CAPITULO III

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A casa tinha cinco quartos, e Anahí, profundamente chateada, havia escolhido o do final do corredor, aquele que ficava o mais longe da suíte. Apesar da decoração ainda não estar concluída, apesar dos poucos móveis, daria muito bem para ela se acomodar ali. Mesmo assim, Anahí estava achando que deveria ter ido para a garagem.

"Eu deveria ter ido para a garagem! Lá, sim, ficaria bem distante de Alfonso e da decepção que ele me causou." Ela balançou a cabeça em negativa. "Na verdade, eu deveria ter ido para a lua!"

Parada no quarto, Anahí inspirou profundamente. O ar ainda recendia à tinta fresca. Nas paredes, nenhum quadro. Sobre o criado-mudo, não tinha nem mesmo um abajur para leitura. Nem uma colcha existia sobre a cama.

"Mas eu queria o quê? Durante a nossa lua-de-mel a decoração iria ser feita. E agora, agora não faço a menor idéia do que vai acontecer com a minha vida. E eu que sonhei tanto, fiz planos, e eu que achei que era a mulher mais feliz do mundo... A vida realmente nos prega grandes peças."

Anahí, sem saber direito o que fazer, se aproximou do guarda-roupa, onde um imenso espelho refletiu a imagem de uma noiva, ainda de grinalda, vestida inteirinho de branco. Além da roupa, o rosto da noiva também estava muito branco. Branco de aflição, de desespero.

— Esta sou eu... — ela disse baixinho, para a imagem que o espelho refletia.

Na verdade, tudo no casamento fora branco: as flores que haviam enfeitado a igreja, a limusine, o bolo, as toalhas e as flores que haviam enfeitado as mesas do salão onde acontecera a recepção. Tudo idéia da mãe de Anahí.

— Por que não? — Marichelo lhe perguntara, quando Anahí resistira à idéia de só usar a cor branca no casamento. — Além de chique, será a proclamação da sua inocência. Poucas moças, hoje em dia, podem se dar a esse luxo. Se quiser, pode até me chamar de ultrapassada, mas saiba que isso me deixa muito orgulhosa. Ao proclamar a sua inocência, você, ao contrário de muitas moçoilas, não estará mentindo.

Anahí, ainda diante do espelho, voltou a balançar a cabeça em negativa.

— Eu casei de branco. E o smoking de Alfonso era preto. Tudo muito chique, tudo muito correto. E, de repente, o sonho virou um grande, um imenso pesadelo.

Inconformada, Anahí tirou a grinalda da cabeça, colocou sobre a cama e voltou a se olhar no espelho.

— O meu casamento foi um grande fiasco.

Devagar, ela começou a desabotoar o vestido. No instante em que ia tirá-lo, ouviu uma leve batida na porta e a voz de Alfonso, perguntando:

— Posso entrar, querida?

— Não, claro que não! — ela respondeu, de imediato.

— Você está bem?

— Estou ótima, maravilhosa! — Anahí sentiu os olhos se encherem de lágrimas.

— Eu trouxe as suas malas.

— Pode deixá-las aí fora.

— Gostaria de entrar um pouco.

— E eu quero ficar sozinha.

— Certo — ele disse após alguns segundos de silêncio. — Você tem razão.

Anahí deixou que as lágrimas rolassem pelo rosto. Por que impedi-las? Aquelas lágrimas refletiam exatamente o estado de espírito de uma garota crédula, uma garota que acabara de completar vinte e quatro anos, e que, um dia, ainda na adolescência, resolvera se guardar para um príncipe encantado, para o homem certo. E quando conhecera Alfonso, logo soubera que ele era o príncipe encantado que tanto havia esperado. Desde então sentia-se vivendo num conto de fadas. Alfonso era perfeito: atencioso, alto, forte, elegante, cabelos emoldurando um rosto másculo e olhos bem verdes.

UM PRESENTE INESPERADOWhere stories live. Discover now