A Saga de Kedl - No Caminho E...

Av JoeFather

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Num mundo medieval é comum existir soldados, guerreiros, reis, princesas, castelos, arenas de combate, povos... Mer

Nota do autor
Personagens*
Lugares*
Prefácio
...
1 - A pequena Kedl
2 - A passagem para a escuridão
...
3 - O castelo de Hati
4 - A história do guerreiro
5 - O enganador
...
6 - A aldeia deserta
7 - O portal escuro
...
8 - Um corpo na noite
9 - O Sr. Ninguém
10 - Cabidan
11 - Sttor
12 - Dmeyfou
13 - A criatura
...
14 - Equilíbrio
15 - O guerreiro de Hati
16 - A caverna da morte
...
17 - Guhesim
...
19 - O homem louco
20 - Rumo ao norte
21 - A mestra
...
22 - Itdyse
23 - Mordázio

18 - O castelo de Clad

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Av JoeFather

Ao sair do Castelo de Hati – prosseguiu o Sr. Ninguém – minha intenção era mesmo ir visitar minha família. Havia dois anos que eu tinha partido e apesar de não sentir saudade, como creio ser igual por parte deles, queria mostrar-me agora melhor vestido e armado, uma pessoa um pouco mais importante.

Mas após a primeira noite passada no deserto, a euforia que eu sentira na véspera continuava pegando fogo por dentro. Precisava urgentemente de um pouco mais de emoção e o marasmo de Satíria não ajudaria em nada neste momento.

Decidi então me aventurar pelos limites das terras de Hati e acabei chegando num posto de guarda. Usava agora roupas novas de aprendiz, com um símbolo do castelo no ombro direito. Ao chegar ao posto fui reconhecido de imediato pelos soldados. Foi fácil enganá-los para transpor a fronteira. Estava, dizia eu, numa nova missão mais perigosa e de grande urgência e precisava de suprimentos para poder realizá-la. Eles me ajudaram em tudo que foi possível e então parti, rumo a um mundo desconhecido.

Não sentia medo algum enquanto galopava. O deserto ficara para trás e uma terra árida se estendia a minha frente. Foram dias viajando a toda velocidade até avistar um sinal de vida. Poucos inimigos chegaram até as proximidades do castelo de Clad e continuaram vivos para descrevê-lo. Eu pude!

Era também majestoso da sua forma, visto de longe parecia um grande cone que se erguia numa construção muito antiga, sustentado por grandes paredes de pedras escurecidas que o tornavam, de certa forma, sombrio. A diferença principal entre ele e o castelo de Hati era que este não possuía uma aldeia que antecedia ao castelo principal. Após atravessar o portão central você já se encontrava dentro da base do castelo, onde viviam principalmente os soldados.

Na época em que lá entrei a aparência interna era totalmente diferente da externa. As paredes eram repletas de figuras em relevo nelas esculpidas e com fundo branco, como que escovadas diariamente. Havia escadas em túneis nas paredes que levavam tanto ao subsolo quanto aos setores mais elevados. A parte mais interessante que observei eram as plataformas construídas em alturas alternadas e em todos os lados nas paredes inclinadas, junto a grandes janelas, onde soldados ficavam na espreita.

Como o castelo não foi erguido junto a uma floresta ou montanha, e nem um fosso foi construído em sua volta, aparentemente um ataque poderia vir de qualquer direção, dando a impressão de uma fragilidade enorme na segurança, mas o seu ponto forte estava na guarda reforçada, em qualquer momento do dia ou da noite, sendo impossível você adentrar ao castelo sem levantar suspeitas se você não fizesse parte do exército vermelho, pois o reino era estritamente militar.

Mas todos estes detalhes eu só pude observar dois dias depois de acampar a uma boa distância do local. Não tinha ideia ainda de como poderia entrar, mas sabia que o faria, de uma forma ou de outra, e também tinha certeza do que do tesouro que ia ter em meu poder quando dali partisse.

A oportunidade chegou no início da segunda noite, após avistar um soldado saindo do castelo e que seguiu em minha direção. Apesar de não ter nenhuma fogueira acesa, achei que ele estava vindo me abordar. Estava enganado!

O local que eu escolhera para ficar estava ao lado de algumas árvores e de uma grande pedra tombada. Percebi, ao observar o soldado, que ele estava tomando outro caminho e que era provável que outra oportunidade poderia demorar muito, então montei no corcel e saí no seu encalço. Derrubei-o sem que tivesse tempo de reagir.

Depois de amarrá-lo ao cavalo, retornei para o meu abrigo improvisado e esperei amanhecer. Precisava iniciar um interrogatório ao meu prisioneiro e é claro que eu já sabia que ele não colaboraria facilmente, com certeza havia sido treinado para essas situações, mas eu tinha pressa e necessitava ser o mais persuasivo possível, então o deixei nu e o amarrei de cabeça para baixo numa das árvores, permanecendo em silêncio ao afiar a minha espada calmamente. Essa era uma das coisas que tinha aprendido com o capitão Deiron: nada retira toda a sensação de segurança mais rapidamente de alguém do que despi-lo de todas as suas proteções imaginárias, como se um mero uniforme ou armadura nos tornasse invencíveis.

Fiquei nesse jogo psicológico por quase uma hora até que fiz uso de uns poucos argumentos e o soldado vermelho desandou a falar todos os detalhes que eu necessitava. Ele foi designado para fazer uma verificação nas redondezas, procurando algum tipo de movimentação inimiga. Parece que esta era uma das operações rotineiras que aconteciam ali, a cada dois dias. Descobri também que ele deveria voltar ao castelo no final do dia então me baseei neste fato para agir.

Esperei que a noite iniciasse, cobrindo tudo com sua escuridão e com o cavalo do soldado me dirigi ao castelo. Fiz o melhor possível para caber dentro das roupas do meu prisioneiro, que por sorte também era grande e alto, mas não tanto quanto eu. Pelas instruções do soldado eu poderia entrar com o cavalo até o local onde eram guardados os animais e assim descer sem chamar tanto a atenção, podendo me misturar aos demais. Foi o que fiz.

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"Agora fiquei curioso" - interrompeu o loiro – "Como foi que você conseguiu persuadir o cladiano a lhe dar tantas informações precisas, pois deve ter sido assim, afinal você está aqui, são e salvo!"

"Foi fácil! Disse a ele que eu era um ladrão e que estava atrás de um objeto específico. Se ele colaborasse, eu voltaria e o mandaria de volta ao seu castelo. Em caso contrário, eu seria preso e diria que o havia matado há vários dias, e ele morreria de fome e sede amarrado de cabeça para baixo na árvore em que eu o deixei..."

"Mas não pense você que eu não tive que ser muito cuidadoso para escapar de lá. Eu havia acabado de entrar e..."

⫷⫸

Até aquele momento tudo havia dado certo. O soldado do portão me acenou e eu respondi levantando a mão direita por sobre a cabeça. Segui reto e parei em frente à porta de uma construção redonda de cimento, que ficava no centro do local. De lá saiu um soldado que deveria ser um tipo de superior, com uma linda armadura vermelha. Repeti o gesto do portão.

O meu prisioneiro havia me informado de que existia uma frase que funcionava como um tipo de código a ser utilizado no portão. Torci para que ele houvesse me fornecido as palavras corretas, pois caso contrário eu estaria numa enrascada tremenda.

"Está tudo em paz entre o céu e a terra!" - eu disse, no que ele respondeu: "Espero que assim continue!"

Virou-se e eu prossegui até o estábulo, onde me vi sozinho. Saltei do cavalo e o amarrei em seu local de costume, saindo após alimentá-lo.

Agora é que vinha o grande problema, precisava subir rapidamente por três lances de escada, sem chamar muito a atenção. Por sorte podia ficar com a roupa completa, por se tratar de uma época de guerra. Creio que Clad, que eu me lembre, nunca teve uma era de paz, mas as suas motivações ficam para outra história.

Sem procurar me esconder fui direto e sem demonstrar pressa até a escadaria embutida na parede. Subi o primeiro lance e descobri que tinha que atravessar todo o salão na diagonal para subir para o próximo elevado. Fui caminhando entre soldados e criados, cumprimentando a todos que me cumprimentavam. Consegui chegar às escadarias e subi, repetindo a operação anterior, agora com bem menos soldados no local. Subi para o meu destino e cheguei num corredor escuro, onde algumas pequenas velas não conseguiam clarear muito bem o ambiente.

"Alto!"

"É o homem da ronda!"

"Siga!"

Até hoje não sei dizer onde este soldado que falou comigo se encontrava, pois não desviei nem um palmo o olhar para os lados. Prossegui em frente até uma fileira de portas à minha esquerda e entrei na quarta delas.

Torci novamente para que as instruções do meu prisioneiro tivessem sido bem claras e precisas, e que a minha mente não me confundisse. Ao passar a porta descobri duas coisas: encontrava-me no lugar certo, mas não estava sozinho...

O local estava bem iluminado e pude ver seguindo em minha direção uma bela jovem de cabelos loiros. Quando se aproximou a quase um metro consegui perceber seus olhos azuis inexpressivos e antes que ela dissesse qualquer coisa me adiantei, saindo rapidamente de sua frente.

"É o homem da ronda!"

Ela parou e virou-se para mim e eu rapidamente já tinha alcançado a parede oposta.

"Não é costume alguém patrulhar aqui" - disse ela e a voz era suave.

"São tempos de guerra, minha senhora!" - falei devagar enquanto retirava minha velha espada, que se soltou de minhas mãos e por pouco não bateu no chão, pondo tudo a perder.

"De guerra e de dor!" - completou ela.

Após trocar as espadas retornei ao seu lado e abri a porta.

"Deixe-me ajudá-la..."

"Não é necessário!"

Percebi que ela andava chorando, ainda havia a marca de uma lágrima em seu rosto e acabei agindo feito um idiota.

"Tem certeza de que não posso ajudá-la em nada?"

A jovem estancou e se virou em minha direção.

"Já que insiste, você pode sim... Acabe com essa guerra interminável que existe entre Clad e Hati e conseguirá me fazer feliz..."

"O que me pede é muito..."

"Eu sei..." – disse ela – "Eu mesma já tentei várias vezes convencer o meu pai, que geralmente faz tudo por mim, mas nessa questão não consigo amolecer seu coração de jeito nenhum..."

"Desculpe-me, só estou desabafando, pois na minha condição esse confronto entre os reinos acaba por me fazer prisioneira deste castelo..."

"Eu consigo compreender o que sente, pois eu mesmo já me senti assim, antes de me tornar um soldado. Queria me aventurar pelo mundo e aqui estou eu, servindo ao rei vermelho..."

"Por que você mente?"

Percebi que havia falado demais e já me preparava para ir embora quando a jovem continuou.

"Não precisa inventar uma desculpa somente para me consolar, será que todo mundo pensa que sou tão frágil assim que não tenho o menor direito de viver minhas próprias dores?"

"Perdoe-me, só quis ser gentil..."

"Não faz mal, pelo menos você é diferente de todos os outros soldados, que não me dirigem a palavra de jeito nenhum..."

"Perdoe-me novamente pela insolência, eu não recebi essa ordem..."

"Tenho certeza que recebeu, mas novamente está tentando ser gentil... Como é seu nome?"

"Eu sou o homem da ronda e falando nisso, tenho que ir..."

"Muito obrigado, homem da ronda, eu vou ficar bem..."

Ela prosseguiu virando à esquerda e eu, sem perda de tempo, fechei a porta e fui para o lado contrário, descendo para o segundo elevado. Fiz o caminho inverso até o estábulo um pouco mais rápido, mas com o mesmo cuidado anterior. Entrei e outro soldado arrumava sua montaria para sair do castelo. Dei-lhe uma bela pancada na nuca com a empunhadura da espada e o arrastei para um canto escuro. Terminei de arrumar o cavalo e saí do estábulo. Procedi como no início, parando em frente à construção redonda e o mesmo soldado de antes apareceu. Após meu gesto ele informou que desta vez eu deveria ir mais ao sul e menos para oeste.

Eu estava um pouco nervoso e fiquei buscando em minha mente o que deveria dizer. Como não encontrei respostas, fiz o tradicional gesto e me pus em movimento, esperando ser descoberto a qualquer momento. Como nada aconteceu cheguei à conclusão que não tinha que dizer nada mesmo. Fiz o gesto para o soldado mais próximo ao portão, que o retribuiu e finalmente saí do castelo sem olhar para trás.

Cavalguei tranquilamente até onde deixara o soldado prisioneiro, que inevitavelmente demonstrou um grande alívio quando me viu chegando. Eu senti um tipo de gratidão pelo soldado, sem o qual não poderia ter conseguido entrar e sair tão facilmente, mas em nenhum momento deixei isso transparecer em meu rosto, mantendo-me impassível, ainda mais porque sabia que se ele tivesse a menor chance me mataria imediatamente.

Desci do cavalo e após prender a espada do meu prisioneiro na sela, com uma palmada em seu traseiro o fiz ir embora. Retirei a espada que vinha trazendo escondida e rumei em direção ao prisioneiro que pareceu gelar. Com um golpe cortei a corda que o prendia e ele caiu desajeitado no chão. Arranquei o brasão de Hati da minha roupa de aprendiz e a joguei sobre ele. Queria que ele a utilizasse para provar que havia sido capturado, torturado ou qualquer outro argumento que tencionasse utilizar para justificar a sua atitude covarde. Fiquei imaginando a cara dos seus superiores ao perceberem que um mero aprendiz havia ludibriado a segurança do castelo.

Desamarrei meu corcel e começava a cavalgar quando o ouvi.

"Você vai se arrepender desse dia!"

Eu nada respondi.

"Um reles ladrão é o que você é! Uma forca será reservada para quando o capturarmos..."

Como não demonstrei nada, ele procurou mudar de tática. No fundo eu acredito que o soldado buscava alguma informação para poder salvar o seu pescoço. Senti pena dele por alguns segundos, por saber que provavelmente eu faria a mesma coisa em seu lugar.

"Diga-me ao menos que tesouro você surrupiou do castelo..."

Ia permanecer em silêncio, mas ao me lembrar da linda loira que quase colocou toda a minha busca a perder, estanquei, olhei bem fundo em seus olhos e disse calmamente, antes de seguir meu caminho:

"O que levo nunca pertenceu à Clad, mas existe um tesouro de valor inestimável numa daquelas torres por onde passei e que deve ser protegido por soldados muito mais competentes do que você..."

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"Creio que agora o resto vocês já sabem. Encontrei Deiron e mostrei a espada de Hati, esta que carrego comigo. Foi me dada como presente pelo rei assim que retornamos do ataque a Clad. Foi um belo confronto. Não encontramos nenhuma tropa que poderia ter saído no meu encalço, creio que o prisioneiro que fiz demorou muito para conseguir se libertar. É lógico que eu também os confundi bastante. Não havia dito ao prisioneiro que tesouro eu buscava, somente pedi para que ele me dissesse onde estavam e os descrevesse. Gostaria somente de ter visto o rosto deles quando encontraram uma espada enferrujada no lugar desta preciosa espada."

"E a moça que você encontrou, Sr. Ninguém?" - perguntou Cláudio – "Ela não poderia ter dado algum tipo de alerta, achei isso muito confuso..."

O Sr. Ninguém pareceu voltar ao passado e o loiro quase notou um sorriso surgindo em seu rosto.

"Não creio que ela poderia ter ajudado, não despertei suspeitas."

"Bom..." - começou Sttor – "Agora creio que podemos parar com esse título de Sr. Ninguém, estou certo? Devemos nos apresentar formalmente. Eu sou Sttor da aldeia Capcenta, que fica ao norte da Floresta Sem Luz."

Ao terminar de falar olhou impaciente para o Sr. Ninguém.

"Sou Gustavo, antes da Satíria, hoje, se eu não me engano, o último dos guerreiros de Hati que ainda vive."

"E eu sou Cláudio, o Loiro, e não sou de Clad, por enquanto vim de "lugar nenhum"..."

Os três riram e brindaram com vinho.

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