Fábrica de brinquedos de Rainwood, quase 17:30 da tarde.
Se alguém ali ainda não acreditava que existia de fato um perseguidor atrás deles, agora seria obrigado. O terceiro corpo caiu. E junto dele, o mundo de Claire desabou também. Mas o entardecer estava prestes a chegar, e ainda precisavam encontrar a garota perdida.
Millye e Josh foram os segundos a chegar naquela sala e presenciar aquele banho de sangue.
— Meu Deus, isso... é a Suzen. — Millye se afastava devagar enquanto assistia ao Seth tentando manter Claire em pé. À frente deles, a de óculos pôde identificar aquele pedaço de carne sem rosto.
— Ela está morta? — Josh murmurou, tentando enxergar o corpo no meio do tumulto. Apesar de óbvia a resposta, algo nele não gostaria de acreditar. — Suzen está morta. Deus do céu, ela morreu!
— E se não sairmos agora, seremos os próximos. Claire, nós precisamos ir! — Seth gritou, puxando a mão da menina que parecia estar grudada ao corpo da outra.
— Pessoal! — uma voz se aproximou, no meio do escuro. — Eu acho que encontrei. — afirmou a Greene, com seu coração disparado. Ela nem teve tempo de perceber o motivo daquela reunião apressada.
— Jesse? Onde é que você estava? — Millye se virou rapidamente, reconhecendo a garota em sua chegada repentina.
— Eu... eu não sei. Estava procurando pelo Seth quando ouvi o barulho das máquinas. Mas havia uma porta no... no... — seu nervosismo a impedia de terminar a frase. — uma porta no espaço entre aquele túnel e as paredes. Eu acho que Jenny está lá, ouvi a respiração dela. Nós precisamos ir! — Jesse olhou para os dois que estavam na porta, e logo depois virou seus olhos para o corpo de Suzen no chão. — Minha nossa, ela...
— Sim, está morta. — Seth respondeu. — Mas não podemos fazer mais nada. Não há droga nenhuma pra vermos aqui. O importante é que estamos bem, e talvez...
— O IMPORTANTE É QUE ESTAMOS BEM, SETH? A SUZEN MORREU! — Claire olhou para ele com repúdio em seus olhos. — SEU DESGRAÇADO! — a jovem Jensen pôs suas mãos sobre o peito do garoto, golpeando-o sem querer parar.
— Claire, eu sinto muito de verdade. Mas poderia ter sido qualquer um de nós. Inclusive a Jenny! — Josh gritou ao se aproximar dela, segurando suas mãos. — Nós ainda temos a chance de encontrá-la. Por favor, confia em mim.
— Josh está certo, precisamos ir até a Jenny. Jesse, você mostra o caminho. — Seth se locomoveu até a porta depois de desprender-se das mãos de Jensen, esperando que a novata guiasse o grupo.
E de repente haviam conseguido convencer Claire de ir em frente também. Todos eles seguiram a garota, que era supostamente a única pessoa que sabia o caminho. Mas Millye preferiu ficar para trás. A menina ainda achava estranho aquela cena de crime improvisada. Tinha a sensação de que algo estava fora do lugar.
— O que foi que você descobriu, Suzen? — ela sussurrou para si mesma, enquanto observava os objetos ao redor dela. Encarou a forma com que a mão da menina estava posta sobre o chão, o local em que seu corpo fora deixado e depois as marcas de sangue sobre a mesa.
Em cima dela, o anuário que Suzen havia retirado se encontrava manchado pelo vermelho. Agora Millye precisava tomar uma decisão: deixar o ambiente intacto para que os policiais averiguassem, ou levar com ela aquele caderno velho, que por algum motivo tinha sido aberto pela vítima minutos antes de chegarem ali.
A garota pensou, pensou e pensou outra vez. O tempo de Jenny estava acabando, e ela precisaria encontrar os outros o mais rápido possível.
— Dane-se a droga da polícia. — Millye agarrou o anuário, saindo daquela sala em seguida.
A garota seguiu os outros até o lugar indicado, e para a surpresa deles, realmente havia alguém lá. Puderam enxergar suas pernas amarradas em um pequeno cubículo escondido entre as paredes.
— JENNY, ESTAMOS INDO! — Seth tentava abrir uma passagem com as mãos. — ME AJUDEM! — Josh e Millye se aproximaram, apoiando seus braços sobre a superfície amadeirada.
E finalmente eles conseguiram. Ao retirar aquela estrutura, o caminho revelou uma garota inocente acorrentada a uma cadeira envelhecida. A tensão e o desespero nos olhos de Jenny deixavam qualquer um com medo. Depois de quase três dias mantida em cativeiro, a jovem Hopps havia sido resgatada. E não foi com a ajuda do departamento de polícia.
Alívio. Essa era a sensação. No final daquele dia, talvez o mais eletrizante de suas vidas, Jesse Greene havia sido a única a descobrir o paradeiro de Jenny naquele enorme labirinto abandonado, e isso salvou todos os seus amigos, incluindo a vítima, de algo muito pior.
Cafeteria Summer Coffee, 18:25 da tarde.
— Pronto. Jenny está bem, mas eles disseram que ela vai precisar ficar mais um tempo no hospital. — Millye entrou pela porta, caminhando até a mesa onde os outros estavam. — Parece que ela foi atingida mais de duas vezes no abdômen, mas não foi tão grave. — Millye se sentou.
— Pelo menos ela sobreviveu. — disse Josh, esticando seu braço sobre o encosto do banco.
— E quanto à polícia? Devemos avisar a Katy? — Seth sugeriu, angustiado.
— Parece que alguém nos arredores da fábrica ligou para a delegacia assim que deixamos o lugar. Eles iam encontrar as provas de qualquer maneira, e... bom, pelo menos assim a Suzen vai ter um funeral decente. — a de óculos fez uma pausa, entristecendo o olhar de repente. —Que descanse em paz. — Millye inclinou sua cabeça, retirando seus óculos por um segundo.
— E quanto ao Jaremy? Nenhum sinal dele? — Jesse questionou.
— Não. A última vez que o vi foi quando ele literalmente nos deixou para morrer, na sala das máquinas. — Millye respondeu.
— Uma pessoa a menos com quem devemos nos preocupar. Então... — Jesse quebrou o silêncio. — o que fazemos agora? Alguma ideia?
Os cinco trocaram olhares de dúvida enquanto esperavam que alguém se manifestasse. Não tinham uma resposta. Não tinham pistas, não tinham a ajuda da polícia.
— Na verdade, eu peguei isso antes que saíssemos de lá. — Millye colocou o anuário em cima da mesa.
— No que isso nos ajuda? Parece ser só um livro velho. — disse Seth, folheando as páginas rapidamente.
— Encontrei ele na sala em que Suzen estava. Pelo visto, foi ela quem achou primeiro. Talvez... — Millye foi interrompida por Jesse.
— Espera. Quem é essa? — Jesse pousou sua mão sobre o livro antes que Seth virasse a próxima página. — A foto está marcada.
— Ei, essa... essa é Riley Belmont! — Josh separou seus lábios em um sorriso, colocando parte do corpo sobre a mesa. — Ela não é uma completa estranha na cidade.
— Quem diabos é Riley Belmont? — Claire se aproximou, depois de dolorosos minutos sem dizer uma palavra por conta do nó em sua garganta.
— Vocês não a conhecem? — Josh questionou. — Sério? — e os outros ficaram calados.
— Na verdade... eu acho que me lembro disso. Este anuário é de 2001, então a turma de alunos só pode ser da época de... — Millye arregalou os olhos ao perceber.
— Exato, Millye. Jacob Woods. — Josh completou.
— Quem é Jacob Woods? — Jesse interveio imediatamente, sentindo-se por fora do que parecia ser um assunto de conhecimento dos moradores.
— O assassino em série mais conhecido da região. Em 2001, a turma de formandos da Rainwood High School passou por um massacre. O autor era Jacob. Não há muitos resquícios sobre o caso porque o prefeito decidiu encobrir a maior parte. Mas mesmo assim, não conseguiram manter tudo em segredo. — disse Josh.
— Calma. Então... o que de fato aconteceu naquele ano, Josh? Todas as histórias que eu ouvi diziam coisas diferentes. — Seth o encarou, curioso.
— Bom... pelo o que eu sei, Jacob Woods surtou e acabou atacando a escola na noite do baile, em fevereiro de 2001. Cinco pessoas foram mortas por ele, e uma sexta pessoa também, mas não há relatos de que tenha sido Jacob o culpado. Enfim, parece que essas vitímas faziam parte de algum "clube", incluindo Jacob e mais alguns alunos, totalizando onze pessoas. Por isso também houveram cinco sobreviventes naquela noite, mas quatro deles imploraram para que seus rostos fossem mantidos em segredo. Assim, apenas a Riley foi reconhecida. — Josh continuou. — Jacob foi morto por ela na mansão Wady. O lugar fica na floresta, próximo à escola se utilizarmos o caminho atrás do prédio. — ele terminou.
— Meu Deus, isso é... horrível. E parece que agora está acontecendo de novo. — Claire secou no seu casaco escuro as últimas lágrimas que manchavam sua maquiagem.
— Não é a única história envolvendo a região, Claire. — disse Millye. — Rainwood é só uma das cidades que contam com um passado de histórias para noites de fogueira. — a garota levou seus óculos até o rosto novamente, se debruçando sobre a mesa. — Não tão longe daqui, em uma cidade próxima, eu me lembro dos alunos da Hester High. Vários foram mortos depois de serem perseguidos por um maníaco também.
— Ah, que ótimo, Campbell! — Claire revirou os olhos. — Obrigada por ressaltar que estamos seguindo o mesmo rumo.
— Não necessariamente. Essas coisas acontecem o tempo todo. A cidade de Collinsville também foi e é palco dos mais bizarros acontecimentos, desde assassinatos não resolvidos até... enfim, eu não vou citar. Acostume-se, Jensen. Não somos os primeiros. Mas não significa que não possamos mudar o rumo do barco. — Millye virou seus olhos para Claire.
— E ainda ousam dizer que vivemos na cidade mais atrativa da região. Francamente. — Josh suspirou, cruzando seus braços em seguida.
— São ótimas histórias para uma noite de Halloween, mas precisamos focar no que está acontecendo conosco agora. — Jesse exclamou, debruçando seu rosto sobre os punhos.
— Bom, se Riley foi citada pelo perseguidor mascarado, ela ainda está no jogo. Pelo menos é o que a frase abaixo da foto diz. — Millye levou seu dedo até a escrita em vermelho. — E de alguma forma, ele queria que Suzen encontrasse isso, ou um de nós. Provavelmente a matou porque sabia demais. Entendem? É como um jogo de poder, ele dá e depois tira imediatamente. Doentio.
— Josh, essa tal de Riley ainda vive em Rainwood? — Seth questionou.
— É claro. Posso procurar o endereço dela na internet. — Josh respondeu, sacando seu smartphone.
— Então... eu acho que já temos a próxima pista. Riley Belmont deve ter as respostas de que precisamos. Ao menos uma parcela delas. — Seth se levantou.
— Não estão pensando em ir até a casa dela, estão? — Claire interrompeu.
— É claro que sim. Se o assassino mencionou a sobrevivente do massacre, talvez tenha algo a ver com o caso de Jacob Woods. E como melhor entendê-lo se não através da única vítima que restou pra contar a história? — disse Millye, se aproximando da porta. — Vamos, galera. Temos um mistério a resolver.
— Ótimo! — Josh sorriu, seguindo eles até a saída da cafeteria. — Mais uma vã de cor verde e um cachorro, e estaremos completos.
Rua Orxwell, quase 19:00 horas da noite.
A mulher esquentava a água para o preparo de um chá doce, quando se assustou com um apito vindo de suas costas. O barulho da chaleira era irritante. Riley retirou-a do fogão e levou a água morna até sua xícara. Era uma noite fria em Rainwood, e a chuva começaria a cair em breve, segundo os raios no céu.
Após servir a xícara de chá, Riley caminhou até o corredor dos fundos, checando se as portas estavam trancadas. Nunca poderia deixar de lado seu fanatismo com cadeados e chaves, depois do que aconteceu naquela noite. Foi quando, de repente, um barulho veio da porta da frente.
— Droga! — Riley xingou, ao derramar parte do conteúdo fervente da xícara em seu vestido. — Já estou indo! — gritou.
Depois de apanhar um pano na cozinha, Riley se dirigiu até a porta. Os pingos de chuva haviam começado naquele momento. A mulher desfez as cinco trancas no lado interno da porta de madeira, e por fim a abriu.
— Olá! — Josh sorriu. — Riley Belmont?
— Sim... sim, sou eu. Como posso ajudá-los? — estranhara a visita de cinco jovens desconhecidos em uma noite chuvosa. E tinha total razão.
— Bem, eu vou ser direto. Meu nome é Josh Evans, esses são Seth, Millye, Claire e Jesse. Duas amigas nossas foram assassinadas nos últimos dias, o xerife da cidade também. Além disso, fomos perseguidos por um maníaco com uma faca na antiga fábrica de brinquedos. — ele explicou, com a presença desagradável de um sorriso no rosto. — Então, Riley, na verdade sou eu quem deve fazer esta pergunta. Você pode nos ajudar?