"É como se ele tivesse um ímã que mesmo quando eu não quero, me atraí. Ele é como uma droga no meu sangue, não consigo ficar sem ele."
Alfonso
Jhon se levantou cobrindo a boca com a mão e escutei passos na escada. Pensei que era a Any e me decepcionei ao ver que era Bianca.
- O que ta acontecendo aqui? - perguntou.
- Vim buscar minha esposa. - respondi furioso.
- Ela não está aqui. - Jhon respondeu limpando o sangue da boca.
- Como assim não está aqui?
- Amor, você está bem? - Bianca encarou seu rosto preocupada. - O que deu em você Alfonso?
- Tudo bem amor, eu sei lidar com ele. - Jhon respondeu.
Passei pelos dois e subi as escadas na direção do segundo andar gritando o nome da minha esposa.
- ANY!
Jhon veio atrás de mim tentando me impedir, mas mesmo assim revirei os três quartos atrás dela.
- ANY!
- Alfonso ela não está aqui. - Jhon respondeu.
Não acreditei nele e continuei procurando, abrindo portas de armário, olhando debaixo da cama, atrás das portas e nos banheiros. Quando me convenci que ela não estava no andar de cima, desci as escadas.
Empurrei Bianca quando ela tentou se colocar no meu caminho e fui na direção da cozinha.
- Deixa amor, ele vai se convencer sozinho de que a Any não ta aqui. - ouvi Jhon dizer.
Vasculhei a cozinha, o escritório e qualquer cômodo ou lugar que Anahí pudesse ter se escondido. Voltei pra sala furioso ao me dar conta de que ela não estava no apartamento deles.
- Onde está minha esposa? - encarei os dois furioso.
- Eu falei que ela não estava aqui. A tirei da cobertura e disse que a levaria pra onde ela quisesse.
- Você não tinha o direito de tirá-la de lá, ela é minha esposa, o lugar dela é na cobertura, na nossa casa.
- Você quem não tinha o direito de falar tais coisas monstruosas à ela, se visse o estado em que ela estava quando a encontrei... Tem sorte de eu não te devolver esse soco. - Jhon me olhou de cara feia.
- Pra onde você a levou?
- Eu não vou te contar. Quando ela quiser, ela vai voltar pra cobertura sozinha.
- Jhon....
- Você devia me agradecer, eu to salvando seu casamento. Vai saber a que ponto você e a Any podem chegar caso se encontrem agora.
- Eu vou ligar pra ela e ordenar que volte pra cobertura. - peguei o celular.
- Boa sorte pra você. - Bianca ironizou, só me irritando mais.
A ligação completou e começou a tocar, tocou não sei quantas vezes até eu me irritar e interromper a ligação, pra logo em seguida ligar de novo. Fiz isso três vezes e Anahí não me atendeu.
- MERDA! - joguei o celular longe, quase espatifando-o no chão.
- Alfonso espera pra conversar com ela amanhã.
- NÃO! Onde ela está Jhon? Não vou perguntar de novo.
- Você ainda vai me agradecer por não te falar nada. - foi sua única resposta.
Encarei Bianca e percebi que ela também não entregar o paradeiro da Any.
- Traidores! - peguei meu celular no chão e dei as costas.
- Espera até amanhã pra ver se você esfria essa cabeça. - ouvi Bianca dizer antes de deixar o apartamento.
Anahí
Entrelacei as mãos na altura da cintura e encarei Dulce apreensiva. Ucker estava na casa de um amigo, então aproveitei para conversar com a minha amiga.
Quando Jhon me perguntou pra onde eu queria ir, não soube o que responder. Ele sugeriu o apartamento dele e Bianca, mas não queria atrapalhar os dois. E por mais que quisesse ver a Verônica, seria doloroso demais ficar perto da Rachel – com aquela barriga cada vez maior – e Santiago olhando pra ela com idolatria. Então escolhi o único lugar que ainda fazia eu me sentir em casa.
- Any, tudo isso que você me contou.... Eu não sei o que te falar. - Dulce suspirou.
Na última meia hora contei tudo pra ela. Se eu quisesse que ela entendesse que estou grávida e Alfonso não aceita isso, precisaria dissecar toda a nossa história e foi o que eu fiz. As partes que acabei omitindo foram os abusos à Verônica, o sequestro e a internação do Poncho.
- Me perdoa por nunca ter te contado isso antes.
- Bom eu entendo, tudo isso é pesado demais e agora entendo porque o Alfonso sempre foi tão... Estranho. Mas como seus olhos sempre brilhavam quando falavam dele e eu vi como ele fica perto de você, pensei que era um relacionamento saudável e equilibrado.
- Algumas vezes foi. - suspirei.
- Mas esse lance do bebê... O que ta pensando em fazer?
- Eu não vou tirar o meu filho Dulce e eu falei isso pra ele.
- Quer saber? Dane-se se ele não quer esse bebê, você não precisa dele. Any você não tem que ficar com o Alfonso por causa do que aconteceu com ele no passado. Eu sempre achei ele meio maluco e mesmo entendendo que esse jeito dele é por causa do que ele passou, não justifica o que ele faz com você. Pede o divórcio, volta a morar aqui comigo, eu te ajudo a cuidar dessa criança.
- Não é tão simples assim Dulce. - suspirei.
- É claro que é, Any se ele tem tanta repulsa assim por essa criança, o que ele não pode fazer pra se livrar dela? Ele já obrigou aquela garota a abortar o filho dele, porque não pode fazer isso de novo?
- Porque ao contrário dela, ele está apaixonado por mim e sabe que eu nunca o perdoaria se me obrigasse a abortar, eu desapareceria se ele insistisse no assunto.
- Desculpa, mas depois de tudo o que me contou, tenho minhas dúvidas se o Alfonso realmente ama você ou se está obcecado por você ou por alguma imagem que criou de você. Talvez ele te enxergue de uma forma diferente e ache que ama você.
- Eu não quero duvidar dos sentimentos dele por mim Dulce, é a única certeza que eu tenho.
- Ta que ele seja apaixonado por você e por isso não te obrigue a abortar, mas e essa criança? Como vai ser passar os próximos sete, oito meses? Como vão conviver juntos, se ele não quer o bebê e o que vai acontecer quando essa criança nascer?
- Não sei. - dei de ombros impotente.
- Any faz o que eu to te falando. Peça o divórcio, esse casamento já foi precipitado e começou de um jeito estranho, com um contrato. Acaba com isso de uma vez e tenha esse filho, porque você não ta sozinha.
Abaixei a cabeça e enxuguei o rosto. Não sabia o que fazer, não sabia que decisão tomar.
- Às vezes eu acho que a culpa foi minha.
- Sua por quê?
- Desde o começo Alfonso sempre tentou abrir meus olhos, você lembra que teve uma vez que ficamos dias sem nos ver?
- Lembro, você ficou super mal.
- Então, ele tava me dando um aviso, me mandando ficar longe dele, mas.... É como se ele tivesse um ímã que mesmo quando eu não quero, me atraí. Ele é como uma droga no meu sangue, não consigo ficar sem ele. Eu sempre soube onde estava me metendo e mesmo assim fui em frente, talvez a culpa seja minha, porque eu devia ter tomado mais cuidado pra não engravidar. Eu sabia que Poncho não estava pronto pra ser pai agora. - enxuguei o rosto.
- Any quando você engravidou, você estava de luto pela sua mãe. Você não tinha cabeça pra ficar pensando em contraceptivo, ele que devia ter coberto o pau dele com uma camisinha antes de transar com você. Se pararmos pra pensar assim, a culpa é mais dele que sua.
- Não sei. Não sei o que fazer. - solucei.
- ANY!
Dei um pulo no sofá ao ouvir aquele grito, seguidos por batidas na porta, ou seria melhor dizer, murros?
- É o Alfonso. - sussurrei apavorada.
- EU SEI QUE VOCÊ TA AI, ABRE ESSA PORTA! - ele gritou.
Me levantei assustada, querendo e não querendo vê-lo na minha frente.
- Vai embora Alfonso! - Dulce disse. - Vai pro seu quarto Any e fica lá até ele ir embora. - sussurrou pra mim.
- ANY!
Estremeci e corri pro meu quarto, bem a tempo de ouvir a porta se abrir com um baque. Fechei a porta do meu quarto, tranquei e me encolhi na cama. Ouvi as vozes alteradas de Dulce e Alfonso na sala.
- ANY!
Me encolhi ainda mais quando ouvi seus passos apressados no corredor. A maçaneta foi forçada e então ouvi um baque. Ai meu Deus, ele vai arrombar a porta como provavelmente fez com a da sala.
- Alfonso para com isso ou vou chamar a polícia. - ouvi Dulce esbravejar com ele.
- Ela é minha esposa, não se mete. - ele esbravejou em resposta.
Mais um baque e a porta se abriu, eu teria corrido pela janela se não estivéssemos em um apartamento. Alfonso invadiu o quarto e me encarou furioso. Estava com a mesma roupa de quando discutimos no escritório, seu rosto estava vermelho, o cabelo bagunçado e ele ofegava.
- Vim buscar você!
- Ela não vai com você. - Dulce respondeu furiosa.
Alfonso a ignorou e continuou me encarando.
- Vamos embora Anahí!
- Dulce deixa a gente a sós, por favor. - pedi e não sei de onde encontrei coragem pra falar.
- Mas...
- Por favor. - a encarei.
Dulce bufou e deu as costas, Alfonso bateu a porta e xingou quando a mesma não fechou. Bem feito, quem mandou arrombar a porta? Querendo privacidade, ele pegou a cadeira e apoiou de encontro a porta.
- Pega suas coisas e vamos embora, Anahí. Não vou falar de novo.
- Eu não vou com você. - encontrei coragem pra dizer.
- Não vai? - ele deu um passo ameaçador na minha direção. - Como assim não vai? - sua voz controlada só me assustava mais.
- Não pode me obrigar a voltar pra cobertura. - o encarei com os olhos marejados.
- Você é minha esposa Anahí, pra começo de conversa nunca deveria ter saído de lá.
- E o que você queria que eu fizesse, depois das coisas que você me falou?
- Naquele contrato eu fui muito claro que você estava proibida de sair de casa do jeito que saiu. Você está proibida de me abandonar e não pode se divorciar de mim, sem me dar um aviso seis meses antes.
- Eu quero que você vá a merda com esse contrato. - esbravejei e a raiva me deu coragem pra me levantar da cama e enfrentá-lo.
- Você vai pra casa comigo agora.
- ME OBRIGUE! - esbravejei cruzando os braços.
Quando ele avançou na minha direção dei um passo pra trás.
- Não se atreva a me levar daqui a força. - apontei o dedo na direção dele e graças a Deus isso o parou.
- Você é minha esposa, seu lugar é comigo.
- E você como meu marido não deveria me apoiar? - o encarei magoada. - Se estou querendo distância de você agora, a culpa é sua pelas coisas horríveis que me disse.
- Any, eu to pedindo por favor, vamos embora. - ele me encarou.
- NÃO! - me mantive firme. - E se você não quer que eu peça o divórcio sem uma porcaria de aviso prévio antes, saia da minha frente agora.
- VOCÊ NÃO PODE SE DIVORCIAR DE MIM! - ele me encarou furioso e assustado.
- Agora quem ta pedindo, por favor, sou eu. Sai daqui Alfonso, eu mal estou conseguindo te olhar depois de tudo que você me falou.
Alfonso começou a andar de um lado pro outro, passando a mão pelos cabelos. Mais uma vez parecia um animal enjaulado e fiquei com medo dele tentar me levar a força.
Me encolhi contra a parede quando ele pegou a cadeira apoiada na porta e a arremessou longe. Escancarando a porta ele saiu furioso do apartamento e a última coisa que ouvi foi a porta da sala batendo.
Cai no chão sem forças e abracei meus joelhos, no momento em que Dulce invadiu o quarto.
- Não acredito que ele foi embora, você está bem? - me olhou preocupada.
- Não, não to nada bem. - neguei com a cabeça. - Acho que ele só foi embora, porque ameacei pedir o divórcio se ele não saísse da minha frente.
- Fez bem, não tem condição nenhuma de vocês ficarem perto um do outro agora. Vamos jantar daqui a pouco e então você come alguma coisa e descansa ta? Esquece o Alfonso por enquanto, pensa só em você e no bebê.
Acenei com a cabeça e prometi a mim mesma que ia tentar seguir o conselho dela.
Vicente
Estava amanhecendo quando cheguei à clínica de reabilitação onde fui obrigado a internar Sophie. Depois do que Anahí fez com ela, Sophie não estava dizendo coisa com coisa, estava apavorada demais e se entupindo de remédios. Antes que ela tivesse uma overdose, optei por interná-la.
Assim que cheguei, fui conversar direto com a doutora responsável pela ala onde Sophie estava. Fiquei surpreso quando ela me contou que Sophie recebera alta hoje.
- A senhora tem certeza que Sophie está pronta pra ir pra casa? - perguntei.
- Sim... Conseguimos estabilizá-la e a tiramos da crise. Mas aconselho que ela não passe por nenhum nervoso pelos próximos dias. É preferível que ela vá para algum lugar onde se sinta bem.
- Vou cuidar disso doutora, obrigado por tê-la ajudado. - respondi.
- Se quiser vê-la, ela está no quarto, até perguntou de você. Teríamos te ligado se você não tivesse aparecido. - sorriu.
Forcei um sorriso e fui até o quarto de Sophie. Quando abri a porta quase não a reconheci. Sophie estava usando um vestido vermelho justo, a maquiagem preta realçava seus olhos, os lábios estavam pintados de um tom rosa pálido e os cabelos negros ondulados, caiam sobre os ombros. Estava bem diferente da mulher pálida e sem um pingo de vaidade que vi nos últimos dias.
- Ah finalmente você chegou.
- Você está bem! - afirmei impressionado.
- Sim... E pronta pra sair desse lugar. - respondeu e olhou o quarto com nojo.
- Vamos pra capital?
- Não, ainda não. Deixem eles que sintam a minha falta mais um pouco. Preciso de tempo pra organizar o que vou fazer agora com aquela garota atrevida e o comparsa dela. - Sophie cerrou os punhos furiosa.
- Como você quiser. - respondi de acordo. - Não vejo a hora de ajudar você a acabar com eles.