Abri o site do Youtube com um frio na barriga. Eu não entendia ainda como ainda me lembrava do que Summer dissera no sábado passado, mas estava em plena manhã de segunda-feira recordando de um de seus comentários. Um que envolvia um cantor em especial, o qual logo esqueci o nome. Mas não esqueci o nome do videoclipe que deveria assistir. Metropolis. Foi isso que digitei com pressa na barra de pesquisa do site de vídeos. Respirei fundo e vasculhei os diversos vídeos aleatórios que apareceram, até encontrar um que era de uma conta da Vevo. Assumo, talvez erroneamente, que todos os vídeos da Vevo são de artistas relacionados à música, por isso foi esse o vídeo escolhido.
O vídeo já começava com uma tipografia tipica de algumas HQs com o nome do artista, seguido pelo nome da música. Ao fundo podia ver uma escola, então entendi o motivo para Summer ter pensado depois em uma relação entre Superman e o nome da música. A continuidade do clipe e a aparição do quadrinho do garoto em foco só me provou isso. A música tinha uma batida muito boa, mas não consegui me atentar à letra por estar concentrado demais no clipe. Eu nem percebi os 3 minutos passando, o que indica que aproveitei bem o tempo. Em outras palavras, o clipe era bom. Dei um tapa em minha testa ao perceber que o garoto do clipe era de fato meu gêmeo perdido, o que não era muito bom. Ótimo! Suspirei e cedi ao impulso de reiniciar o vídeo. Eu estava perdendo meu controle em relação ao Youtube!
Ao repetir o vídeo me atentei à letra da música, tentando encontrar uma nova relação entre o comentário de Summer, a música e minha personalidade. A verdade é que não encontrei relação nenhuma da letra com o que fosse, apenas com alguns elementos do clipe. Pisquei diversas vezes ao me dar conta de que era uma música de amor. Senti um calafrio sem motivo algum e imaginei minha pele branca ficando escura como carvão, depois tudo isso se transformaria em pó. Belo pensamento! A música poderia ser facilmente entendida por alguém como uma indireta, se mencionada em uma conversa, mas não era esse o caso. Summer apenas mencionara o clipe... Se bem que o clipe também é levemente romântico. Ou não. Bem, não é esse o caso! Eu só não conseguia entender porque o cara da música, "primo" de Summer dizia no refrão que deixou seu coração em Metropolis. O que isso significava de fato?
Fechei o site e passei uma das mãos em meu rosto, tentando esquecer a pergunta que a música deixara em minha cabeça. Também tentei me forçar a não olhar para o desenho que fizera durante três horas no dia anterior, mas não obtive sucesso. Olhei-o intensamente, não me culpando pela falta de autocontrole. Os traços de cartoon em 6B não conseguiam esconder os traços principais da garota desenhada. Peguei-o com a mão esquerda e o analisei por longos minutos, pensando em como conseguira registrar suas características em um desenho trabalhoso. Com a outra mão peguei o desenho de outra garota que também não deixava minha cabeça, mas nesse desenho não conseguia reconhecê-la de verdade. O primeiro desenho era de Summer Young e o segundo de Rebeca Fletcher, uma mais bonita que a outra aos meus olhos.
Só que Rebeca não era a mais bonita em meu ponto de vista, não mais. Não tive tempo para pensar nisso porque uma batida na porta de meu quarto de hotel me interrompeu. Deixei os desenhos sobre a mesa e me levantei, caminhando lentamente até a porta. Achei que fosse algum funcionário, mas não era esse o caso. Era um conhecido meu. Um conhecido de cabelos escuros e um pouco longos demais. Um conhecido com uma pele quase tão clara quanto a minha. Um conhecido bem mais famoso do que eu. Um conhecido mais alto do que eu. Um conhecido com alguns músculos que eu nunca teria. Um conhecido de olhos azuis. Um conhecido com uma risada engraçada.
— O que está fazendo aqui?
— Oi para você também, Ethan. — Meu melhor amigo Franklin Thompson olhou para mim e deu um sorriso enorme. — Você está péssimo! — Ele provavelmente estava se referindo ao meu cabelo bagunçado e às roupas amaçadas.
— Fugindo de um coração partido. — Bufei. — E surtando com uma nova garota que conheci no final de semana.
— Apaixonado? — Ele pareceu animado com a situação.
— Não.
— Chato! — Frankie me mostrou a língua como uma criança.
— Sempre! — Dei uma risadinha. — A garota apenas diz coisas confusas.
— E você perguntou o nome dela?
— Claro que sim! Nos vimos duas vezes. — Revirei os olhos com a intromissão dele. Ele sempre foi assim e não sei como ficamos tão amigos. — E as duas terminaram de forma catastrófica. Ela é Youtuber, mas não acho que a conheça já que vocês filmam coisas diferentes.
— Tente. Diga o nome do canal e veremos quanto eu sei. — Ele se encostou no batente da porta e me olhou com interesse.
— "Olá, Summer". — Fiz aspas com as mãos, rindo sem seguida. Frankie arregalou os olhos, ainda mais animado.
— Summer Young!
— Conhece? — Estranhei sua reação.
— Claro que sim! Quem não conhece Summer Young?
— Aparentemente, só eu.
— Cara, sua aversão ao Youtube vai acabar te prejudicando. — Balançou a cabeça, decepcionado. — Summer foi o motivo para eu ter conhecido o livro de Rebeca.
— Como assim? — Deus só pode estar me pregando uma peça. Como assim Summer conhecia os livros de Rebeca?
— Summer adora o livro da Rebeca e indicou em seu canal quando ainda estava disponível na internet. — Ele se afastou do batente e me olhou novamente. — Eu venero as análises dessa garota! — Seus olhos brilharam.
— Mas você nem gosta de ler!
— Gosto de ler algumas coisas que Summer indica.
— Você está brincando, não está? — Eu estava entrando em pânico.
— Não! Summer até foi na tarde de autógrafos de Becky em Vancouver. E tirou uma foto com ela! — E eu fui na tarde de autógrafos de Los Angeles, na qual fui recebido muito bem com um abraço inesperado. Foi um bom abraço! Ele riu da minha cara e depois não parou de rir no restante de sua fala. — Eu mostrei isso para Becky e ela achou muito legal, ainda mais porque ela adora as músicas do Sean também. Os dois ficaram muito animados ao descobrir que ela estará no show de Sean, apresentando os ganhadores do concurso ao nosso amiguinho.
— Sério cara, pode parar com isso! Não tem mais graça!
— Eu estou falando sério!
— Não pode estar falando sério! Eu não posso ser tão azarado! — Bati em minha testa, desejando que o tapa me fizesse sumir.
— O que você fez dessa vez, Pearce? — Ele me olhou desconfiado.
— Eu contei para Summer que amo Rebeca. — Mais de uma vez, completei em pensamento.
— Você só pode estar brincando! — Agora ele não conseguia acreditar. — Que burrada!
— Nem me diga!
— Você conheceu mesmo Summer Young? — Ele estava prestes a pedir detalhes, pelo que o conhecia e isso me deixou desconfortável. Não estava pronto para falar de Summer ainda.
— Sim!
— E ela é tão perfeita quanto parece nos vídeos?
— Ela é legal, não que eu possa comparar com os vídeos.
— Você não viu nenhum vídeo dela? — Fiz que não com a cabeça e ele me deu um beliscão no braço. — Quando você vai superar esses seus traumas de infância, Ethan? Você conheceu apenas a mulher dos sonhos de muito canadense... E desse americano aqui. — Apontou para seu peito e continuou: — E foi babaca!
— Diz isso e eu nem te contei metade da história.
— Você acabou com as minhas chances de ser o namorado de Summer Young! — Ele aumentou seu tom de voz, parecendo desesperado. Por algum motivo essa frase me fez contrair os lábios.
— Você nem deve saber muito sobre ela! Aposto que a conheci mais em dois dias do que você conheceu com sei lá quantos vídeos! — Soltei.
— Apostado! — Ele sorriu. — Deixe-me entrar e eu te mostro tudo que sei sobre Summer Young em poucos vídeos. Certeza que ganharei!
— Certo. O que eu ganho se estiver certo?
— Eu paro de perguntar sobre Summer.
— Ótimo! — Poderia suspirar de alívio, mas não tive tempo para isso.
— Mas se eu ganhar... — Ele interrompeu minha felicidade. — Terá que me contar todos os detalhes sobre seu encontro com a linda garota dos cachos castanhos avermelhados.
Bufei intensamente. Às vezes seus elogios exagerados me irritam. Dei espaço para que Frankie passasse e pensei na garota mencionada durante a conversa. Perguntei-me o que Summer Young faria se um conhecido aparecesse de surpresa, pois já descobrira sua reação à aparição de desconhecidos.
Ao vivo e com todas as cores imagináveis, principalmente a azul de seu sofá.
— Estou tão animado. — Ironizei em voz baixa ao fechar a porta, desejando ter deixado meu coração em Metropolis.