meio de tanta gente novamente... Meu corpo estremeceu de pavor.

— Por que eu não posso ficar aqui? – perguntei com a voz cheia de desespero.

— Porque é o casamento de sua irmã e todos da família devem estar presentes. – ela respondeu com frieza. – Mesmo você sendo uma incompetente e inútil!

Meus olhos se encheram de lágrimas. Ódio se apossou de meu corpo e estremeci. Já não tinha mais forças e não sabia até quanto tempo mais eu sobreviveria aquele inferno, cuja mulher na minha frente, provera por capricho. A união dos clãs MacCalister e MacBride traria uma grande fortuna a Ravenna e ela recuperaria o status que tanto almejava. Ela se tornaria a mãe da futura rainha da Escócia.

Infelizmente, Annabel era a mais submissa de nós três. Assim nossa mãe acreditava. Sabia muito bem que ela só fazia o que Ravenna queria para que não fosse descontado em mim. Nós três tínhamos personalidades bastante diferentes. Aila tinha o temperamento explosivo, era decidida e forte; Annabel era destemida e corajosa, mas sempre tivera a mania de falar demais tudo o que lhe vinha a mente. Já eu, era considerada frágil por ser a mais nova. Minhas irmãs não estavam longe da verdade ao pensar desta forma, pois, meu espírito de liberdade e determinação foi totalmente domado há algum tempo. Graças ao que minha mãe chama de incompetência, Ravenna passou a usar o que me acontecera como arma para suas chantagens e tirar o que quer que fosse de nós duas. A vida de Annabel tem estado em uma balança graças a mim.

— Alistair nos odeia e maltratará Annabel. Tenho certeza de que fará da vida dela um inferno. – fiz uma pausa fechando os olhos. – Entendo muito bem de inferno para saber o que estou dizendo e não quero isso para Annabel.

Minha mãe soltou uma risada fria.

— E a culpa é de quem? – ela se voltou para mim e pegando meu queixo falou entre os dentes. – Se não tivesse estragado tudo, quem sabe, hoje eu não casaria a ambas? Uma com cada príncipe. Em vez disso, estou casando apenas Annabel e você...

Ela apertou meu queixo com mais força e virando a minha cabeça de um lado para o outro como se me avaliasse.

— Você não passa de um peso morto sem valor algum, que terei de carregar para o resto da minha vida. – ela riu com frieza. – Quem sabe não consigo vendê-la como escrava?

— Mãe! – a voz de Annabel ecoou.

Dei um safanão na mão de minha mãe e ela se afastou. Lágrimas de ódio surgiram em meus olhos.

— A senhora é um monstro! – choraminguei. – Eu a odeio com todas as minhas forças! Um dia a senhora se arrependerá de tudo o que fez.

— Que seja! – ela deu de ombros. – Devem se preparar, pois, a viagem é longa.

— Não irei a lugar algum! – disse sem pestanejar.

— Tente me desobedecer novamente, Aideen! – ela fez uma pausa. – Tente!

Ela bateu a porta atrás de si, deixando o quarto silencioso por alguns instantes.

— Eu te odeio! – gritei quebrando o silêncio mortal que se seguiu por minutos. Annabel correu para me amparar quando cai sentada ao chão.

— Shiii! – ela sussurrou me abraçando. – Fique calma! Não chore, minha boneca! Estou aqui!

Annabel tinha a mania de dizer que eu me parecia com uma pequena boneca de porcelana por causa de minha pele clara e pálida. Odiava a maneira como minha mãe me tratava e já estava na hora de pôr um fim nisso. Decidi que seria melhor tentar sobreviver sozinha do que definhar pouco a pouco, ao lado de uma mulher desprezível. Eu só esperava que Annabel viesse junto comigo.

— Fugirei para longe! – disse aos prantos. – Venha comigo!

— Não, minha irmã! Ficarei aqui e garantirei sua fuga! – ela sorriu. – Alguém deve fazer o que ela quer ou haverá consequências. Ela não se importa com você e não sentirá sua falta.

— Sim, mas sentirei a sua!

— E eu a sua, linda boneca!

Nós nos abraçamos e chorei durante horas a fio. Toda a dor de meu coração partido estava sendo posta para fora e eu esperava que fosse a última vez. Há muito tempo enfrentava as dores de um passado que insistia em permanecer vivo em minha mente. Graças a minha mãe, que fazia o impossível para que eu não esquecesse. Ela decidiu que eu viveria desta forma até o fim da vida para pagar por um plano que dera errado. No início o isolamento parecia algo sombrio e tenebroso, assim como o motivo que me levou aquela sina. Tinha medo das pessoas e do mal que elas carregavam dentro de si. Eu já tinha visto muito para alguém tão jovem.

— Estou cansada! – disse secando as lágrimas. – Dormirei um pouco antes de partir.

— Você não dormiu novamente? – Annabel perguntou ficando de pé. Fiz que não com a cabeça e caminhei até a cama. – Minha irmã, você não pode viver acordada. Você mal se alimenta e adoecerá desta forma.

— O que posso fazer? – perguntei com voz cheia de desespero. – Sempre que fecho meus olhos, coisas horríveis aparecem. Prefiro ficar acordada a ter de lidar com as sombras.

Annabel sorriu com tristeza.

— Queria vê-la sorrir como fazia antigamente. – disse ela me ajudando a deitar e então, como se eu fosse um bebe, me cobriu beijando minha testa. – Agora durma e descanse. Tudo ficará bem quando você acordar.

Duvidava muito daquilo, mas estava cansada demais por ter passado mais uma noite em claro por conta dos pesadelos. Não precisei de muito esforço para pegar no sono, mas logo cai em mais um de seus sonhos sombrios. A voz de Annabel ecoou em minha mente me dando forças. O lembrete de que tudo ficaria bem quando eu acordasse, fez com que os sonhos ruins se afastassem e assim eu dormi um sono pesado.

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