UM PRESENTE INESPERADO

By annypoyson

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UM BEBÊ? O casamento com Anahí deveria ser o acontecimento mais feliz da vida de Alfonso Herrera. E foi, at... More

PRÓLOGO
CAPITULO I
CAPITULO II
CAPITULO IV
CAPITULO V
CAPITULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPITULO IX
CAPITULO X
CAPÍTULO XI
EPÍLOGO

CAPITULO III

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By annypoyson


A casa tinha cinco quartos, e Anahí, profundamente chateada, havia escolhido o do final do corredor, aquele que ficava o mais longe da suíte. Apesar da decoração ainda não estar concluída, apesar dos poucos móveis, daria muito bem para ela se acomodar ali. Mesmo assim, Anahí estava achando que deveria ter ido para a garagem.

"Eu deveria ter ido para a garagem! Lá, sim, ficaria bem distante de Alfonso e da decepção que ele me causou." Ela balançou a cabeça em negativa. "Na verdade, eu deveria ter ido para a lua!"

Parada no quarto, Anahí inspirou profundamente. O ar ainda recendia à tinta fresca. Nas paredes, nenhum quadro. Sobre o criado-mudo, não tinha nem mesmo um abajur para leitura. Nem uma colcha existia sobre a cama.

"Mas eu queria o quê? Durante a nossa lua-de-mel a decoração iria ser feita. E agora, agora não faço a menor idéia do que vai acontecer com a minha vida. E eu que sonhei tanto, fiz planos, e eu que achei que era a mulher mais feliz do mundo... A vida realmente nos prega grandes peças."

Anahí, sem saber direito o que fazer, se aproximou do guarda-roupa, onde um imenso espelho refletiu a imagem de uma noiva, ainda de grinalda, vestida inteirinho de branco. Além da roupa, o rosto da noiva também estava muito branco. Branco de aflição, de desespero.

— Esta sou eu... — ela disse baixinho, para a imagem que o espelho refletia.

Na verdade, tudo no casamento fora branco: as flores que haviam enfeitado a igreja, a limusine, o bolo, as toalhas e as flores que haviam enfeitado as mesas do salão onde acontecera a recepção. Tudo idéia da mãe de Anahí.

— Por que não? — Marichelo lhe perguntara, quando Anahí resistira à idéia de só usar a cor branca no casamento. — Além de chique, será a proclamação da sua inocência. Poucas moças, hoje em dia, podem se dar a esse luxo. Se quiser, pode até me chamar de ultrapassada, mas saiba que isso me deixa muito orgulhosa. Ao proclamar a sua inocência, você, ao contrário de muitas moçoilas, não estará mentindo.

Anahí, ainda diante do espelho, voltou a balançar a cabeça em negativa.

— Eu casei de branco. E o smoking de Alfonso era preto. Tudo muito chique, tudo muito correto. E, de repente, o sonho virou um grande, um imenso pesadelo.

Inconformada, Anahí tirou a grinalda da cabeça, colocou sobre a cama e voltou a se olhar no espelho.

— O meu casamento foi um grande fiasco.

Devagar, ela começou a desabotoar o vestido. No instante em que ia tirá-lo, ouviu uma leve batida na porta e a voz de Alfonso, perguntando:

— Posso entrar, querida?

— Não, claro que não! — ela respondeu, de imediato.

— Você está bem?

— Estou ótima, maravilhosa! — Anahí sentiu os olhos se encherem de lágrimas.

— Eu trouxe as suas malas.

— Pode deixá-las aí fora.

— Gostaria de entrar um pouco.

— E eu quero ficar sozinha.

— Certo — ele disse após alguns segundos de silêncio. — Você tem razão.

Anahí deixou que as lágrimas rolassem pelo rosto. Por que impedi-las? Aquelas lágrimas refletiam exatamente o estado de espírito de uma garota crédula, uma garota que acabara de completar vinte e quatro anos, e que, um dia, ainda na adolescência, resolvera se guardar para um príncipe encantado, para o homem certo. E quando conhecera Alfonso, logo soubera que ele era o príncipe encantado que tanto havia esperado. Desde então sentia-se vivendo num conto de fadas. Alfonso era perfeito: atencioso, alto, forte, elegante, cabelos emoldurando um rosto másculo e olhos bem verdes.

Anahí, sem se preocupar com nada, embalada pelo romantismo, se deixara levar pelo carisma e sensualidade de Alfonso. Mas ele não passava de um estranho, a mãe cansara de lhe avisar.

— E eu que pensei que o conhecesse...

Durante o breve namoro, eles passavam horas e horas falando sobre tudo que existia sobre a face da terra, e fora dela também. Anahí ficara sabendo que Alfonso havia herdado a pele morena do pai, texano, descendente de espanhóis. Os olhos verdes ele herdara da mãe, cujos ancestrais, eram canadenses. Também ficara sabendo que Alfonso havia nascido dentro de um trem, quando os pais haviam resolvido tentar a vida no Canadá.

— Tudo muito romântico, tudo muito... mentiroso.

Anahí sentou-se na cama e se perguntou em pensamento: "Será que é mentira também que os pais dele tiveram uma vida muito difícil no Canadá, que precisaram da ajuda de outras pessoas para conseguirem sobreviver e, no final, acabaram morrendo quando Alfonso era ainda criança?"

Alfonso lhe contara que os pais, ao chegarem no Canadá eram praticamente miseráveis. Quase sem estudo, a mãe tinha trabalhado muito em serviços considerados menores, enquanto o pai, um homem bom, mas que só se interessava por poesias, acreditava que, um dia, seria reconhecido como um grande artista.

— Seu pai não trabalhava? — Anahí quisera saber.

— Meu pai escrevia o tempo todo. Ele acreditava no que fazia. E minha mãe acreditava muito nele. Por isso, por acreditar muito no meu pai, e no futuro brilhante que teriam juntos, não media esforços. Mas o que ela ganhava mal dava para a gente comer. Num inverno, o frio era tanto que, para conseguirem aquecer melhor a casa onde morávamos, os dois acabaram, acidentalmente, pondo fogo em tudo — Alfonso lhe contara, com lágrimas nos olhos. — Os vizinhos correram para ajudar, mas já era tarde. Os dois morreram. Até hoje não entendi como consegui sobreviver, como conseguiram me salvar.

— Quantos anos você tinha, Alfonso?

— Tinha acabado de completar seis anos.

— E o que aconteceu? Mandaram você para um orfanato?

— Não, a comunidade que vivíamos resolveu que iria me adotar. E foi uma espécie estranha de adoção. Morava na casa de um, na casa de outro... E, na verdade, jamais me aceitaram, apesar de se esforçarem, apesar de serem pessoas muito boas. Fisicamente eu era muito diferente de todos. As pessoas de lá eram todas muito claras. E eu, moreno de olhos verdes, era encarado como um alienígena, como se tivesse descido de Marte, sei lá...

Fez uma pausa para respirar e continuou:

— Na verdade, eles sempre me olharam com desconfiança. Afinal, eu era o filho do poeta, do homem que, de tanto escrever acabara pondo fogo na própria casa. E as crianças, zombavam de mim por causa disso. Zombavam tanto que, quando eu tinha dezesseis anos, resolvi fugir e fazer a minha vida sozinho. Sem dinheiro, cheguei em Vancouver e prometi a mim mesmo que iria vencer. Órfão, sem parentes que pudessem me ajudar e me encaminhar na vida, sem conseguir fazer uma universidade, houve momentos que me desesperei e pensei em desistir. Mas, apesar das dificuldades todas, apesar de sentir que tudo estava contra mim, fui em frente. Sabe, Anahí, apesar de tudo sempre existiu dentro de mim algo, uma espécie de voz interior, que dizia para eu prosseguir.

— Sua vida foi muito dura...

— Foi. E eu entendo o fato de sua família, a sua mãe me especial, não me aceitar. Se eu fosse filho de alguém importante, tudo seria diferente. Mas eu lhe asseguro que jamais irá se arrepender de ter me conhecido.

As cenas vividas com Alfonso, as palavras, as juras de amor, continuaram, como num filme, passando pela mente de Anahí. Ela se levantou, abriu a porta, pegou as malas que Alfonso havia deixado e voltou para dentro do quarto. Desanimada, ficou alguns instantes olhando para as malas e, em seguida, se aproximou da janela. Após tê-la aberto, inspirou profundamente e todos os seus sentidos foram preenchidos por um cheiro suave de rosas. Anahí olhou para o céu. A noite era de muitas estrelas. Uma noite feita sob medida para pessoas apaixonadas.

"A noite que, pela primeira vez, eu me entregaria a Alfonso... E agora estou aqui, me sentindo a pessoa mais solitária do mundo, mesmo sabendo que o homem com quem eu me casei está a poucos metros de mim..."

Anahí resolveu que deveria tomar uma atitude, nem que essa atitude fosse apenas um banho. Decidida, abriu uma das malas, pegou uma toalha e a camisola que havia escolhido com esmero, para usar na sua primeira noite com Alfonso. Se esforçando muito para não voltar a chorar, também pegou o négligé e foi para o banheiro. Por sorte, havia xampu e sabonete no box.

Anahí se despiu, abriu a torneira e deixou que a água tépida lhe caísse sobre o corpo. E lá ficou por cerca de meia hora tentando não pensar em nada, o que foi muito difícil, diante das circunstâncias.

Ao sair do banheiro, com toalha enrolada na cabeça, ela voltou a se olhar no espelho. Sem maquilagem, corpo esguio, pele de porcelana, ninguém lhe daria mais do que dezoito anos.

— Anime-se — ela recomendou à imagem que a encarava e, logo depois, voltou para a janela para continuar olhando noite.

De repente, um ruído, um ruído que Anahí, não percebeu de imediato do que se tratava. Mas não demorou muito para que compreendesse que se tratava do choro de uma criança.

— É o filho de Alfonso quem está chorando. — O primeiro impulso que teve foi sair apressada para ver o que estava acontecendo. Mas se conteve. Mas só por alguns instantes. O bebê agora chorava mais forte e parecia desamparado.

"Essa criança é inocente. E não tem nada a ver com que Alfonso fez comigo."

Decidida, ela fechou o négligé e saiu para ver o que estava acontecendo. Na suíte que sonhara viver momentos de intensa felicidade, ela não encontrou ninguém.

Anahí foi para a sala onde encontrou Alfonso, já sem o paletó do smoking. Desajeitado, embalava o filho, tentando acalmá-lo. Sobre a mesinha de centro, uma mamadeira vazia.

"Assim você não vai conseguir nada com ele", Anahí teve vontade de gritar. "Se continuar a balançá-lo dessa maneira, o garotinho vai acabar vomitando."

Alfonso, que se encontrava de costas para Anahí, resolveu começar a cantar. O bebê diminuiu a intensidade do choro. Alfonso, por sua vez, animado com aquela mudança de comportamento, parou de embalá-lo.

Mais tranquila, Anahí se afastou sem ser percebida e, confusa, sentou-se numa cadeira da cozinha. Alguns instantes mais tarde, Alfonso apareceu e falou num tom baixo e voz:

— Parece que ele dormiu.

Anahí apenas o fitou em silêncio.

— Estive no quarto em que você se acomodou. Como não a encontrei, vim para cá. Sinto muito, mas aqui não tem nada para a gente comer. Mas lá na sala tem um garrafa de licor. Se quiser tomar um gole, talvez a ajude a relaxar. Se houver alguma coisa que eu possa fazer por você...

— Não há nada que possa fazer por mim. — Ela se levantou. — Durma bem, Alfonso Herrera.

Mas Alfonso só conseguiu dormir depois da meia-noite, para acordar um hora mais tarde, assustado. E demorou alguns instantes para que se lembrasse de que estava na cama com um bebê que diziam ser seu. Dani dormia tranquilo ao seu lado. Antes de deitar-se, com medo de que algo acontecesse ao bebê, Alfonso empurrara a cama de casal para perto da parede. Depois colocara Dani entre a parede e ele.

"Só me resta voltar a dormir", Alfonso concluiu em pensamento e logo pegava no sono. Porém, o sono pesado só durou poucos minutos. Ele voltou a acordar, agora com Dani chorando.

— Você poderia me dizer o que está acontecendo? — Meio atarantado, ele perguntou ao garotinho. — Dá para me dizer, por favor, o porquê desse choro?

Alfonso respondeu a própria pergunta:

— Você deve estar com sede. — No escuro, ele saiu da cama, pegou a mamadeira que se encontrava dentro na sacola e deu água a Dani, que parou de chorar. — Ótimo. Agora você pode voltar a dormir.

Dani, no entanto não parecia sentir a menor vontade de dormir, e começou a dar gritinhos.

— Não acredito! Sabia que é muito tarde, garotão? Eu estou morrendo de sono.

O bebê, alheio a tudo, continuou a dar gritinhos.

— Certo. Você continua aí apreciando a noite que eu vou dormir. Hoje foi um dia e tanto para mim, sabia?

Alfonso fechou os olhos e tentou relaxar. Em vão. Os gritinhos de Dani não paravam e, em cada um deles, a certeza de que não conseguiria dormir naquela noite.

"Se eu acender a luz e começar a conversar com ele, aí é que Dani não vai dormir. O melhor que tenho a fazer é ficar quieto e imóvel. Talvez tenha sorte e dê, sim, para descansar um pouco."

Os minutos foram se arrastando, um após o outro. Em um dado momento, Alfonso pressentiu que Dani havia dormido.

"Ainda bem. Agora só quero dormir pelo menos umas três horas, sem qualquer tipo de interrupção."

A mente de Alfonso, no entanto, o traiu, e resolveu não obedecer-lhe a vontade. Ele, então, começou a reviver os momentos tensos que passara em pleno casamento.

"Como vou fazer Anahí entender que nunca a traí? Como vou fazê-la entender que sequer imaginava a existência do Dani? Mas ela tem razão em estar zangada comigo, e muito confusa. Ela esperou muito por esse casamento. E preparou cada detalhe... Talvez nem queira mais continuar casada comigo. Anahí está se sentindo traída. Mas eu tenho de assumir o Dani, não tem outro jeito. O exame de DNA foi feito. Dulce Maria não seria louca de interromper a festa do meu casamento se o Dani não fosse meu filho."

Mais uma vez, a possibilidade de Anahí não querer continuar casada com ele lhe passou pela mente. E desta vez Alfonso estremeceu.

"Sem ela, nada tem o menor sentindo. Desde que a conheci, Anahí passou a ser a razão da minha existência. Sonhei uma vida tão linda e digna para nós dois. E agora..."

A angústia que Alfonso estava sentindo desde o instante em que vira Dulce Maria na festa aumentou, chegando a ficar insuportável.

"Definitivamente, minha vida sem Anahí não tem o menor sentido. Anahí é a mulher que escolhi para passar o resto da vida comigo. Quero ter filhos, netos, quero envelhecer com ela."

Alfonso se levantou e foi até à sala, onde ficou por algum tempo refletindo. Ao voltar para a suíte, encontrou tudo no mais completo silêncio.

De novo na cama, a imagem de Anahí entrando na igreja assomou-lhe a mente.

— Linda. — ele disse baixinho —, Anahí estava linda. A noiva mais linda que vi em toda a minha vida.

Alfonso percebeu que era aquela imagem que tinha de manter na mente. Aquela imagem o deixava em uma outra dimensão, o acalmava e, com toda a certeza, o faria dormir.

De fato Alfonso acabou dormindo e logo começou a sonhar. No sonho Anahí lhe falava de amor, lhe falava de felicidade, lhe falava de filhos.

— Quero três filhos, todos morenos, assim, lindos como você.

— Quem vai levantar à noite quando eles chorarem?

— A gente se reveza. Pelo que sei, crianças choram muito de madrugada. E têm de ser atendidas com todo carinho e cuidado.

Um choro, um choro interrompeu o diálogo dos dois.

— Quem será que está chorando? — Alfonso lhe perguntou.

— Não estou ouvindo ninguém chorar.

— Pois alguma criança está chorando. É impossível que não esteja ouvindo.

O choro se tornou mais e mais intenso.

— Anahí, eu... — Alfonso abriu os olhos assustado, as imagens do sonho ainda povoando-lhe os pensamentos. — É o Dani...

Dessa vez, Alfonso resolveu acender a luz. O bebê parecia inconsolável.

— O que foi que aconteceu agora, garoto? — ele perguntou, paciente, ao bebê. Em resposta o garotinho começou a chorar mais forte. Alfonso, então, resolveu pegá-lo no colo, logo percebendo que o bebê fizera xixi de novo.

— Você está todo molhado, pobrezinho. Vou trocar a sua fralda.

Da primeira vez que trocara o garotinho, Alfonso se atrapalhara todo com a fralda descartável. E estava certo de que se atrapalharia de novo.

Foi exatamente o que aconteceu. Só uns vinte minutos mais tarde, Dani sossegou.

— Que tal agora o senhor dormir até o sol nascer? Não é uma excelente idéia, hem?

Dani apenas o fitava de maneira séria, olhos grandes, verdes, parecidos com os dele.

— Prometo a você que, se dormir, vou levá-lo para passear.

O garoto continuava a fitá-lo com toda seriedade do mundo. De repente, a seriedade deu lugar a uma tristeza profunda que, mais uma vez, se expressou em choro.

— De novo, garotão? O que foi agora?

Dessa vez nada que Alfonso fizesse parecia ser capaz de acalmar Dani.

— Fome! Ele só pode estar com fome. — Alfonso, com Dani no colo, pegou uma das mamadeiras deixadas por Dulce Maria, que havia colocado ao lado da sacola. Em seguida, sentou-se na cama e começou a alimentar o garoto que parecia ávido. Porém, logo em seguida, Dani rejeitou a mamadeira e voltou a chorar.

— Pensei que estivesse com fome. — De novo, Alfonso ofereceu a mamadeira a Dani. E, de novo, o garotinho mostrou uma grande avidez, para em seguida rejeitar o alimento.

— Não estou entendendo mais nada. Aliás, não entendo absolutamente nada sobre bebês.

No quarto, deitada na cama, olhando para o teto, Anahí mais e mais se afligia com o choro de Dani.

"Será que ele está doente? Ou será que pobrezinho está sentindo a falta da mãe?" Ela se levantou. "Preciso ir até lá."

Ao entrar no quarto, Anahí se condoeu com a cena que viu. Alfonso, sentado na cama estava transtornado.

— O que está acontecendo?

— Não sei. Ele perece com fome, mas se nega a tomar o leite.

— Será que o leite não está muito quente?

— Quente? — Alfonso a fitou, espantado.

— É, quente. Você não verificou se o leite está quente? — Anahí se aproximou da cama e pegou a mamadeira das mãos de Alfonso e testou a temperatura do leite.

— Não, o leite não está quente. Ele está bem frio, isso, sim.

— Mas...

— Vou esquentar um pouco o leite.

— Mas logo depois que nós chegamos aqui eu lhe dei uma outra mamadeira.

— E de onde você tirou a mamadeira?

— De uma sacola menor que está dentro...

— Eu sei — Anahí o interrompeu, com vontade de sorrir. — As mamadeiras estavam numa sacola térmica.

— Estavam?

— Com toda certeza.

— Resolvi deixar essa mamadeira do lado de fora, para facilitar, caso ele quisesse mamar de madrugada.

— Vou esquentar um pouco o leite — ela voltou a dizer e se dirigiu à cozinha. Ao voltar ao quarto com a mamadeira nas mãos, Dani ainda chorava muito.

— Tente de novo. — Ela lhe entregou a mamadeira.

— Obrigado. — Alfonso, voltou a dar a mamadeira ao bebê que, desta vez, não a rejeitou. — Era fome...

— Pelo jeito era mesmo. — Anahí, ficou olhando para Dani. E nem percebeu que era para ela que Alfonso olhava.

"Como queria não tê-la decepcionado", Alfonso teve vontade de dizer, mas se calou. "Você é tão importante para mim, minha querida. Juro, juro mesmo que, se pudesse voltar no tempo, jamais teria me aproximado de Dulce Maria."

Dani, já dormindo, continuava a mamar.

"Tenho pena do Alfonso. Ele não entende nada de crianças e não é fácil assim, de uma hora para outra, ficar responsável por uma. Mas, pelo que conheço dele, essa criança será amada e muito bem tratada. E é o mínimo que se pode fazer. Criança alguma pediu para vir ao mundo. Portanto, não podem sofrer por causa da inconsequência dos pais."

Anahí continuava fitando o bebê e ainda não se dera conta do olhar de Alfonso.

— Você mais parece um anjo.

Anahí achou que Alfonso dirigira as palavras a Dani. Porém, ao se dar conta que o elogio fora para ela, sentiu um ligeiro tremor percorrer-lhe o corpo e disse:

— Vou voltar para o meu quarto.

— Por favor, fique mais um pouco. — Alfonso se levantou, colocou Dani na cama e se aproximou de Anahí. — Sei que você está muito triste comigo, minha querida. Mas acredite: teria feito de tudo para não lhe causar tanta decepção.

— Dani não tem nada com isso. Ele não pode ser encarado como uma decepção. As crianças são sensíveis e sabem quando estão sendo rejeitadas.

— Não o estou rejeitando, acredite. Mas não posso deixar de constatar que ele foi um transtorno em minha vida. Não sou hipócrita, e você sabe muito bem disso. — Alfonso tentou abraçá-la, mas Anahí se afastou.

— Boa noite, Alfonso.

Ele porém, a segurou pelo braço, impedindo-a de se afastar e disse:

— Jamais amei mulher alguma em toda a minha vida, Anahí. Já lhe disse isso, e vou repetir tantas vezes quantas sejam necessárias. Você é a primeira. Serei seu para sempre.

— Pois quero lhe dizer uma coisa, Alfonso: não sei mais se quero você.

— Anahí...

— Agora, por favor, solte o meu braço.

Sem ação, sentindo que entraria num profundo desespero, ele a soltou.


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