Nunca tive tanta vontade de me enterrar dentro de alguém como naquela noite.
Por algum outro milagre tudo havia acabado bem entre nós dois. Ana amoleceu e não me expulsou da casa dela, o bendito teste do Pequeno Vini realmente funcionava, mas não sem alguns efeitos colaterais para ambas partes. O fato de ter Ana nos meus braços compensava tudo.
— Você não vai vestir uma roupa? — Ela perguntou entre risadinhas, quando lembrou que eu estava apenas de toalha.
— Tô querendo tirar as suas roupas, até parece que vou vestir alguma. — Retruquei enquanto a empurrava delicadamente até a parede da sala, prendendo-a entre o concreto e meu corpo ansioso.
Ana ergueu os braços e foi fácil puxar sua camiseta por cima do pescoço, deixando o sutiã preto simples exposto para minha perdição. Inclinei-me sobre ela e passei as mãos pela parte inferior de suas coxas, puxando-a para cima, até que ficássemos na mesma altura tendo meu quadril envolvido pelas pernas dela.
Ana enlaçou meu pescoço com os braços e nossos rostos ficaram bem próximos. Ela estava com os lábios entreabertos, o peito arfando um pouco por causa da ansiedade e o rosto corado, o que só a deixava mais linda e um pouco selvagem. Pressionei mais meu corpo contra o dela, querendo que percebesse o quanto estava excitado por sua causa, e a resposta que tive me deixou ainda mais aceso: Ana fechando os olhos por um longo momento, enquanto movia o quadril, aumentando o atrito dos nossos corpos.
— Você quer acabar comigo... — Sussurrei de encontro ao seu queixo, entre alguns beijos que iam sendo distribuídos ao longo de seu rosto.
— Não sou de ferro, bonitão. — Ela respondeu com a voz rouca.
Assim que meus lábios desceram pela base do pescoço de Ana e alcançaram o tecido do sutiã, a babá eletrônica nos interrompeu com o chorinho do Matheus. Eu ia acabar explodindo se continuasse daquele jeito! Pelo amor de Deus! Eu precisava mesmo transar! Ela abriu os olhos e suas pupilas estavam dilatadas, demostrando que também precisava de mim.
Como era preciso que alguém tivesse forças, beijei seus lábios com rapidez e coloquei-a de volta no chão. Com o movimento a toalha enroscou no short jeans da Ana e deslizou para o piso, me deixando com tudo à mostra, duro e descompensado.
— Nada que eu já não tenha visto. — Ana sacaneou e deu uma boa olhada na ferramenta pronta para os trabalhos. — Nossa, que saúde, bonitão!
— Quer parar de ser besta? — Sorri para ela e fui até minha mala, pegando um moletom qualquer para poder ir socorrer meu moleque no quarto. — É bom colocar minhas roupas de volta no armário.
— Vai sonhando! — Ela gritou quando sumi no corredor. — Abusado!
Cuidei do Matheus por um bom tempo.
Ele parecia estressado com alguma coisa, talvez tivesse tido um sonho ruim e acordou chorando bastante. Ana havia deixado uma mamadeira sobre a cômoda dele e tinha colocado uma fitinha escrito "direto do peito" com a identificação. Com o garoto acomodado em um braço, saquei o celular do bolso e coloquei ao lado das coisinhas do Matheus, voltando para a poltrona para oferecer aquele novo recurso para o guri.
Meu filho certamente se acalmou depois de mamar coloquei a mamadeira sobre o criado-mudo e, como era costume, deitei-o de bruços sobre meu peito e reclinei um pouco a poltrona. O cheirinho de bebê que ele tinha me acalmava. Matheus criou o hábito de dormir com a mãozinha acariciando e puxando minha barba de leve, acho que funcionou para ambos, pois acabei apagando de sono ainda agarrado com ele.
Algum tempo depois, despertei do sono com um puxãozinho dado pelo Matheus na minha barba. Como o menino dormia profundamente, devolvi-o ao berço.
Ana dormia tranquilamente com um livro largado sobre o peito. Sorri ao ver aquela cena, e depois de tirar o livro de cima dela, ajeitar sua coberta e me instalar ao seu lado, fui surpreendido por sua aproximação quando ela virou-se na minha direção e encaixou-se no meu corpo enquanto dormia.
Foi impossível não rir.
A madrugada estava alta quando senti falta do corpo da Ana na cama. Meu sono não estava sendo dos mais tranquilos, porque no sonho algo acontecia e ela ia embora, levando Matheus para um lugar em que eu não conseguia entrar. Me ergui na cama de repente, sem perceber que ela estava de pé próxima a beirada da cama.
Quando ela finalmente voltou para perto de mim, meu reflexo fez com que a puxasse para meu corpo, envolvendo-a completamente. Precisava sentir que ela estava comigo, afastando aquela sensação de vazio do sonho. Sim, ela estava ali, ao alcance de minhas mãos, só isso importava.
O novo dia amanheceu trazendo o final de semana para nós e um excelente humor para mim.
Ana parecia um pouco apreensiva, mas não quis se abrir comigo a respeito do motivo. Sabia que nos últimos dias tínhamos passado por várias coisas pesadas, então resolvi dar-lhe algum tempo para se acostumar com as mudanças. Para mim também deveria estar sendo difícil, mas não era, por incrível que pudesse parecer, eu me sentia ótimo, renovado, feliz.
Passamos o dia na Quinta da Boa Vista e visitamos o Zoo Rio.
Matheus amou os bichinhos, mas o que ele mais se impressionou foi com o Leão. Pelo visto o moleque curtia os felinos, porque ficou todo animado quando lhe mostrei o Tigre e a Pantera. Talvez quando ele tivesse idade, pudéssemos dar-lhe um gato de presente. Depois conversaria sobre isso com Ana.
Quando passamos pelas Araras, o garoto ficou pirado com aquele jogo maravilhoso de cores e eu fiquei todo bobo de poder desfilar com meu filho — e minha mulher — por aí.
— Tá muito animadinho hoje. — Ana debochou. — Tá mais empolgado que o Matheus.
— Eu sou um cara animado! — Baguncei os cabelos dela que me deu um soquinho no braço. — Vem cá, mulher! Tem muito marmanjo folgado de olho em você.
Ela sacudiu a cabeça enquanto ria de mim. Estiquei o braço livre e segurei sua mão, fazendo com que Ana tivesse um sobressalto. Ela arqueou a sobrancelha, mas fiz questão de entrelaçar nossos dedos só pra mostrar que ela estava comigo.
Depois de algumas horas no parque, decidimos que era um bom momento para retornarmos ao apartamento. Acomodamos Matheus na cadeirinha e as coisas de piquenique que levamos na mala do carro. Puxei Ana pela cintura, ouvindo alguns protestos dela. Estava transbordando de felicidade, me sentia grato por cada pequeno instante e queria que ela soubesse disso.
Eu também queria falar com ela sobre a noite que fizemos sexo. Precisei de muito tempo para reunir a coragem necessária e confrontá-la sobre o assunto. Fui surpreendido quando Ana revelou ter danificado as camisinhas que usamos naquela noite, na minha cabeça ela apenas não tinha tomado a pílula do dia seguinte, permitindo então que nosso filho fosse gerado.
Que a gravidez do Matheus não tinha sido mero fruto do acaso, eu já imaginava. Só não sabia que Ana realmente desejava ter um filho comigo. Uma estranha sensação de plenitude invadiu meu peito quando ela confessou toda verdade, o que me fez saber que ela também escondia algumas coisas de mim.
Ana sempre me pareceu totalmente correta, transparente e justa. Saber que ela não era perfeita fez com que me sentisse um pouco mais adequado para ela. A balança não pendia muito a meu favor no que se referia a caráter, eu sabia disso.
Em meu julgamento ela era sempre superior, o que me impedia de alcançá-la.
— Então você não tomou mesmo a pílula do dia seguinte? — Eu tinha que confirmar.
— Pra que faria isso? — Ana pareceu confusa. — Já expliquei que eu queria engravidar de você.
— Mas é que das vezes que transamos sem camisinha eu acabei não me controlando.
— A gente transou sem camisinha? — Minha melhor amiga arregalou os olhos. — Claro que não!
— Claro que sim. — Insisti. — Acho que duas ou três vezes. Você estava insaciável naquela noite!
Não controlei a gargalhada e Ana continuou me encarando como se tivesse duas cabeças.
— A gente transou sem proteção e você não me disse? — Ela estava tensa. — Quantas vezes você fez isso? Com quantas mulheres você já transou sem preservativo?
Ela parecia pilhada de verdade. Segurei seu rosto e olhei bem dentro dos seus olhos, entendendo do que se tratava.
— Eu nunca transo sem camisinha. Só aconteceu com você. — Ela fechou os olhos, evitando me encarar. — Ei! É verdade! Eu tô limpo, Ana. Faço os exames periodicamente.
— Você transou com mais mulheres do que eu poderia contar nos dedos das mãos e dos pés!
— E você é a Madre Teresa de Calcutá, né? — Devolvi a alfinetada. — Sem contar que você mesma furou a camisinha. Então se eu tivesse alguma doença venérea e te contaminasse, seria por sua culpa.
Minha namorada? Melhor amiga? Mulher? Enfim, pulou nos meus braços, abraçando-me apertado enquanto esperava a tensão abandonar seu corpo. Ana sussurrou um pedido de desculpas envergonhado em meu ouvido, e só consegui amá-la mais.
— Você fez todos os exames de DST's várias vezes durante a gestação, lembra?
— Lembro. — Ela murmurou.
— Você sabe que não está com nenhuma doença. — Tranquilizei-a. — Eu também não estou, porque fiz meus exames trimestralmente, como sempre.
— Eu não costumo sair por aí furando camisinhas ou transando sem proteção. Quero deixar bem claro pra você.
Acariciei seus cabelos macios e beijei aquela boca em formato de coração que sempre me atraía com carinho.
— Eu sei disso, só queria aproveitar o seu momento de sinceridade e colocar esse assunto no passado de uma vez por todas, tudo bem? — Perguntei e ela concordou. — Vamos procurar não ter segredos entre a gente, o que você acha?
— Sempre te contei tudo.... Eu... — Ana começou um pouco indecisa. — Confio em você totalmente.
— Eu também. — Senti o peso dos segredos que vinha guardando para Branca nos últimos tempos. — Você precisa acreditar que se eu esconder algo de você, é para seu bem.
— Só espero que você não faça isso. — Ela disse, me deixando um pouco preocupado.